sábado, 23 de agosto de 2025

In your face

O governo de Donald Trump, de certa forma, tem nos levado a uma verdadeira viagem no tempo. Ao acompanhar as notícias vindas dos Estados Unidos, é difícil não perceber uma sensação de déjà vu, como se estivéssemos na Alemanha da década de 1930, e não em 2025, na autointitulada “maior democracia do mundo”.

O regime trumpista tem cultivado e normalizado algumas das ideologias mais perigosas da história: supremacia branca, movimentos etnonacionalistas, nacionalismo cristão e até marchas de grupos que exibem símbolos nazistas abertamente.

Esse cenário, de extrema polarização e intolerância, reflete o crescente espaço que o discurso de ódio e a divisão social têm ganhado nos Estados Unidos sob a administração Trump.

O fenômeno, alimentado pelos delírios da extrema direita, está corroendo as instituições democráticas e distorcendo o conceito de liberdade e democracia naquele país.

Ecos da Alemanha nazista

O processo é alarmante e nos remete diretamente à ascensão do nazismo na Alemanha dos anos 1930, quando o radicalismo ideológico subverteu as estruturas democráticas e abriu caminho para a tirania.

Naquele período, a Alemanha enfrentava um clima de extrema radicalização política, agravado por uma grave crise econômica após a Grande Depressão e pelas humilhações impostas pelo Tratado de Versalhes, que responsabilizava o país pela Primeira Guerra Mundial.

Esse ambiente de desesperança se tornou terreno fértil para a ascensão de Adolf Hitler e do Partido Nazista, que usaram o nacionalismo exacerbado, o antissemitismo e o discurso de ódio como ferramentas de poder, criando uma narrativa de "unificação" e "pureza racial".

Embora os contextos sejam diferentes, a comparação com os Estados Unidos de hoje é alarmante. Assim como na Alemanha nazista, os EUA governados por Trump enfrentam uma crescente polarização política e social, alimentada por movimentos de extrema direita que buscam redefinir a identidade nacional por meio da exclusão de minorias e da retórica de ódio. 

Trump que(r) liberar nazismo na Alemanha

A análise do governo Trump sobre os direitos humanos na Alemanha em 2025 diz muito sobre os perigos que surgem nos Estados Unidos. Na primeira edição do relatório anual de seu segundo mandato, publicado pelo Departamento de Estado dos EUA, que desde 1977 avalia a situação dos direitos humanos em diversos países, a abordagem sobre a Alemanha é no mínimo controversa.

O documento afirma que houve restrições à liberdade de expressão na Alemanha, particularmente no que diz respeito a grupos considerados extremistas, como os que promovem o nazismo ou negam o Holocausto. A crítica recai sobre a legislação alemã que limita tais discursos, apontando que várias pessoas foram presas e condenadas por incitar o ódio racial.

Em resposta, o governo alemão reafirmou que não há censura no país. Embora existam restrições a discursos de ódio, a liberdade de expressão é amplamente protegida, com o sistema judicial atuando para equilibrar esse direito com a necessidade de impedir a propagação do extremismo e do antissemitismo.

Comunidade só para brancos

Faz sentido que Trump queira dar pitaco na Alemanha. Um documentário produzido pela emissora britânica Sky News mostra a construção de uma comunidade segregacionista no estado do Arkansas, EUA, que se chama "Retorno à Terra" (RTTL). O objetivo é criar uma "fortaleza para a raça branca" em uma região isolada. O grupo, liderado por Eric Orwoll, é explícito e despudorado em suas inspirações nazistas.

O documentário Inside the whites-only settlement in Arkansas: The group building a 'fortress for the white race' (Dentro da comunidade exclusiva para brancos no Arkansas: O grupo que está construindo uma "fortaleza para a raça branca”) oferece uma visão perturbadora sobre o RTTL. 

O vídeo, que foi publicado no YouTube no dia 22 de julho e já alcançou mais de 1,6 milhões de visualizações até esta quarta-feira (20), investiga a criação de uma comunidade exclusiva para pessoas brancas, heterossexuais e de ascendência europeia, localizada nas montanhas Ozark, no Arkansas.

