sexta-feira, 26 de abril de 2024

Abate religioso regulamentado

A diversidade religiosa no Brasil é refletida diretamente na alimentação e no consumo da população, que, somadas à expansão das exportações de produtos de origem animal para países asiáticos, criaram um mercado específico e cheio de potencial: o do abate religioso de animais para açougue.

Em países como Egito, Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos, grande parte da população é muçulmana, religião que traz, na sua essência, regras do que é permitido na forma de se relacionar com outros seres vivos.

Em árabe, a palavra halal, que significa lícito, define aquilo que é permitido, inclusive na hora de se alimentar. Para o consumo de animais, por exemplo, há espécies consideradas impuras, como o porco, e outras que precisam passar por um procedimento de purificação desde o abate até o corte, para que possam ser consumidas, como o frango e bovinos.

Nos países judaicos, como Israel, também há regras sobre o que é considerado apropriado, ou kosher, e há procedimentos específicos para cada etapa de beneficiamento dos produtos de origem animal.

Para atender esses mercados dentro e fora do Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) definiu regras para solicitação, avaliação, concessão e revogação da autorização para abate e processamento de animais para açougue, de acordo com preceitos religiosos.

Para receber a autorização de funcionamento, esses estabelecimentos terão que fazer uma solicitação ao serviço de inspeção federal, por meio do sistema eletrônico do Mapa, com declaração da autoridade religiosa correspondente e especificação de regras que conflitem com normas brasileiras.

Para a autorização, é necessário que os procedimentos estejam de acordo com as leis que tratam do bem-estar dos animais de abate e também o atendimento dos requisitos sanitários no Brasil e do país de destino dos produtos.

Os procedimentos foram detalhados em uma portaria publicada no Diário Oficial da União, que entrará em vigor a partir do dia 2 de maio.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-04/brasil-regula-abate-e-processamento-de-animais-para-mercado-religioso

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Dança e rituais em SP

Na manhã de 19 de abril, Dia dos Povos Indígenas, representantes da etnia pankararu pararam por meia hora o atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Real Parque, zona sul da capital paulista. A sala de recepção ficou repleta de pessoas e sons de chocalhos, os maracás, para a o ritual do toré, dança que atrai boas energias.

O povo pankararu é originário de Pernambuco. Vieram para São Paulo desde a década de 1940, fugindo da seca e de outras dificuldades. Na capital paulista, trabalharam em obras monumentais, como o Palácio dos Bandeirantes e o Estádio do Morumbi.

Muitos ficaram na zona sul, morando precariamente perto do trabalho. Fixaram-se no Jardim Panorama e na favela Real Parque, onde vive a maior quantidade de parentes pankararu da capital paulista, cerca de mil pessoas.

Articulados, mantém associação e conquistaram a primeira Unidade Básica de Saúde com atenção às necessidades indígenas, no Real Parque. Foi nela que oito homens e mulheres, devidamente paramentados, entoaram cantos, agitaram seus maracás e dançaram o toré.

Foram acompanhados por cerca de 30 pessoas, entre funcionários da UBS, pacientes e parentes da área e de outros bairros. Um deles é Henrique Pankararu, 32 anos – aniversariando exatamente no Dia dos Povos Indígenas. Ele mora em Pinheiros e veio prestigiar os parentes. “São minha maior referência”, diz.

Que Deus?

Os espíritos encantados, que são plantas, animais, ancestrais, tudo que vive ou virou espírito, conforme compreensão pankararu.

Fonte, citado parcialmente: https://www-terra-com-br.cdn.ampproject.org/v/s/www.terra.com.br/amp/visao-do-corre/role-de-quebrada/indigenas-fazem-ritual-de-danca-na-favela-real-parque-em-sp,76581a3386387f36b49d4cd564f5fe31bvpicdou.html?amp_js_v=0.1&amp_gsa=1#webview=1

Bordel era centro social

A Roma Antiga tinha uma sociedade muito vibrante e complexa, onde a prostituição desempenhava um papel importante. Era legal, licenciado e muito comum. Na verdade, os bordéis ocupavam uma posição única e controversa na sociedade romana. Esses estabelecimentos, conhecidos como “ lupanaria ”, eram partes integrantes da vida urbana romana, atendendo aos diversos desejos dos cidadãos, soldados e viajantes. Operando sob o olhar atento da condenação moral e da aceitação social, os bordéis da Roma Antiga eram centros de prazer e comércio, oferecendo um vislumbre das complexidades das atitudes romanas em relação à sexualidade, classe e poder.

Os bordéis na Roma Antiga não eram clandestinos, operações tabu escondidas em becos escuros, mas eram frequentemente estabelecimentos proeminentes e elogiados, estrategicamente localizados em centros movimentados das cidades. Estes lupanários eram facilmente reconhecíveis pela sua sinalização distintiva e eram frequentados por indivíduos de todas as esferas da vida. O poeta romano Martial descreveu-os como “abertos a todos os ventos”, enfatizando a sua acessibilidade e falta de discriminação. Andando pelas ruas de qualquer grande cidade romana, você não poderia deixar de ver um bordel. Grandes falos estavam gravados na calçada, conduzindo os pedestres em direção a um bordel.

Um dos aspectos mais notáveis dos bordéis romanos era o seu estatuto jurídico. Embora a prostituição em si não fosse ilegal na Roma Antiga , regulamentos e restrições regiam o funcionamento dos bordéis. Os proprietários de bordéis, conhecidos como “lenones”, eram obrigados a registar os seus estabelecimentos junto das autoridades e a cumprir determinados regulamentos, como a manutenção de padrões de higiene e o pagamento de impostos. Este quadro jurídico proporcionou um certo grau de protecção tanto aos trabalhadores como aos frequentadores destes estabelecimentos, embora também os tenha submetido ao escrutínio e vigilância por parte das autoridades.

A clientela dos bordéis romanos era muito diversificada, refletindo o caráter cosmopolita da cidade. Desde aristocratas ricos até trabalhadores comuns, podiam ser encontradas pessoas de todas as classes sociais que procuravam os serviços de prostitutas. Para muitos romanos , visitar um bordel era considerado uma parte normal e até essencial da vida urbana. A disponibilidade de serviços sexuais proporcionou uma saída tanto para os desejos físicos como para as interações sociais, promovendo um sentido de comunidade dentro destes estabelecimentos.

Dentro dos muros de um bordel romano, prosperava um ecossistema complexo, governado pelo seu próprio conjunto de regras e hierarquias. As prostitutas, conhecidas como "meretrizes", ocupavam um papel central nesta hierarquia, com indivíduos experientes e qualificados cobrando honorários e prestígio mais elevados. Essas mulheres vieram de diversas origens, desde escravas e libertas até empreendedoras independentes. Apesar do estigma social associado à sua profissão, algumas prostitutas conseguiram acumular riqueza e influência significativas, desafiando as noções tradicionais de género e classe . Muitos, no entanto, viviam vidas pobres e vítimas de abusos, e muitas vezes ficavam à mercê dos cafetões que ficavam com a maior parte de seus ganhos.

O funcionamento diário de um bordel romano era meticulosamente organizado, com lenones supervisionando a gestão do estabelecimento e garantindo o bom funcionamento dos seus serviços. As prostitutas eram frequentemente divididas em categorias com base na idade, aparência e especialização, permitindo que os clientes escolhessem de acordo com suas preferências. Os quartos do bordel foram mobiliados para oferecer conforto e privacidade, proporcionando um ambiente discreto para a realização de transações. Afrescos eróticos adornavam as paredes dos bordéis, exibindo relações sexuais em diversas posições e inspirando os clientes.

Além de meras transações, os bordéis romanos também serviam como espaços de socialização e entretenimento. Muitos estabelecimentos ofereciam comodidades como comida, bebida e música, criando uma atmosfera de convívio para os clientes desfrutarem. E além da arte erótica e da decoração que adornavam as paredes, muitas grafites também foram inscritas, valorizando ainda mais a experiência sensorial dos visitantes, muitas vezes servindo como “avaliações” da qualidade do bordel. Em alguns casos, os bordéis até organizavam apresentações e espetáculos, confundindo os limites entre comércio e entretenimento.

Apesar da sua onipresença e significado cultural, os bordéis romanos não estavam imunes às críticas e à condenação moral. Filósofos como Sêneca e Catão, o Velho, condenaram a decadência moral que acreditavam estar associada à prostituição, vendo-a como um sintoma de declínio social. As autoridades religiosas também expressaram desaprovação desta prática, condenando-a como pecaminosa e imoral. No entanto, a procura de serviços sexuais persistiu, sublinhando a complexa interação entre o desejo humano e as normas sociais na Roma Antiga.

É, no entanto, inegável que os bordéis na Roma Antiga ocupavam um papel complexo e multifacetado na sociedade, servindo tanto como locais de comércio sexual como de expressão cultural. Estes estabelecimentos reflectiam a diversidade e as contradições inerentes à vida romana, oferecendo uma janela para as complexidades das antigas atitudes em relação à sexualidade, classe e poder. Apesar de enfrentarem censura moral e restrições legais, os bordéis prosperaram como centros vitais da vida urbana, atendendo aos variados desejos de uma população cosmopolita. Seu legado permanece como um testemunho do fascínio humano duradouro pelo prazer e pela intimidade ao longo dos tempos.

Fonte: https://www.ancient-origins.net/history-ancient-traditions/roman-brothels-0020648
Traduzido com Google Tradutor.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Milei fecha serviço essencial

Em um movimento com repercussão em toda a América Latina, o governo de Javier Milei anunciou o desmantelamento do Programa Nacional de Prevenção da Gravidez Não Intencional na Adolescência (Enia), um modelo elogiado pela sua eficácia desde sua criação em 2018. Especialistas expressam preocupações sobre os impactos desse corte, não apenas na saúde reprodutiva dos jovens argentinos, mas também nos direitos das mulheres.

Durante o período de 2018 a 2021, o Enia conseguiu reduzir significativamente o número de gestações entre adolescentes argentinas, com uma queda notável de 22 pontos percentuais na taxa de fecundidade nessa faixa etária. No entanto, o anúncio recente de que 619 profissionais de saúde ligados ao programa não teriam seus contratos renovados indica o fim abrupto dessa iniciativa, destaca reportagem do jornal O Globo.

A socióloga Silvina Ramos, ex-coordenadora do programa, lamenta o desfecho e aponta para as consequências adversas que essa medida pode acarretar. "Cada gravidez adolescente evitada representa um custo de apenas US$ 60 para o Estado. O que estamos vendo é um retrocesso alarmante em uma área crucial da saúde pública", destaca.

Além disso, o temor se estende à possibilidade de que o governo Milei possa também comprometer outras conquistas das argentinas, incluindo a legalização do aborto. A falta de financiamento para a compra de medicamentos utilizados em abortos legais levanta preocupações sobre a garantia desse direito fundamental.

A ausência de uma política clara em saúde reprodutiva e sexual é vista como um sinal preocupante por especialistas.

