quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Entendendo alguns conceitos

Memória Genética, Inconsciente Coletivo e Arquétipo.

Memória Genética.
Devido à natureza inexorável e irreversível do tempo, à continuidade/eventualidade da vida; os eventos passados estão irremediavelmente perdidos, salvo pelo fato de ficarem registrados em algum tipo de memória, sejam nas convenções sociais da cultura ou na transmissão de informação ancestral e filogenética pela combinação de genes DNA\RNA nas células que formam os sistema nervoso central. O tempo passa e a linguagem tenta reter, gravar, lembrar. Da analogia das diferentes formas de representação do universo e da realidade, elaboramos, a partir da memória, modelos abstratos a que chamamos PARADIGMAS. Há, portanto, dois eixos fundamentais que tangenciam o desenvolvimento da consciência e da linguagem: o concreto e o abstrato, o percebido e o imaginado, o presente e a memória, a duração contínua da percepção sensorial e as diferentes formas de representação que funcionam como arquivos onde os acontecimentos são memorizados. As noções de consciência social e de inconsciente coletivo são diferentes paradigmas de representação, não sendo necessariamente incompatíveis, mas, complementares.

Inconsciente Coletivo.
Segundo o conceito de psicologia analítica criado pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, é a camada mais profunda da psique humana. Ele é constituído pelos materiais que foram herdados da humanidade. É nele que residem os traços funcionais, tais como imagens virtuais, que seriam comuns a todos os seres humanos. Jung via o inconsciente não apenas como um repositório das memórias e das pulsões reprimidas, mas também como um sistema passado de geração em geração, vivo em constante atividade, contendo todo o esquecido e também neoformações criativas organizadas segundo funções coletivas e herdadas. O inconsciente coletivo que propõe não é, apesar das incessantes incompreensões de seus críticos, composto por memórias herdadas, mas sim por pré-disposições funcionais de organização do psiquismo. Tais traços funcionais do inconsciente coletivo foram chamados por Jung de arquétipos, que não seriam observáveis em si, mas apenas através das imagens que eles proporcionam.

Arquétipo.

Filosofia: O termo "arquétipo" é usado por filósofos neoplatônicos, como Plotino, para designar as idéias como modelos de todas as coisas existentes, segundo a concepção de Platão. Nas filosofias teístas o termo indica as idéias presentes na mente de Deus. Pela confluência entre neoplatonismo e cristianismo, termo arquétipo chegou à filosofia cristã, sendo difundido por Agostinho, provavelmente por influência dos escritos de Porfírio, discípulo de Plotino. 

Psicologia Analítica: Arquétipo significa a forma imaterial à qual os fenômenos psíquicos tendem a se moldar. C.G.Jung usou o termo para se referir aos modelos inatos que servem de matriz para o desenvolvimento da psique.
Eles são as tendências estruturais invisíveis dos símbolos. Os arquétipos criam imagens ou visões que correspondem a alguns aspectos da situação consciente. Jung deduz que as "imagens primordiais", um outro nome para arquétipos, se originam de uma constante repetição de uma mesma experiência, durante muitas gerações. Funcionam como centros autônomos que tendem a produzir, em cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências. Eles se encontram isolados uns dos outros, embora possam se interpenetrar e se misturar.

A origem do mito moderno da Deusa Mãe

Em seu livro The Goddesses and Gods of Old Europe, a professora Marija Gimbutas descreve a Antiga Europa como a região que compreende a Itália e a Grécia, estendendo-se ainda pela Checoslováquia, o sul da Polônia e o oeste da Ucrânia. Gimbutas afirma que nessa área, entre 7000 e 3500 a.C., teve origem o antigo culto matrifocal da Grande Deusa e seu consorte, o Deus Cornífero. Ela se refere ao povo dessa região antiga como pertencendo a uma cultura pré-indo-européia: matrilinear, agrícola, pacífica e sedentária.

Controvérsia
As deidades que encaixam na moderna concepção de deusas mães tem sido claramente adoradas em muitas sociedades até a atualidade. James Frazer (autor de O ramo dourado) e aqueles a quem influenciou (como Robert Graves e Marija Gimbutas) avançaram a teoria de que todo o culto na Europa e Egeu que incluiu qualquer tipo de deusa mãe tinha sua origem nos matriarcados neolíticos pré-indoeuropeus, e que suas diferentes deusas eram equivalentes. Ainda que o tipo tenha tido boa aceitação como categoria útil para a mitografia, a idéia de que na antiguidade se cria que todas estas deusas eram intercambiáveis não tem sido continuada pelos investigadores modernos, notavelmente por Peter Ucko.

Críticas ao trabalho de Maria Gimbutas
Peter J. Ucko era Professor Emérito da Arqueologia Comparativa, diretor executivo aposentado do Instituto de Arqueologia de Londres e mais notável por sua organização do Primeiro Congresso Mundial de Arqueologia em 1986. Sua monografia Figuras Antropomórficas do Egito Pré-Dinástico e Creta Neolítica opôs-se às teorias da Deusa Mãe de Maria Gimbutas, caracterizando as interpretações dela como superficiais. Ele resolutamente recusava a ver as figuras como representações de divindades, mas as caracterizava como amuletos ou magia simpática, ou mesmo brinquedo de criança.
Bernard Wailes, professor de antropologia na Universidade da Pensilvania disse que ela era imensamente inteligente mas não muito boa em análise crítica. Ela juntou todos os dados e então fez afirmações sem qualquer argumento comparativo.
David Anthony, professor de antropologia no Colégio de Hartwick, negou que havia qualquer evidência de uma sociedade matriarcal antes da incursão Kurgan e apontou que a Europa tinha fortes, armas e guerras muito antes dos Kurgans.
Andrew Fleming negou que espirais, círculos e pontos neolíticos fossem símbolos para olhos; que olhos, faces e figures assexuadas fossem símbolos femininos; ou que certas figures femininas de Gimbuta eram símbolos de deusa ou deusas.
Críticos também apontam que covas sejam boas para mostrarem os papéis dos gêneros no neolítico, às quais alegam que Gimbutas não considerou e questionam a ênfase dela em figuras femininas quando muitas das figuras encontradas eram masculinas ou assexuais.
Uma Deusa Mãe é uma deusa, amiúde representada como a Mãe Terra, que serve como deidade de fertilidade geralmente sendo a generosa personificação da Terra. Como tal, nem todas as deusas podem considerar-se manifestações da Deusa Mãe. A década de 1980 talvez tenha assistido às mais significativas mudanças até agora. A filosofia da Nova Era germinou na Wicca e encontrou solo fértil na mente aberta de seus praticantes. Em pouquíssimo tempo, muitas crenças Wiccanas foram modificadas e alteradas para acomodar uma nova geração. Essa década assistiu também a uma abundante produção de livros sobre a Wicca e outros assuntos correlatos. Novas tradições surgiam lá e cá, todas com uma idéia diferente ou um novo enfoque. Essa década desviou o foco das antigas tradições Wiccanas em favor de sistemas ecléticos.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Carnaval, a festa dos poderosos

