terça-feira, 5 de agosto de 2025

Balé censurado

Em um gesto simbólico que reflete o conservadorismo enraizado em uma das maiores cidades de Santa Catarina, a Câmara Municipal de Joinville aprovou por unanimidade, nesta segunda-feira (28), uma moção de repúdio contra a apresentação Réquiem SP, do Balé da Cidade de São Paulo. A performance foi encenada na noite anterior, durante a tradicional Noite de Gala do 42º Festival de Dança de Joinville — um dos maiores eventos do gênero no mundo.

A iniciativa foi proposta pelo vereador Brandel Junior (PL), que acusou a apresentação de ferir os “valores familiares, espirituais e sociais” da cidade. “É uma vergonha para a nossa cidade. Não podemos deixar que aconteça desta forma. Temos nas praças apresentações tão lindas, que representam a nossa cidade. Essa apresentação não representa o joinvilense”, declarou o parlamentar na tribuna.

Joinville, conhecida por seu perfil conservador, deu forte respaldo às falas críticas dos vereadores, que denunciaram o uso de recursos públicos para financiar manifestações artísticas consideradas “desconectadas” com a identidade cultural local.

O espetáculo, concebido por Alejandro Ahmed, faz um mergulho visual e sensorial na vida urbana da metrópole paulistana, combinando linguagens contemporâneas como balé, danças urbanas e jumpstyle. Com figurinos predominantemente pretos, maquiagem marcante e trilha sonora densa — intercalada por momentos de absoluto silêncio — Réquiem SP provocou reações diversas na plateia e nas redes sociais. Enquanto parte do público exaltou a carga reflexiva e a potência estética da obra, outros reagiram com estranhamento e desconforto.

Ahmed afirmou ter recebido com surpresa as críticas e a moção da Câmara, considerando que foram utilizadas composições clássicas de Gyorgy Ligeti, tocadas pela Orquestra Sinfônica Municipal e pelo Coral Paulistano em sua estreia.

O vereador Cleiton Profeta (PL) disse que embora a arte deva ser subversiva, deveria haver limites e classificação indicativa, especialmente em eventos com presença de crianças. “Tem que ter bom senso. Não tem nada a ver com censura. É inadequado para um evento público, é uma vitrine da nossa cidade. O joinvilense tem o direito de criticar”, afirmou.

Já o Pastor Ascendino Batista (PSD) foi ainda mais incisivo em sua crítica, refletindo o peso da religiosidade na cidade. “Trouxe medo, terror, pânico. No mínimo, deviam abrir o Centro de Eventos para o povo cristão entrar lá e ungir aquele lugar, que está contaminado de má influência. Show de trevas”, declarou.

A moção de repúdio não tem efeitos legais, mas representa o posicionamento político e cultural da Câmara joinvilense diante de manifestações artísticas que desafiam valores tradicionais. O Festival de Dança, reconhecido internacionalmente, agora enfrenta o dilema de equilibrar sua crescente abertura à diversidade artística com a expectativa de um público conservador, majoritário na cidade que o abriga.

Fonte: https://revistaforum-com-br.cdn.ampproject.org/v/s/revistaforum.com.br/cultura/2025/7/30/bale-da-cidade-de-so-paulo-leva-moo-de-repudio-da-cmara-de-joinville-184350.html

Nota: como eu escrevi em algum lugar, o bolsonarismo é só um dos sintomas de uma doença.

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