domingo, 10 de agosto de 2025

O direito à fé

Autor: Pai Paulo de Oxalá.

Vivemos em um mundo diverso, onde cada um tem o direito de ser, pensar e agir conforme a sua consciência. É um direito não crer em nada, assim como é um direito ter fé em Deus, em Jesus, nos Orixás, nos anjos, nos espíritos, na força ancestral ou em qualquer forma de sagrado que dê sentido à existência.

É curioso como alguns que se dizem livres de crenças passam tanto tempo tentando provar que Deus não existe, que Orixás são invenção, que santos e anjos não passam de mitos. É direito de cada um pensar assim. Mas por que o interesse em querer destruir aquilo que, para muitos, é força, cura e esperança? O que se ganha em querer apagar a luz do outro?

Enquanto alguém se ocupa em provar a inexistência de Deus, nós provamos diariamente a existência da fé. Fé que sustenta quem não tem mais chão. Fé que cura quando o remédio não basta. Fé que dá coragem para enfrentar batalhas. Fé que reergue lares, alimenta a esperança, consola corações em luto, protege famílias e guia caminhos. Se a razão não consegue explicar, a fé abraça e acolhe.

A ciência já reconhece que a fé tem poder, fortalece a mente, melhora a saúde e prolonga a vida. Quantas curas inexplicáveis já se testemunharam? Quantos livramentos, quantos milagres silenciosos? Para quem tem fé, a resposta está em acreditar, porque nem tudo se mede, se pesa ou se prova. Há coisas que só se sentem.

As religiões são caminhos que conduzem milhões de pessoas a encontrar sentido para a vida. Do silêncio de uma prece no altar ao toque do atabaque em um Terreiro, a espiritualidade constrói famílias, comunidades, valores e pontes de afeto.

Nós, que professamos as religiões ancestrais e acreditamos nos Orixás, entendemos que a natureza faz parte de um todo sagrado. Honramos quem veio antes de nós e também reverenciamos rios, matas, ventos, fogo e mares, pois sabemos que sem eles não há vida.

Seja qual for o caminho, igreja, templo, sinagoga, mesquita, Terreiro, montanha ou o coração, é o respeito que torna a convivência possível. Querer que o outro desacredite de sua fé para satisfazer o orgulho de quem se julga mais racional é uma afronta. É querer apagar a chama que nos mantém de pé.

O povo de axé não disputa argumentos. Não precisamos convencer ninguém de que Olódùmarè-Deus existe, de que os Orixás nos acompanham ou de que nossos guias e ancestrais nos protegem. Sabemos, sentimos, vivemos isso. E essa força não se mede, se testemunha.

A quem não crê, desejamos caminhos de luz, consciência e respeito. E, se um dia a vida estipular respostas que a razão não dá, que encontre no silêncio de uma oração o conforto que a boca negou. Pois a fé é livre. Ninguém pode aprisioná-la, mas também ninguém tem o direito de sufocá-la.

Exaltar a fé é exaltar a liberdade do espírito. Exaltar os Orixás é exaltar a vida, a natureza e nossa ancestralidade.

Que cada um caminhe com sua crença ou descrença, mas não queira tirar do outro aquilo que lhe é sagrado.

Lembrando que intolerância religiosa é crime. Você pode até não acreditar, mas não pode espalhar ódio nem atacar a fé alheia.

Um viva para quem crê, respeito para quem não crê.

Axé e paz para todos!

Fonte: https://extra.globo.com/blogs/pai-paulo-de-oxala/post/2025/07/o-direito-a-fe-e-a-intolerancia-de-quem-nao-a-tem.ghtml

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