A história do carnaval começa no princípio da nossa civilização, na origem dos rituais, nas celebrações da fertilidade e da colheita nas primeiras lavouras, às margens do Nilo, há seis mil anos atrás.
Os primeiros agricultores exerciam a capacidade humana, que já nas nas cavernas se distingiuia em volta da fogueira, da dança, da música, da celebração.
Foram na intenção da Deusa Isis, no Egito Antigo, as primeiras celebrações carnavalescas.
Com a evolução da sociedade grega evoluiram os rituais, acrescidos da bebida e do sexo, nos cultos ao Deus Dionisus com as celebrações dionisíacas.
Na Roma Antiga bacanais, saturnais e lupercais festejavam os Deuses Baco, Saturno e Pã. A Sociedade Clássica acrescenta ainda uma função política de distenção social às celebrações, tolerando o espírito satírico, a crítica aos governos e governantes nos festejos.
O Carnaval originário tem início nos cultos agrários da Grécia, de 605 a 527 AC Com o surgimento da agricultura, os homens passaram a comemorar a fertilidade e produtividade do solo.
O Carnaval Pagão começa quando Pisistráto oficializa o culto a Dioniso na Grécia, no século VII AC e termina quando a Igreja Católica adota a festa em 590 DC.
O primeiro foco de concentração carnavalesca se localizava no Egito. A festa era nada mais que dança e cantoria em volta de fogueiras. Os foliões usavam máscaras e disfarces simbolizando a inexistência de classes sociais.
Depois, a tradição se espalhou por Grécia e Roma, entre o século VII AC e VI DC A separação da sociedade em classes fazia com que houvesse a necessidade de válvulas de escape. É nessa época que sexo e bebidas se fazem presentes na festa.
A civilização judaico cristã fundamentada na abstinência, na culpa, no pecado, no castigo, na penitência e na redenção renega e condena o carnaval e muito embora seus principais representantes fossem contrários à sua realização, no séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a sua evolução imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras quando permitiu que em frente ao seu palácio, na Via Lata, se realizasse o carnaval romano. Como a Igreja proibira as manifestações sexuais no festejo, novas manifestações adquiriram forma: corridas, desfiles, fantasias, deboche e morbidez. Estava reduzido o carnaval à celebração ordeira, de carater artístico, com bailes e desfiles alegóricos.
Erwin Rohde, um colega de Nietzsche, interpretou a transformação de Dionísio de um irreverente deus das folganças num ente oficioso, à interferência de um outro deus: Apolo, o deus Sol. Sendo este uma divindade do Estado, ele não podia permitir que aquela subversão dos costumes ficasse solta pelos campos a provocar loucuras, incitando os pobres à desordem e ao deboche. Apolo então atraiu Dionísio para dentro da cidade com ofertas mil, e, como sócio maior, domou-o. Em Roma, com as saturnais, as incríveis e desregradas festas populares que se davam em dezembro, deu-se praticamente a mesma história. Em Veneza ou em Nova Orleãs, em Salvador da Bahia ou no Rio de Janeiro, o deus bastardo da bebida e do atrevimento, tornou-se amansado pela política envolvente do deus do Sol, Apolo.
O carnaval brasileiro, trazido pelos portugueses no século 17 com o nome de entrudo, é um herdeiro direto das bacantes e das saturnais greco-romanas. E, pode-se dizer, ao longo desses três séculos em que tornou-se na maior festa popular do Brasil, percorreu a mesma trajetória de acomodação dos seus antecessores. A plebe colonizada imediatamente aderiu ao entrudo como um imperdível momento de inverter, ainda que simbolicamente, o mundo desgraçado em que vivia. Naqueles dias tão aguardados, quando a troça assumia ares de majestade, nenhum fidalgo ou pomposo qualquer, nada que fosse solene, oficial ou sublime, escapava da mordacidade dos festeiros do rei Momo (deus pagão menor que presidia os festejos carnavalescos em Roma).
No Brasil, Apolo - a lógica do interesse do Estado - igualmente interviu. A partir de 1935, com o crescente centralismo estatal determinado pela Revolução de 1930, começou-se a sufocar a salutar espontaneidade popular submetendo os desfiles populares a regulamentos, horários e trajetos a serem cumpridos à risca. É a ordem da desordem! Seduziram Dionísio - em troca da obediência às regras de boa conduta - com promessas de honrá-lo em lugares especiais, próprios (sambódromos, passarelas de samba, concursos, prêmios, etc.), acertando em troca o fim da zombara e do ridículo em que antes os seus seguidores, os celebrantes de Baco, submetiam os poderosos naqueles três dias de tumulto e beberagem. Desde então as escolas de samba do Rio de Janeiro, e as outras que as imitaram, enfiaram-se numa camisa-de-força.
Caíram na armadilha de Apolo. Para exibirem-se ao grande público precisavam de dinheiro, que, como se sabe, só se encontra nos bolsos dos figurões, públicos ou privados. Impedidos moralmente de ridicularizarem ou glosarem os patrocinadores que os mantêm e amparam, os sambas-enredo - expressão musical do Dionísio acomodado de hoje -, esvaziados da irreverência e da gostosa safadice, não dizem mais nada. Comumente a cantoria é só elogio e reverência, quando não propaganda aberta de quem financiou o desfile. O luxo das fantasias e a parafernália dos alegóricos cerceia qualquer gesto mais solto, espontâneo ou original, liberando-se apenas a sensualidade, exposta em nichos especiais, não mais acolhendo o elemento de contestação divertida. O resultado disto é a mesmice. Quem assiste a um só desfile de escola de samba - ainda que reconhecendo estar frente a um dos maiores espetáculos populares da Terra - viu a todos, os que passaram e os que ainda virão. Domesticaram Dionísio!

Nota final: ainda existem manifestações populares que escapam a essa institucionalização e, por serem autônomas, são caricaturadas como 'selvagens' pela Mídia. O carnaval, quando é autênticamente festa popular, ainda cumpre sua função como válvula de escape. Mas como nós perdemos o sentido sagrado da festa, invariávelmente nós ficamos deprimidos e melancólicos no fim da festa.

domingo, 27 de janeiro de 2008

A descida da Deusa - Proserpina

Conta Claudiano (poeta romano, 370-408 d.C.) que Plutão, deus dos mortos, cansado do seu tenebroso reino, decidiu, um dia, aflorar à luz deste mundo. Após uma longa e cansativa viagem, chegou a uma maravilhosa planície a meio da encosta de um monte. Esta planície era famosa pelo seu lago, de águas límpidas alimentadas por harmoniosos ribeiros, e pela grande variedade de flores que criavam um perfume suave e inebriante para os sentidos. Foi aqui que Plutão viu um grupos de raparigas que, com movimentos alegres e ligeiros, colhiam flores. Eram todas muito bonitas... Flores entre as flores! De entre elas, sobressaía uma... Prosérpina, filha de Ceres. Plutão sentia que ardia de amor e desejo! Correu direito a Prosérpina e ela, ao vê-lo assim grande e negro, com os olhos de fogo e as mãos prontas a capturá-la, fugiu aterrorizada. Mas o deus do Hades não pensou duas vezes, alcançou-a, agarrou-a e levou-a no seu carro até ao seu reino debaixo da terra. Ceres ficou desesperada com o desaparecimento da sua amada filha... Após 9 dias e 9 noites de dor e insónia, decidiu pedir ajuda a Júpiter. Mas todos os seus esforços foram em vão... Afinal, como podia Júpiter traír o seu irmão? Foi então que, louca de dor, Ceres provocou uma grande seca... E depois da seca veio a fome... E homens e animais morriam... E de nada serviam os pedidos de clemência dos homens... A deusa era determinada a reaver a sua filha! Júpiter, apercebendo-se finalmente da gravidade da situação, decidiu enviar Mercúrio ao Hades e exigir a restituição de Prosérpina à sua Mãe. Plutão viu-se obrigado a obedecer mas antes que Prosérpina partisse fê-la comer sementes de romã, fruto da fidelidade conjugal segundo as antigas tradições. Quando Ceres viu a sua filha, correu a abraçá-la, com o coração cheio de amor... Mas depressa se apercebeu do truque de Plutão! A deusa decidiu, uma vez mais, pedir a intervenção do deus dos deuses. Júpiter procurou o seu irmão e os deuses chegaram, finalmente, a um acordo... Durante dois terços do ano, Prosérpina estaria com a sua Mãe e o resto do tempo com o seu marido, no reino debaixo da terra. E assim se definiram as estações do ano, o Verão e o Inverno. fonte: http://diariodeproserpina.blog.com/2039951/ [link morto]

A descida da Deusa - Perséfone

DEUSA PERSÉFONE

Para os gregos, Perséfone era a Rainha distante do Mundo Avernal, que vigiava as almas dos falecidos. Mas, para os romanos, ela era conhecida também como a virgem, donzela, Core, associada com os símbolos de fertilidade: romã, o grão, o milho, e ainda, com o narciso, a flor que a atraiu.

Seu seqüestro realizado por Hades e sua descida ao mundo avernal, é a história mais conhecida de toda a mitologia grega. Embora Perséfone não fosse um dos doze deuses olímpicos, foi a figura central nos Mistérios de Elêusis, que por dois mil antes do cristianismo foi a principal religião dos gregos. Nos Mistérios de Elêusis os gregos experienciaram a renovação da vida depois da morte através da volta anual de Perséfone do Inferno.

MITOLOGIA

Perséfone foi a filha única de Deméter e Zeus. A mitologia grega é incomumente silenciosa quanto às circunstâncias de sua concepção.

No início do mito, Perséfone era uma garota despreocupada que colhia flores e brincava com suas amigas. Então Hades apareceu repentinamente em sua carruagem por uma abertura da terra, pegou a jovem à força e a levou de volta para o Inferno, a fim de ser sua noiva contra a vontade. Sua mãe, Deméter, não aceitou a situação, deixou o monte Olimpo, persistiu em conseguir o retorno de Perséfone, e finalmente forçou Zeus a considerar seus desejos. Zeus então enviou Hermes, o deus mensageiro, para ir buscar Perséfone.

Hermes chegou ao Inferno e encontrou a jovem desolada. Mas seu desespero tornou-se alegria quando descobriu que Hermes tinha vindo por sua causa e Hades a deixaria partir. Antes que ela o deixasse, contudo, Hades lhe deu algumas sementes de romã, e ela comeu. Então entrou na carruagem com Hermes, que a levou rapidamente para Deméter.

Depois de mãe e filha se abraçarem alegremente, Deméter ansiosamente indagou se ela tinha comido alguma coisa no Inferno. Perséfone respondeu que havia comido sementes de romã porque Hades a tinha forçado a come-las (o que não era verdade). Deméter teve que aceitar a estória e o padrão cíclico que se seguiu. Não tivesse Perséfone comido as tais sementes, teria sido completamente devolvida a Deméter. Entretanto, passou a ser obrigada a permanecer por um terço do ano.

Mais tarde, Perséfone tornou-se a Rainha do Inferno. Todas as vezes que os heróis e heroínas da mitologia grega desciam para o reino inferior, Perséfone lá estava para recebe-los e ser sua guia. Nunca estava ausente para ninguém. Nunca havia sinal na porta dizendo que ela fora para casa com a mãe, embora o mito diga que ela fazia isso dois terços do ano ao lado de Hades.

Na “Odisséia”, o herói Odisseu (Ulisses) viajou para o Inferno, onde Perséfone lhe mostrou as almas das mulheres de reputação legendária. No mito de Psique e Eros, a última tarefa de Psique era descer ao mundo das trevas com uma caixa para Perséfone encher de ungüento de beleza para Afrodite. O último dos doze trabalhos de Hércules também o levou a Perséfone. Hércules teve que obter a permissão dela para emprestar Cérbero, o feroz cão de guarda de três cabeças, que ele dominou e colocou em uma corrente.

Perséfone também lutou contra Afrodite pela posse de Adonis, o belo rapaz que era amado por ambas Deusas. Afrodite escondeu Adonis em um baú e o mandou para Perséfone para preservação. Mas, ao abrir o baú, a Rainha do Inferno ficou encantada com sua beleza e recusou entrega-lo de volta. Perséfone agora lutava com outra divindade pela posse de Adonis, como Deméter e Hades outrora tinham lutado por ela. A disputa foi trazida perante Zeus, que decidiu que Adonis passaria um terço do ano com Perséfone e um terce do ano com Afrodite e faria o que quisesse do tempo restante.

O ARQUÉTIPO

Como vimos, Perséfone tinha dois aspectos: o de jovem e o de Rainha do Inferno. De jovem despreocupada, ela se torna a deusa madura, que acaba se tornando Rainha absoluta do Mundo Avernal, governando os espíritos mortos ao lado de seu marido, Hades, Sombrio Senhor da Morte.
Essa dualidade também está presente como dois padrões arquetípicos. Todas nós mulheres podemos ser influenciadas por um dos dois aspectos, podendo crescer um para o outro, ou podemos ser igualmente jovens e rainhas presentes em nossa psique.

Hoje em dia, cada vez mais Perséfones latentes têm buscado a literatura esotérica, as formas alternativas de cura e o que se chama de ensinamentos da Nova Era. Portanto, é oportuno penetrarmos cada vez mais na história velada de Perséfone, rainha do além-túmulo.

O mito tem muito a dizer para as mulheres da atualidade que se esforçam para compreender toda a espécie de intrigantes experiências psíquicas na natureza ou que, de uma forma ou de outra, são atraídas a trabalhar com a morte ou sofreram grandes tragédias pessoais em suas vidas.

Compreender o significado da descida de Perséfone e sua ligação espiritual é particularmente urgente. Milhares de mulheres (e muitos homens também) estão atualmente descobrindo um talento mediúnico. Além disso,, ninguém pode deixar de perceber a febre de entusiasmo pela metafísica, pelo tarô, pela astrologia, pelas curas espirituais e pela meditação, tudo isso, vagamente agrupado sob o estandarte genérico da Nova Era.
Joseph Campbell, que já foi inigualável autoridade em mito e religião, sugeriu que o despontar generalizado da consciência de Perséfone seria parte de um “crepúsculo dos deuses”.

Entretanto, devemos ter consciência, que viver boa parte da vida “entre os mortos”, pode exercer pressão sobre qualquer pessoa de temperamento mediúnico, especialmente quando estas experiências forem erroneamente interpretadas ou temidas, como costuma ser o caso.
O mundo avernal é essencialmente um mundo de espíritos e como tal, carece de ardor, afeição e se dissocia do que chamamos de realidade. A maneira de um médium lidar com este domínio de existência e com suas ameaças de dissociação psíquica, constitui, portanto, um desafio sem igual.
O segredo está em abraçarmos o lado escuro com o lado luminoso desta deusa dentro de nós. Como já disse o velho alquimista Morienus:” O portal da paz é sobremaneira estreito,e ninguém poderá atravessa-lo senão pela agonia de sua própria alma.”

O MITO ORIGINAL

Perséfone é a donzela do Renascimento e da Regeneração identificada com a Lua, a Primavera, as Serpentes e o Mundo Subterrâneo.
Como Deusa Mãe, Demeter engendra a sua filha (Perséfone) junto com a criação simbolizada na Primavera e na Agricultura. Ambas vivem juntas colocando em marcha os ciclos da vida cósmica, vegetal, animal e humana. Depois de educar e iniciar sua filha, Deméter, em sua ausência, assume seu aspecto sombrio de deusa outonal. Neste momento, ela torna-se uma anciã sábia oculta nas raízes das ervas curativas, se refugiando debaixo da terra e dentro de covas, até que o ciclo da vida se complete.

É somente com o retorno de sua filha do Mundo Avernal, e isso acontece na Primavera, é que a Mãe também volta para povoar o mundo e a vida adormecida nasce sobre a terra. As plantas florescem, as árvores dão frutos e os animais procriam. Já os humanos participam deste retorno expressando sentimentos de amor, amizade e solidariedade.

No Mito de Deméter-Perséfone visualizamos o símbolo tardio da Virgem Maria frente a seu filho crucificado (cena encontrada no filme americano “A Paixão de Cristo”), que segue ressonando na consciência das pessoas. Não existe nada mais doloroso que chorar a morte de um filho ou uma filha.

Tanto o nosso mito grego, como o cristianismo exaltam a morte injusta e a dor materna como arquétipo de amor sublime e abnegado. Entretanto, Deméter-Perséfone, nos falam de uma concepção sagrada, onde a vida e a morte fazem parte de um mesmo processo. Ambas não estão dualizadas e não funcionam como irreconciliáveis. A morte natural como a vida é uma experiência de transformação, iluminação e amadurecimento que abarcam dimensões espirituais, psicológicas e culturais das pessoas.

Texto pesquisado e desenvolvido por Rosane Volpatto

A descida da Deusa - Inanna

DEUSA INANNA
Inanna era a Deusa da Suméria responsável pela reprodução e fecundidade, prolongamento da tradição das "Deusas-Mães" atávicas. Foi identificada em Afrodite, Ísis, Isthar (seu nome babilônio),etc. Ela era a rainha do 7 Templos, padroeira da vila de Uruk e a portadora das Leis Sagradas (Me).
O sonho dos sumérios era transformar a terra seca de Suméria em algo parecido ao jardim paradisíaco de Dilmun. Temiam tanto a inundação como a seca. A cada ano, a temporada de seca ameaçava converter em um deserto ressecado, que era como os sumérios imaginavam o inferno.
A contribuição mais importante dos sumérios foi a invenção e criação de uma escrita e conseqüente literatura. Seus trabalhos revelam sua identidade religiosa, idéias éticas e suas inspirações espirituais. Entre estes trabalhos estão os "hymns"e as histórias de Inanna.
Inanna foi casada com o pastor mortal Damuzzi, que o transformou em rei. Esta união fez com que a terra prosperasse e a fertilidade reinasse. Cada ano novo, o rei de Uruk e a sacerdotisa superior de Inanna, a Senhora do Céu, reconstruíam a boda entre o pastor e a Deusa. Se acreditava que isso assegurava a fertilidade da terra para esse ano. A morte anual de Damuzzi se celebrava com ritos de luto.
Como a maioria dos mitos sumérios, o de Inanna e Dumuzzi sobreviveu à extinção da Suméria. Em 1750 a.C., Hammurabi, rei da Babilônia, se converteu no único soberano da antiga suméria. Os babilônios absorveram grande parte da cultura suméria, incluindo a mitologia.

VISITA DE INANNA AO DEUS ENKI
Inanna, certa vez, tomou a iniciativa de fazer uma visita ao deus da sabedoria, que morava no Abzu, o céu dos deuses sumérios, a morada deles. Tinha como propósito honrá-lo e lhe proclamou uma oração. Enki era o deus sumério que conhecia as leis do céu e da terra, o coração dos deuses, assim como todas as coisas.
Enki mandou preparar uma bela acolhida para Inanna: bolo, água fresca e cerveja. Mas o encontro, que deveria ser prazeroso torna-se um tormento quando os dois embebedam-se, perdendo a medida do que estavam fazendo. O deus da sabedoria acabou perdendo sua sabedoria, enfeitiçado com os encantos de Inanna. Tornou-a então, sacerdotisa, a intermediária oficial capaz de render o culto certo aos deuses. Enki lhe diz a seguir que ela teria a possibilidade de descer aos infernos e voltar, portanto iria conhecer a realidade da vida e da morte, um conhecimento muito profundo. É o trânsito entre o mundo inferior e superior, entre a vida e a morte, entre o céu e a terra, entre o homem e a mulher que nos leva à grande Verdade.
Enki levantou levantou quatorze vezes o cálice para Inanna, dando-lhe cada vez mais dons sagrados, conhecidos como "me". Quatorze não é um número qualquer. Encontramo-lo nas quatorze portas, sete para descer e sete para subir, que Inanna terá de transpor na sua descida aos infernos e sua subida de lá. Quatorze foram os pedaços em que foi desmembrado o corpo de Osíris no Egito Antigo e que Ísis teve de reencontrar. Quatorze parece ter a ver com etapas de qualquer processo de iniciação profunda. Aqui, no caso de Inanna e Enki, seriam talvez as etapas do processo civilizatório do povo de Uruk, para que vivesse como um povo civilizado, dentro de uma cidade cuja economia estava principalmente baseada na agricultura.
Inanna reinava sobre tudo, determinava a maneira de vestir, falar, viver a sexualidade, de se comunicar e de trabalhar.
Ela estava presente em tudo, na arte, na prostituição, na taverna sagrada, na falsidade, no medo. Era também protetora de todo o trabalho artesão. Era a Rainha e a alma de tudo que se vivia de bom ou ruim.
Os dons vinham do céu, dos deuses, mas somente ela iria levá-los para os seres humanos e mostrar-lhes a arte de usá-los de modo adequado. Aqui percebe-se claramente que estamos diante do matriarcado, pois é uma mulher que é a sacerdotisa suprema, a que é capaz de re-ligar o mundo dos deuses com os seres humanos e vice-versa.

DEUSA LUNAR
É também chamada de "Estrela do Amanhecer e do Anoitecer", simbolizando a morte e o renascimento. Neste aspecto tomava o nome de Ninsianna, encarnado uma Deusa que conduzia os homens à evolução e ao crescimento da civilização, quando "Estrela do Amanhecer"; e como Deusa da Estrela do Anoitecer, estava diretamente associada às prostitutas sagradas e julgar o que era injusto.
Já como Deusa da Lua, encontramos sua representação na Lua Crescente. Como Deusa Fertilizadora e Deusa dos grãos era honrada com pães feitos de trigo, vinho, cerveja e tâmaras. Também foi associada aos animais selvagens e domésticos como o carneiro e a vaca.
Inanna é a Rainha do Céu. Ela pode acolher todas as criaturas sob o seu manto brilhante. É Ela que gera as constelações. A estrela da noite forma seu trono. Quando se instala sobre ele, fica no campo cinza dos oito raios brilhantes sobre o crescente da lua.

