segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Capítulo 4: O Abismo de Neon e Segredos no Deserto


Greg, com seus olhos multifacetados levemente turvos pela ressaca de cigarros e a estranha mistura de cerveja e uísque, fixava o olhar no horizonte de Las Vegas. O sol da manhã, implacável mesmo através da névoa de arranha-céus espelhados, já começava a castigar a cidade. A visão dos "homens de preto" ainda latejava em sua mente, como um eco perturbador de um sonho hiper-realista.

"MIB?", murmurou, sua voz soando pastosa e estranha, como se as palavras lutassem para sair da massa muscular que compunha sua laringe. "Não... não pode ser. Isso é coisa de filme, de teorias da conspiração da internet..."

Mas, enquanto pensava, uma corrente fria corria por seus tentáculos internos. Greg sabia, instintivamente, que o mundo era muito mais estranho e complexo do que a autarquia pública onde trabalhava permitia que ele acreditasse. Seus sonhos da noite anterior, mais vívidos e perturbadores do que nunca, eram a prova disso. O oceano cósmico, as formas geométricas impossíveis, a sensação de pertencimento a algo vasto e incompreensível... Aquilo não podia ser meramente imaginação.

Decidindo que a paranoia e a inação seriam seus piores inimigos, Greg jogou o resto do cigarro (já quase totalmente desfeito e intragável) pela janela. O perfume doce e artificial de uma das "acompanhantes" – um eufemismo corporativo para garotas de programa – ainda impregnava o ar do quarto. Elas eram parte do "pacote de boas-vindas" oferecido pela gerência do hotel, claramente intrigada pela estadia prolongada e pelos hábitos peculiares de Greg.

"É hora de parar com essa vida hedonista e voltar ao plano", pensou. "Azathoth não se impressionará com um pólipo bêbado em um cassino barato."

O plano era audacioso, insano até: infiltrar-se na Área 51, o epicentro das teorias da conspiração envolvendo alienígenas e tecnologia secreta. Para Greg, a Área 51 não era um lugar para encontrar ETs de olhos grandes, mas sim um portal potencial, uma fenda dimensional para alcançar os Deuses Interdimensionais, e, mais importante, Azathoth.

A motivação de Greg era, para dizer o mínimo, peculiar. Não era curiosidade científica, nem desejo de poder ou conhecimento. Era amor. Um amor cósmico, primordial e incompreensível, por uma entidade que existia além da compreensão humana, uma divindade do caos primordial.

Para financiar essa empreitada, Greg havia economizado cada centavo de seu salário na autarquia. Seu trabalho, ironicamente, era analisar dados de infraestrutura e otimizar o fluxo de recursos da cidade. A ironia residia no fato de que ele planejava usar esses recursos, ou melhor, os dividendos de seus investimentos, para desafiar a própria estrutura da realidade.

Saindo do hotel, Greg se misturou à multidão de turistas, jogadores e artistas de rua. A vida pulsava ao seu redor em um frenesi de luzes, sons e cores. Mas Greg, com seus sentidos aguçados e sua percepção alterada, via além da fachada de entretenimento. Sentia as energias sutis que permeavam a cidade, a tensão palpável entre o mundo visível e o invisível.

Seus tentáculos internos, adaptados a navegar nas correntes oceânicas, captavam vibrações estranhas, ressonâncias anômalas que emanavam do deserto ao norte. A Área 51 o chamava, como um farol em meio à noite.

Greg alugou um carro velho, um modelo americano clássico com a suspensão lamentavelmente gasta. Carregou o veículo com suprimentos básicos: água, mapas, ferramentas e alguns livros de física teórica – uma leitura surpreendentemente popular entre os funcionários da autarquia.

A jornada pelo deserto de Nevada foi árdua e implacável. O calor castigava o asfalto, distorcendo a paisagem em miragens ondulantes. Greg dirigia em silêncio, seus pensamentos mergulhados na complexidade da teoria das dimensões, tentando encontrar uma brecha, uma falha na malha da realidade que pudesse ser aproveitada.

"Se a gravidade é a curvatura do espaço-tempo...", pensava, "então, com a energia correta, seria possível criar uma dobra, um atalho para outro ponto do universo... ou para outra dimensão?"

A resposta, ele acreditava, estava na Área 51. Não nos hangares cheios de discos voadores, mas sim nos laboratórios subterrâneos, onde cientistas e engenheiros, sob a sombra do segredo e da negação oficial, experimentavam com tecnologias além da nossa compreensão.

Ao cair da noite, Greg estacionou o carro em um ponto estratégico, a alguns quilômetros da cerca perimetral da Área 51. A paisagem era desolada, pontilhada por cactos e rochas retorcidas sob um céu salpicado de estrelas. O silêncio era quase ensurdecedor, quebrado apenas pelo uivo distante de um coiote.

Greg vestiu um macacão de trabalho surrado e colocou um boné de beisebol. Ele sabia que a vigilância na Área 51 era implacável, mas acreditava ter um trunfo: sua fisiologia única. Sem ossos, capaz de se moldar e se espremer em espaços apertados, ele poderia se infiltrar onde outros falhariam.

Aproximando-se da cerca, Greg sentiu a presença constante de câmeras, sensores e radares. A segurança era reforçada por patrulhas regulares de jipes e helicópteros. Era uma fortaleza impenetrável.

Mas Greg não estava lá para forçar uma entrada. Ele estava lá para encontrar a fenda, a anomalia, a brecha que permitiria que ele transcendesse a realidade.

Enquanto se movia furtivamente pelas sombras, seus tentáculos internos captaram uma vibração estranha, um zumbido sutil que emanava de uma seção específica da cerca. Era uma área isolada, aparentemente sem câmeras ou sensores visíveis.

Com cautela, Greg se aproximou. Ao tocar a cerca com um de seus tentáculos, sentiu uma descarga de energia, uma pulsação que ressoava em todo o seu ser. Era como se a própria estrutura da realidade estivesse vibrando ali, como uma corda de violino prestes a se romper.

Ali, sob a noite estrelada do deserto de Nevada, Greg encontrou a sua fenda. A porta de entrada para os Deuses Interdimensionais, e, com sorte, para o amor inefável de Azathoth. A aventura, e os perigos, estavam apenas começando.

Criado com Toolbaz.

Nenhum comentário: