sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Respostas honestas para perguntas imbecis

Os cristãos [católicos e evangélicos] são criaturas divertidas. Frequentemente sustentam opiniões fortemente influenciadas pela doutrina. A questão do aborto, por exemplo. Eu encontrei essas "perguntas", como se os cristãos estivessem realmente interessados nas respostas ou em algum debate. Não se engane, caro dileto e eventual leitor. Os cristãos não estão querendo saber de respostas [estas são fornecidas por suas instituições religiosas] nem estão interessados em debater questões. Todo discurso, texto, artigo ou pesquisa "científica" que divulgam serve com o único propósito de afirmar suas posições arrogantes, arbitrárias e prepotentes.
Vamos às perguntas, com respostas dadas por este vosso humilde escritor:
  1. Do que deveríamos chamar aquele que ainda não nasceu e está no útero?
Depende. Se o senhor se dispusesse a ter um conhecimento, ainda que básico, sobre embriologia, saberia que existem diversas fases.
  1. Se aquela entidade é um ser vivente, não é uma vida?
Uma bactéria também é um ser vivente. O senhor por acaso deixaria de tomar antibióticos?
  1. Se você é um ser humano e surgiu primeiramente como uma simples célula, como pode aquele óvulo fertilizado ser algo diferente de um ser humano, como pode não ser você?
Um câncer também surge de uma simples célula. Então remover o câncer seria suicídio?
  1. Não é mais correto dizer que você era um embrião, em vez de dizer que simplesmente veio de um embrião?
Não, pois um embrião não é uma pessoa, a menos que o senhor tenha sérios problemas psicológicos.
  1. Então quando é que um ser humano passa a ter o direito de viver?
Pergunta capciosa, vindo de uma instituição que matou centenas de pessoas adultas inocentes. De acordo com a medicina e a neurologia um “ser humano” tem “direito de viver” a partir da presença de sinais sinápticos.
  1. Devemos dizer que o tamanho de um ser humano é o que importa?
Tamanho não importa, desde que seja um ser humano, uma pessoa, o que um embrião não é.
  1. Por que um feto é pequeno demais para merecer nossa proteção?
Por que um feto deve merecer mais nossa proteção do que as crianças carentes?
  1. Pessoas grandes valem mais do que pessoas pequenas?
O valor de uma pessoa é sua humanidade, um embrião não é uma pessoa.
  1. Homens são mais humanos do que mulheres ou vice-versa?
Humanos são humanos. Inclusive as mulheres vítimas de estupro. Os defensores pró-vida deveriam pensar nisso.
  1. Um jogador de basquete grandão tem mais direito à vida do que um pequenino jóquei?
São várias perguntas sobre “pessoas pequenas”. Seria isto um ato falho de uma instituição que acoberta pedófilos?
  1. Uma vida num útero não pode ser levada em conta simplesmente porque você não pode segurá-la em seus braços, ou colocá-la em suas mãos, ou vê-la em uma tela?
Repetido. Vide pergunta #1
  1. Desenvolvimento intelectual e capacidade mental deveriam se tornar a medida de nossa dignidade?
Não, mas a presença de sinais sinápticos e cérebro ajudam muito a distinguir um ser humano de um vegetal.
  1. Seres humanos com três anos de idade valem menos que outros de trinta anos de idade?
A idade é irrelevante, mas primeiro devemos ter certeza de que é um ser humano, uma pessoa. Um embrião não é uma pessoa.
  1. Um feto vale menos do que um ser humano formado porque não pode falar, contar ou ter consciência própria?
Definição errada. A questão não é de “valor”, mas se é um ser humano.
  1. Um bebê brincando no berço tem de sorrir, ou acenar com a mão, ou recitar o alfabeto antes de merecer mais um dia de vida?
Centenas de pessoas adultas não mereceram sequer um dia a mais de vida simplesmente por ter uma crença diferente da imposta pela Igreja.
  1. Se uma expressão de acuidade mental básica é necessária para se ter o direito de ser um membro da comunidade humana, o que deveríamos fazer com pessoas em estado de coma, pessoas muito idosas, ou a mamãe de cinquenta anos com Alzheimer?
Situações diferentes, questões diferentes. Nos casos citados, falamos de pessoas, seres humanos que, por circunstâncias diversas, tiveram diminuição ou perda da capacidade cognitiva. Em um embrião este sistema ainda está em formação, portanto incabível a comparação.
  1. E o que dizer de todos nós quando dormimos?
Se o senhor não sabe a diferença entre uma pessoa que dorme e um embrião, um feto, não é de se admirar que o senhor defenda quimeras.
  1. Deveríamos negar o direito de viver de um feto apenas pelo lugar onde vive?
A Igreja negou o direito de viver de centenas de pessoas adultas apenas pela crença que tinham. O “direito de viver” é garantido a uma pessoa, um ser humano. Um embrião não é uma pessoa.
  1. O meio onde vivemos pode nos dar ou retirar algum valor da nossa vida?
Diversas premissas misturadas. A vida de um ser humano tem valor independente do meio em que vive. Um embrião não é uma pessoa. O ventre não é um “meio”, no sentido de ambiente, mas um invólucro.
  1. Valemos menos do lado de dentro do que do lado de fora do útero?
O útero é um involucro. Seu conteúdo é um embrião. Um embrião não é uma pessoa.
  1. Podemos simplesmente ser mortos quando estamos nadando debaixo d’água?
Isso pode acontecer por diversas razões. Ainda assim, estamos falando de pessoas. Um embrião não é uma pessoa.
  1. O lugar onde estamos determina quem somos e o quanto vale nossa vida?
Somos o que somos e isso não é determinado pelo lugar onde estamos, mas é necessário ser um “lugar”, não um invólucro e é necessário ser uma pessoa. O útero é um invólucro, não um “lugar”. Um embrião não é uma pessoa.
  1. Então uma travessia de vinte centímetros no momento do parto nos torna humanos?
Não, a presença de sinais sinápticos nos torna humanos, segundo a medicina.
  1. Essa mudança de cenário transforma “coisas” em pessoas?
Não dá pra transformar um embrião, um feto, em pessoa, a partir da concepção.
  1. O amor é condicionado pela localização?
O amor é incondicional. A Igreja devia saber disso ao invés de condenar a homossexualidade.
  1. Deveríamos reservar a dignidade humana apenas para aqueles que não são dependentes de outros?
A dignidade humana está vinculada a um ser humano. Um embrião não é uma pessoa, um ser humano.
  1. Apenas merecemos viver quando podemos viver por conta própria?
Todas as pessoas, seres humanos, merecem viver, até mesmo aqueles que professam crenças diferentes da Igreja. Um embrião não é uma pessoa.
  1. Um feto de quatro meses é inferior a um ser humano porque precisa de sua mãe para viver?
Definição errada. A questão não é de inferioridade ou superioridade, mas se ali se encontra um ser humano.