DESCIDA AO SUB-MUNDO
Inanna era a Rainha do Céu e da Terra, mas não sabe nada do submundo e sua missão agora é desvendar seus segredos. Ela descerá para presenciar os rituais de sepultamento de Gugalana (grande touro do céu), marido de sua irmã-avó Ninlil-Ereshkigal, Rainha do Submundo que reinava sobre os sete infernos dos submundos médio-orientais. Inanna deveria testemunhar de modo presente a sombra reprimida do Deus celeste, o fato dele ter sido um estuprador e por isso mandado para o mundo subterrâneo como castigo.
Mas Inanna prepara uma estratégia de resgate, caso ela não retornasse da jornada em três dias. A Deusa já pressentia que precisaria de ajuda e confia o seu salvamento à Ninshubur, sua executiva de confiança. Inanna havia pedido para pedir ajuda ao deus celeste Enlil, o pai supremo universal, depois a Nanna-Sin, seu pai pessoal e deus lunar e, finalmente, até Enki.
Haviam sete portais que Inanna deveria cruzar rumo ao seu objetivo final. Em cada uma destas portas se vê despojada de seus instrumentos de poder, desde sua coroa até suas vestes. No sétimo e último portal, totalmente nua encontra-se com Ereshkigal, sua irmã e rival. A retirada de todos seus pertences se faziam necessário, porque o "ego" tentaria se defender com todos os seus poderes conscientes.
A coroa de Inanna, por exemplo, significava o seu poder intelectual. Suas jóias e adornos, simbolizavam seu poder de agir e a sua habilidade crítica de julgar. As suas vestes reais, seriam as defesas de seu psique e uma das formas de proteção contra tudo e todos.
Totalmente nua, seria a única forma com que Inanna poderia se relacionar com sua sombra. Neste estado vulnerável, Inanna enfrenta sua irmã (sua sombra), é presa e crucificada num poste do mundo inferior, constituindo-se numa imagem de divindade feminina agonizante. Como qualquer iniciada, ela se rende corajosamente ao próprio sacrifício, para ganhar nova força e conhecimento. Como a semente que morre para renascer, a Deusa se submete.
Sozinha e na escuridão, Inanna decompõe-se. Mas nem tudo está perdido, esta experiência e a aceitação de sua vulnerabilidade, a descoberta da necessidade do sacrifício e da morte para que os ciclos da vida se perpetuem, aumentam o poder de Inanna, assim como sua compreensão e beleza. Inanna oferece-se em sacrifício, testemunha a morte das forças férteis e traz a si mesma como semente. E de sua imolação voluntária depende a continuidade da criação. A idéia fundamental é de que a vida só pode nascer do sacrifício de outra vida.
É Ninshubur que dá o alarme depois que Inanna se ausenta por mais de três dias, conclamando mulheres e homens e pedindo a intercessão dos deuses celestes em favor da Deusa. Ambos os deuses, o celeste e o lunar, recusam-se ou não ousam resgatar Inanna do local de estagnação do Mundo Inferior.
É somente de Enki que receberá ajuda. Ele é o deus da sabedoria, que mora no fundo do abismo. Em vários mitos ele aparece ao lado de Inanna. Da sujeira que estava embaixo das suas unhas pintadas de vermelho de uma de suas mãos ele cria Kurgarra e da sujeira da outra, Kulatur. Eles são descritos como "devotos assexuados" ou criaturas nem macho nem fêmea. Estas criaturas, representam a atitude fundamental para atrair as bençãos da Deusa Escura.
Quando tais criaturas chegam ao Submundo para resgatar Inanna encontram Ereshkigal com dores de parto sofrendo terrivelmente. Os carpidores de Enki aproximam-se da Deusa, vendo e sentindo o seu sofrimento, lamentando com Ereshkigal.
A miséria escura da vida se transforma em canção da Deusa. Estabelece a arte como uma resposta solidária, reverente e criativa às paixões e dores da vida. O que agora jorra de Ereshkigal não é mais destruição, mas generosidade.
Ereshkigal, grata pela ajuda das criaturas, resolve recompensá-los. Eles pedem o corpo de Inanna que está pendurado e ela entrega-o. Inanna está transformada, generosa e benéfica. Deu-se um milagre pelo seu sacrifício e por Enki ter tomado a atitude adequada. A fertilidade do touro do céu que havia morrido renasce no útero sombrio. Inanna é reintegrada na vida ativa entretanto, ela volta dentro de uma atmosfera demoníaca, pois está rodeada pelos pequenos demônios impiedosos de Ereshkigal, cuja tarefa é reivindicar os mortos. Eles devem exigir um substituto para levarem ao mundo subterrâneo e Inanna retorna com seus próprios "olhos de morte" para escolher o bode expiatório.
Descobre então, que Damuzzi (seu marido), em sua ausência usurpara-lhe o lugar no trono do céu. Ficou colérica e permitindo que os demônios lhe prendessem e o levassem. Depois sentiu pena dele e apelou a Ereshkigal para que o liberassem. Entretanto, lhe foi permitido tão somente uma troca e Geshtinana (Deusa dos caniços de papiro), a irmã de Damuzzi se oferece para alternar com ele a permanência no reino de baixo. Ela atuará como um apoio para a dimensão do sofrimento do irmão.
Assim, durante o outono e inverno, Damuzzi permanece no inferno e as colheitas não se reproduzem, enquanto que na primavera e verão, ele sai da terra para participar do reino de cima e a colheita é farta.
Esta é a origem da celebração do ano sumeriano.
O mito da descida e retorno de Inanna está centrado no arquétipo do intercâmbio de energia através do sacrifício. Ele revela uma complexidade: o touro celeste é morto e a terra perde então seu princípio fecundador, mas é recompensada pela amolação da Deusa Inanna, que torna-se a carne do submundo, seu alimento e fertilizante apodrecido que, em troca, é resgatado a partir das origens de Enki.
A ascensão da Deusa deve ser paga pelo nascimento de alguma coisa monstruosa das entranhas de Ereshkigal, pelo sofrimento e, finalmente, pela descida de uma oferenda substitutiva.
Em seu aspecto benéfico, Ereshkigal podia permitir aos humanos a retirada de riquezas de seu reino como: pedras preciosas, metais e petróleo, mas não antes de ser devidamente honrada. Como aspecto de Anciã da deusa e irmã de Inanna, Ereshkigal regia a magia negra, a vingança, a retribuição, as Luas Minguante e Nova, a morte, a destruição e a regeneração.
Inanna marcha com determinação para o mundo inferior, indo de maneira ativa e consciente para o auto-sacrifício. É assim que a mulher moderna tem que aquiescer e cooperar na introversão e regressão necessárias ao mundo subterrâneo, o mundo dos níveis arcaicos e mágicos da consciência.
Deve descer para encontrar seus começos instintivos e encarar a face da Grande Deusa, e a sua própria antes de ter despertado para a consciência. Deve ir até a matriz das energias transpessoais antes de elas terem sido liberadas e tornadas aceitáveis. É o sacrifício do que está em cima em favor do que está embaixo.
A Terra e o Mundo Subterrâneo vistos como uma descida, e também como um processo de transformação, não apenas correspondem à experiência de muitos indivíduos em processo de individualização, mas ainda, pode demonstrar que se trata de um evento coletivo da cultura moderna como um todo.

INANNA HOJE
No ciclo de Inanna há a criação, a reprodução e a destruição. A força da Deusa reside na capacidade de desistir daquilo que há de mais precioso, a fim de garantir crescimento e regeneração, a transformação só pode ocorrer quando atitudes e valores antigos são substituídos por novos.
Quando ocorre em nossa vida a ruptura de um relacionamento e se tenta iludir-se com o retorno do parceiro, a vida pára. Até para que uma relação persista, antigas expectativas devem ser sacrificadas para o bem do desenvolvimento psicológico de cada indivíduo. A morte e o pranto têm pelo menos o propósito de permitir a regeneração no relacionamento. Sem o processo de confrontação de pressupostos antigos, independentemente de quão dolorosos sejam, o relacionamento, seja como for, acaba morrendo.
A submissão à escuridão, à sombra, a aceitação dos aspectos negativos de "anima" e "animus", o lado afetivo e instintivo à natureza, e a assimilação do inconsciente no sentido de integração da personalidade, são algumas das expressões mais significativas que caracterizam o início decisivo do desenvolvimento psíquico do homem moderno.
Inanna chega até nós para dizer que uma jornada até o inferno é o caminho para a totalidade. Você como Inanna deve desafiar seu lado sombra, abraçar esta sua irmã do submundo e tentar desvendar seus mais secretos segredos. É necessário conhecer todos os aspectos de si mesma(o), tanto os bons quantos os ruins para se conquistar a totalidade.

Abandone você também todos os seus pertences, deixe cair suas vestes e entregue-se à viagem em busca de seu lado sombrio. Aventure-se na escuridão do seu ser, pois é só assim que alcançará o equilíbrio, a iluminação e a inteireza.
Esta jornada deve durar o tempo que for preciso. Quando chegar ao sub-mundo, Inanna irá lhe receber e seu retorno será repleto de glórias, mas com consciência da sua vulnerabilidade, pois só assim, poderá erguer-se aos céus impulsionada (o) com a força do conhecimento e da sabedoria adquiridos.
TEXTO PESQUISADO E DESENVOLVIDO POR ROSANE VOLPATTO

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Mitos Escatológicos

Relacionados com os mitos cosmogônicos, mas de temática oposta, estão os mitos do fim do mundo (escatológicos) e da morte dos que nele vivem.

Como a morte era apresentada na mitologia como algo estranho ao plano da criação, os mitos que versavam sobre sua origem traziam (de modo geral) três tipos diferentes de justificativa para seu surgimento.

Em alguns mitos, fala-se de um tempo anterior em que se desconhecia a morte, uma era que foi interrompida por um acidente ou um erro cometido por alguém (instituindo-se a morte como castigo), ou mesmo para evitar a superpopulação.

Outros mitos, geralmente de tradições culturais mais elaboradas, trazem a idéia de que, antes de surgir a morte, o homem era imortal e vivia no paraíso. A perda de sua imortalidade e sua expulsão do paraíso seriam punições aplicadas especificamente à humanidade, devido a alguma ofensa que esta praticara ao(s) seu(s) deus(es).

Há também, em alguns mitos, a associação da morte como parte de um ciclo vital (análogo ao dos vegetais), tal como o nascimento e a sexualidade e perpetuação da vida. Esse era um pensamento possivelmente surgido de antigas comunidades agrícolas.

O mito escatológico pressupõe a criação do universo como obra de uma divindade que, como defensora da pureza da existência, haverá de destruir sua obra para dar lugar a uma outra, nova e melhorada. Enquanto este fim não chega, a humanidade é observada, julgada e preparada para uma existência posterior a seu fim, que pode ser paradisíaca ou de tormentos eternos, a depender de sua conduta nesta vida.

Tais mitos podem ser vistos entre os ensinamentos dos hebreus, cristãos, mulçumanos e seguidores do zoroastrismo. Zoroastro (século VI a.C.) falou de Chinvat, uma ponte a ser atravessada após a morte, que permitia a passagem dos justos, mas estreitava-se aos malfeitores, fazendo-os cair no inferno. O zoroastrismo posterior elaborou a idéia de punição ou salvação, de ressurreição e de purificação final dos pecadores.

Na mitologia egípcia, a idéia desse julgamento pós-vida teve grande importância. Segundo suas lendas, o coração do morto era colocado num dos pratos de uma balança - no outro, colocava-se uma pena do deus Maat (simbolizando o que há de justo e verdadeiro) - assim, Osíris julgava se o morto seria absolvido ou condenado.

Na mitologia grega, segundo Homero, a morte representava a desintegração do corpo, permanecendo um espectro, que era levado ao Hades para ser julgado e condenado a vagar eternamente pelas sombras infernais. Mas no próprio pensamento mítico grego haviam outras correntes: os mistérios de Elêusis (referentes à deusa Deméter e sua filha Perséfone, símbolos da vida que renasce na primavera) prometiam aos seguidores a felicidade numa existência pós-morte; e o orfismo (referente a Orfeu, o primeiro mortal a descer ao Hades e retornar ao mundo superior), bem como a filosofia platônica, trazia a idéia da reencarnação (possivelmente oriunda do pensamento oriental).

O fim de toda a existência conhecida é retratado nos mitos escatológicos como conseqüência de um conflito em escala universal ou uma batalha final entre os deuses (situações típicas da mitologia Indo-européia e muito presentes em seus ramos germânicos).

Na mitologia Asteca, vários mundos são criados e destruídos pelos deuses até o surgimento do mundo habitado pelos homens.

Há mitos que falam de uma grande devastação na terra ocasionada por uma inundação - não num futuro fim dos tempos, mas que já teria acontecido. Quase todas as culturas pré-colombianas possuem mitos a respeito de dilúvios – temática que remonta aos antigos mitos mesopotâmicos.

Ao lado da preocupação com o enigma da origem, figura para o homem, como grande mistério, a morte individual, associada ao temor da extinção de todo o povo e mesmo do desaparecimento do universo inteiro.

Para a mitologia, a morte não aparece como fato natural, mas como elemento estranho à criação original, algo que necessita de uma justificação, de uma solução em outro plano de realidade.

Destruição escatológica.

Os mitos retratam freqüentemente o fim do mundo como uma grande destruição, de natureza bélica ou cósmica. Antes da destruição, surge um messias ("ungido") ou salvador, que resgata os eleitos por Deus. Esse salvador pode ser o próprio ancestral do povo ou fundador da sociedade, que empreende uma batalha final contra as forças do mal e, após a vitória, inaugura um novo estágio da criação, um novo céu e uma nova terra.

Nota Final:
Para nós, a geração do Universo, do mundo e da humanidade seguem o ciclo da existência que observamos na natureza.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

As vias do conhecimento

O meio para perceber e compreender o meio sutil, astral, é por intermédio do meio bruto, material, fazendo uso dos cinco sentidos de uma forma esotérica. Cada sentido corresponde a um dos cinco elementos de formam tudo que existe.
Éter – sentido da audição.
Quando um vidente ou sensitivo entra em contato com entidades ou espíritos sempre se diz que ‘ouviu vozes’. O éter é o meio da Comunicação, seja entre os humanos ou destes para com espíritos e entidades. A Música é sua forma cerimonial.
Ar – sentido do tato.
A manifestação mais bruta de espíritos e entidades ocorre no ar que nos circunda. A pele é nosso contato mais sensível com o mundo externo. As sensações de temperatura e de consistência provêm do tato. A massagem é sua forma cerimonial.
Terra – sentido do olfato.
A manifestação mais bruta da existência material é a natureza. Como um ser vivo, a Terra exala odores que ajudam a perceber os ciclos das estações. O perfume é sua forma cerimonial.
Fogo – sentido da visão.
A percepção mais imediata e mais fascinante das coisas visíveis que existem. Assim como o fogo, ela nos seduz e nos ilude. A visão é superficial e tende a nos influenciar para os preconceitos. O cinema é sua forma cerimonial.
Água – sentido do palato.
Comer é a necessidade mais fundamental para a preservação da existência dos seres vivos. Tudo que existe, de uma forma ou outra, absorve e assimila outros seres. A Gastronomia é sua forma cerimonial.

sábado, 12 de janeiro de 2008

O que é Dian Y Glass

Uma definição que encontrei sobre essa entidade:

Dian y Glas, historicamente falando, não fez parte de nenhum culto antigo, mas faz parte de um culto moderno, a Tradição Feri de Bruxaria e o Paganismo Queer em geral. Este é apenas um nome moderno para respresentações do Deus Andrógino/Exótico (Krishna, Melek Taus, Sugaar, Lemba, Hyakinthos, Tammuz, Dionysus, Vishnu, etc.). Esta imagem surgiu à partir de experiências que Victor Anderson, Grandmaster da Tradição Feri, teve com o Sagrado. Os Deuses da Tradição Feri respondem às necessidades de cada Bruxo, eles são uma combinação de todas as coisas. Isso aconteceu com todos os Deuses desde os tempos antigos, e não deixaria de acontecer em tempos modernos, uma vez que a Bruxaria é uma Religião Evolucionária. Dian y Glas é uma representação moderna do Deus e recebe muitos outros nomes de acordo com cada linha da Tradição Feri. A Cosmologia da Tradição Feri é pluralista e está enraizada na intuição de cada Bruxo.

A Tradição Feri não se identifica como Wica, mas se autodenominam "Bruxaria Moderna".

Victor Anderson fundou sua tradição baseado na experiência que teve com o sagrado, mas uma tradição provêm de uma ancestralidade, não pode ser inventada. Essa versão da Tradição Feri de uma Deusa Estrela que dá origem a todas as coisas não é melhor do que a versão das Tradições Patriarcais Monoteístas de um Deus.

A versão Feri ganhou popularidade e simpatizantes graças ao livro da Starhawk, "A Dança Cósmica das Feiticeiras", sendo ela mesma uma iniciada na Tradição Feri, para depois fundar a sua própria "tradição" e ser uma das "personalidades públicas pagãs" que defendem a auto-iniciação. Ela é certamente a fonte mais recorrida para curiosos, simpatizantes e praticantes solitários para conhecer algo da Wicca e isso tem causado muitas confusões entre pagãos, bruxos e wiccanos brasileiros.

Mas quem é ou o que é um Deus Andrógino? Se tal entidade é ao mesmo tempo macho e fêmea, "aquilo" não é o Deus nem a Deusa da Wica. A entidade andrógina tem um mito cujo papel e simbologia vem sendo distorcidos por pagãos, bruxos e wiccanos que querem sacralizar ou divinizar suas preferências sexuais.

Os mitos devem ser entendidos dentro de um contexto cultural, não apenas dentro dessa leitura junguiana do arquétipo. A entidade andrógina é o resultado da união entre um Deus e uma Deusa, a entidade é divina porque é o resultado manifestado dessa união. A entidade andrógina, portanto, é a condição do Mundo, que é a síntese divina da união do Deus com a Deusa, o Dualismo necessário para a existência do Ciclo da Vida.

Os mistérios da Wica não incluem qualquer entidade andrógina, não se pode elevar agendas pessoais à condição de sagrado. A homossexualidade é igualmente uma manifestação do Amor, não há necessidade alguma de inventar um Deus para que uma opção sexual seja divinizada ou sacramentada.

A entidade andrógina, nos mitos antigos, serve exatamente para nos lembrar que nós todos somos filhos e filhas da união entre um macho e uma fêmea, todos nós carregamos os gens masculinos e femininos. O que não se pode confundir é gênero genético com gênero fenótipo, identidade genética com identidade ou opção sexual. Não é preciso ser homem ou masculinizado para gostar de mulher, não é preciso ser mulher ou feminizado para gostar de homem. Viva sua vida com plenitude e prazer, pois os Deuses Antigos nos geraram a todos.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A importância dos mitos

O que deve ser entendido é que há sempre um mito, um exemplo capaz de justificar qualquer teoria e prática, e que não deve ser interpretado como curiosidade cientifica, mas sim como o reviver de uma mentalidade primordial.
O mito desempenha uma função indispensável: exprime, enaltece e codifica a crença, revela e impõe princípios morais, garante a eficácia dos rituais e oferece regras práticas para a orientação humana.
Os mitos tem cinco aspectos fundamentais:
a) constituem a história das ações de Entes Sobrenaturais;
b) colocam essa história como absolutamente verdadeira e sagrada;
c) dão sentido de criação para as coisas, como vieram a existir ou como foi estabelecida;
d) são uma revelação: conhecendo-os, conhecemos a origem das coisas e, com isso, podemos dominá-las e submetê-las à nossa vontade, sendo que esse conhecimento é vivido ritualmente, por narrativas ou repetição do mito em forma ritual;
e) os mitos são vividos por sermos tomados pelo poder sagrado que engrandece os acontecimentos rememorados e reatualizados.
Os mitos são essencialmente uma revelação e são desenvolvidos para sustentar a crença religiosa.
Os mitos não criam os Deuses, revelam-os, juntamente com seus desejos e vontades.
Os mitos justificam os ritos, são a garantia da validade dos gestos e dos atos numa revelação primordial.
Os ritos reatualizam os acontecimentos iniciais do mundo nas festas e celebrações.
Os mitos surgem a partir do momento em que lembranças começam a ser esquecidas. Eles surgem para recriarem o que está a ponto de perecer.
Os mitos não só explicam como procuram dar sentido às coisas realizadas. Muitas vezes esses mitos são apresentados em forma de cânticos, numa narrativa de acontecimentos primordiais que visam a possibilitar a vinda das divindades. A imitação dos gestos divinos na dança cria a possibilidade de uma comunhão divina. Por isso, esses cânticos são narrados de forma solene, em momentos especiais e por pessoas especiais, devidamente iniciadas para tais ocasiões. Mesmo simbólica, a linguagem dos mitos possibilita esse acesso. O cantar e o dançar imitando os gestos divinos integram o ser ao mito e este à divindade, em uma recriação do mundo e de toda a realidade que ocorre na celebração. A divindade, a natureza e o homem voltam a reencontrar-se.
Autor: José Beniste
Livro: "Mitos Yorubás"

