domingo, 23 de dezembro de 2007

O arcano da roda da fortuna


A roda da fortuna é vista mais como a impermanência das coisas, dos caprichos do destino, do que pelo seu lado ligado ao caminho iniciático que é a Roda do Ano.
Os wiccanos não vêem a roda da fortuna por esse lado moralista capenga e brochante, como bons bruxos nós sabemos que padrões morais mudam conforme a época, a cultura e o povo. A roda da fortuna é vista como a Roda do Ano, o ciclo das estações, o movimento natural de nascimento - crescimento - morte - renascimento.
Uma carta que acompanha a roda da fortuna no caminho iniciático é a carta da carruagem, mostrando que o destino é resultado de muitos fatores externos, mas que nós somos e temos que ser responsáveis pela condução de nossas vidas. Um bruxo que se preza não aceita ser vítima das circunstâncias nem se deixa levar por opiniões de terceiros.
O wiccano, em sua vida sacerdotal, saberá perceber como se comporta a roda da fortuna sem se deixar levar pelo torvelinho da Vida, mas sabendo tirar da decadência a força para se reerguer.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O arcano da alta sacerdotisa

A carta da alta sacerdotisa representa com excelência o estado que se alcança quando o/a iniciado/a recebe o 3º de um/a Alto/a Sacerdote/Isa mais antigo de um coven da Wica.
A carta mostra claramente os pilares Jacim e Boaz, a tiara contendo o disco lunar, o pergaminho simbolizando o Livro das Sombras.
O mais interessante são as frutas de romã abertas, atrás da alta sacerdotisa e entre os pilares. O que parece ser uma cruz no peito da alta sacerdotisa é, na verdade, uma referência aos quadrantes evocados na cerimônia Wica.
A carta mostra uma lua aos pés da alta sacerdotisa que veste uma túnica azul celeste para reforçar que ela é a representação da Deusa, da mesma forma que o alto sacerdote representa o Deus.

Esta é a maior honraria que o/a iniciado/a pode receber em seu trabalho sacerdotal. A ele/ela cabe conduzir o coven, inspecionar o treinamento e resolver pendências dentro do coven.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O arcano do mago

Depois do treinamento vem a habilidade, o domínio do Ofício, onde o/a novo/a iniciado/a irá começar a atender aos círculos, esbats, sabats e às necessidades da comunidade.
A carta do mago mostra as ferramentas de uso na cerimônia Wica bem como a auto-confiança necessária para que o novo iniciado possa prosseguir em seu caminho sacerdotal.
Existem outras variantes dessa carta, na qual o símbolo do infinito acima da cabeça do mago está disfarçada de chapéu e não há uma exposição tão explícita das ferramentas ou mesmo a presença do ambiente mais fundamental para o wiccano que é a Natureza.
Na mão direita do mago está o bastão, feito de madeira e com algum cristal incrustado na ponta.
O mago nessa carta tem a fronte cingida com uma tiara. Na cerimônia Wica, o celebrante veste ou uma coroa com chifres (se homem) ou uma tiara com o símbolo das três luas (se mulher).
O mago está com um cordão parecido com uma serpente, um símbolo de revitalização amarrado na cintura.
Na mesa, estão dispostos o pentáculo, o cálice, a espada e um cajado. A espada pode muito bem simbolizar o athame também e o cajado pode simbolizar o açoite. Pequenos entalhes na lateral da mesa lembra que esta está simbolizando o altar e as runas que se inscrevem nele.
A mão direita está em linha diagonal com a mão esquerda, em uma posição que lembra muito a posição de baphomet, indicando mais uma vez a posição de equilíbrio e harmonia necessária para o sacerdote wiccano.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O arcano dos amantes