Fonte: https://www.brasil247.com/americalatina/milei-encerra-programa-de-prevencao-a-gravidez-na-adolescencia

Quebrando o monólogo

Pergunta rápida. Por que os conservadores e os fundamentalistas cristãos fazem tanta questão de atrapalhar ou impedir o direito ao aborto?

O controle sobre os direitos reprodutivos é parte do controle sobre o corpo. Quando se impõe leis que controlam o corpo, o desejo, o prazer e o sexo, o resultado é um controle sobre a sociedade.

John Stonestreet, que eu carinhosamente chamo de "Stoned"street, costuma ser obstinado e obcecado em negar a existência de pessoas intersexuais.
A homofobia e a misoginia fazem parte do Cristianismo. A postura contra o aborto é mais doutrinária do que racional, médica ou científica.

Como de costume, eu vou citar, analisar e criticar um texto dele.

"A violência sexual não deve ser usada como arma retórica no debate sobre o aborto."

John não quer o diálogo, ele está mais para o monólogo, quer impor o seu discurso no tema do aborto. Não existe retórica onde a doutrina reina.

"O aborto sob demanda não ajuda vítimas de estupro. Em vez disso, encoraja e capacita os perpetradores."

Isso é tão absurdo quanto alegar que o uso de camisinha provoca gravidez não planejada.

"Na verdade, de que outra forma se pode explicar alguém que pensaria que um relatório alegando um aumento tão chocante na criminalidade sexual em 14 estados é na verdade uma história sobre aborto e não sobre crime?"

Na verdade, ele mesmo descreveu, o aumento de crimes sexuais ocorreu em estados onde existem restrição ao aborto.

Mas isso é "apenas um pequeno detalhe".
Além do que, eu aponto para a hipocrisia dos cristãos. Falam na "sacralidade da vida" como se o Cristianismo não fosse o motivo da morte de milhares de inocentes.

terça-feira, 23 de abril de 2024

O tamanho do estrago

Nós ainda não estamos dando conta do estrago do Bolsonarismo.
Uma notícia aponta o abismo:

A prefeita da cidade de Canoinhas (SC), Juliana Maciel (PSDB), publicou um vídeo em que descarta os livros distribuídos pelo Projeto Mundoteca-- iniciativa apoiada pelo governo federal--, na quarta-feira, 17, em suas redes sociais.

Durante a ação, a gestora alegou que a biblioteca do município não teria 'porcarias' em seu acervo e jogou no lixo exemplares de As Melhores do Analista de Bagé, de Luís Fernando Veríssimo, e Aparelho sexual e Cia., obra que foi publicamente criticada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

"Mais uma vez o governo do PT faz esse tipo de coisa: bota o adolescente, bota a criança, induz a coisa que não é dos valores do que a gente acredita, não é o que a família quer que ele aprenda. Não é realmente o que uma criança ou até um adolescente precisa ler numa biblioteca", declarou.

(https://www.terra.com.br/amp/noticias/educacao/prefeita-joga-livros-doados-a-biblioteca-no-lixo-e-culpa-lei-rouanet-porcaria,c3c337f9ec225eec304af1df4b535c600vbiizmv.html?amp_js_v=0.1&amp_gsa=1#webview=1)

Peraê. Cadê os boçais (conservadores, cristãos, reacionários e bolsonaristas) que defenderam a "liberdade de expressão ", apoiando Elon Musk e criticando Alexandre Moraes? Então como essa prefeita (bolsonarista) quer censurar livros?
O que essa gente faz não é pela liberdade de expressão, mas querem permissão para disseminar fake news e discurso de ódio. A Grande Mídia que faz eco a esse pleito, tem a mesma intenção de Elon Musk, que é garantir a audiência e o lucro. Sem esquecer que a direita, seja a extrema ou a alternativa, é uma teoria política concebida pelos burguêses para "consertar" as crises do capitalismo que eles mesmos provocaram.

A mancada de Mankey

Eu tenho outros textos onde eu analiso e crítico Jason Mankey.
Houve um tempo que o Patheos era uma fonte útil de textos. Houve um tempo que Jason escrevia algo relevante. Mas Jason errou a mão novamente.

Título do texto - Você Não Precisa De Uma Bíblia.

Quem nasceu e cresceu em um país majoritariamente cristão, conhecer a Bíblia é necessário para questionar, contestar e criticar o Cristianismo. Em seus quase 2k anos de existência, a organização religiosa que surgiu e cresceu no Cristianismo usa a Bíblia como suporte e justificativa para seus crimes.

Então não fode, Mankey.

Ele cita um texto de Ann Trip, título A Bíblia também é um recurso necessário para os pagãos. Sabendo ler nas entrelinhas e fazendo um monte de pesquisa, a Bíblia, curiosamente, é um bom recurso para os pagãos modernos.

O que é preocupante é a declaração do Mankey.

"Mas não me importo quando os radicais usam a Bíblia contra mim porque não acredito na Bíblia. Usar a Bíblia para me defender da Bíblia dá à Bíblia um certo poder que ela realmente não tem na minha vida."

"Há muita coisa na nossa cultura que pode ser “culturalmente” cristã, mas não há nada que sugira que todos estejamos obrigados a ser cristãos."

Ele estranhamente fala em leis e justiça. A merda é que tudo isso tem sido feito e influenciado por grupos de conservadores e de fundamentalistas cristãos. Então não fode, Mankey.

Essa sua paganice está fedendo.
Usar a Bíblia mostrando suas contradições, erros, interpolações e fraudes elimina toda a pretensão do discurso baseado na Bíblia. Ou seja, acaba com o argumento e elimina qualquer poder que seja alegado a partir da Bíblia.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Fora de sintonia

Depois de alguns dias que eu apreciei no YouTube (eu não estou ganhando um centavo com isso) as músicas do The Jesus and Mary Chain (Glascow Eyes) a revista Fórum pública um texto de Francisco Fernandes Ladeira.

O título, por si mesmo, gera controvérsia e polêmica.

"O rock é de direita?"

Opiniões conflitantes, algumas evidências.

O rock surgiu do blues, música feita por afro-americanos. Os verdadeiros reis do rock são Chuck Berry e Little Richard.
Elvis foi (auto)proclamado como rei do rock como parte do merchandising. Sim, meninos, o rock é um produto cultural que surgiu e cresceu dentro do capitalismo, então o sistema apenas assimilou e promoveu (promove) o rock como um tipo de válvula de escape. As boy/girls band estão aí para comprovar meu vaticínio.

Francisco comete um erro primário ao definir que o anarquismo não é de esquerda.

Então os integrantes de bandas de rock faziam música não por convicções, mas para ganhar dinheiro.
Sim, roqueiros são, na melhor das hipóteses (geralmente), filhos de pequenos burgueses. Quando surgem, geralmente na adolescência ou início da fase adulta, seguem a cartilha. Rock tem como público alvo adolescentes, então é necessário parecer que se está contestando o sistema.
Mas a idade vem, os roqueiros envelhecem. Pega mal um quarentão fazer música de contestação. Ganharam muito dinheiro, então vão fazer de tudo para manter seus privilégios sociais.

O público também cresceu e envelheceu. Pode-se dizer que é corporativismo ou saudosismo. Talvez seja influência das redes sociais ou da falta de educação. O público está tendendo cada vez mais à direita. Casamento perfeito. Os roqueiros que antes falavam em questões sociais agora não receiam defender a direita, seja a extrema ou a alternativa. Tudo farinha do mesmo saco. Que vive do rancor dessas mesma classe média, pequeno burguesa que produz rock.

Poucas, raras, são as exceções. Existem, graças aos Deuses.

Farinha do mesmo saco


Strange days have found us
Strange days have tracked us down
They're going to destroy
Our casual joys
We shall go on playing or find a new town

-Strange Days, The Doors.

Diz um ditado que não se deve bater palma para maluco dançar.
Isso deve ser anterior às redes sociais terem se tornado um poder paralelo.

Elon Musk fala em “liberdade de expressão”, mas faz isso para garantir seu lucro. Afinal, ele mesmo censurou postagens no Twitter (atualmente chamado de X). Tal como Mark Zuckerberg, o importante é a audiência, receber “likes”, compartilhar, mesmo que se trate de fake news, de discurso de ódio.

Quem está deitando e rolando, feliz como pinto no lixo, é a direita, seja a extrema ou a alternativa.

A revista Exame publicou um texto de André Marsiglia onde ele defende o conceito de que a liberdade de expressão é absoluta.
O que é estranho, pois foi a “gente” dele que tentou censurar o livro “O Avesso da Pele”. A mesma gente que defende a ideia de “escola sem partido” e que fala do perigo da “ideologia de gênero”.

Trump, assim como Bolsonaro, tem usado e capitalizado o fundamentalismo cristão para seus propósitos políticos. Com direito a oferecer uma bíblia personalizada. Ora, se picareta, digo, pastor, pode lucrar com Google comércio da fé, Trump também pode.

Elisa Sanches é um caso curioso. Atriz pornô, dona de um perfil no Onlyfans, chegou a divulgar um vídeo dizendo que a COVID era uma jogada política, tal como Jair Bolsonaro, a quem ela admira e defende.

Mais enigmático é a postura de Jojo Toddynho.
Usou Anitta como escada, fez sucesso emplacando um sucesso aparentemente em defesa da comunidade LGBT. Mas suas atitudes recentes mostram que ela também está (ou sempre esteve) dando uma guinada à direita.

Se isso não for suficiente, eu vou indicar o caso do Marcos Santos. Brasileiro, negro, que foi eleito em Portugal pelo “Chega”, um partido de extrema direita, racista e xenófobo.

Por isso que é muito contraditório ver no GGN, um jornal supostamente progressista, publicar um texto de Daniel Afonso da Silva afirmando que “não existem – e quase nunca no passado existiu – ‘genocidas’, ‘fascistas’, ‘nazistas’ e afins caminhando pelas ruas, praças e vielas brasileiras.” Ele viu as notícias recentes? Não viu a manifestação fascista na Paulista?

Quem é de esquerda e quer um mundo melhor, uma sociedade mais justa e inclusiva, tem que parar de brincar e subestimar a direita.

domingo, 21 de abril de 2024

Os extremos se encontram

O parlamento da Alemanha, o Bundestag, aprovou a Lei da Autodeterminação de gênero, que altera a legislação em vigor que obrigava as pessoas trans, ao solicitarem a alteração do nome e sexo nos documentos, a enfrentarem um périplo violento onde tinham de passar por uma junta médica e "provar" que "pertenciam" à identidade de gênero requerida.

Com a nova legislação, mulheres e homens trans alemães não precisarão mais enfrentar a humilhação estatal de terem de provar o que são. A partir do dia 1º de novembro, as mudanças do nome e sexo poderão ser realizadas com um simples procedimento nos cartórios de registro civil do país.

De acordo com o texto da lei alemã, são contempladas pela nova legislação as pessoas transexuais, intersexuais e não binárias.

A lei aprovada permite que qualquer pessoa maior de idade possa demandar em um cartório a alteração. Os menores de idade poderão modificar o sexo com o consentimento dos responsáveis legais a partir dos 14 anos.

Além disso, a lei também enquadra pessoas e instituições que divulgarem o sexo anterior da pessoa sob pena de multa.