sábado, 5 de janeiro de 2008

Sangue no altar

Este é um assunto forte e polêmico que é evitado por pagãos, bruxos e wiccanos porque costuma ser o calcanhar de Aquiles diante da opinião pública e é muito explorado por alguns cristãos mal-intencionados.
Históricamente existiram povos, culturas e religiões que sacrificavam animais e pessoas, nos altares de seus Deuses, em determinadas cerimônias. Mas esse registro histórico tem que ser interpretado dentro de uma perspectiva antropológica, nenhum de nós no alto de nossa 'cultura civilizada contemporânea' prepotente pode ou tem o direito de julgar esses povos, culturas e religiões.
Todos estes povos foram discriminados como 'pagãos' posteriormente à dominação da Igreja. Grande parte desses povos, culturas e religiões não existem mais, apenas parte da cultura e da religião sobreviveu ou foi assimilada por outra cultura e religião dos povos que os sucederam. Nem todos esses povos faziam sacrifícios de sangue a seus Deuses, mas certamente todos os povos, inclusive os Israelitas, fizeram sacrifícios de sangue, em algum momento de seu processo cultural e religioso, ao seu Deus ou Deuses.
O motivo mais provável, seja antropológico ou psicológico, que fez com que esses povos fizessem sacrifícios de sangue vem do fetichismo e do animismo, pontos de partida de todas as religiões existentes.
Os atributos místicos, religiosos e mágicos do sangue são muitos. O sangue é o fluido vital e também a morada da alma. O sangue leva consigo as culpas que o penitente se julga devedor diante de seu Deus. O sangue é o elo entre a carne e o espírito. O sangue carrega a herança, a linhagem e a ancestralidade. O sangue garante a colheita e a fertilidade da terra.
Os pagãos tinham motivos para fazer um sacrifício de sangue, em uma época específica. Mesmo as culturas pré-colombianas tinham motivos para seus sacrifícios.
O que os pagãos esperam dos cristãos, é que estes percebam que o sacrifício de sangue está presente no Cristianismo, em cada cerimônia da Santa Ceia ou da Comunhão. Ali, em cada momento que se celebram essa cerimônia, os cristãos reencenam o sacrifício de sangue feito por Cristo, sem o que eles crêem que não seriam libertos do pecado.
Atualmente, poucos pagãos fazem sacrifícios de sangue, sempre de animais. Estes são os pagão que tentam fazer um reconstrucionismo cultural, tentam trazer de volta alguma forma de religião antiga em seu estado mais 'puro', o que é impossível. Assim como não há uma cultura 'pura', não há uma religião 'pura', em algum momento existirá a presença de elementos que provieram de outras culturas e religiões.
Dentro desse enorme espectro de religiões pagãs modernas está a Wica, reunindo em si a filosofia mais fundamental que é a sacralidade da natureza, mais a serenidade de evitar preciosismo exagerado nos rituais. Nem tudo que nossos ancestrais cultuavam pode ser celebrado como antigamente, nem tudo que nossos ancestrais consideravam valores fundamentais da sociedade podem ser revividos como antigamente.
Isto confunde e intriga as pessoas, pois parece que o Paganismo, a Bruxaria e a Wica não são religiões 'perfeitas', mas nossa intenção nunca foi de sermos perfeitos ou a resposta definitiva.
A intenção do pagão moderno é reintegrar a humanidade, o mundo e a natureza em sua sacralidade.
A luta do pagão é a de acabar com o fundamentalismo, o fanatismo e a intolerância religiosa.
Nossa espécie terá dado o primeiro passo rumo a um futuro promissor, no momento em que este princípio for observado por todas as religiões e filosofias humanas.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

As Torres de Vigia

Eu queria trazer referências históricas para pôr as coisas em perspectiva.
O conceito de torres de vigia e senhores/guardiões então listam até a época sumério/babilônica na qual era chamada de cidade-estado sacerdotal. As cidades eram guardadas por um muro circundante, com o palácio no centro e um portão em cada ponto cardinal. O rei reinava do centro, mas ele escolhia aqueles que eram confiáveis como guardiões/senhores das torres de vigia.
Quando nós evocamos as torres de vigia, nós estamos reencenando o ritual quando a soberania era renovada no mundo antigo. Através dos tempos, as direções tomaram associações elementais e todo do outro ‘ritual’ rastejou junto, mas realmente, volte 7 mil anos e você seria capaz de evocar literalmente os senhores humanos das torres de vigia. Isto pode ter sido céltico num tempo muito mais tarde. Isto pode ter rastejado junto via típica difusão cultural indo-européia. Mas houve uma época com raízes em comum para muitas das culturas ocidentais que usaram a prática em um sentido literal.
A colocação do rei no centro da cidade-estado era também semelhante a declarar que ele era a árvore do mundo, o axis mundi. O rei identificado com a magia do cosmos pelo alinhamento da cidade com os quadrantes. Tudo na cidade circundava em torno do rei, como a Terra (para a visão antiga) era o centro do universo com tudo a circundando. Ordem divina refletida na ordem secular. Mas então, a separação de Igreja e Estado era um conceito relativamente novo. Isto ainda fala aos símbolos permanentes de nossa psique que mesmo em nossa capital dos EUA você encontra a Árvore do Mundo/Axis Mundi bem e realmente representada pelo Monumento de Washington.
Joseph Campbell, mitologia primitiva, fez um discurso exaustivo sobre a cidade-estado sacerdotal, a relação entre calendários e magia, a árvore do mundo/axis mundi e os padrões artísticos espirais (incluindo a suástica) encontradas em formas recentes de cerâmica.
Autor: Adam Pacio.
Tradução: Roberto Quintas
Fonte: fórum da Amber & Jet

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Resoluções de dia novo

Todos os anos, no fim do ano, as pessoas fazem um balanço do que realizaram, do que querem realizar, do que erraram e do que querem corrigir, fazendo uma resolução de ano novo.
Enquanto as pessoas tentam se recuperar da ressaca das festas de fim de ano para tentar realizar as resoluções de ano novo ao longo desse ano que começa, eu espero que ninguém tenha que esperar todo o ano passar para fazer, mais uma vez, todo esse processo, mas que as pessoas percebam que podem fazer isso a cada dia de sua vida.
Enquanto essa consciência não chega, eu acho que terei que esperar até o fim desse ano para ver uma repetição do que sempre acontece nessa época. Gente se estressando para comprar presentes, como se isso fosse uma obrigação. Gente se afunilando nas estradas, em direção ao litoral, como se nossa espécie estivesse em migração. Gente se dispondo a pagar caríssimo para estar em uma festa de reveillon, mas não a doar esse dinheiro às pessoas carentes. Gente que continua a pedir as mesmas coisas utópicas, como se fossem coisas concretas, mas nada fazem para que isto aconteça. Gente que espera por um país melhor, mas que irá continuar a votar nas mesmas raposas que vivem aparecendo em ano eleitoral, como aparecerão neste ano. Gente que vive falando de Deus, mas que continua a discriminar o próximo. Gente que vive falando em conservação do ambiente, mas que continua jogando lixo na rua. Gente que vive falando em redistribuição de renda, mas que possa ser mantido o mesmo nível aquisitivo que tem. Gente que vive criticando o Governo, mas que pratica a mesma corrupção em sua rotina diária. Gente que ainda vive em um romantismo ideológico, mas não percebe que estamos em uma época em que todas as teorias se provaram ineficientes.
Apesar de todas as falhas e defeitos, eu ainda acredito no ser humano e no brasileiro. Eu tenho que acreditar, afinal, todos nós temos a mesma capacidade e a inteligência de perceber e querer melhorar. Eu apenas tenho que torcer para que o brasileiro perceba que a mudança está em nossas mãos e pode se tornar realidade, não de um ano a outro, mas diariamente.