  1. Uma criança de quatro meses é inferior a um ser humano quando ainda precisa de sua mãe para viver?
Definição errada. A idade é irrelevante, desde que estejamos lidando com seres humanos, pessoas. Um embrião não é uma pessoa.
  1. E se você precisar de uma diálise, ou insulina, ou um aparelho respiratório, tornou-se um ser humano inferior ou sua vida perdeu dignidade?
Diversas premissas misturadas. Nos casos citados, falamos de pessoas, seres humanos que, por circunstâncias diversas, tiveram seu metabolismo prejudicado. Em um embrião este sistema ainda está em formação, portanto incabível a comparação.
  1. A dignidade é fruto do pleno funcionamento das nossas capacidades vitais?
A dignidade pertence ao ser humano, pessoa. Um embrião não é uma pessoa.
  1. A independência é um pré-requisito para nos identificar como seres humanos?
Não, a presença de sinais sinápticos é um pré-requisito para nos considerarmos seres humanos.
  1. Somos valiosos apenas quando podemos pensar, realizar tarefas, ou fazer as coisas por conta própria?
O valor de uma pessoa, um ser humano, independe de sua capacidade cognitiva. Um embrião ainda não possui sequer sistema nervoso central ou cérebro, portanto, incapaz de qualquer cognição.
  1. Se a vida de um feto é vida humana, o que justifica arrancá-la fora?
O problema está no “se”. A Igreja quer que seja. Mas a biologia, a embriologia e a medicina dizem outra coisa. Crença não deve servir de base de argumento.
  1. Seria justo tirar a vida de seu filho no aniversário de um ano porque ele veio à vida por meio de circunstâncias tristes e trágicas?
Não foi Javé quem mandou passar a fio de espada mulheres e crianças [1 Samuel 22:19, Josué 6:21, Juízes 21:10, 2 Reis 8:12] ? Um filho é bem diferente de um embrião.
  1. Você jogaria sua filhinha de um ano e seis meses no meio dos carros em tráfego porque ela tornou nossa vida difícil?
Você acataria as ordens de uma instituição que acoberta pedófilos?
  1. Uma criança de três anos de idade merece morrer porque pensamos que merecemos uma escolha?
Uma criança é um ser humano. Um embrião não é uma pessoa. Uma grávida tem o direito e o médico tem o dever de proceder ao aborto nos casos definidos por lei.
  1. O que você merece agora?
Eu mereço um prêmio por aguentar perguntas tão imbecis.
  1. Quais são seus direitos como ser humano?
Leia a Constituição Federal Brasileira e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
  1. Você tinha esses mesmos direitos há cinco anos?
Incoerente. As leis são feitas para pessoas, seres humanos, não para embriões.
  1. E quando você era um adolescente e nem podia dirigir?
Incoerente. Faixa etária e leis de transito são questões discutíveis entre pessoas.
  1. E naquele tempo em que sua bicicleta tinha rodinhas de apoio?
Incoerente. Crianças usam rodinhas de apoio para aprender a usar bicicleta.
  1. Você era menos do que um ser plenamente humano quando brincava com terra?
Incoerente. Crianças brincam com várias coisas, mas são crianças, seres humanos, pessoas. Um embrião não é uma pessoa.
  1. E quando você usava babador?
Incoerente. Bebês babam porque não tem domínio de seu corpo. Mas não são embriões nem fetos..
  1. E quando ainda mamava?
Incoerente. Bebês são amamentados em toda espécie mamífera. Mas não são embriões nem fetos.
  1. E quando cortaram seu cordão umbilical?
Ato cirúrgico normal de um parto, caso o senhor não saiba. No parto, não se fala mais em “embrião”, nem em “feto”, mas em bebê.
  1. E quando você boiava no liquido amniótico e chutava aquela parede elástica?
Depende do estágio. Se “eu” não tinha sinais sinápticos, não havia um “eu”.
  1. E quando seu coração bateu pela primeira vez no monitor?
O senhor pode ter certeza de que eu não podia ver.
  1. E quando cresceram suas primeiras unhas?
Muitas coisas crescem e se desenvolvem em um embrião, um feto e nem por isso pode se afirmar que ali há um ser humano.
  1. E quando se desenvolveram suas primeiras células?
Ato normal da gestação. O problema é que, para a Igreja, existe um ser humano a partir da concepção. Um absurdo que não encontra respaldo na biologia, na embriologia e na medicina.
  1. Do que deveríamos chamar a criança no útero?
Depende da fase. O senhor devia se informar.
  1. Um feto?
Depende da fase. O senhor devia se informar.
  1. Um mistério?
Mistério é entender essa confusa mistura de doutrina e pseudo-ciência que fazem os defensores pró-vida.
  1. Um erro?
Erro é deixar uma instituição religiosa se imiscuir em assuntos médicos.
  1. Uma questão ideológica controversa?
Eu diria questão doutrinária, visto que a Igreja tenta impor sua doutrina.
  1. E se a ciência, as Escrituras e o consenso chamarem-na de pessoa?
Eu aceito com reservas as descobertas da ciência. Eu não aceito os ditames das Escrituras. O consenso é burro.
  1. E se um feto, o bebê desastrado, a criança inocente, o adolescente indisciplinado, o calouro universitário, a noiva maquiada, a mãe de primeira viagem, a mulher trabalhadora, a vovó orgulhosa, e o velho amigo esclerosado não diferirem em tipo, mas apenas em tempo?
Definição errada. A questão não é “tempo”, mas humanidade.
  1. Onde na evolução a humanidade começa e termina?
De acordo com a medicina e a neurologia, quando existe a presença de sinais sinápticos.
  1. Quando a vida passa a ter valor?
Incompleto. Não há uma definição do que se considera “vida”. Valor é algo que seres humanos atribuem a algo ou alguém.
  1. Quando começamos a valer alguma coisa?
Incoerente. Valor é algo que seres humanos atribuem a algo ou alguém.
  1. Quando os direitos humanos se tornam nossos direitos?
O próprio nome diz: direitos humanos. A presença de um ser humano, uma pessoa, é fundamental. Um embrião, um feto, não é uma pessoa.
  1. E se Dr. Seuss estiver certo e uma pessoa for uma pessoa, sem importar o tamanho que tenha?
Dr Seuss é um personagem fictício. Não é um médico. Definição erada. A questão não é tamanho e sim se há uma pessoa.
  1. Por que celebrar o direito de matar o que você foi um dia?
Não se trata de “celebração”, mas de um procedimento médico necessário, em casos definidos por lei. Ali o que há é um amontoado de células, um embrião, um feto, não é uma pessoa. Este amontoado de células tem tanto “direito de viver” quanto um tumor cancerígeno. Os cristãos celebram constantemente em suas missas a morte do Cristo e se escandalizam por procedimentos médicos necessários simplesmente por que cismaram de que um embrião é uma pessoa.
  1. Por que negar os direitos do pequenino que é o que você é?
Um embrião não é uma pessoa. Não tem direitos.

domingo, 8 de dezembro de 2013

A seguir, cenas dos próximos capítulos

Então chegamos ao fim de mais um ano e nos aproximamos de outro.
O ano que vem teremos copa do mundo e eleição.
Pouco depois das manifestações de junho, os partidos trataram de tentar capitalizar o movimento e, conforme os dias passam, vão aparecendo escândalos de nossa vida nessa brasilidade de tentar levar vantagem, a qualquer custo.
Ao lembrar que, por dizer a verdade, que o buraco é mais embaixo, eu tive que sair do FB e pessoas que diziam ser minhas amigas não me apoiaram.
Eu sei que boa parte disso tudo foi responsabilidade minha, eu sei que não sou uma pessoa fácil de conviver [e nem poderia ser, eu abomino essa mediocridade que impera]. Passados os dias de recuperação da cirurgia [14 dias] nenhuma das pessoas do meu serviço que se diziam ser minhas amigas sequer fizeram uma ligação. E isso não diz muito das pessoas com quem convivo, mas de mim.
O que eu espero do ano que vem é mais do mesmo.
A programação de televisão e a cultura popular cada vez mais sendo emburrecida.
O brasileiro contribuindo para o fracasso de nossa nação.
Crentes e descrentes trocando elogios.
Locais de diversão, como estádios de futebol e boates, servindo cada vez mais como ringue para idiotas extravasarem suas frustrações.
Burguesinho patrocinando [pelo seu vício] o tráfico de drogas.
Eleição das mesmas figurinhas marcadas.
Omissão, negligência, imperícia e imprudência nos atos de nossos governantes.
Caos na saúde, transporte e educação pública.
Nosso povo cada vez mais com falta de educação e cidadania.
Aquilo que fazemos de bom e notável não passa de maquiagem, de fachada.
O brasileiro não quer saber do projeto trabalhoso que é fazer esse país chamado Brasil.
O brasileiro não quer saber de ética, honra, cidadania.
O brasileiro quer continuar a ser tratado como imbecil e viver sua vida medíocre.
Mas vamos combinar uma coisa:
Tendo eu passado por este ordálio, vamos combinar que ninguém deve mais coisa alguma pra mim, nem eu devo mais coisa alguma, para quem quer que seja.
O último a sair, apague a luz.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O que os Deuses estão fazendo hoje em dia?

Uma vez que não são adorados [cofcof neopaganismo - NT], e considerando que eles são imortais e provavelmente entediados até a morte, eu acho que os deuses antigos têm de descobrir novos métodos para se manterem entretidos. O alado Nike está mergulhado profundamente na produção de calçados esportivos, a vingativa Eris arrumou um droid, e Nero está queimando CDs (bem, não o faz como um deus, mas está tão relacionado que eu acho que ele conseguiu esgueirar-se pela porta dos fundos depois de tudo).

Então eu queria saber o que os doze grandes deuses da Grécia e Roma estão fazendo, além do óbvio (cuidar de seus respectivos planetas, dias da semana, meses do ano, convidados para história em quadrinhos e séries de televisão e assim por diante) .

Apolo é de longe o mais bem sucedido com o seu programa de exploração espacial. Apesar de ser um pouco estranho uma tentativa de pouso na Lua nomeada em homenagem ao deus-sol. Por que não chamá-la de Artemis, a deusa da lua? Misóginos.

Ares/Marte tem uma barra de chocolate. E uma empresa que produz a barra de chocolate. Bom o suficiente, até a próxima guerra mundial.

Atena/Minerva tem o projeto de pesquisa CERN de antimatéria. Muito adequado, para a deusa da sabedoria e do ofício, mas só se ela se provar muito, muito bem-sucedida e fizer um enorme impacto. Caso contrário, Athena está maciçamente sub-avaliada nestes dias. Misóginos.

Artemis/Diana ... desempregada, para ser honesto, especialmente desde que a caça foi proibida em um de seus principais territórios. Há um bordel famoso em Berlim chamada Artemis. Estranho para a deusa virgem, mas os tempos são difíceis, até mesmo deuses assumir tudo o que empregos estão disponíveis.

Hefesto/Vulcano fizeram nome no showbiz, com os vulcanos de Star Trek. Eles estão em toda parte! Acho que foi o seu retorno, depois do insulto de um planeta hipotético levar seu nome (no século 19, o planeta Vulcano era suposto estar escondido entre o Sol e Mercúrio). Um plano hipotético para uma grande divindade! Horrivel.

Hermes/Mercúrio tem um elemento químico. Quem teria imaginado o deus travesso de ladrões em um laboratório?

Hades/Plutão perdeu seu planeta, mas ainda pode mostrar seu famoso personagem da Disney. Sim, é um cão, escada de um rato, mas de longe o mais famoso personagem de desenho animado em homenagem a um deus. E alegre, também, para alguém que vive no inferno.

Hestia/Vesta se divertiu quando seu nome grego foi usado como o nome informal de Himalia, uma das luas de Júpiter. Espere. Luas têm nomes informais? Nós devíamos chamá-la de Sra. Moon?

Poseidon/Netuno é realmente entusiasmado com a evolução da música e lançou seu próprio selo de gravadora para promover novos talentos. Eu suspeito que tem algo a ver com a sua mulher ter sonhado com uma carreira de cantora desde que ela era apenas uma jovem nereida.

Demeter/Ceres está experimentando com algumas cervejarias e empresas produtoras de suco, mas nenhum deles teve qualquer sucesso ainda.

Zeus/Júpiter e Hera/Juno levaram um milênio sabático para explorar outras galáxias e reconectar-se um com o outro, antes que seja tarde demais para salvar seu casamento.
Original do Ancient Links

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O substrato do abstrato

O que há em comum entre alguns evangélicos e alguns ateus? Radicalismo. Este é um texto baseado na tentativa de debate que tive com um desses seguidores de Dawkins.

- Ensinar ateísmo é o mesmo que ensinar uma crença: imposição.