O jornalista Tom Cheshire acompanha o dia a dia do grupo, que conta com cerca de 40 moradores permanentes, e observa atividades como construção de cercas, instalação de poços e a criação de um centro comunitário e uma escola. 

O RTTL se apresenta como uma "comunidade intencional baseada em ancestralidade compartilhada", excluindo explicitamente indivíduos não brancos, não heterossexuais e seguidores de religiões não europeias.

Orwoll, líder da comunidade, defende que o projeto é legal, baseado no direito à liberdade de associação e na constituição de uma associação privada. No entanto, especialistas em direitos civis questionam essa justificativa, argumentando que a exclusão racial do grupo contraria leis federais como o Fair Housing Act e o Civil Rights Act, que proíbem a discriminação racial.

Além disso, o documentário destaca o uso de símbolos neonazistas, como o número 1488, e declarações polêmicas de Orwoll sobre Hitler, o que reforça o caráter extremista do grupo.

O RTTL também tem planos de expandir suas atividades, com o objetivo de criar novas comunidades em outros estados dos EUA e até internacionalmente, promovendo uma ideologia de segregação racial e incentivando o crescimento populacional entre seus membros.

Marcha nazista em Indianápolis

No último dia 16, um grupo mascarado e carregando bandeiras nazistas marchou ao redor do Monument Circle, localizado na praça central de Indianápolis, capital do estado de Indiana e sede da famosa corrida de carros Indianapolis 500, um dos eventos de automobilismo mais prestigiados do mundo. O ato gerou rápida condenação de autoridades locais, líderes de segurança e organizações de direitos civis.

Os manifestantes, vestidos de preto e com bandeiras com suásticas vermelhas, gritaram “poder branco” e fizeram saudações nazistas, com alguns membros armados. A marcha, que ocorreu sem aviso prévio, foi monitorada pela Polícia Metropolitana de Indianápolis (IMPD).

O chefe da IMPD, Chris Bailey, explicou que não havia previsão do evento, mas que o departamento rapidamente direcionou recursos para acompanhar a marcha. Ele ressaltou que, embora o grupo tenha direito de se manifestar, isso não implica apoio às suas ideias.

O representante da cidade no Congresso dos EUA, o democrata André Carson,, condenou a marcha em uma postagem nas redes sociais. Ele ressaltou que o ódio não tem lugar em Indianápolis e enfatizou a importância de se unir contra o extremismo que ameaça a comunidade e a democracia.

Carlson é um dos dois muçulmanos a ocupar um cargo no Congresso dos EUA, e sua eleição foi um marco para a representação de minorias religiosas na política do país. O democrata segue os passos da avó, Julia Carson, que foi a primeira mulher e a primeira pessoa negra a representar o 7º distrito de Indiana na Câmara dos Representantes antes de sua morte em 2007.

O congressista democrata tem sido ativo em diversas questões, incluindo segurança pública, educação e direitos civis. Ele também tem se posicionado contra a discriminação e em defesa da justiça social, sendo um crítico do extremismo e de movimentos de ódio.

O Conselho de Relações Americano-Islâmicas (CAIR) também se manifestou, reforçando a condenação da marcha e pedindo solidariedade contra qualquer forma de extremismo.

Até o momento, não houve registros de prisões relacionadas à marcha. As autoridades informaram que continuarão monitorando eventos semelhantes para garantir a segurança pública, sempre respeitando as obrigações constitucionais.

O que virá agora?

O cenário atual nos Estados Unidos é alarmante. A normalização de discursos extremistas e o crescente apoio a grupos de ódio estão minando os pilares democráticos e os direitos humanos no país. O risco de relembrarmos as lições mais sombrias da história, como as que surgiram com regimes autoritários, é uma ameaça concreta.

Fonte: https://revistaforum.com.br/global/2025/8/20/trump-permite-comunidade-so-para-brancos-marcha-nazista-em-plena-luz-do-dia-185869.html

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