Extrema direita e esquerda radical juntos na transfobia

O debate no parlamento alemão sobre a nova legislação às pessoas trans produziu uma cena inusitada: a união da extrema direita, representada pelos fascistas do AfD com o BSW, liderado por Sahra Wagenknecht e fruto de um racha no Die Linke (A Esquerda).

Do AfD, ninguém espera nada por motivos óbvios, visto que o partido possui em seus quadros simpatizantes do nazismo. No entanto, as declarações da líder do BSW mostram que, para crescer entre o eleitorado alemão, a nova legenda tem aderido à agenda anti-trans, que se espalha como um vírus pela Europa.

Por meio de suas redes, Sahra Wagenknecht compartilhou o seu voto contra a Lei de Autodeterminação de Gênero e afirmou que o texto da legislação "é misógino e serve ao lobby farmacêutico", argumento comum entre os movimentos transfóbicos de esquerda e de direita.

"No futuro será mais fácil neste país decidir sobre o seu gênero do que o aquecimento ou a potência do seu próprio carro. A Lei de Autodeterminação é misógina e serve ao lobby farmacêutico", declarou Sahra, uma figura com espaço na imprensa alemã e classificada como uma "populista de esquerda".

A Lei de Autodeterminação, apesar do esforço da extrema direita e da esquerda radical para derrubá-la, foi aprovada por 374 votos a 251 na última sexta-feira (12) com votos dos partidos da base do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz: Partido Social-Democrata (SPD), Partido Liberal Democrático (FDP), Os Verdes e A Esquerda.

Além do AfD (extrema direita) e BSW (esquerda radical), votaram contra a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU).

Fonte: https://revistaforum.com.br/lgbt/2024/4/16/extrema-direita-esquerda-radical-se-unem-na-alemanha-contra-os-direitos-trans-157397.html

Nota: em teoria política, existe uma tese que diz que os extremos se aproximam, é a chamada teoria da ferradura.

Dawkins, um cristão cultural

Autor: John Beckett.

Como deve ser abraçar pessoas que pensam que você é um tolo só porque odeiam as mesmas pessoas que você odeia?

Não, não estou falando dos eleitores evangélicos de Trump. Estou falando do lendário Novo Ateu Richard Dawkins, que se autodenomina um “cristão cultural”. Aqui está uma citação de uma entrevista recente :

"Adoro hinos e canções de Natal e sinto-me em casa no ethos cristão, e sinto que nós [Grã-Bretanha] somos um país cristão nesse sentido… Eu me considero um cristão cultural e acho que seria verdadeiramente terrível se nós substituiu qualquer religião alternativa."

O que está por trás desse amor repentino pelo Cristianismo?

"Se eu tivesse que escolher entre o Cristianismo e o Islã, escolheria o Cristianismo todas as vezes. Parece-me ser uma religião fundamentalmente decente, de uma forma que penso que o Islão não é."

Dawkins também é anti-trans. Em 2021, a Associação Humanista Americana retirou o prémio Humanista do Ano por “fazer declarações que usam o disfarce do discurso científico para humilhar grupos marginalizados… A sua última declaração implica que as identidades dos indivíduos transexuais são fraudulentas, ao mesmo tempo que ataca simultaneamente a identidade negra como uma isso pode ser assumido quando for conveniente.”

Li dois livros de Dawkins. Seu livro de 2009, The Greatest Show on Earth: The Evidence for Evolution, é excelente. Seu livro de 2006, The God Delusion, não é. Dawkins define “Deus” e “religião” de forma muito restrita, usando definições tiradas diretamente dos monoteístas conservadores. Também não gosto do fundamentalismo , mas a religião – seja cristã, pagã ou qualquer outra – é muito mais do que o conjunto de proposições sobrenaturais que você afirma e quais você rejeita.

Mas Richard Dawkins parece ter finalmente encontrado uma utilidade para o cristianismo: atacar muçulmanos e pessoas trans.

Richard Dawkins é uma pessoa muito inteligente. Mas a inteligência nem sempre leva à sabedoria.

O tipo de cristão que apoia a cultura preferida de Dawkins não o está acolhendo exatamente.

Carmel Richardson, escrevendo para The American Conservative , diz que 'Cristianismo Cultural' de Richard Dawkins é mingau fino . Ela diz que “tendo perseguido ativamente a igreja, Dawkins acha que está triste por vê-la desaparecer. Não podemos fingir que a culpa é de alguém, a não ser dele mesmo e dos seus compatriotas que fizeram cruzadas contra a religião como a raiz de todos os males sociais.”

Russell Moore é o editor do Christianity Today e foi expulso da Convenção Batista do Sul por se opor a Donald Trump. Ele escreveu O Novo Ateísmo Finalmente Aprende Como Destruir o Cristianismo , dizendo que “o desejo de fazer da religião a maneira de provar a identidade cultural de alguém contra 'estranhos' sempre encontrará um público ávido” e “se o evangelho não é real, o evangelho não' não funciona. O paganismo genuíno vencerá sempre o falso cristianismo.”

Uma rápida pesquisa no Google revela muitas dessas críticas. Não consigo encontrar um único site cristão acolhendo Dawkins, ou mesmo reagindo positivamente.

O conceito de que religião tem tudo a ver com aquilo em que você acredita é uma ideia moderna, ocidental e protestante. Para a maioria das pessoas, na maioria dos lugares ao longo da maior parte da história, a religião era e é sobre o que você faz, quem você é e de quem você é. A religião tem a ver com identidade e relacionamentos.

Richard Dawkins não gosta de ver celebrações públicas do Ramadã. A mera existência de pessoas trans ofende as suas ideias míopes sobre o determinismo biológico. Ele tem algumas lembranças nostálgicas de sua infância anglicana. Ele nunca vai mudar de ideia sobre a existência do Deus cristão, mas está disposto a se identificar como cristão para tentar voltar no tempo até a década de 1950.

Não vai funcionar.

E por “acreditar” não me refiro àqueles que afirmam as proposições sobrenaturais de uma religião. Refiro-me àqueles que “acreditam” na religião no sentido de que acreditam que as suas histórias e tradições sagradas são suficientemente importantes para serem mantidas.

São essas pessoas que contam as histórias e conduzem os rituais. Aqueles que praticam as tradições dia após dia. Aqueles que cuidam dos santuários, mantêm os altares e limpam as capelas. Aqueles que fazem o que fazem não por medo do inferno ou pela esperança do céu, mas porque faz parte de quem eles são e não podem deixar de fazê-lo.

A cultura é uma grande parte da sua religião, mas eles não são cristãos culturais (ou pagãos, budistas ou qualquer outra coisa). A religião não é algo em que pensem quando a veem em exibição pública – ou quando ficam zangados porque uma religião concorrente está em exibição pública. É algo que eles pensam, vivem e respiram o tempo todo.

Alguns deles são teístas e até místicos. Alguns estão ocupados demais aqui e agora para se preocuparem com coisas que ninguém pode provar ou refutar. De qualquer forma, quando eles dizem que acenderão uma vela para você, não são apenas “ pensamentos e orações ”.

Essas pessoas são uma pequena parte de qualquer religião, cristã ou não. Mas são eles que mantêm a igreja funcionando durante todo o ano para que os cristãos culturais tenham um lugar para ir no Natal e na Páscoa – ou apenas um lugar para realizar o seu casamento e o seu funeral.

Nem todo mundo que mantém sua religião em movimento tem boas intenções.

Dawkins não está errado ao temer o tipo de Islão que vemos no Irão e no Afeganistão, embora não reconheça que a maioria dos muçulmanos também não quer viver assim. Neste país, temos Nacionalistas Cristãos a tentar desfazer o progresso social do século passado. Estas pessoas são zelosas em relação à sua religião e em usar o poder do governo para forçar todos a viver de acordo com as suas regras.

Eles são determinados e persistentes. Eles trabalharam durante 50 anos para derrubar Roe v. Wade , e agora que conseguiram, não param por aí. Eles querem uma proibição do aborto em todo o país, e depois vêm atrás do casamento entre pessoas do mesmo sexo e do controle da natalidade. Alguns ficariam satisfeitos em forçar as pessoas LGBTQ a voltarem ao armário, enquanto outros querem desfazer Lawrence v. Texas e criminalizar as relações entre pessoas do mesmo sexo.

Eles não podem ser negociados. Eles só podem ser derrotados nas urnas, eleição após eleição após eleição, até que a cultura dominante mude para sempre.

Então, o que tudo isso significa para nós, como pagãos… além de balançar a cabeça diante da ironia de Richard Dawkins se autodenominar cristão? Eu vejo quatro coisas.

Não tente se aliar a pessoas que pensam que você é mau. Você pode trabalhar com qualquer pessoa que não esteja tentando prejudicar você e os seus, se necessário, mas não se invista naqueles que não o aceitam como e como você é.

A atração da nostalgia é forte. Não há problema em apreciar as coisas boas do seu passado, mas certifique-se de que sua vida continue avançando, não retrocedendo.

Não tema a mudança. Está chegando, quer você goste ou não.

O movimento pagão precisa de mais crentes. Novamente, não são pessoas que afirmam proposições sobrenaturais, são pessoas que acreditam em conceitos, tradições e práticas pagãs profundamente o suficiente para torná-los uma parte essencial de suas vidas.

...os seus escritos sobre religião são superficiais e fracos, e a sua identificação como um “cristão cultural” flui dessa fraqueza. Se ele está feliz com isso, estou feliz por ele – o paganismo não é uma religião de proselitismo.

Fonte, citado parcialmente: https://www.patheos.com/blogs/johnbeckett/2024/04/richard-dawkins-calls-himself-a-cultural-christian.html

Nota: existe uma página cristã que posicionou-se positivamente em relação à Dawkins e sua transfobia. Breackpoint, do John Stonestreet. Paulo costuma dar ouvidos ao que Dawkins e Harris falam, sem dúvidas ou críticas. Uma pena, mas tem ateu que tem um comportamento fundamentalista.

sábado, 20 de abril de 2024

Fórum Permanente de Afrodescendentes III

Pela terceira vez, Criola marcará presença no Fórum Permanente destacando a urgência de ações de enfrentamento ao racismo patriarcal cisheteronormativo para combater as crescentes violações sofridas por meninas e mulheres negras cis e trans.

A terceira sessão do Fórum Permanente de Afrodescendentes será realizada em Genebra, na Suíça, entre os dias 16 e 19 de abril de 2024. O órgão foi estabelecido pela Assembleia Geral da ONU em 2021 e conta com 10 membros que trabalham juntamente com o Conselho de Direitos Humanos, em Genebra. O espaço funciona como um mecanismo consultivo para pessoas afrodescendentes e partes interessadas, e tem como objetivo contribuir para a inclusão política, econômica e social da população afrodescendente em todo o mundo. O Fórum Permanente também tem como missão discutir a elaboração de uma Declaração das Nações Unidas sobre a promoção, proteção e respeito pleno aos direitos humanos das pessoas afrodescendentes.  

Nesta terceira sessão, o Fórum vai contar com quatro painéis temáticos de discussão:

Reparações, Desenvolvimento Sustentável e Justiça Econômica 
Educação: Superando o Racismo Sistêmicos e os Danos Históricos 
Cultura e Reconhecimento 
A Segunda Década Internacional de Afrodescendentes: Expectativas e Desafios

Participação ativa e constante de Criola no Fórum Permanente de Afrodescendentes.

Criola compôs a delegação brasileira presente na primeira sessão do fórum, ocorrida em dezembro de 2022. Na ocasião, denunciou a situação de direitos da população afrodescendente no Brasil, em especial, das mulheres negras cis e trans. Em 2023, Criola também marcou presença na II Sessão do Fórum, realizada na sede da ONU em Nova Iorque, entre 30 de maio e 02 de junho de 2023. Durante sua participação, exigiu urgência:

Para a reversão do quadro de perda de direitos sexuais e reprodutivos, com especial ênfase ao direito ao aborto; 
Para a responsabilização dos governos no cumprimento das medidas, legislações, políticas e acordos contra o racismo, com destaque para o Plano de Ação e da Declaração de Durban e para as definições do Comitê sobre Eliminação da Discriminação Racial (CERD); 
Para o enfrentamento do racismo institucional no sistema de justiça.

Representadas por Lúcia Xavier, a coordenadora geral de Criola destacou em sua fala na II Sessão do Fórum Permanente de Afrodescendentes das Nações Unidas que nós, meninas e mulheres negras:

“Vivemos a violência como se fosse um problema nosso, sem que homens negros, brancos, Estados e sociedade tomem a temática como fundamental para o desenvolvimento, para a evolução dos direitos, mas, sobretudo, para a garantia da nossa própria existência. Também é necessário lutar por justiça reparativa das práticas implementadas pelo Estado em toda a nossa região. Nosso primeiro violador são os nossos Estados e depois eles seguem imaginando que suas propostas e suas políticas são suficientes para nos deixar vivos, mas nem isso tem sido alcançado”. 

III Sessão do Fórum Permanente: discutindo a Segunda Década Internacional para os Afrodescendentes.

“A Segunda Década Internacional para os Afrodescendentes: Combate ao Racismo Sistêmico, Justiça Reparadora e Desenvolvimento Sustentável” é o tema a ser debatido pela terceira sessão do Fórum Permanente. A Década Internacional dos Afrodescendentes foi proclamada em 2013, compreendendo o período 2015-2024, com o slogan: “Povos de Afrodescendência: Reconhecimento, Justiça e Desenvolvimento”. A ideia é que o Fórum deste ano seja um espaço de discussão e reflexão sobre as conquistas e deficiências dessa iniciativa, bem como promova recomendações sobre ações estratégicas a serem tomadas nos próximos 10 anos.

Mais uma vez, Criola ocupará o espaço de incidência política internacional, promovendo o debate e denunciando a situação de vulnerabilidade impostas pelo racismo patriarcal cisheteronormativo contra meninas e mulheres negras cis e trans no Brasil; traçando ações reais de combate às opressões causadas pelo racismo e cobrando o cumprimento dos acordos já estabelecidos em prol da equidade racial.

Fonte: https://criola.org.br/criola-presente-na-terceira-sessao-do-forum-permanente-de-afrodescendentes/#:~:text=A%20terceira%20sess%C3%A3o%20do%20F%C3%B3rum,de%20Direitos%20Humanos%2C%20em%20Genebra.

Povo do Bode

Demorou dias para que Steven Posch voltasse a escrever no Pagan Square.
Esse texto tem como título "People of the Goat".

Em inglês, goat é um sinônimo comum de dois gêneros, então serve para masculino e feminino. Em português, o nome do animal tem separação. Bode, masculino, cabra, feminino.

Por escolha, opção e risco meu, eu traduzido goat como bode. Para lembrar que o Mestre do Sabá, nosso Deus, manifesta-se na forma de um animal de chifres. Touro, bisão, cervo e bode.

Vamos seguir com a tradução.

Once we dwelt in the fertile plains. Beef was our food, the milk of cows our drink.

Era uma vez quando morávamos nas planícies férteis. A carne era nosso alimento, o leite de vaca nossa bebida.

Then we were driven out.

Depois fomos expulsos.

Into the rocky, unfertile hills we fled, which cannot sustain a cow.

We became a people of the goat, for whom the Horned wears caprine horns and hide.

Fugimos para as colinas rochosas e inférteis, que não podem sustentar uma vaca.

Nos tornamos um povo do bode, para quem o Chifrudo usa chifres de caprino e se esconde.

Like goats, we witches are survivors.

Como cabras, nós, bruxas (bruxos), somos sobreviventes.

That's why it can't help but seem to me something of a moral failing that I don't like goat's milk.

Oh, I've tried. “This chèvre has a nice, lemony tang to it,” I say hopefully.

But in my heart, I understand that it's really myself that I'm trying to talk around.

É por isso que não posso deixar de me parecer uma espécie de falha moral não gostar de leite de cabra.

Ah, eu tentei. “Este chèvre tem um sabor agradável de limão”, digo esperançosamente.

Mas no meu coração, eu entendo que sou eu mesmo quem estou tentando conversar.

Maybe it's just a matter of what I'm used to.

Maybe I'm secretly longing for those fat days of our onetime freedom.

Well, I'll drink my cow's milk, and be glad of it, best of foods.

But even here in the fertile plains, we do not forget.

Talvez seja apenas uma questão do que estou acostumado.

Talvez eu esteja secretamente desejando aqueles dias gordos de nossa antiga liberdade.

Bem, vou beber meu leite de vaca e ficar feliz com isso, o melhor dos alimentos.

Mas mesmo aqui, nas planícies férteis, não esquecemos.

Black Goat of the Sabbat,

seated on the altar:

to you, to you, my Buck,

I make my prayer.

Bode Negro do Sabá,

sentado no altar:

para você, para você, meu Senhor,

Faço minha oração.

Nota: buck é similar a deer, embora seja um sinônimo masculino. Então o "buck" é um cervo adulto que é líder de uma manada. Deve ser um escândalo a muitos pagãos modernos lembrar que a dieta de nossos ancestrais incluía carne e leite 😏🤭.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Sobre as virtudes da oração

«O contínuo exercício da oração fortalece o vigor do nosso intelecto e torna os receptáculos da alma muito mais capazes para as comunicações dos Deuses. É igualmente a chave divina, que abre aos homens a penetralia dos Deuses; acostuma-nos aos esplêndidos rios de luz celestial; em pouco tempo aperfeiçoa os nossos recantos mais íntimos e dispõe-nos para o inefável abraço e contacto dos Deuses; e não desiste até que nos eleve ao cume de todos. Também eleva gradual e silenciosamente as maneiras da nossa alma, despojando-a de tudo o que é estranho à natureza divina, e reveste-nos com as perfeições dos Deuses. Além disso, produz uma comunhão e amizade indissolúvel com a Divindade, nutre um amor divino e inflama a parte divina da alma. Tudo o que é de natureza oposta e contrária na alma, a oração expia e purifica; expulsa tudo o que é propenso à geração e mal retém qualquer resíduo da mortalidade no seu espírito etéreo e esplêndido; aperfeiçoa uma boa esperança e fé em relação à recepção da luz divina; e, numa palavra, torna aqueles por quem é empregado os familiares e domésticos dos Deuses.»

«Sobre os Mistérios» («De Mysteriis»), pelo neo-platónico assírio Jâmblico (245 - 325), aqui traduzido pelo inglês Thomas Taylor (1758 - 1835).
 
Fonte: https://gladio.blogspot.com/2024/04/sobre-as-virtudes-da-oracao.html

Nota: de vez em quando Caturo pública algo útil e notável.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Edir quer liberar homofobia

O bispo Edir Macedo, dono da Record e da Igreja Universal do Reino de Deus, apresentou um recurso contra a decisão da Justiça Federal de remover um vídeo no qual ele faz declarações homofóbicas relacionando a sexualidade com a criminalidade.

No vídeo, veiculado na véspera do Natal de 2022, Macedo afirma que “ninguém nasce ladrão, ninguém nasce bandido, ninguém nasce homossexual, lésbica… ninguém nasce mau. Todo mundo nasce perfeito com a sua inocência, porém o mundo faz das pessoas aquilo que elas são quando elas aderem ao mundo”.

Em novembro de 2023, a Justiça Federal determinou que a Record fizesse a retirada imediata, de todos os meios de comunicação, de programa veiculado. A decisão foi tomada em uma ação civil pública protocolada por entidades que atuam na defesa dos direitos da população LGBT+ contra ofensivas proferidas pelo dono da emissora, Edir Macedo.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/edir-macedo-quer-reverter-veto-a-exibicao-de-video-homofobico-ninguem-nasce-gay/

Adendo: a comunidade evangélica deve gostar de passar vergonha em público.
Foi divulgado um vídeo onde, em um evento na Suinobrás, foi concedido uma unção no tornozelo ao Inominável.
Reportagem: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/video-evangelicos-oram-e-passam-uncao-no-local-onde-bolsonaro-pora-tornozeleira/

Houston, temos um problema

No Patheos, na seção Catholic, na coluna A Little Bit of Nothing, Henry Karlson mostra uma ideia perturbadora.

Citando:

“A Vitória Do Amor Na Cruz”

Isso é muito perturbador. Onde pode ser visto o amor em uma imagem de alguém pregado na cruz?
Segundo a doutrina cristã, Yahweh enviou o próprio filho para nos salvar. Essa seria a “demonstração de amor”. Como eu devo ter escrito em algum lugar, um Deus que envia o próprio filho para ser sacrificado, imagine o que faria contra nós?

Sigamos. Citando:

“O Deus-homem , Jesus Cristo, experimentou um ódio assassino contra si mesmo durante toda a sua vida (como pode ser visto pela maneira como Herodes queria que o menino Jesus fosse morto).”

Na doutrina cristã, Jesus é Deus, mas essa questão sobre a pessoa de Jesus foi motivo de controvérsias, polêmicas e guerras entre os cristãos. A lenda da Matança dos Inocentes por Herodes não tem sustentação histórica.

Citando:

“Jesus amou o mundo e todos os que nele vivem, mesmo que aqueles que nele habitam, especialmente os que estão presos às estruturas sistêmicas e sistemáticas do pecado , tenham procurado extingui-lo.”

Não é bem assim. Vários trechos dos Evangelhos mostra Jesus demonstrando desprezo pelos fariseus e agiu com violência contra os mercadores. Um trecho diz claramente que ele veio trazer a espada, não a paz e que causaria guerra entre as pessoas.

Citando:

“Jesus voluntariamente assumiu todo o sofrimento, toda a dor, todo o mal que o pecado poderia e iria causar-lhe.”

Não é bem assim. A missão de Jesus, como Cristo, foi definida pelos Profetas. Jesus estava predestinado ao sacrifício. Em uma cena descrita nos Evangelhos, talvez em um momento de fraqueza ou instinto de sobrevivência, Jesus peticionou ao seu “Pai” que o livrasse desse destino.