- Não exatamente. A escola ensina o que é ateísmo, e não a ser ateu, o que é bem diferente. Ao invés de ensinar uma "verdade", imaginária, lendas antigas, ensina a pensar racionalmente e as bases do pensamento crítico.
Na verdade, nem é preciso ensinar ateísmo propriamente, pois somos todos ateus ao nascer, e é preciso muita doutrinação e lavagem cerebral para deixar esse ateísmo natural e passar a acreditar em superstições ancestrais e em seres imaginários.

- Se ensina-se apenas uma ideologia, sem contraste, sem controvérsias, não deixa de ser igual à inculcação doutrinária feita pela Igreja. Segundo estudos com crianças, todas apresentam a ideia de um ser superior, então essa bravata falaciosa de que se nasce ateu não cola.

- Não existem 'controvérsias" sobre a lógica e o pensamento racional não levarem em consideração a existência de coisas sem evidências.
Crianças podem ter uma idéia de "ser superior" apenas se isso for algo comum a seu ambiente.

- Falar em evidências é método cientifico. Fala-se em visões e interpretações sobre o mundo. O ser humano não é feito apenas de pensamento racional, mas do abstrato também, senão não tem arte, poesia, literatura, teatro e até mesmo matemática.

- O ser humano, dadas as evidências disponíveis, é sim formado apenas por matéria, e as abstrações que produz, com sua mente, são, bem, apenas de sua mente. Arte, poesia, etc, são abstrações da mente humana, não elementos concretos deste mundo. Não é preciso evidência de existência.

- O argumento foi o de que ensinar ateísmo é ensinar o pensamento racional, o que remete a anular ou ignorar o pensamento abstrato que, como você atesta, faz parte da matemática.
Querer limitar o entendimento do mundo e do universo a algo tão pobre é mais típico das "malvadas religiões" que você tanto critica. O ser humano não é formado apenas por matéria, senão não há como entender a mente, o pensamento, a ideia.

- Nada implica que o pensamento racional não inclua o abstrato. Matemáticos pensam racionalmente. Escritores, ao criar suas obras, abstratas, pensam racionalmente. Um matemático sabe que o número "1" é uma abstração, não um elemento real, concreto, deste universo. Um escritor sabe que seus personagens não existem de verdade.

- Você mesmo em seus argumentos acaba fazendo essa suposição. Voltando um pouco: crianças acreditam em um ser superior devido ao ambiente, então o ateu está desambientado ou é um alienígena. Você argumentou que só existe o que está evidenciado. Portanto, aquilo que é abstrato não pode ser aceito pelo pensamento racional, o que inviabiliza os conhecimentos humanos que listei.

- Para existir, para que se conclua pela existência, é preciso evidências, mas abstrações, imaginação, nada tem a ver com isso.

- Você tenta ignorar seus próprios argumentos, nos quais se pode concluir que apenas o pensamento racional e válido, onde apenas o que é evidenciado é aceitável, portanto tudo o que é abstrato é irracional, invalido, inaceitável. Eu não toquei no tema filosófico/teológico das crenças, mas abordado que o pensamento racional deve incluir o pensamento abstrato, o que, de acordo com você, não faz parte do ateísmo.

- A existência de algo, existência real, só pode ser objeto de conclusão confiável, se apresentar evidências. Pensamentos abstratos, conceitos abstratos, nada tem a ver com isso, sejam matemáticos, sejam imaginativos. ‘Existir’ na imaginação nada tem a ver com a existência real. Evidências, é o que importa, quer você acredite ou não. Pode acreditar que pular de um prédio não vai causar dano a você, mas se pular, vai se machucar.

- Muito bem. Apenas evidências que importam. Então evidencie o numero 1. Evidencie uma soma. Se eu lembro bem, você concorda que são conceitos abstratos, portanto, não existem, portanto não são importantes para a matemática. Se eu acreditasse que posso pular de um prédio, eu procuraria uma forma de poder pular sem me machucar. Crer e saber não estão em conflito.

-  Somas não existem, não são reais, são descrições de relações numéricas, matemáticas. Coloque duas maçãs sobre a mesa, depois coloque mais duas. E quando precisar explicar o que aconteceu, e quantas maças tem sobre a mesa, vai usar um conceito que chamamos de 'soma’. Mas, a soma propriamente, não existe, não pode colocar uma 'soma’ em um saco, ou bater com a soma na cabeça de alguém. Algo que não 'existe’ de forma concreta, ainda pode ser importante como idéia ou abstração, como o conceito de honra. Mas continua a não existir materialmente, concretamente, apenas como conceito. Não tem evidências de existir.

- Vamos dividir o tema em "evidência" e "existência". Evidência é assunto do método cientifico. A ciência não afirma que Deuses não existe, apenas que não tem evidências, afinal o homem aceita idéia de abstrato numa boa. A soma é um conceito abstrato, uma convenção, não existe no sentido de ser algo concreto. Mas são usados para se explicar algo. A existência também é algo a ser explicado e não apenas por evidências, por elementos concretos, pois muitas "coisas" existem e não são concretas, como elétrons, ondas, diversas energias. Estes elementos podem ter a existência evidenciada pelo efeito que causam, ou seja, uma evidência secundária. Então não deveria haver tanta resistência em aceitar que a existência dos Deuses pode ser evidenciado pelo efeito causado, que é a própria natureza. Da mesma forma que cessam os efeitos com a ausência destes elementos, da mesma forma cessaria a natureza, o mundo, o universo, a vida tal como conhecemos na ausência dos Deuses. E isto explica apenas o aspecto material da natureza, não da existência. A existência é um tema da filosofia, visto que procede de conceitos e convenções humanas, não de evidências, da ciência, do método cientifico. Você não quer compreender que nem tudo que existe tem evidência, conceitos abstratos existem embora sem evidência. Existência está além da ciência. Não é função ou preocupação da ciência explorar questões existencialistas, metafísicas ou sobrenaturais, mas tudo isso faz parte do questionamento e natureza humana.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O circulo do coração

Para o pagão, o bruxo, o mundo dos sonhos não é um mero espasmo da mente, mas um canal para a Sabedoria, a Verdade e a Realidade Divina.
A habilidade e a consciência dessa ferramenta não é simples nem é fácil de dominar. Quando eu fazia meus jornais oníricos, tudo o que eu percebia é a constância e a insistência dos temas e tipos de sonhos que eu tinha.
Pois bem, depois que eu parei de escrever os jornais, depois que eu saí da vida de cobaia de um treinamento, depois que eu zerei e reiniciei por conta própria minha jornada é que me veio uma compreensão, durante um estado de vigília, em um dia qualquer.
A miríade de sonhos são laços de um único, central e singular sonho. Como tudo na vida, nós criamos incessantemente elos em torno daquilo que realmente necessitamos.
Adquirimos conhecimento material necessário, mas insistimos em querer saber mais, crentes de que a ciência vai nos dar a resposta sobre tudo.
Procuramos aprimorar cada vez mais a capacidade e a eficiência de produção, confiantes no inesgotável potencial laborativo humano e fertilidade agrária natural.
Tentamos administrar com consciência, responsabilidade e ética nossa família, empresa e cidade, certos de que nossos parentes, colegas e cidadãos farão sua parte.
Escolhemos e seguimos uma espiritualidade, uma crença, uma religião. Falamos e divulgamos proficuamente os beneficios do que acreditamos e promovemos o Amor, fiéis de que há um propósito maior.
A cada anel que construímos, nos afastamos do que é essencial e recheamos o vazio com diversas ilusões para sustentar essa subrotina. Nos dedicamos de tal forma na execução e no aperfeiçoamento dessas atividades que nos esquecemos dos motivos e finalidade delas.
Os descrentes se aferram na ciência, na evidencia, mas estas coisas não servem para explorar o ser, a percepção, a consciência, a existência.
Os burgueses se isolam na riqueza, na expropriação, mas este sistema não produz condições para a justiça, a segurança, a satisfação, a felicidade.
Os governantes se deslumbram no poder, no mandato, mas esta política não legitima a autoridade, a influencia, o prestigio.
Os crentes se vangloriam na benção, na promessa, mas esta disciplina não garante a virtude, a graça, a redenção.
Nossa vida tornar-se-ia bem mais simples e nossa sociedade aproximar-se-ia da utopia se nos atessemos ao que é necessário e fundamental, que é o que eu chamo de círculo do coração.
Neste círculo, há saber e crer, ocupação e produção, representação e participação, razão e imaginação em proporções equilibradas e harmoniosas. Aqui, o Amor é a única lei, sem condições, sem limites, sem fronteiras, irrestrito.
O dileto e eventual leitor esperto há de protestar que este círculo ainda constitui um laço em volta de algo. Bom, não há outra forma de falar do que seria o centro de tudo senão os Deuses.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

No mundo dos errados

No mundo dos errados, os idiotas e medíocres usam e abusam da liberdade de expressão. Os sábios e estudiosos são patrulhados pelo Politicamente Correto e, para não suscitar melindres, acabam se censurando.
No mundo dos errados, os estudantes saem às ruas para protestarem contra o governo e o sistema, como se não tivessem participado na construção dessa estrutura e cultura, como se esquema, suborno e corrupção não fizessem parte da rotina do cidadão.
No mundo dos errados, mendigos analfabetos pregam em praça pública a retórica do evangelho, como se fossem porta-vozes da mais pristina verdade. O Cristianismo deve muito de seu sucesso à miséria mental, física e espiritual.
No mundo dos errados, se investe mais em futebol e novela do que em educação, saúde e transporte público.
No mundo dos errados, os partidos são legendas, no fundo são associações criminosas, sustentadas pelo voto do rebanho. Séculos de história nos contam a omissão, imperícia, negligência, incapacidade e incompetência de nossos governantes.
No mundo dos errados, a tecnologia para comunicação e informação avança inversamente proporcional à qualidade dos programas e notícias divulgadas.
No mundo dos errados, se faz concurso para entrar no serviço público, mas não para concorrer a cargos públicos. Os funcionários públicos são muito cobrados e tem que ser excelentes, apesar da falta de recursos materiais, tecnológicos e humanos.
No mundo dos errados, o mesmo jovem que faz passeata contra a violência e o crime é o mesmo que sustenta o tráfico,  dirige depois de beber e engrossa o numero das torcidas organizadas.
No mundo dos errados, falar de violência faz mais sucesso do que falar de amor.
No mundo dos errados, a sociedade impõe a monogamia e a fidelidade ao mesmo tempo que produz a pornografia e tolera a troca de casais.
No mundo dos errados, saber da novela ou do resultado do jogo é mais importante do que saber do seu bairro ou de política.
No mundo dos errados, aquele que se esforça para ser humano é o mais criticado e cobrado.
No mundo dos errados, escritor é aquele que agrada ao público, não aquele que tem talento e conteúdo.
No mundo dos errados, os que se põe no cargo de tutor, orientador, professor está mais perdido do que seu aluno.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Arrumando a casa

Passado um mês a casa está quase arrumada. Nós estamos ambientados. Nem estou sentindo falta de telefone fixo, facebook, sky. Setembro está transcorrendo tranquilamente, nem parece que eu passei por um período de turbulência.

Eu digo constantemente que não existem coincidências, os três meses anteriores me ensinaram a ter paciência, a não criar expectativas, a fazer aos poucos, a de não inventar problemas (ou vê-los aonde não existem) e fazer o que deve ser feito (reclamar em nada adianta).
As empresas Vivo e Sky bem que tentam nos arrebanhar de volta, mas quando eu era cliente não tinham tanta gentileza assim. Quem dependeu de assistência técnica de empresas sabe do que eu falo.

Esta é uma verdade inconveniente. Nós somos procurados pelas empresas (sejam organizações politicas, comerciais ou religiosas) enquanto formos consumidores em potencial. Adquirido o vicio, seremos tratados com desídia.
Imaginem como seria se fabricantes de cigarro e bebida fizessem o mesmo para reconquistar os otá... digo, clientes assíduos de seus produtos? Alhures neste blog eu escrevi um texto questionando sobre o que realmente necessitamos.

O truque das empresas (comerciais, políticas, religiosas) consiste em criar uma necessidade inexistente em seus consumidores em potencial. A isca é quase irresistível. Criada a dependência, recebemos o tratamento dispensado a viciados.

Como comunicólogo eu posso afirmar que, para isso, a propaganda e a publicidade ajudam a vender produtos, serviços e ideias.  Mas seria incompleto, o próprio sentido e razão dos meios de comunicação de massa consiste em criar esse mundo maravilhoso  irreal. Cris Polly que me desculpe, mas eu não engulo "Supernanny" que, em um mês, consegue transformar uma família. Eu tentei por dois anos essa "terapia behaviorista" e não aconteceu milagre algum.

Recentemente tentaram empurrar a ideia de que o Brasil (e os brasileiros) ia mudar. Meu caro e eventual leitor deve ter lido o que aconteceu quando eu simplesmente apontei o óbvio. Passados alguns meses, nos deparamos com o escândalo Donadon, o deputado-presidiário. Cadê os "black blocks"? Só o que vejo são propagandas partidárias tomando partido (desculpem o trocadalho) das manifestações de rua. Ou seja, vamos ficar na mesma, como este profeta vos disse.

A mídia eletrônica é profícua em divulgar esse mundo ideal, impossível e irreal, onde somos todos iguais, podemos ser felizes (mediante o uso de um produto, serviço ou comportamento) e somos importantes. Somos constrangidos a aceitar um ideal, diante de historias de superação. Somos constrangidos pela exposição das mazelas, misérias, sofrimentos e exclusões que esse sistema mesmo produz. Caridade é um suborno moral à consciência pequeno-burguesa. Apenas medíocres precisam ver a miséria alheia para mitigar e aceitar a própria miséria.
De algum jeito eu sabia que o resultado de uma mudança (física, mental ou espiritual) será sempre uma conquista e vitória individual e solitária.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

No reino de Southerly

Depois de 2 meses e meio eu terminei de ler os 5 volumes das Cronicas de Gelo e Fogo. A saga é intensa e capta a atenção, os capítulos recebem o nome do personagem no qual a ação está centrada, dando a impressão de que a historia ocorre em diversos níveis. Por outro lado é incompreensivel o sucesso desta história ambientada na Idade Media com nobres e reis vivendo uma riqueza indecente enquanto a massa vive na pobreza extrema. Eu vou dar um desconto por ter referências ao Paganismo e aos mitos antigos, mas eu não achei qualidade literária, as "cronicas" está para a Literatura como o som ambiente está para a Música.
No encerramento do vol 5 muitas historias ficaram sem conclusão e o futuro de Westeros ficou indefinido. Não houve um clímax, o que tornaria necessário o vol 6. O 4 vol foi o mais chato, cheio de historias e personagens secundários enquanto o vol 5 alguns personagens principais saíram de cena.
O reino de Westeros, pelo mapa apresentado, parece-se muito com a Grã-Bretanha, os Países Livres seriam a França, o que tornaria os reinos do Mar do Leste a Asia Menor e o Oriente Médio.
Eu tento imaginar como seria o Brasil dentro das "cronicas". Eu chamaria a América Latina de reino de Southerly e o Brasil seria o Condado de Vera Cruz.
Aqui os castelos são feitos de taboas e sapê. As armaduras de nossos "sores" são feitas de latão. As correntes de nossos "meistres" são feitas de arruelas e tampinhas. A muralha, que ficaria no sul para nos proteger dos argentinos, seria feia de casca de côco. Em comum teria a intriga, traição, conspiração, patifaria, a riqueza indecente, a pobreza extrema, a negociata, a politicagem. Nossa inovação é a tradição tupiniquim de fazer tudo nas coxas.
Brasileiro é uma praga pior que barata. Onde não tiver brasileiro, pode ter certeza que tem um viajando. Quanto tempo Westeros aguentaria a presença de Brasileiros é uma questão que assombraria George Martin. Qual seria a reação dos lordes de Westeros ao ver chegar caravelas do Condado de Vera Cruz? Nossa reputação não é bem vista sequer nos Países Livres. Nos Países do Verão, os Dothraki teriam nojo de colocar qualquer khalazar em nosso encalço. Nenhum Homem de Ferro arriscaria passar pelo nosso litoral para fazer esposas de sal. Pobre do Lannister que passeasse por aqui, seria rapidamente tosquiado. Quem se daria bem e passaria longas férias por aqui seria Robert Baratheon.
George Martin negará, mas Westeros começou a entrar em decadência quando começaram a chegar os brasileiros. Eu sei porque Cersei mandou vir um mercenário [eu] do Condado de Vera Cruz. Aqui eu encontrei muitos brasileiros na corte. As Cronicas de Gelo e Fogo terminaram, mas para eu e muitos westerosis brasileiros a historia continua. Eu vou tentar desencalhar Bran, liberar Sansa, propor casamento para Arya, achar Ben Stark. Eu vou tirar Stannis do Jogo dos Tronos e, se eu achar Jaime e Tyrion Lannister, talvez consiga uma saída honrosa para Cersei, desde que me deixem cuidar de Mindinho.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Sopa de pedras

Depois de dias, semanas e meses, cheios de surpresas e desafios, eis que eu tenho uma casa nova.
Eu mudei...ou será que não? Eu estou confuso. Uma vez eu recebi o elogio por ter conseguido mudar radicalmente para depois, a mesma pessoa que me elogiou, acusar-me de não ter mudado, que eu havia retrocedido. Acho que ela não me conheceu o suficiente ou não confiou ou não deu o devido crédito ao trabalho feito. Eu dei sinais que até um leigo teria visto que eu forçara a situação exatamente para haver um rompimento. Tal leitura não ocorreu, 2 anos de esforço, trabalho, dedicação foram descartados sem cerimônia.
Em outros momentos e épocas isso me deixaria deprimido, mas nada acontece por acaso. Eu não esperava sequer ter encontrado essa pessoa, aconteceu quando e como era necessário, acabou pela vontade divina. Caro dileto e eventual leitor, não se esqueça que seu mestre é um ser humano, não o idealize.
Mudanças ocorrem constantemente, mudamos diariamente, até o que parece não mudar não permanece o mesmo, não se entra no rio duas vezes do mesmo jeito. Mudanças acontecem por uma dinâmica própria, vem do jeito que devem vir, no momento que devem  vir e os resultados nem sempre são o esperado. Nisso eu vejo a Fortuna e o Destino. Na percepção das probabilidades se escondem pequenos milagres. Como acontecem com histórias de sucesso e seus autores.
Histórias de sucesso nos chamam a atenção exatamente por serem raras e eu imagino que ganho de riqueza seria para a Literatura se não tivesse o gênero "auto-ajuda". O problema das histórias de sucesso e seus personagens é que o ser humano ao focar sua atenção em um ponto tende a distorcer o que está em volta. Sem as devidas oportunidades, meios e a colaboração de diversos anônimos, não há história de sucesso.
Olhando em retrospecto, a mudança depende bastante da ação de terceiros. Freqüentemente eu ouço o quanto nós somos "culpados" pelo que nos acontece, de como nossa ação, comportamento e até sentimento resultam em uma situação e no ambiente. Depois de quatro meses conturbados e dois anos de trabalhos, vendo que o ambiente e as pessoas continuam a reagir da mesma forma, por mais que eu tenha mudado, eu vejo que há uma via de mão dupla. O meio e a sociedade também tem "culpa" no cartório.
A despeito de nossos esforços para termos um mundo, um país, uma humanidade melhores, caro dileto e eventual leitor, as coisas vão continuar a ser e acontecer como devem ser. No tocante ao brasileiro, depois daquela semana de protesto que foi uma brisa, onde tudo parece continuar a ser como era, eu mantenho o ceticismo que resultou no rompimento simplesmente por eu ter declarado o óbvio e a realidade: o buraco é mais embaixo.
Demos um passo importante e, mesmo se voltarmos atrás, não será a mesma coisa. Como quando se perde algo  ou a trilha. Carece coragem reconhecer o equivoco, refazer os passos e reiniciar a jornada de algum ponto inicial.
Eu mudei e eu vou continuar andando, agora mais experiente e amadurecido. O sentido de escolher um caminho é ser mestre de si mesmo. Não se entregue a terceiros, se entregue á jornada e confie nos Deuses.
Somente você, caro dileto e eventual leitor, sabe o tamanho de suas dificuldades. Só você sabe onde o calo aperta. Só você sabe o esforço e o recurso que dispõe. Somente você pode ser você, esteja onde for ou faça o que fizer, ninguém mais pode te substituir. Ninguém ocupará seu lugar e sua função de escrever sua história. Outros personagens ficarão envolvidos pois, em algum sentido, nossos destinos estão interligados. Mas não se esqueça que são gente, terão os mesmos medos, inseguranças, defeitos.
O sol sempre surge no dia seguinte. Esteja atento, esteja preparado, esteja aberto, seja realista e não crie espectativas nem faça apostas. Quando te apontarem o dedo, sorria e assimile. Lembre-se que, para cada dedo apontado, terão três na direção oposta.