A iniciação é o primeiro passo que faz toda a diferença entre um buscador, um neófito e um wiccano, mas não é a meta nem o ápice da vida de um sacerdote dos Deuses Antigos. Por causa da importância da iniciação, as pessoas buscam desesperadamente por alternativas e acabam embarcando na ilusão da auto-iniciação.
Após a iniciação ainda há muito o que aprender e trabalhar e isto é feito dentro de um coven, com um/a parceiro/a, com quem nós teremos uma relação de amizade, cumplicidade, intimidade e amor além de qualquer definição.
A carta dos amantes mostram três pessoas, um número muito comum em miniaturas flamengas que mostram alguma atividade ou encontro de bruxas.
O cupido acima do casal pode muito bem indicar a gravidade dos votos proferidos na iniciação.
O homem mais velho indica uma postura de tutor, de testemunha ou de oficiante, o que em todos os casos se encaixam as funções do Alto Sacerdote e da Alta Sacerdotisa no coven.
Os jovens que parecem jurar amor um pelo outro dão-se as mãos, o jovem segura com a mão direita a mão esquerda da moça. O jovem indica que age pela razão, atributo da mente, ligado ao Deus. A moça indica que age pela intuição, atributo do subconsciente, ligada à Deusa.
A carta dos amantes mostra como é importante o princípio da Polaridade Sagrada e do trabalho em conjunto.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

O arcano do enforcado

Assim como Odin ou Wodan, o buscador para alcançar a iluminação deve passar por um teste, uma prova, administrada por outros iniciados e, por isso, o teste se torna a inciação.
Como Odin que teve que ser pendurado de cabeça para baixo na Yggdrasil para poder vislumbrar os mistérios da existência, o neófito terá suas convicções e preconceitos remexidos para superar seu estado de ignorancia (o louco) para o estado de vigília.

O pendurado está apenas com a perna esquerda presa na trave, a mesma perna que estava sendo atacada pelo cão na carta do louco, mas a perna direita está livre, indicando que o pendurado começa a superar suas limitações.
O pendurado está entre dois troncos, uma clara alusão aos pilares que marcam a entrada do portal do mundo astral - Jacim e Boaz - e também uma alusão à Polaridade Sagrada.

O pendurado está com as mãos por trás das costas, provavelmente amarradas, como é feito ao neófito na cerimônia de iniciação. Apesar da posição e da condição dele, seu semblante está sereno e confiante.
Curiosamente a perna direita que está livre cruza por detrás da perna esquerda, formando o número quatro, possivelmente indicando que ele reconhece os Quadrantes.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O arcano do louco

O tarô é uma ferramenta para entender o caminho iniciático e eu escolhi começar pela carta do louco porque esta carta indica a condição do buscador, no início de sua jornada.
A sociedade vê o louco com enorme preconceito, considera-se como louco a pessoa que está isolada do meio social, mas muitas vezes tal isolamento é fruto da rejeição.
O louco representa a ruptura das convenções, dos padrões socialmente estabelecidos e, nesse sentido, o louco e a loucura são saudáveis porque induzem às mudanças necessárias no indivíduo e na sociedade.
O louco veste o chapéu do bufão exatamente para indicar sua condição avessa à estrutura social, sua irreverência diante da autoridade e sua independência da hierarquia. Como o buscador no início de sua jornada, carrega apenas uma pequena bagagem na mão esquerda, que ele apóia no ombro direito, indicando que a bagagem pode se tornar um incômodo ou um fator de desorientação.
O louco olha para trás, por cima do ombro direito, na direção da bagagem e do cão que lhe ataca indicando que ele ainda está atado ao seu passado, às coisas materiais e ao instinto animal. No entanto, seus pés indicam uma firme determinação de continuar adiante e o bastão de andarilho na mão direita mostra que ele está disposto a seguir a longa jornada em direção ao Caminho do Sábio.
No Caminho do Bosque Sagrado, a meta não é negar nosso passado nem nossa natureza material e animal, mas o de superar a barreira que nós criamos entre o mundo carnal e o mundo espiritual.

sábado, 15 de dezembro de 2007

O self, a sombra e o ego

O self é um termo usado para designar a existência individual, também chamado de alma, espírito ou consciência. O self é eterno, mas passa por sucessivas encarnações para crescer, se desenvolver e evoluir.
Quando o self encarna, ele passa por uma adequação cultural, social e temporal para que possa interagir com o ambiente, a sociedade e outros indivíduos, formando para isso o ego. Como consequência, muitas partes do self são reprimidos ou condicionados, formando com isso a sombra, que é a parte subconsciente do indivíduo.
O caminho entre o bosque sagrado, a Wica, é um retorno para casa e a reintegração do self, não pela morte do ego, mas por sua superação e assimilação. O ego não ocupa, na Wica, a função do Trapaceiro, a figura fundamental nas religiões monoteístas, nem a exarcebação do ego ocupa o lugar da doutrina do pecado que é igualmente fundamental nas religiões monoteístas.
Para que essa volta para casa e reitegração do self ocorra, a Wica possui um conhecimento transmitido através dos Mistérios Antigos, que só podem ser compreendidos em seu real significado após uma iniciação, de um iniciado ao neófito, somente após ter estabelecidos os laços com os Guardiões dos Quadrantes, conhecido os nomes dos Deuses e as palavras de poder.
O conhecimento tradicional habilita ao bruxo usar a principal ferramenta de seu Ofício, que é ele mesmo, pela Arte da Magia, trabalhando com o subconsciente e a sombra, através de símbolos e imagens que ativam esse laço do self com o mundo astral. Esse tipo de ação não pode ser alcançado por aventureiros ou curiosos, pois a sombra formada pela supressão do self em benefício do ego forma um ambiente inóspito para a consciência e a saúde mental do indivíduo que ousa trilhar ali. Não é mera coincidência ou casualidade aparecerem casos de pessoas que se tornaram loucas ou mentalmente perturbadas por mexerem com Bruxaria.
Infelizmente, a tônica do discurso sobre Bruxaria e Wica não se preocupa com a superação e absorção do ego, mas vem exatamente exarcebando o ego, pelo estímulo do culto à personalidade, pela imposição de tendências culturais e pela adoção de textos alegadamente inspirados divinamente. A Wica é uma religião e, como tal, possui princípios que negam qualquer autoridade central, nega qualquer livro sagrado e sobretudo nega a doutrinação humana.
Toda e qualquer pretensão, de ditos sacerdotes, falar ou determinar por visões pessoais, de práticas ou princípios estranhos à Tradição, é mais uma tentativa do ego de se preservar. Não tenha medo do pavão só porque ele é vistoso ou porque arrepia as penas, a força dele está no rabo. Esse é o seu caminho, só a você cabe trilha-lo e conhece-lo, liberte-se.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O menino na bolha

Esse é um caso médico real, mas por motivos óbvios não entrarei em detalhes médicos, apenas relatarei o caso que aconteceu que existiu um menino que tinha que viver dentro de uma bolha devido à sua condição delicada, qualquer contato com o mundo seria fatal para ele.
Ele passou anos de sua vida isolado de tudo e de todos, até mesmo dos carinhos de seus pais. Toda comida era esterilizada antes de entrar na bolha, qualquer objeto era minuciosamente inspecionado para que não tivesse aparas ou pontas que pudessem feri-lo.
O menino cresceu e seus professores o educaram através de vídeos, explicando as matérias ou lendo literatura para ele. Muito tempo se passou e o menino se tornou um adolescente e envelheceu sem ter uma namorada.
Ele chegou até os quarenta anos quando, enfim, os médicos conseguiram desenvolver uma terapia que talvez pudesse desenvolver nele a resistência necessária para viver fora da bolha. Evidentemente, havia inúmeros riscos, mas como ele havia atingido a idade adulta, ele assinou o termo de responsabilidade e recebeu a terapia. Foram semanas, meses e anos de algum sofrimento até que algum resultado fosse conseguido, mas por fim, aos 45 anos, os médicos finalmente chegaram ao consenso de que ele podia sair da bolha.
Houve uma enorme comoção e muitos criticaram a decisão, mas o menino que se tornara um senhor saiu da bolha e chorou de emoção por poder respirar o mesmo ar que respiramos e sentir a sensação do toque das coisas. Ele teve que aprender a sentir, experimentar a sensação do sabor, até de coisas simples como sujeira, sabão, água. Ele se feriu, ficou doente como todo mundo, tomou remédio como todo mundo, se apaixonou, casou, divorciou, casou mais uma vez, criou os filhos e netos, morreu de velhice como muitos.
Eu fico curioso e assombrado ao ver tanta gente que quer alguma coisa para fugir dos problemas e dos sofrimentos. Eu não sei quanto aos outros, mas eu não quero ser um menino na bolha. Eu quero problemas para que eu possa aprender, superar e crescer. Eu quero sofrimentos para que eu saiba valorizar a saúde e a minha família. Eu quero Vida em toda sua plenitude e isto o Paganismo, em particular a Wica, é a religião que propicia este êxtase.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Sinais do além