Citando:

“Ele veio ao mundo para mostrar o amor de Deus, para revelar o caminho do amor, para mostrar que tal amor é maior que o poder do pecado.”

Considerando a história do Cristianismo, tanta violência, ódio e guerra, cabe aqui uma frase dita por LaVey - o único cristão morreu na cruz.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

O cálice e a adaga

Recapitulando.

Patheos foi adquirido por um grupo associado ao NRA, ao conservadorismo e ao fundamentalismo cristão.
Muitos colunistas pagãos e ateus saíram do Patheos. Os ateus criaram o OnlySky, que também fechou as portas. Eu não vi algo parecido entre os pagãos. Alguns permanecem no Patheos, o Pagan Square deixou de ser interessante e restou o Wild Hunt.

Erick Dupree, depois de sair do Patheos, foi vender seu monoteísmo diânico no Wild Hunt.
Ele começa errado no título do artigo.

“Tudo começou no amor.”

Amor é um sentimento e uma palavra. Nós falamos muito, mas praticamos pouco.

Continuando.

“Em seu livro inovador The Spiral Dance , Starhawk conta a história da Deusa Estelar, que, sozinha, incrível e completa dentro de si, viu seu reflexo no vasto abismo e se apaixonou por si mesma. Foi a partir desse amor que ela criou toda a existência. Do amor nasceu a humanidade e do seu amor tudo começou.”

Amar o seu reflexo é narcisismo, não é amor.
Contradição evidente. Sendo essa Deusa pré existente, então não começou com o amor.
Eu, como diletante do amor e aluno de pensadores melhores do que eu, posso dizer que não existe amor sem que exista o oposto, mas não antagônico.
A teologia diânica não se sustenta. Que reflexo o abismo pode produzir? Não é o abismo parte dessa mesma Deusa solitária? Não é o reflexo uma imagem, uma parte, dela mesma? Amar a si mesmo é egoísmo. Sem a existência do outro, do diferente, do oposto, nada pode ser criado ou gerado.

Continuando.

“Remove-se um “Deus” onipresente e uma práxis de pecado, redenção e perdão, e os substitui pela permissão para encontrar significado em um amor generativo, sem gênero e abrangente.”

Não existe diferença entre um Deus e uma Deusa onipresente. Onde tem algo absoluto, reina a tirania, a ditadura. Fica evidente que o conceito de Deus de Erick é o mesmo do cristão, o mesmo das religiões abraâmicas. Pior, ele cometeu o mesmo erro de confundir sexo com gênero.

Eu devo lembrar que o Deus Cristão não é o nosso Deus. Nós não podemos nem iremos fechar essas feridas transformando a Deusa em uma inversão travestida do Deus Cristão.

A Deusa é o Ventre e o Túmulo, Ela é o Campo para ser arado. O Deus é a Lança e o Arado, ele é o Semeador. Sem o Hiero Gamos, não existiria o universo, a vida e a humanidade.

Esta é uma falha das chamadas “religiões da Deusa”, sobretudo de suas vertentes mais feministas ao ponto de serem misândricas. A Deusa é incapaz de dar, receber, inspirar amor se negamos a Ela sua sexualidade, sua sensualidade, sua feminilidade. Ao omitir, negar e diminuir a importância do Deus, ao tornar a Deusa uma Santa Ameba, nós estamos negando a sacralidade do desejo, do prazer, do corpo, do sexo e do amor. Ao negar que a Deusa precisa de um Consorte nós tornamos o sagrado feminino mais uma triste imitação do ascetismo cristão. Como pode haver amor?

Se a Deusa é antiga e amplamente presente em diversas culturas, o Deus também o é. Na antiguidade, havia sociedades matriarcais, patriarcais, sedentárias, nômades, caçadoras-coletoras, agrário-pecuaristas. Culturas diferentes, crenças diferentes, Deuses diferentes. Assim como a Deusa-Mãe, a Deusa-Serpente, a Deusa Terra, é uma constante, o Deus Pai, o Deus Touro, o Deus Céu é igualmente constante, portanto são contemporâneos.

A união do Deus com a Deusa era tão importante que sobreviveu ao aculturamento cristão até os dias de hoje, custa entender porque exatamente no Paganismo Moderno, queiram fazer o mesmo que as religiões abraâmicas fizeram, divorciando o Deus da Deusa. Nós sofremos com as consequências desse divórcio.

Sem a Deusa, o Deus se torna violento, ciumento, vingativo.

Sem o Deus, a Deusa se torna frígida, histérica, rancorosa.

Sem o Deus, quem irá arar a terra? Sem o Deus, quem irá semear a semente? Sem o Deus, quem irá ceifar o trigo? Sem o Deus, quem irá nos conduzir para dentro do ventre da terra? Sem o Deus, quem irá colocar o cetro no trono? Sem o Deus, a Deusa não pode ser coroada e o trono fica vazio.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Filósofas da antiguidade

Autora: Margarita Rodrigues.

Primeiro, vêm a beleza, a atração física e o desejo sexual. E, se tudo for além das aparências, talvez você se encontre subindo a Escada de Diotima.

Sabemos sobre ela graças a Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.). Em uma obra de Platão (428/427 a.C. - 348/347 a.C.), ele recorda as lições que aprendeu daquela mulher "muito sábia".

Em um vídeo de animação da BBC, o filósofo britânico Nigel Warburton explica o que é a fascinante escada.

Segundo Sócrates, Diotima dizia que "o desejo pelo corpo" de uma pessoa que consideramos bonita é "apenas o primeiro degrau de uma escada" que nos leva a valorizar "a forma da beleza".

Ele é um meio para o "fim superior" de apreciar a ideia abstrata da beleza, segundo Warburton.

Diotima acreditava que "para aprender sobre a beleza, é preciso reconhecer, em primeiro lugar, a beleza física do amante desejado". E, se você for racional, irá também admirar a beleza física de outras pessoas.

Subimos então ao degrau seguinte, para "observar a beleza que fica além das aparências, a beleza da sabedoria e do conhecimento, a beleza de mentes belas, mesmo aquelas que residem em corpos que não são particularmente bonitos".

O último degrau é conseguir "reconhecer a forma da própria beleza, a noção abstrata, pura, geral da beleza". Nela, também estão presentes as "qualidades morais da bondade".

Desta forma, Diotima acreditava que, se você ficar encantado com o físico de uma pessoa, você estará subindo o primeiro degrau de uma escada que pode levar você "a apreciar, de forma mais intelectual, a beleza universal".

Diotima é uma dentre quatro figuras femininas de destaque na filosofia grega que merecem ser apresentadas.

Diotima e o amor

Mariana Gardella é doutora em filosofia e professora da Universidade de Buenos Aires, na Argentina. Ela é a autora do livro Las Griegas: Poetas, Oradoras y Filósofas ("As gregas: poetas, oradoras e filósofas", em tradução livre).

"É verdade que existem poucas evidências sobre as filósofas gregas, mas isso não costuma ser impeditivo quando estudamos certos filósofos gregos sobre os quais também não temos muitas informações", explicou ela à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Para ela, "sempre se lança um manto de dúvida sobre as filósofas que, às vezes, acaba sendo um pouco excessivo – e os estudiosos observam os testemunhos com profundo ceticismo".

Seu livro abordou o tema do ponto de vista contrário: acreditar um pouco mais nos poucos testemunhos e fontes existentes. Mas ela adverte que Diotima é uma figura complicada: "existem muitas dúvidas se ela realmente existiu".

A obra de Platão na qual Sócrates apresentou os ensinamentos de Diotima é O Banquete. O texto em que ela aparece como personagem é dedicado ao eros, ao amor.

"E, na vez de Sócrates falar sobre o amor, ele diz que irá mencionar o discurso que ouviu de Diotima, que é especialista em assuntos eróticos", prossegue a professora.

"Sócrates também afirma que ela é sacerdotisa da cidade de Mantineia e, além de conhecer os assuntos do desejo e ter sido sua professora, ela ofereceu sacrifícios aos deuses para retardar a chegada de uma peste."

De fato, na obra de Platão, Sócrates afirma: "Tudo o que sei sobre o amor, devo a ela."

Em um trecho do diálogo entre ambos, Diotima faz uma pergunta sobre o amor e Sócrates responde que, se ele soubesse a resposta, "não admiraria sua sabedoria, nem procuraria você para aprender essas verdades".

Mas voltemos às dúvidas. Martini Fisher é historiadora e escritora australiana, autora do artigo Diotima and the Philosophy of Love ("Diotima e a filosofia do amor", em tradução livre).

No artigo, ela defende que os eruditos da Alta Idade Média e da Antiguidade nunca questionaram a existência de Diotima, que teria vivido no século 5 a.C.

"Os primeiros textos sobre Diotima também demonstram que ela era respeitada por suas habilidades e sua posição na sociedade", explica Fisher. "Por exemplo, a comédia O Eunuco, de Luciano, escrita no século 2 d.C., começa mencionando Diotima, Targélia e Aspásia, como prova de que houve mulheres filósofas."

Em um livro emblemático sobre o tema, Historia Mulierium Philosopharum ("A história das mulheres filósofas", em tradução livre), de 1690, Giles Ménage também não coloca em dúvida a existência de Diotima.

Mas pesquisadores posteriores, como o filósofo americano Allan Bloom (1930-1992), acreditam que Diotima não tenha existido. Chegou-se a cogitar a possibilidade de que ela fosse o reflexo de outras mulheres da época.

A filósofa Zoi Aliozi, mencionada pelo escritor britânico Will Buckingham, afirma que, seja ela "fictícia ou não, sua vez teve poderosa influência nos argumentos de Sócrates e, portanto, na história da filosofia como a conhecemos".

Por outro lado, o Museu do Brooklyn, nos Estados Unidos, destaca, em um breve texto sobre Diotima, que "em O Banquete, praticamente se atribui a ela a invenção do método socrático de perguntas e respostas".

"Contrariando os argumentos de que Diotima seria uma criação literária que serviu de porta-voz a Platão, acadêmicas feministas observaram, nas suas palavras, uma visão 'feminina' de uma ética do cuidado que a diferencia dos seus contemporâneos masculinos", conclui o texto do museu.

Mas, para Gardella, o importante é "dar a ela o devido valor".

"Não se sabe ao certo se as coisas foram assim, mas este não pode ser um impedimento para que se faça um esforço de contar uma nova versão da história da filosofia, diferente da canônica, incluindo as vozes dessas mulheres, reais e de historicidade duvidosa, que nos permitem entender como elas eram observadas e representadas."

Temistocleia, professora de Pitágoras
No século 6 a.C., surgiu uma figura que temos certeza de que existiu.

O importante historiador grego Diógenes Laércio (180-240) nos conta sobre Temistocleia, embora o filósofo Porfírio (c. 234 - 304/309), no livro A Vida de Pitágoras, refira-se a ela como Aristocleia.

Seja qual for o seu nome, o fato é que os dois escritores destacam que ela foi professora de Pitágoras (571/570 a.C. - 500/490 a.C.) e ensinou a ele as doutrinas éticas.

Acredita-se que ela tenha sido sacerdotisa, ligada ao culto do deus Apolo.

