domingo, 29 de maio de 2011

A Deusa das Bruxas

Eu encomendei e li da Amazon o livro do casal Farrar entitulado "The Witches' Goddess". Traduzindo para o português: A Deusa das Bruxas. Este livro pode ser entendido como uma continuação do livro "O Deus dos Magos", livro que eu comentei no tópico "Faces do Deus".
Este livro segue a mesma linha de muitos outros livros do casal Farrar e de tantos outros autores de e sobre Paganismo/Bruxaria/Wicca. Contém pensamentos e reflexões interessantes, aos que souberem ler. Eu pessoalmente discordo dessa idéia que haja uma Deusa, única, multiforme e multiadorada. Nem todas as bruxas tinham um culto a um Deus ou Deusa. Eu não concordo com as teorias de Marija Gimbutas e as visões de Dion Fortune.
Mas como no livro anterior, eu aproveitarei a lista das faces da Deusa, conforme descrito em sumário, a partir do livro da casal Farrar.
A Deusa Terra.
Os autores usam a "Hipótese Gaia" para abordar este aspecto da Deusa. Em outro texto eu contestei as famosas "Vênus de Willendorf" então, em resumo, estas estátuas são uma representação da fertilidade e a mulher é a manifestação humanizada mais clara dessa fertilidade, não que ali esteja representada uma Deusa nem que isto necessáriamente servia a algum tipo de culto. Os autores, felizmente, citam o hiero gamos, algo que faz parte dos cultos antigos e que exige a presença de um Deus/sacerdote. Os autores lembram que a Deusa, embora seja mãe, também é justa e vai agir com rigor, algo bem diferente da concepção da "mãe amorosa e compassiva" tão propagada.
A Mãe Branca e Negra.
Os autores abordam a face da Deusa como o ventre e a tumba de todos nós. Explicam a importância da polaridade, um conceito sagrado que é parte fundamental de nossa crença. Eles desenvolvem um painel contendo um desenvolvimento desse aspecto da Deusa, em quatro manifestações: mistérios da inspiração, mistérios da vegetação, mistérios da intoxicação e mistérios da regeneração.
A Deusa Menstrual.
Os autores abordam um aspecto pouco falado da Deusa: assim como a mulher, ela menstrua. Não é um mero acaso que Ela é simbolizada pela lua e segue um ciclo lunar. Os Assírios observavam esse ciclo com cerimônias semanais [dias 7,14, 21] chamados de sabbatu [de onde vem o nome sabbath].
A Deusa Tripla.
Certamente o aspecto mais falado e discutido na nossa comunidade. A Deusa se manifesta em três aspectos: dama, mãe e anciã. Os autores explicam estas manifestações.
A Deusa Lunar.
Esta manifestação da Deusa está ligado aos seus outros aspectos, sua face triforme, sua face negra, sua face menstrual. O dado a acrescentar é o fato de que muitos calendários sejam baseados nos ciclos lunares, como os Judeus e Muçulmanos fazem.
A Deusa Mãe.
Este é, definitivamente, o aspecto da Deusa mais explorado nos discursos de sacerdotes locais, muitas vezes omitindo os outros aspectos da Deusa, ou pior, omitindo a importância do Deus. Os autores dão uma margem para a interpretação de personagens míticos cristãos como sendo aspectos arquetípicos da Deusa. Eu discordo dessa interpretação e releitura.
A Deusa Arquétipa.
Os autores explicam de que forma a Deusa pode ser compreendida pelo uso das imagens arquétipas, tal como Carl Jung lançou este estudo na psicanálise. Os autores usam os termos "forma de pensamento" e "inconsciente coletivo" da mesma forma. Introduzem os conceitos "anima"/"animus", "Ying/Yiang" dentro dessa concepção. Além das contestações que eu escrevi anteriormente contra essa releitura arquetípica da Deusa [ou dos Deus], indico o texto que eu citei de Walter Otto, em "O Espírito da religião dos Gregos Antigos", em especial os ítens "interpretação equivocada" e "o equívoco do arquétipo".
A Mulher como Deusa. [E vice-versa]
O tema encerra os temas anteriores, pois a mulher é uma manifestação da Deusa. Ela é, por sua natureza, sua sacerdotisa e seu templo. Em suma, tudo aquilo que a mulher faz e gosta, a Deusa faz e gosta. Toda sua intuição, sensibilidade, sensualidade, feminilidade, sexualidade, são aspectos sagrados dela e da Deusa. Vivenciar diariamente isto é uma vivência sacerdotal, é um caminho espiritual, é uma celebração da divindade. Então, mulher, seja como deve ser, feminina, sensual, sexual, ame, transe, cure e salve a humanidade.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O medo e o lobo