sábado, 6 de julho de 2013

O fim de Joãozinho

Na cidade grande, onde Joãozinho foi forçado a nascer e crescer, não é fácil nem agradável ser gente. Um povo que maltrata seus iguais não merece viver.
De vez em quando vinha gente de fora, contando coisas para lá de trás dos montes. Mas quando se vive há tanto tempo quebrando pedra e comedo carvão, nesse ambiente de ferro, vidro e cimento, esses contos parecem com as lendas que velhos sonham.
Joãozinho ia levando essa vida medíocre e melancólica, levando a reboque nas costas, em uma mochila de couro de vaca, toda a carga do seu passado que o fizeram acumular para sobreviver. Ele ia de um lado a outro, tentando com todas as suas forças, procurando por uma vida melhor, mais saudável, mais feliz, mais prazerosa. Um viajante, interessado em levar a vaca de Joãozinho ofereceu-lhe três feijões que ele havia trazido de lá de trás dos montes que, se Joãozinho plantasse no lugar certo, no dia certo, sem duvida que conseguiria ter uma vida melhor, seria dono de um castelo, onde encontraria um ganso mágico que põe ovos de outro.
Livrar-se da bagagem era uma ideia convidativa mas não era agradável, pois a mochila era como que costurada na pele das suas costas. Seria uma grande dor e sacrifício para ganhar três feijões encantados, mas a idéia de ser rei o estimulou e, com uma adaga, com as próprias mãos, Joãozinho separou aquilo que o unia a essa carga. Somente então ele se deu conta da tralha que tinha consigo e de quanto tempo e esforço havia desperdiçado com tanto entulho.
O viajante pegou a mochila e sumiu tão misteriosamente quanto apareceu. Sem demora, Joãozinho caminhou para o campo e, em uma noite de luar, plantou os feijões, esperando o melhor.
No dia seguinte, os feijões tinham brotado e crescido, estavam maiores e mais fortes do que um carvalho, através deles chegou nas nuvens e até encontrou o castelo. Mas o castelo tinha dono, um gigante que, prometendo a Joãozinho que iria ensina-lo  a ser gente de verdade, o colocou para fazer diversos serviços, sem sentido, esdrúxulos, mais do que difíceis, impossíveis de serem realizados.
No devido tempo, Joãozinho percebeu que o gigante não era tão grande, tinha seus defeitos e inseguranças, era tão aprendiz na difícil arte de ser gente de verdade quanto ele. O ganso tinha nada de especial, suas penas eram comuns e seus ovos não eram de ouro. Joãozinho fez aquilo que era necessário e precisou ter muita coragem em quebrar as correntes, abrir a jaula, encarar o gigante e desprezar o ganso. Joãozinho recuperou algo que ele julgava que nunca tinha tido: liberdade.
O gigante bufou, esperneou e encenou a expulsão de Joãozinho do castelo, para manter a imagem, como se não tivesse sido Joãozinho o autor de toda a ação. Joãozinho voltou ao fatídico pé de feijão onde tudo começara e encontrou-o quase todo murcho e seco, seria arriscado demais voltar das nuvens para o chão descendo pelo mesmo caminho que subiu.
O gigante estava em seu encalço para lhe dar uma marretada, mata-lo teria um efeito melhor do que chuta-lo. Joãozinho respirou fundo e pulou, torcendo para que, quando o chão chegar, não doesse muito.
Não há final feliz para Joãozinho. Nem poderia haver. Para cada historia de sucesso, para cada herói, existem milhões de esqueletos. Joãozinho é só mais um anônimo. Tudo o que ele queria é ser gente, ser visto e reconhecido como gente, receber respeito e consideração. No mundo dos homens não existem gentes, apenas criaturas mesquinhas, gananciosas e cruéis. Anda que realizasse seu sonho, Joãozinho estaria terrivelmente sozinho. Como todo sonhador, ele queria um mundo melhor não apenas para si, mas para todos.
Então ele ouviu uma voz, a voz do seu verdadeiro eu, aquele que, dentro dele, o mantinha em contato direto com seus ancestrais e seus Deuses. Em sua queda, Joãozinho teve a sensação de plenitude e encontrou consolo e respostas. O chão não chegou e Joãozinho não se espatifou. Ele voou e, com suas próprias asas, poderá ir aonde quiser e poderá levar o que quiser. Joãozinho não tem um final feliz porque nunca precisou ter um. Mesmo que ninguém saiba de sua história, ela será conhecida por quem importa: ele.