"A biografia de Pitágoras é enriquecida pela presença de muitas filósofas", explica Gardella. "Temistocleia é sua professora, Teano é sua esposa ou discípula e ele tem três filhas filósofas: Myia, Damo e Arignote."

De fato, Pitágoras foi o primeiro filósofo a aceitar mulheres discípulas. Ele chegou a ser chamado de feminista.

Há quem acredite que a influência de Temistocleia sobre Pitágoras tenha sido um dos motivos que levaram o matemático a permitir professoras na sua escola.

"As mulheres não são incorporadas aos grupos pitagóricos como esposas, mas como filósofas", segundo Gardella. "Elas aprendem as doutrinas de Pitágoras e as ensinam, elas transmitem esse conhecimento. Este é o caso típico de Temistocleia."

Hipárquia, a cínica
A jovem Hipárquia (c. 350 a.C. - c. 280 a.C.) pertencia a uma família aristocrática. Ela tinha muitos pretendentes ricos, nobres e belos, mas recusou a todos.

Ela havia se apaixonado perdidamente por um homem mais velho, o filósofo Crates de Tebas (c.365 a.C. - c.285 a.C.). E disse aos seus pais que, se não a deixassem se casar com ele, ela colocaria fim à própria vida.

"Seus pais pedem a Crates que a convença a não se casar com ele", conta a pesquisadora.

Ele tentou atender ao pedido de diversas formas, até que, um dia, "ele tira a roupa em frente a ela e diz: 'este é o noivo e estes são meus bens. Se você quiser viver comigo, precisa viver como eu vivo.'"

Era o século 4 a.C. e Crates era cínico, discípulo de Diógenes de Sinope (412 a.C. - 323 a.C.), também conhecido como Diógenes, o Cínico – ou "o Cão". E Hipárquia renunciou a todas as suas riquezas e comodidades para se casar com ele.

"O matrimônio é mencionado nas fontes e é chamado de 'casamento de cães'", prossegue Gardella. "O cão é um símbolo muito importante para o cinismo porque os cínicos se propunham a viver como cães."

"Cínico", em grego, significa "canino", que se comporta como um cão.

"A ideia era viver com simplicidade, com o mínimo possível, de forma independente, libertar-se do material, voltar para a natureza, sem ter vergonha", explica a professora. "Um dos principais objetivos dos cínicos era questionar as normas e valores socioculturais que nos tornam escravos."

Essa independência não se referia apenas ao material, mas aos desejos, como o desejo da honra, de ocupar cargos políticos e de ter prestígio.

Diferentemente de muitas mulheres da sua época, Hipárquia não ficou dentro de casa. Ela se dedicou a viver como cínica.

"As mulheres na Grécia costumavam se vestir com uma túnica e um manto, o que deixava entrever muito pouco do corpo", segundo Gardella.

"Mas Hipárquia usava o mesmo que todos os cínicos, apenas um manto duplo, sem túnica. Ela ficava seminua, como Crates, o que era muito escandaloso."

Em uma ocasião, Hipárquia entrou em um banquete, um espaço tradicionalmente destinado à socialização dos homens. Embora houvesse mulheres no local, elas se dedicavam à dança e à música.

Nessa reunião, Hipárquia teve uma discussão com o filósofo cirenaico Teodoro, o Ateu (340 a.C. - 250 a.C.). Ela apresentou a ele um sofisma, como conta o historiador Diógenes Laércio:

"O que não puder ser considerado 'prática de injustiça', quando feito por Teodoro, também não seria chamado de 'prática de injustiça', se o fizesse Hipárquia. Quando Teodoro bate em si próprio, não comete uma injustiça; então, Hipárquia também não cometerá injustiça se bater em Teodoro."

O filósofo não respondeu. Ele preferiu levantar o manto e revelar seu corpo nu, o que não a perturbou.

"Esta é 'a que deixou a lançadeira junto ao tear'?", perguntou Teodoro, em referência ao papel tradicional de tecer, exercido por muitas mulheres.

"Sou eu, Teodoro", respondeu Hipárquia. "Você acha que tomei uma decisão errada ao usar para minha educação o tempo que iria perder no tear?"

Gardella defende que este testemunho é importante porque "é a primeira reivindicação pela educação das mulheres na boca de Hipárquia: não vou perder meu tempo tecendo, não fiz mal em abandonar o tear, vou me dedicar à minha educação."

Hipárquia escreveu várias obras, mas só chegaram até nós os títulos, como Hipóteses Filosóficas e Perguntas para Teodoro.

Ela viveu no período helenístico, quando as mulheres tinham mais acesso à educação. Por isso, não estranha que ela soubesse escrever, segundo a professora.

"Diógenes elogia a grande cultura filosófica e a elegância de raciocínio de Hipárquia, comparando-a a Platão", destacam Giulio de Martino e Marina Bruzzese, no livro Las Filósofas: Las Mujeres Protagonistas en la Historia del Pensamiento ("As filósofas: as mulheres protagonistas na história do pensamento", em tradução livre).

Aretê e o hedonismo

Também no século 4 a.C., encontramos uma filósofa chamada Aretê, filha de Aristipo de Cirene (435 a.C. - 356 a.C.), discípulo direto de Sócrates e fundador da escola cirenaica.

"Trata-se de uma escola hedonista que defende que o propósito da ação não é alcançar a felicidade, como propunham muitos filósofos gregos, mas conseguir o prazer", explica Mariana Gardella.

"Existem testemunhos de que Aretê assumiu a escola fundada pelo pai, escreveu uma grande quantidade de obras e foi professora de muitos discípulos."

"Aretê desempenha um papel muito importante na transmissão das doutrinas cirenaicas de geração em geração", destaca a professora, "mas não temos nenhum testemunho que transcreva palavras que ela tenha dito, nem trechos dos seus tratados."

Os cirenaicos acreditavam que nossas ações precisam levar a conseguir o prazer e evitar a dor.

"Mas não se trata de satisfazer qualquer tipo de prazer, nem de ir atrás de qualquer prazer, mas, sim, poder fazê-lo com certa medida, para que essa busca não nos destrua", segundo Gardella.

"Aretê tinha legitimidade entre os cirenaicos e era reconhecida por todos, não só por ser filha e discípula de Aristipo, mas por ser líder da escola e professora de outros cirenaicos."

"E um dado curioso é que não existem testemunhos de outras mulheres cirenaicas. Aretê é a única filósofa cirenaica de que temos conhecimento."

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c72042n9g15o.amp

segunda-feira, 15 de abril de 2024

A orgia do padre

Um padre polonês, identificado como Tomasz Z, foi condenado a 18 meses de prisão por crimes sexuais e envolvimento com drogas. Ele foi acusado após um incidente durante uma orgia, na qual um garoto de programa desmaiou devido ao uso excessivo de pílulas para disfunção erétil.

A orgia ocorreu entre os dias 30 e 31 de agosto de 2023 em um prédio pertencente à paróquia da Santíssima Virgem Maria dos Anjos, em Dabrowa Gornicza. Após o desmaio do profissional do sexo, os frequentadores impediram a entrada dos paramédicos, exigindo a intervenção da polícia para prestar socorro.

Durante o julgamento, Tomasz Z contestou o número de padres presentes na reunião e afirmou que “vale a pena ler qual é a definição de orgia”. Ele foi condenado por crimes sexuais, fornecimento de drogas e por não prestar assistência ao garoto de programa desmaiado.

O caso gerou um grande escândalo envolvendo as dioceses de Sosnowiec e Dabrowa Gornicza. Embora não estivesse entre os acusados, o bispo Grzegorz Kaszak, que administrava a unidade de Sosnowiec, renunciou ao cargo. Kaszak abriu uma investigação que concluiu pela demissão de Tomasz Z de todas as funções clerigais.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/padre-polones-organiza-orgia-e-e-condenado-a-18-meses-de-prisao/

Nota: o padre não foi preso por causa da orgia. Mas por ter dado uma dose excessiva de medicamentos e por ter impedido o socorro do profissional do sexo. Quem me dera que todas as igrejas fossem assim 🤭😏.

Os corpos endossexo

Autor: Amiel Modesto Vieira.

Desde meados dos anos 2010 o movimento intersexo tem atuado em terras brasileiras. Um dos vários desafios que temos enfrentado para nos fazermos reconhecidos, e conhecidos, é retirar a ideia da sociedade brasileira de que somos hermafroditas.

Essa ideia remonta aos tempos gregos e à sua mitologia que fazia parte da sociedade daquela época. De forma bem resumida, uma ninfa apaixonada por hermafrodito fundiu seu corpo com o dele, e daí a ideia que carregamos até os dias de hoje, de que o intersexo é um corpo com dois sexos dentro dele.

A intersexualidade, mais do que isso na realidade, contempla vários estados de uma condição biológica que até onde se tem conhecimento são mais de 40. Isso quer dizer que resumir estes estados a um corpo com dois sexos seria reduzir demais suas manifestações.

Assim, pode-se dizer que retirar do senso comum esse resumo e mito é uma tarefa hercúlea. Ao mesmo tempo, pessoas no movimento acham que deveríamos facilitar a comunicação com o público e falar menos “biologiquês”, ou “mediquês”. Confesso que esse é um dos mais importantes dos nossos desafios.

Ao mesmo tempo, por nossa condição estar ligada aos hormônios e às características sexuais do corpo humano, creio que desatrelar nossa biologia do mitológico é urgente. Ainda mais se lembrarmos que, por causa disso, no passado já despertamos a curiosidade e o desejo sexual pelo exótico. Porém, precisamos reiterar que não somos itens de exibição, mas sim parte da evolução humana, e não uma aberração ou anomalia.

A sociedade em que vivemos deseja regular tudo, ela normatiza nossa vida e nossa sexualidade. O rosa e o azul são parte da regulação que parece acontecer só por fora. Utilizamos o prefixo “endo” para ressaltar que esta regulação se apresenta até nas taxas hormonais ou nos nossos cromossomos.

Para melhor entendimento, é preciso saber que na endonormatividade (Nowakoski; Sumerau; Lampe, 2020) há um número padrão para as taxas hormonais estarem no lugar, e que os nossos cromossomos só podem ser xx ou xy. Assim, outras formas de se comportarem, tais como xyy, xxy ou x0 estariam fora desse padrão. Desta maneira, essa regulação se importaria não somente com o externo do nosso corpo, mas também com o que está dentro.

Essas padronizações estão ligadas às características sexuais do corpo humano. Nos corpos endossexo (Carpenter et al, 2022) , ou seja, não-intersexo, estas características são observadas pelos médicos, como por exemplo os genitais, que devem estar no tamanho correto, e se suas taxas hormonais e cromossomos nos exames aparecerem como o esperado. E no que diz respeito à sexualidade, espera-se que no futuro cumpram a heterossexualidade, que estejam preparados para casar e se reproduzir.

A endonorma, ao ver corpos que apresentam diferentes estados intersexo, trata logo de utilizar o “apagador cirurgiador”. Este corpo alterado para ser tal qual o endossexo nunca deixará de ser intersexo, pois apesar de se mudar a forma original, os corpos que tentaram mudá-lo nunca o verão como endossexo, mas sim como o corpo intersexo que chegou.