Há um ditado na web que diz que debater na Internet é como disputar as paraolimpíadas, mesmo se você vencer, ainda é retardado. Considerando o nível dos comentários que recebo aos meus textos e críticas, especialmente de Cristãos, esta é uma triste realidade.
Mas a Internet está aí, como o melhor e o pior em comunicação de e das massas, (des)servindo para a informação do público. Ela forma um "especialista" em um assunto a cada dia. Mesmo o elitista conhecimento acadêmico está ao alcance de todos e todos dão seu pitaco sobre tudo, mesmo que ninguém lhes tenha perguntado.
Eu não estranhei nem me incomodei quando saiu um trecho da entrevista do astrofísico Stephen Hawking, onde ele afirma que "a crença de que o céu ou uma vida após a morte nos aguarda é um conto de fadas para as pessoas que têm medo da morte". Eu passei por isso, eu sei bem por que cientistas, sejam agnósticos [como no caso do sr Hawking] ou ateus, tem tanta necessidade de rejeitar, negar ou criticar as doutrinas religiosas.
Os Cristãos protestaram, dizendo que o sr Hawking não pode falar nada por não ser um estudioso ou especialista no assunto. Para ser justo, os Cristãos também não são estudiosos ou especialistas em ciência [história, antropologia, lei, justiça], mas não tem vergonha ou prurido algum em divulgar seus monólogos pseudocientíficos para sustentarem as suas crenças pessoais ou as doutrinas da Igreja.
Parece um caso invertido do menino que grita "lobo" sem que houvesse algum. Nega-se o além para se negar o medo. Mas se não há o "lobo", não há medo para ser negado. Nega-se o além talvez por medo de se ter que responder por atos ou omissões ou talvez com receio de ter que passar por mais sofrimentos.
O sr Hawking, sendo astrofísico, deve saber que inúmeras estrelas nascem e morrem incessantemente no universo e o processo não se esgota por que o material, o elemento que compõe as estrelas não se desgasta nem se extingue. O mesmo acontece com as almas, muitas nascem e morrem incessantemente, sem que o processo se esgote, por que o material, o elemento que as compõe não se desgasta nem se extingue.
Todos os dias, depois do trabalho, tudo que as pessoas querem é dormir, ninguém fica criando ansiedade e expectativa se vai haver o dia seguinte por que se sabe que haverá um dia seguinte.
Para nós, isso é bem mais simples, "natural", sem depender de obra, de crença, de caridade.
Para um pagão, bruxo e wiccano, não se crê, se sabe que há a reencarnação. A vida continua, o que morre é o corpo. Nós vemos as evidências bem debaixo do nosso nariz, no mundo, na natureza.
Algo para nós refletirmos: a "vida no além" é aqui e agora. Nós podemos viver no Paraíso, nós podemos viver no Inferno. Cabe a nós escolhermos.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Lei Natural de Eros

Debates constantes a respeito do natural e do pervertido estão aparecendo. Homossexualidade e práticas sexuais "incomuns" de qualquer variedade são frequentemente trazidos à atenção porque aqui, no mundo do sexo, todo homem e toda mulher encontram suas inclinações mais puras e suas trevas mais brutas. A escala nestes debates estão entre a inclinação carnal pessoal enquanto são mediadas sobre uma moral universalista, insistindo que todos nós temos as mesmas inclinações carnais – e aqueles que fogem à regra são pervertidos - ou pior. Estes discursos morais são quase sempre ditados por motivos religiosos propagando uma curiosa escala entre liberdade do pecado e vergonha da inclinação de uma pessoa. Nesse clima de que "uma moral serve para todos" naturalmente surge a resistência.
Os debates que vimos hoje em dia estão baseados no século 11 [EC] e o debate eclesiástico sobre a Lei Natural [ou a "Lei de Deus" - NT] – aqui encontramos [São] Tomás de Aquimo, que nos contou para olhar para a natureza para vermos o que é natural, pois ele não considerava que o sexo fosse sagrado – mas algo que humanos compartilhavam com outros animais.
No Livro Dois de sua Suma, Tomás discute o assunto da Lei. Dada a orientação platônica e a influência muçulmana, Tomás escreveu pelo que nós podemos assumir que ele, ao escrever da Lei Divina, não estava falando da sharia, mas da essência do Islã em si mesmo – submeter-se à Lei Divina, como Abdullah, um servo de Deus. Esta idéia certamente abrange a doutrina do destino e como nós todos nascemos com uma condição única que permite um caminho [lei] único para obter a bondade em nossas vidas. Ser um servo de Deus compreende que nós descobrimos a lei única que nos conduz para a abundância como uma extensão da Lei Divina. Como espelhos de Deus nós, como humanos, também refletimos todas as Suas possibilidades em seus belos 99 nomes. Então há, portanto, uma distinção entre a Lei escrita e a Lei natural.
A distinção entre a Lei escrita e a Lei natural é também encarnada na Cristandade, nos Evangelhos, falando da missão de Cristo. O que está claro é que Cristo viu-se como profeta da lei eterna escrita no coração de cada um e de todos. Nós encontramos aqui a divisão da Lei como uma série de regras de condutas sem razão. A mensagem parece ser que seguindo a lei escrita não se pode errar, a Lei transformada em uma série de regras não necessita de razão para trazer a salvação. A lei eterna escrita em nossos corações segue um dinamismo que precisa de nós sermos conscientes quanto nossas ações e motivações. Infelizmente a consciência está sendo gradualmente substituída por interpretações temporárias e morais governando o momento socio-espacial.
Tomás de Aquino discutiu em sua Suma a lei escrita no coração dos homens. Esta é Lei que, acima do tempo, tem sido reinterpretada em uma luz moral e dado apoio à doutrina eclesiástica a respeito do pecado e sexualidade como conheçemos hoje no ocidente moderno. Tomás, por outro lado, foi acusado de ser ingênuo por teólogos posteriores. Bem, sua ingenuidade é a mesma que encontramos na tasawwuf (Sufismo), Advaita Vedanta e diversas fontes de conhecimento místico.
No artigo 3 do segundo livro, Tomás discute a lei como uma forma de medida racional e vê a Lei eterna como algo onde nós temos uma participação única. Imediatamente ele sugere que a capacidade de tentação é uma consequência da natureza da Lei em si mesma, portanto natural.
Estes comentários são similares aos que encontramos no Bhagavad Gita quando o texto discute a lei, isto é, dharma e karma. A Lei é o tema ao que se quer fazer – se o trabalho mudar, muda as regras da conduta. A Lei dá uma interpretação diferente do que é legal e bom. Falando simplesmente, um soldado tem a obrigação de matar – a lei pela qual ele vive enquanto um mercador vive de acordo com outras regras que valorizam outros atos como bons. Tudo é relativo - e falamos de papéis sociais. A nuance fica evidentemente mais rica quando nós medimos a Lei como a medida da natureza de uma substância como a encontramos em uma pessoa. O que Tomás tentou dizer é que existem algumas regras de conduta que são universalmente boas enquanto elas refletirem nossa divindade. Estas são todas qualidades que marcam uma pessoa como tendo um bom caráter, brotando do próprio Amor.
O que faz a diferença entre o animal humano e outros animais é a presença da consciência. Mas isto é algo que é desenvolvido e não automaticamente adquirido. Com o advento da razão vem uma habilidade maior de discernimento. Até que a razão esteja desenvolvida, o homem é uma fera dominada pelos impulsos carnais, como animal humano ele é governado pela lei natural que qualquer outro animal que age por suas inclinações e necessidades. Com a razão, as inclinações tomam forma e tornam-se expressões profundas de nosso dharma tal como este é. Aqueles que exercitam as inclinações naturais do prazer são verdadeiros para si mesmos – enquanto os que condenam com a tocha da reprovação revelam que são vítimas da propaganda da culpa. Através disto, eles se negam a si mesmos.
Esta distinção que Tomás faz entre os impulsos carnais e a extensão da Lei divina quando esta toma forma na razão é interessante. Pode ser interpretado que as inclinações carnais não são algo submetidas à Lei divina – mas pelo envolvimento natural da natureza do indivíduo, quando agimos por nossa natureza, como uma besta, desprovido de razão – podemos dizer que a Lei divina tem precedência de alguma forma exceto em dar uma forma às inclinações carnais mediadas por um coração?
A razão pode nos ajudar em entender nossas inclinaçoes carnais; pode ser um rei sereno que dá sentido às nossas inclinações naturais e através disto abrir as rotas para o eterno. Esta possibilidade está aberta, não por negar as inclinações – mas permitindo-lhes serem mediadas pela razão e uma sensibilidade pela harmonia natural.
Nós podemos resumir que nossas inclinações carnais, em toda suas ricas variações, enquanto trazem bondade – é simplesmente – uma coisa natural que conjurada com a razão pode trazer bondade e abundância. O assunto não deve confundir os planos como muitos críticos da moral fazem quando dizem que toda criação de Deus é uniforme e singular - uma criatura das massas.
Nisto, a sabedoria de Eros pode brotar e revelar a grandeza criativa do Criador!
Autor: Nicholaj Frisvold
Tradução: Tio Beto
Fonte: The Starry Cave [Speculum Celestae]