domingo, 23 de junho de 2013

Identidade espiritual

Tem algum tempo que eu tenho acompanhado a luta LGBT para ter seus direitos reconhecidos e garantidos. Toda essa questão sobre identidade de gênero e preferência sexual é um assunto complicado porque rompe com muitos preconceitos e desafia as rígidas doutrinas  ditadas por instituições religiosas.
Uma pessoa nasce com um corpo que não combina, não condiz com sua condição. Aparentemente isso contraria todas as convenções sociais, mas a pessoa, ao buscar uma imagem, um copro, que reflita sua condição interna, acaba confirmando e reiterando essas mesmas convenções.
Sabe-se que essas convenções são culturais e próprias do ser humano. Esse conjunto de imagens e símbolos são muito fortes e arraigados para serem suprimidos ou reformulados. Um homem não precisa ser ou parecer mulher para gostar de homem. Uma mulher não precisa ser ou parecer homem para gostar de mulher. O que não impede o transgênero de buscar sua felicidade, nos termos e necessidades que ele/ela tenha.
Essa questão entremeia não apenas convicções sociais, mas educação, que se recebe desde nosso berço. O mesmo pode-se falar da questão da identidade espiritual e da opção religiosa. na antiguidade, toda religião e espiritualidade tinha sua base, sua essência, na família, no lar, no patriarca/na matriarca. Quem quer que estivesse na liderança da casa era quem detinha o sacerdócio e transmitia a seus filhos o legado que recebeu de seus ancestrais.
Foi pelo próprio desenvolvimento humano e expansão da humanidade que apareceram cidades, reinos, impérios. Muito comumente os chefes, reis, imperadores eram sagrados e coroados por sacerdotes; a religião do Estado estava estruturada e organizada a partir da religião familiar e, pelas relações sociais, as famílias mais abastadas constituíam tanto a nobreza quanto o clero. A despeito disso, havia mais tolerância e liberdade religiosa na antiguidade do que há em nosso tempo.
Quando a estrutura e organização das instituições religiosas adquiriram mais poder e influência, atribuindo-se uma infalibilidade, uma independência, ao tornar-se um Estado soberano instituído na autoridade dada por Deus, perdeu-se todo o vínculo com as origens, legados e heranças antigas. A identidade religiosa do individuo passou a ser monopólio e privilégio desse Estado Teocrático, a sociedade passou a ser dominada pelo dogmatismo e a idéia de Deus tornou-se algo vazio e sem sentido, a religião passou a ser uma grande multinacional.
Por séculos a humanidade ficou debaixo dessa Ditadura Clerical, aceitou crer e adorar um Deus que cumpre mais o papel de garoto propaganda dessa multinacional. Fomos condicionados a ter medo, nojo e aversão ao mundo, ao corpo, ao desejo, ao prazer. Perdemos nossa identidade espiritual e fomos alienados de nossa opção religiosa.
Os resultados dessa incompatibilidade foram a neurose, a paranóia, o recalque, a frustração e diversas formas de violência e desvios sexuais. Diversos crimes e guerras foram cometidos "em nome de Deus". Por muitos séculos o desenvolvimento humano foi restringido. Somente quando nós recomeçamos a desvendar nosso passado, os feitos daqueles que nos antecederam, suas mitologias, é que começamos a nos dar conta do que perdemos e do que pagamos ao ter delegado tanto poder e o monopólio a uma única instituição religiosa.
Demorou algum tempo, pois achávamos que os mitos eram meras lendas, nada senão velhas superstições. Mas ao percebermos que haviam verdades mais profundas, nos deparamos com verdades divinas e, com elas, começamos a recuperar nossa essência humana e redescobrimos os inúmeros caminhos pelos quais conseguiríamos desenvolver todo nosso potencial e acordar o espírito divino que reside em nós.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Beltaine em junho

No Brasil em junho temos fogueiras, como tem na Europa em maio. Nós não temos maypole, mas temos pau de sebo.
Maio passou a 200 km/h. Durante esse tornado, nós iniciamos o processo de mudança de domicílio e os preparativos para a cirurgia da ortognática.
Foram vários meses privado da boa companhia dos meus progenitores espirituais e do consolo de estar no santuário no sítio.
O rescaldo de abril e maio não é favorável. Eu não consegui realizar o trabalho voluntário, o psicodrama foi uma arapuca e o exercício de vocalização eu vou fazendo no serviço.
Houve um breve intervalo, eu pude rever minha senhora e meu senhor. Eu tive a chance de ouvir o oráculo e Ifá e a oportunidade para ofertar as entidades que governam meu destino. Findo maio, findou o linimento. Oh bem, eu passei 48 anos quebrando pedras e comendo carvão, dificilmente coisas boas acontecem e raramente duram. Mesmo atravessando esse caminho espinhoso eu aprendi algumas coisas. Do jeito mais dificil, claro.
Eu consegui controlar meu temperamento. Eu mantive os problemas e dificuldades fora do ambiente de trabalho. Eu aprendi a parar de criar expectativas, positivas ou negativas. Eu apredi que é inútil ficar com pessimismo. Eu aprendi que ficar ensaiando ou roteirizando coisas, eventos ou fatos futuros é um desperdício.
Quando eu fizer a cirurgia eu passarei 15 dias me recuperando, uma quinzena. Falar quinzena tem menos impacto que falar quarentena, embora tenham o mesmo sufixo e tenham o mesmo intuito de marcar um período de tempo.
No fim das contas, crer e confiar a vida, o destino, aos Deuses, requer coragem, confiança e paciência. O chato faz pouco das crenças, religiões e espiritualidades. Como náufragos que passaram muito tempo ilhados, esqueceram que há algo além do oceano, duvidam que todos hão de voltar para suas origens. Tudo que o náufrago acha que sabe é baseado naquilo que é convencionado por realidade. Por mais fatos e evidências, a realidade do náufrago continua sendo uma ilha, não é nada racional atentar à ilha e esquecer o oceano, bem como o que nos trouxe a existir neste mundo.
Um caminho espiritual é baseado na intuição e na prática. mesmo o caminho científico necessita de alguma crença. Quando Cristóvão Colombo saiu para descobrir o "Novo Mundo", mesmo possuindo os mapas náuticos dos chineses, ele teria que crer, confiar que aquele traçado era exato. Um caminho espiritual é como um mapa e requer que se passe pela experiência.
Na jornada haveremos de encontrar pessoas com quem compartilhar o pão, vinho, catre, música e amor. No entanto a caminhada sempre será individual, solitária. Vínculos de sangue e linhagem nos dão a força para seguir adiante. Mas nos momentos dificeis, desafiadores, não haverá nada no mapa, no raciocínio, na lógica, na evidência, que poderá nos auxiliar.
Nós somos Cristóvão Colombo, navegando a nau de nosso corpo, através do mar da vida. Pobre dos náufragos, esqueceram o porto, esqueceram o destino, esqueceram a jornada.
Problemas, sofrimento, dor, fazem parte da existência. Triste é saber que muitos nós mesmos nos causamos e, feito crianças mimadas, só sabemos reclamar e culpar outras coisas, pessoas e mesmo os Deuses.
Nesse instante, sem bússola, sem vento, sem estrela, ao sabor das correntes da maré, eu não vou tentar adivinhar ou fazer uma cena do que virá. O que será, será.