Apesar de buscar fazer com que o leitor entenda o mundo do qual falo, que a seu ver pode parecer estranho e longe da imaginação, ele está todos os dias ao seu lado: no metrô, no ônibus, no trem, no elevador, no vizinho do apartamento, ou ainda na casa do outro lado. Talvez passemos desapercebidos ou até despertemos uma certa estranheza a seus olhos, e por mais que a endonorma queira nos eliminar, somos muitos, e MUITO resistentes.

Fonte: https://revistaforum.com.br/opiniao/2024/3/27/por-que-falamos-endonormatividade-por-amiel-modesto-vieira-156391.html

domingo, 14 de abril de 2024

Under my skin

Com sua costumeira burrice, Caturo, aquele português pagão esquisito, publicou uma imagem que diz muito sobre a confusão mental dele.


Eu não tenho certeza se foi proposital, ou se o Caturo é tão obstinado assim.
No expositor vê-se o estereótipo do que Caturo acredita ser o padrão do europeu.
Nota-se que as figuras são (ou parecem ser) Barbie e Ken, bonecos artificiais, feitos de plástico.
Isso está bem longe da realidade, como a história, a antropologia, a arqueologia e a sociologia relatam.
Observando o expositor, uma mãe e duas crianças, supostamente muçulmanas. Outro estereótipo (racista, preconceituoso) que só faz sentido na mente doente do Caturo.

Então ele publicou outra imagem que é um corolário do estereótipo concebido pelo Caturo.


Todas as mulheres retratadas aqui tem uma cútis rosada. Não há uma única morena. Isso é absurdamente errado, principalmente quando falamos do sul da Europa.
Muitos nativos da Espanha, Portugal e Itália estão fora desse delírio ideológico romântico do Caturo sobre os "verdadeiros europeus".
Pensando nisso, eu fui atrás de outra imagem postada pelo Caturo.


O próprio Caturo admite que existem portugueses mais morenos. Mas por inúmeras postagens, esses portugueses seriam menos lusitanos.
Mas ele diz que não é uma questão de pele.
A quem quer enganar? 😏🤭



sábado, 13 de abril de 2024

Alerta ao Brasil

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) apresentou à Organização das Nações Unidas (ONU) preocupações acerca do crescimento de grupos neonazistas no Brasil ao longo dos últimos anos. Um relatório preliminar, entregue no último sábado (6), reuniu dados presentes em diferentes levantamentos. O documento classifica o cenário atual como "alarmante".

A pesquisa da antropóloga Adriana Dias, falecida no ano passado é apontada como uma das referências. Ela constatou que as células de grupos neonazistas cresceram 270,6% no Brasil no período entre janeiro de 2019 e maio de 2021, se espalhando por todas as regiões do país. Esse fenômeno teria sido impulsionado pela disseminação dos discursos de ódio e de narrativas extremistas. Sem punição, eles se propagam com mais facilidade. Segundo a pesquisa, no início de 2022, haviam mais de 530 núcleos extremistas no país. Seus participantes compartilham o ódio contra feministas, judeus, negros e população LGBTQIAP+.

Outro levantamento citado é o da agência Fiquem Sabendo. O documento aponta que de janeiro de 2019 a novembro de 2020 foram abertos 159 inquéritos pela Polícia Federal por apologia ao nazismo. Esse número, referente a um período inferior a dois anos, supera o total de 143 investigações abertas ao longo de 15 anos, entre 2003 e 2018.

O documento do CNDH destaca ainda que, no ano de 2021, foram recebidas e processadas 14.476 denúncias anônimas pela Central Nacional de Crimes Cibernéticos, canal mantido pela organização não governamental SaferNet com o apoio do Ministério Público Federal (MPF). Também há menção ao levantamento do Observatório Judaico sobre eventos antissemitas e correlatos ocorridos no país entre 2019 e 2022.

Além dos dados, foram citados alguns casos concretos em que foram apreendidos artefatos ligados ao nazismo como fardas, armas e bandeiras, além de artigos e peças decorativas com imagens e símbolos como rosto de Hitler e a suástica. O CNDH também chama atenção para o crescimento dos ataques em escolas, lembrando que em diferentes ocorrências o agressor fazia uso de simbologia neonazista. É citado, por exemplo, o episódio ocorrido em dezembro de 2022, quando um estudante de 16 anos matou quatro pessoas em escolas em Aracruz (ES). Ele vestia farda militar acompanhada de uma braçadeira com um símbolo nazista.

Criado pela Lei Federal 12.986/2014, o CNDH deve promover e defender os direitos humanos no país através de ações preventivas, protetivas e reparadoras. Embora seja vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, atua com autonomia.

Dos 22 conselheiros, 11 são representantes da sociedade civil, eleitos em encontro nacional convocado por edital público. Os outros 11 são representantes do poder público, que são indicados pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, pelo Ministério das Relações Exteriores, pela Polícia Federal, pelo MPF, pelo Conselho Nacional de Justiça, pela Defensoria Pública da União, pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal, dentre outros.

A expectativa do CNDH é de que o relatório contribua para as discussões do 55ª Reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que deverá ocorrer em Genebra, na Suíça, entre o final de junho e o início de julho. Na ocasião, uma nova edição do relatório sobre os esforços mundiais para o combate à glorificação do nazismo e do neonazismo será apresentado pela indiana Ashwini K.P., relatora especial sobre as formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerâncias conexas.

O documento traz informações específicas de diferentes países. Na edição apresentada durante a 53ª Reunião Ordinária do Conselho de Direitos Humanos da ONU ocorrida no ano passado, o Brasil é citado pelo seu quadro preocupante envolvendo o aumento da violência contra as mulheres, a discriminação contra afrodescendentes e as ameaças à população indígena.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU é composto por 47 Estados-membros, eleitos na Assembleia Geral das Nações Unidas para mandatos de três anos. Anualmente, são realizadas três reuniões, nos quais são discutidos diversos temas. Embora suas resoluções não sejam de cumprimento obrigatório, elas contribuem para pressionar os países por medidas.

O CNDH informa que vem mantendo diálogo institucional com a relatora especial Ashwini K.P. e trabalha produzir um relatório final. Com o intuito de avançar nos dados sobre o crescimento do neonazismo no país, a partir desta quarta-feira (10), uma comitiva de conselheiros estará em Santa Catarina. Eles estarão acompanhados ainda de parlamentares, de lideranças da sociedade civil e de integrantes da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, que é vinculada ao Ministério do Direitos Humanos e da Cidadania.

Durante a passagem por Santa Catarina, a comitiva do CNDH irá visitar as cidades de Florianópolis e Blumenau. O estado do sul do país é um dos que mais gera preocupações. Somente no município de Blumenau, foram mapeadas 63 células neonazistas na pesquisa de Adriana Dias.

A agenda da comitiva da CNDH inclui reuniões com autoridade públicas municipais e estaduais, com representantes institucionais e com especialistas que pesquisam o tema. Uma das questões a ser discutida será a aplicação de um Questionário de Evidências, para identificar elementos envolvendo a propagação da ideologia nazista.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2024-04/conselho-leva-onu-alerta-sobre-avanco-do-neonazismo-no-brasil

Nota: completa-se, ano que vem, 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Tanto no Brasil, quanto nós EUA e Europa, o nazismo e o fascismo tem reaparecido. Muitos grupos se aproveitam do rancor do cidadão médio comum, aponta algum "bode expiatório" e capitaliza isso, de forma política, social ou financeiramente.

Jesus pede medida protetiva

Autor: Ricardo Neggo Tom.

Um pedido de socorro chega dos céus e nós, que estamos acostumados a invocar por uma intervenção divina em nossas vidas, agora nos deparamos com um clamor reverso e angustiado. Jesus, o salvador da humanidade, entrou com uma medida protetiva contra a parte do segmento evangélico que está destruindo a sua vida e a boa imagem que ele construiu entre os seres humanos. Cansado de se ver associado a gente da pior espécie, que usa o seu nome para justificar suas más ações e legitimar um projeto de poder que é muito mais diabólico do que santo, o filho do homem - e também da mulher, porque não existe filho sem mãe – decidiu abrir o coração para o povo brasileiro e revelar as agruras que vem sofrendo há anos, desde que lobos em pele de cordeiro começaram a se apresentar como seus ungidos e seguidores.

Considerando que nem na cruz ele sentiu tanta dor, Jesus conta que só ele e ele sabem o que tem se passado durante todo esse tempo. Constituindo a si mesmo como advogado, ele ingressou com o pedido de proteção contra Silas Malafaia e Michelle Bolsonaro que, segundo ele, lideram a perseguição contra ele e têm feito a cabeça de milhares de pessoas para assediá-lo. Quanto ao assédio moral, Cristo alega que a conduta dos acusados caracteriza comportamento abusivo, frequente e intencional, que se dá por meio de gestos agressivos, línguas estranhas, jejuns e orações contrárias às suas recomendações, que ferem a sua integridade física, espiritual e psíquica, pondo em risco a sua função de salvador da humanidade e o ambiente social ao qual ele teria a missão de controlar.

Jesus Cristo explica que há anos vem recebendo instruções confusas e imprecisas quanto ao trabalho que precisa desempenhar, o que pode induzi-lo a cometer erros e injustiças. Como exemplo, ele cita o pedido de Michelle Bolsonaro para que ele destrua a esquerda que, segundo palavras do próprio Jesus, apesar das falhas, é o lado que mais tem se preocupado com os mais pobres, aqueles que ele sempre soube que faz parte da sua função proteger e amparar. “Essa mulher é uma cobra! Eu não aguento mais ela querendo me dar ordens como se fosse minha chefe”, desabafa o Messias. Ele também alega que está cansado de receber pedidos de trabalhos supostamente urgentes e sem necessidade por parte de pessoas que ele nem sabe quem são, o que lhe acarreta uma sobrecarga de tarefas no dia a dia. “Querem que eu resolva tudo o que eles fazem de errado. Eu já estou cansado disso. Há muito tempo eu já havia pedido socorro através do meu querido sambista Almir Guineto, e ele compôs a música “Saco cheio”. Era uma mensagem divina, mas eles não entenderam. ”, revela o filho de Maria.

