terça-feira, 19 de agosto de 2025

Eugenia made in USA

Ideias que o governo de Adolf Hitler eventualmente adotou na Alemanha, que tomaram forma nos Estados Unidos, estão ressurgindo sob Donald Trump.

De acordo com a porta-voz da Casa Branca, os estimados 800 sem teto que moram nas ruas de Washington DC podem ser multados ou presos se não aceitarem se mudar para abrigos ou receber tratamento compulsório.

Não houve menção até agora a qualquer projeto social para tirá-los da miséria. É uma questão de estética urbana.

Trump, que atropelou políticos locais para assumir o controle da polícia do Distrito de Columbia, tem um projeto higienista que pretende ampliar para outras cidades governadas por democratas, como Chicago e Los Angeles.

Não é um acaso que as três cidades são governadas por democratas negros, duas delas por mulheres.

Vingança ditatorial

Além de se tratar de uma vendetta política contra adversários, em regiões onde perdeu as eleições em 2024, as decisões de Trump representam uma violação das bases do federalismo estadunidense, que dá grande autonomia a estados, condados e municipalidades.

"Trump declarou guerra contra os pobres", afirmou o prefeito de Chicago, Brandon Johnson, que foi chamado de "incompetente" pelo presidente.

Depois de redecorar todo o salão Oval com frisos dourados e candelabros de gosto duvidoso, Donald Trump agora quer "embelezar" as cidades estadunidenses, escondendo a pobreza -- majoritariamente parda e negra.

A eugenia, de volta em novo 'sabor'

As ideias de hierarquizar raças foram desenvolvidas no momento em que o capitalismo se expandia e buscava recursos e mercados à força, na América Latina, África e Ásia.

O britânico Francis Galton cunhou a frase "eugenia" em 1883. A ideia era "aprimorar" o estoque genético humano. As ideias dele logo ganharam muita força nos Estados Unidos e em vários paises da Europa.

O livro "Guerra contra os Fracos" (War Against the Weak) descreve brilhantemente que a pseudociência da eugenia foi abraçada de tal forma pela comunidade científica dos EUA que cerca de 60 mil pessoas foram esterilizadas forçosamente, a maioria de negros.

Na categoria dos que eram chamados de "feeble minded", ou genericamente 'bobos', estavam incluídos miseráveis e pessoas com algum tipo de deficiência física ou mental, vistas então como "poluidoras" do pool genético.

Steven Farber, que estudou o movimento nos EUA, escreveu que o regime nazista de Hitler adotou ideias gestadas nos Estados Unidos:

O que muitas vezes não é reconhecido é que os esforços nazistas foram reforçados pelas obras publicadas pelo movimento eugenista estadunidense como a base intelectual de suas políticas sociais. Um dos primeiros atos de Hitler após assumir o controle do governo alemão foi a aprovação da Lei para a Prevenção de Descendentes com Doenças Hereditárias em julho de 1933. Os nazistas, ao proporem seu próprio programa de esterilização, mencionaram especificamente o "sucesso das leis de esterilização na Califórnia", documentado principalmente pelo eugenista americano P.B. Popenoe. O programa nazista resultou na esterilização de 360.000 a 375.000 pessoas.

Genes brancos e "limpos"

Durante a campanha eleitoral, centrada na ideia falsa de que os imigrantes estavam comendo animais de estimação nos Estados Unidos, Donald Trump disse uma frase que caberia perfeitamente num discurso eugenista:

Muitos deles [imigrantes] assassinaram muito mais de uma pessoa e agora vivem felizes nos Estados Unidos. Sabe, agora são assassinos, eu acredito nisso, está nos genes deles. E temos muitos genes ruins em nosso país atualmente.

"Eu quero mais bebês nos Estados Unidos", disse o vice-presidente JD Vance em seu primeiro discurso, como parte de um movimento pró-natalista que tem o apoio do MAGA e engajamento da extrema-direita.

A preocupação de que os negros e hispânicos se tornem maioria no país é um dos combustíveis do movimento.

Mulheres como parideiras

A professora de História Laura Lovett escreveu um livro em que sustenta que há grande preocupação dos conservadores em recolocar as mulheres "em seu lugar", uma contrarrevolução cultural:

Quando Theodore Roosevelt usou o termo "suicídio racial", ele, na verdade, culpa as mulheres que estão indo para a faculdade pela primeira vez por esse eventual suicídio da raça branca, a certa. Há uma ligação entre o futuro educacional e aspiracional das mulheres e o declínio da taxa de natalidade. Havia essa ansiedade de que mulheres brancas, nativas e de classe média estivessem tendo famílias menores.

Em abril deste ano, Genevieve L. Wojcik, professora de epidemiologia da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, escreveu um alerta a seus colegas cientistas na revista Nature com o título "Eugenics is on the rise again: human geneticists must take a stand" (A eugenia está em ascensão novamente: geneticistas humanistas precisam se posicionar).

A professora alinhavou várias declarações de autoridades do governo Trump para fazer o alerta de que a Ciência muita vezes se molda a objetivos políticos de seus financiadores.

O ataque simultâneo de Trump a universidades, centros culturais, institutos de pesquisa, à Ciência e aos miseráveis em geral acontece num contexto de ascensão do neofascismo -- que ele pretende reimplantar no Brasil.

Fonte: https://revistaforum.com.br/global/2025/8/14/ideias-que-hitler-copiou-dos-eua-renascem-sob-trump-185440.html

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