terça-feira, 3 de maio de 2011

Eslováquia mantêm tradições pagãs

Vinte anos após o fim do comunismo, a Páscoa na Eslováquia é celebrada entre as tradições do cristianismo, incluindo tradicionais receitas culinárias, e os costumes pagãos alusivos à fertilidade. Alimentos como ovos cozidos, presunto cozido com sal, bolo com requeijão, pãezinhos com aipo, pasta de batata com queijo de ovelha, purê de arroz com manteiga e sorgo fazem parte do receituário tradicional das celebrações da Páscoa eslovaca.
Alguns são consumidos durante os dias de abstinência, já que com exceção da Quinta-Feira Santa, muitos católicos do país centro-europeu cumprem esse preceito religioso e não comem carne até o Domingo da Ressurreição.
Também se destacam as decorações das casas, que dão entrada a elementos da natureza - galhos e brotos de videira verdes e ovos ornamentais pintados à mão - quando esta recupera vigor com a chegada da primavera, que também fala da vida e é considerada símbolo da ressurreição. "Espero ansiosamente pelo presunto com sal, feito em casa da forma tradicional", disse Cyril Hamrak, capelão da Igreja de Santa Catarina de Alexandria, em Dolny Kubin, no norte do país.
O clérigo lembrou que é forte o costume de apresentar estes alimentos caseiros para serem benzidos no final da vigília de Páscoa ou durante a missa do Domingo da Ressurreição.
Entre os costumes pagãs mais difundidos, e que são festejados principalmente durante a segunda-feira de Páscoa, destaca-se o de jogar água fria - em pequena quantidade - sobre mulheres jovens. "Esse costume é para desejar que sejam bonitas e sadias. Os antigos eslavos o faziam para adorar divindades da floresta", afirmou o pastor evangélico Rastislav Stancek.
Além da água, em alguns lugares as moças recebiam leves golpes com varas de salgueiro como forma de desejar sorte, e em troca deveriam entregar um presente, como um pedaço de bolo. "Depois que os homens derramavam água sobre as meninas solteiras, elas os presenteavam com um ovo cozido, que é um símbolo pagão da fertilidade", explicou Stancek.
Também era costume enterrar nos campos as cascas dos ovos de Páscoa, para que fossem mais férteis. "Isso estava ligado à tradição que existia nas zonas agrícolas, onde antes de arar se rezava", lembrou também o pastor.