Nossa espécie surgiu nesse mundo em circunstâncias no mínimo curiosas e faz parte de nosso desenvolvimento imaginarmos se há algum motivo místico por trás desse mistério.
Pelas condições de nosso surgimento e pelos meios que percebíamos nossa existência surgiu o maravilhamento, o assombro, o medo. Desse amalgama de sensações e sentimentos nós percebemos alguns sinais que entendemos como de origem espiritual e, da mesma forma como tentamos estabelecer relações com o meio natural e social, nós temos tentado estabelecer uma relação com o mundo espiritual.
Esta busca constante foi se desenvolvendo e se manifestando em diversas formas até se estruturarem como religião e conseqüentemente a ideologia da religião afetou as manifestações e as formas de perceber os sinais do além.
O sinal mais comum de perceber a existência desse além é a comunicação com os espíritos de pessoas falecidas.
Um provinciano ri da simpatia do camponês que coloca moedas nos olhos do falecido sem perceber que a missa de sétimo dia contém o mesmo mecanismo fetichista debaixo de toda a aparente sofisticação cerimonial. Um cético ri da mesma forma das evidências da existência da vida pós-morte, mas as explicações dadas aos fenômenos são confusas e contraditórias. Um ateu diz que tal empenho é desnecessário, não há comunicação porque não há nada com o que se comunicar.
O primeiro indício de comunicação com os mortos foi tanto acidental como casual, as experiências foram sendo registradas de forma amadora e, em sua maior parte, em eventos que ocorreram de forma voluntária, sem que fossem possíveis de mensuração ou repetição.
Seguiram-se então tentativas de estabelecer de forma técnica e científica a comunicação, o que foi conseguido e relatado no que é conhecido como Experimento Scole.
Eu ainda não li algum artigo da comunidade científica ou análise de céticos e ateus quanto a esse relatório supostamente científico de comunicação com o mundo espiritual, mas eu fico intrigado com os resultados, se forem confiáveis. Mais ainda, eu fico cismado com a presença da doutrina kardecista na interpretação das evidências resultantes dessa comunicação.
Considerando que nosso mundo seja apenas uma parcela de uma realidade mais ampla, é de estranhar que as manifestações dos espíritos contenham ou manifestem apenas a doutrina kardecista, sem discordâncias, sem divergências. Entre tantas pessoas que morreram, não houve nenhuma manifestação na língua, no pensamento ou na religião da época ou do local que o finado pertencia. Eu considero perturbador imaginar que o mundo espiritual tenha um pensamento homogêneo, nós lutamos tanto nesse mundo contra a tirania e a massificação para irmos a um outro mundo que mais parece uma utopia orwelliana?
Eu espero, como pagão e humano, que o mundo espiritual seja mais divinamente diversificado que este mundo, com pessoas com pensamentos, opiniões e idéias diferentes. Eu espero que o mundo espiritual não seja um clube de campo exclusivo de uma religião, mas que tenha espaço para todos e que cada um tenha um lugar adequado para descansar, conforme suas crenças.