Críticas e brincadeiras de mal gosto feitas em público também foram citadas por Jesus em seu pedido à justiça. Sobre essas acusações, ele lembra das ocasiões em que o pastor Marco Feliciano pediu a senha do cartão de crédito a um fiel, e de quando Malafaia conclamou um jejum em seu nome contra a Covid em plena pandemia, e as mortes aumentaram. “Eu me senti ultrajado, humilhado, reduzido a um bolsonarista sem cérebro. Como puderam me ridicularizar dessa forma diante do mundo? Muitos deixaram de acreditar em mim por causa disso. Tem gente que não quer nem ouvir falar no meu nome, achando que era eu mesmo quem queria pegar o dinheiro daquele pobre homem ou quem deixou de socorrer milhares de pessoas que morreram na pandemia. Isso não pode ficar impune. ” Ele também cita a história contada por Damares Alves, de que ele teria subido num pé de goiabeira para espiá-la. “Essa senhora é uma víbora! Vive me pedindo coisas absurdas e me colocando em situação vexatória. Outro dia ela queria que os evangélicos governassem o Brasil, e pediu para que eu me passasse por presidente da república e levasse a culpa pelas besteiras que eles iriam fazer ”

A respeito das torturas sofridas, Jesus diz que é pressionado dia e noite por vozes que ficam clamando o seu nome e lhe pedindo para fazer o mal contra pessoas inocentes. Ele conta que, certo dia, se deparou com uma multidão ajoelhado em volta de um pneu rezando o pai-nosso e pedindo intervenção militar em seu nome, o que lhe despertou uma enorme vontade de enviar um raio sobre aquela gente como castigo, mas pensou que perderia a razão se o fizesse e preferiu apelar para a lei em busca de justiça. Sobre as alegações de sequestro e cárcere privado, ele explica que durante séculos foi mantido nessa condição pela Igreja Católica, enquanto pessoas eram jogadas vivas na fogueira da Santa Inquisição, sob a égide da sua vontade para elas. Ele se defende e diz que jamais teria ordenado tamanha crueldade e perversão humana. “Isso é coisa de bandido! Eu nunca apoiei isso. ”, diz ele indignado.

Ele se indigna ainda mais quando fala dos traficantes evangélicos e dos milicianos cristãos que dizem ser seus seguidores, e que estão ocupando territórios em comunidades periféricas em seu nome. “Não sei porque essa gente me persegue tanto assim. Eu só fiz o bem para a humanidade. Agora, até criminosos dizem que eu sou cúmplice deles. Será que essa gente quer me ver morto novamente? ”, emociona-se o filho adotivo de José. Segundo Jesus, parte da igreja evangélica, a qual ele chama de “raça de víboras”, é que hoje o mantém sob sequestro e cárcere privado, tentando impedir que ele se comunique com todos e prove ao mundo que Deus não tem dono e nem escolhidos especiais. “Eles expulsam pessoas de outras religiões em meu nome, condenam os diferentes ao inferno, inventam que eu abomino pessoas que não me seguem, pedem dinheiro em meu nome. Eu nunca faria isso. Eu também pretendo processá-los por injúria, calúnia e difamação, e pedir uma indenização bilionária como ressarcimento da minha imagem. ”, desabafa mais uma vez o amigo de Maria Madalena. Acrescentando que o dinheiro da indenização seria revertido para ajudar aos necessitados. “Isso seria o maior castigo para eles que odeiam os mais pobres. ”, vibrou.

Jesus também está movendo diversos processos contra pessoas que fazem insinuações levianas quanto a sua origem e descendência. “Ficam falando que eu sou “filho de Davi”, sendo que ele matou um soldado para despojar da sua mulher. Outros falam que o meu pai é o “deus de Israel”, sendo que eu sou persona non grata naquele lugar. Tem evangélico que diz que a minha mãe era uma mulher qualquer e que apenas foi usada por meu pai para me dar à luz. E a minha reputação, como fica? Outros fingem que gostam de mim e ficam me chamando de “rei dos reis” para me bajular. Mas eu conheço o coração dessa gente. Eles podem enganar a vocês, a mim não. ” Cristo espera que a justiça acate logo o seu pedido de proteção contra as pessoas que só se aproximam dele para pedir favores absurdos e perturbar a sua paz. Ele também nega que tenha criado igrejas e que seja o líder do cristianismo no mundo. “Eu nunca fundei cristianismo nenhum. Isso foi uma mentira que Constantino inventou a meu respeito. Olha quanta gente o cristianismo já excluiu, invalidou, torturou e matou ao longo da história. Acha que eu tenho alguma coisa a ver com isso? Eu nunca mandei matar ninguém! ”, rebate o príncipe da paz.

Por fim, Cristo faz mais um desabafo emocionado, exige respeito com a sua história de vida e reitera que quer distância dos detratores do seu nome. “Parem de mentir a meu respeito! Eu nunca fui branco, nem loiro de olhos azuis. Eu nunca fui rei. Eu nunca estive ao lado dos poderosos. Eu nunca dei poder e nem autoridade a ninguém. Eu não matei Joana D’arc. Eu não conheço a Michelle. Eu não sou o deus do Malafaia. Eu não sou o dono da Universal! Eu não botei o Mendonça no STF. Eu nunca estive com a Flordeliz. Eu nunca andei com o Robinho. Eu não sou 100% Neymar. Eu não torço para time nenhum. Eu não votei no Bolsonaro. Eu não apoio intervenção militar. Eu não sou o senhor dos Exércitos. Eu não gosto de armas. Eu não sou golpista. Eu não sou capitalista. Eu não quero governar o Brasil. Eu não marcho com hipócritas. Eu não ouço música gospel brasileira. Eu não gosto de sertanejo universitário. Eu não sou um pneu. Eu não sou um E.T. Eu não recebo o dinheiro do seu dízimo. E eu não vou voltar! Parem de mentir sobre mim! Isso é pecado! ”, finalizou o palestino.

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/jesus-cristo-pede-medida-protetiva-contra-michelle-bolsonaro-silas-malafaia-e-outros-falsos-cristaos

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Vetado nas embaixadas

Os legisladores americanos avançaram, nesta quinta-feira (21), em direção à proibição de hastear a bandeira do orgulho nas representações diplomáticas do país, uma vitória para os conservadores no contexto de uma longa batalha cultural travada no exterior.

A medida faz parte de uma série de disposições secundárias escondidas em um pacote de 1,2 trilhão de dólares (5,97 trilhões de reais) elaborado pelos congressistas nas primeiras horas desta quinta.

Espera-se que tanto a Câmara dos Representantes, liderada pelos republicanos, quanto o Senado, liderado pelos democratas, aprovem o plano para manter o governo funcionando antes do prazo final da meia-noite de sexta-feira, quando três quartos do governo ficarão sem fundos.

O pacote estabelece que nenhum financiamento pode ser utilizado para "hastear ou exibir em uma instalação do Departamento de Estado dos Estados Unidos" qualquer outra bandeira que não seja a nacional ou relacionada ao apoio a prisioneiros de guerra, soldados desaparecidos em combate, reféns e americanos injustamente encarcerados.

A previsão é que o presidente Joe Biden assine o projeto de lei de financiamento de 1.012 páginas, apesar de seu governo ter abraçado os direitos LGBTQIA+ e provavelmente ter reservas sobre essa questão.

Em uma mudança radical em relação ao seu antecessor, o chefe da diplomacia Antony Blinken não apenas permitiu, mas incentivou as missões americanas a hastear a bandeira arco-íris em junho, o Mês do Orgulho, celebrando o movimento de defesa da comunidade LGBTQIA+.

Sob a gestão do ex-presidente Donald Trump, o antecessor de Blinken, Mike Pompeo, um cristão evangélico, ordenou que apenas a bandeira dos Estados Unidos fosse hasteada nos mastros das embaixadas.

Em 2016, a embaixada em Seul tentou contornar a diretriz colocando uma faixa com o arco-íris em sua fachada, não no mastro, uma opção que parece continuar sendo permitida no novo pacote de financiamento.

Mas a embaixada removeu essa faixa, assim como outra do Black Lives Matter colocada após o assassinato do afro-americano George Floyd por um policial na cidade de Minneapolis.

Sob a administração do ex-presidente Barack Obama, em 2015, a Casa Branca foi iluminada com as cores do arco-íris para celebrar a histórica decisão da Suprema Corte que legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país.

Fonte: https://www.folhape.com.br/noticia/amp/324657/congresso-dos-eua-pode-proibir-bandeira-do-orgulho-em-embaixadas/

Nota: os EUA, que adora ditar regras de como deve ser uma democracia, está cometendo um crime contra os direitos humanos.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Vigilância contra a homofobia

O Brasil tem, a partir desta sexta-feira (5), um Comitê de Monitoramento da Estratégia Nacional de Enfrentamento à Violência contra Pessoas LGBTQIA+, sigla para se referir a pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres e homens transexuais, não binárias e demais dissidências sexuais e de gênero.

O novo comitê terá como missão combater violências motivadas pela orientação sexual e identidade de gênero das vítimas.

O Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil, elaborado pelo Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil denuncia que, em 2022, ocorreram 273 mortes LGBT de forma violenta no país, sendo 228 assassinatos, sobretudo de pessoas trans e gays, além de 30 suicídios e 15 outras causas. O levantamento aponta que o Brasil assassinou um LGBT a cada 32 horas, em 2022.

A homofobia é crime, após julgamento do Supremo Tribunal Federal, em 2019, tal como o racismo. A pena pode variar entre 1 e 5 anos, dependendo do ato homofóbico, além de multa.

O comitê

A portaria publicada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) no Diário Oficial da União, prevê que a atuação do Comitê de Monitoramento da Estratégia Nacional de Enfrentamento à Violência contra Pessoas LGBTQIA+ terá duração prevista de dois anos, podendo ser prorrogada.

Neste período, o grupo deverá acompanhar, monitorar e apoiar a articulação e implementação de políticas públicas para combater as violações de direitos desse segmento social. Na prática, o comitê deverá colaborar tecnicamente em programas, planos, projetos e ações que tenham o propósito de proteger e promover a defesa dos direitos das pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade ou risco social.

Além disso, a representação deve monitorar dados de violência com desenvolvimento de metodologia para compilação desses indicadores para que sirvam de base em processos de tomada de decisão.

A estratégia deve, ainda, construir a Rede de Enfrentamento à Violência contra Pessoas LGBTQIA+, composta por entidades públicas e não governamentais.

No fim de cada ano, o comitê deverá elaborar relatório final com a análise detalhada do progresso, de desafios enfrentados e recomendações para aprimoramento desta estratégia.

O Comitê será composto por três representantes da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, um integrante do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+; e dois representantes da sociedade civil. Além deles, poderão comparecer nas reuniões do colegiado como convidados e, portanto, sem direito a voto, os representantes de outros órgãos e entidades públicas ou privadas, empresas, especialistas, pesquisadores e membros da comunidade LGBTQIA+, como forma de fortalecer a participação social.

Casas de Acolhimento

Nesta sexta-feira, o MDHC ainda instituiu outro comitê de monitoramento do Programa Nacional de Fortalecimento das Casas de Acolhimento LGBTQIA+, por meio de portaria.

Chamado de Comitê Acolher+, esta iniciativa tem o objetivo de fortalecer e implementar casas de acolhimento provisório para pessoas LGBTQIA+ em situação de violência, abandono familiar ou na possibilidade de rompimento desses vínculos, em razão da identidade de gênero, orientação sexual e/ou características sexuais. O público-alvo são pessoas do segmento LGBTQIA+ entre 18 e 65 anos.

As casas de acolhimento a médio e longo prazo pretendem ser ambientes acolhedores e seguros, com estrutura de residência compartilhada a médio e longo prazo, com a oferta alimentação e higiene nestes abrigos.

Fonte: https://www.brasil247.com/brasil/governo-cria-comite-para-monitorar-politicas-contra-violencias-a-pessoas-lgbtqia