quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Ranço inexplicável

Uma pesquisa do Ipsos-Ipec, divulgada no início desta semana (28), mostra que a rejeição ao casamento homoafetivo voltou a ser maioria no Brasil. O levantamento aponta que 47% dos brasileiros são contra a união entre pessoas do mesmo sexo, enquanto 36% apoiam. Outros 13% não têm posição definida e 3% não souberam responder.

Em 2023, o cenário era diferente: 44% defendiam o casamento homoafetivo e 42% eram contra. A pesquisa ouviu 2.000 pessoas em 131 municípios entre 3 e 8 de julho, com margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%.

Os dados contrastam com avanços jurídicos recentes. Em 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a união estável homoafetiva como entidade familiar. Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou que cartórios de todo o país realizassem casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo.

O estudo também revela que, apesar de uma leve queda geral no índice de conservadorismo, quase metade da população mantém posições conservadoras, enquanto menos de 10% se identificam como progressistas. Mulheres, idosos, pessoas de baixa renda e com menor escolaridade foram os grupos que mais reduziram seus índices conservadores.

Além disso, sete em cada dez brasileiros defendem prisão perpétua para crimes hediondos, 65% apoiam a redução da maioridade penal, 43% são favoráveis à pena de morte e percentual semelhante apoia a posse de armas. A rejeição ao aborto chega a 75%.

Em entrevista ao Jornal da Tarde, da TV Cultura, o professor de Direito da Unifesp e pesquisador do movimento LGBT+ no Brasil, Renan Quinalha, afirmou que "é preciso distinguir uma postura conservadora legítima, própria do debate democrático, de ataques aos direitos humanos de grupos historicamente marginalizados". Ele destacou ainda que "discordar do casamento homoafetivo não autoriza ofensas, agressões ou qualquer forma de violência", lembrando que a LGBTfobia é crime no país.

Quinalha também ressaltou que "nenhuma sociedade é conservadora por essência" e que a ideia de que o Brasil seria naturalmente conservador não encontra respaldo histórico, já que os índices de conservadorismo variaram ao longo do tempo.

Para ele, a expansão dessas posições está ligada à ação coordenada de agentes políticos e morais bem estruturados e financiados, com forte influência no debate público nacional e internacional. O pesquisador observou ainda que a categoria "casamento" costuma misturar religião e direito civil, o que, em sua opinião, deveria ser melhor esclarecido na pesquisa.

Fonte: https://revistaforum.com.br/lgbt/2025/7/31/conservadorismo-avana-apoio-ao-casamento-homoafetivo-cai-ao-menor-nivel-em-15-anos-184468.html

Nenhum comentário: