quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Il mestiere del cuore

"Quando você ama realmente alguém, ser fiel não é um sacrificio, é um prazer"
Uma frase meiga e romântica, mas no amor não há regras.
Amor não tem limite, forma, idade. Supõe-se que "ser fiel" é condição inerente, mas o conceito de que no amor deve haver fidelidade é uma imposição social.
Entende-se amar como algo restrito, exclusividade, como se apenas fosse "real" se for um monopolio, privilégio.
Vamos ver como fica a definição em outros termos.
"Um homem ama realmente quando se relaciona com uma  mulher"
Um homem ama realmente, seja uma mulher, seja um homem, ou ambos. Uma mulher amaria realmente da mesma forma, um home, uma mulher ou ambos.
Tem-se filhos, não faz sentido dizer que um pai, uma mãe ama realmente apenas o filho ou a filha, nem faz sentido dizer que o filho/ a filha ama realmente apenas o pai ou a mãe.
Dizer que se ama realmente quando se é fiel é o mesmo que ir em um buffet cheio de diversas comidas e servir-se apenas de arroz-e-feijão. Ou usar apenas bicicleta quando se tem tantas opções de transporte.
Nós observamos admirados a beleza de um jardim e não nos damos conta que a beleza deste jardim é diretamente proporcional ao número de abelhas que polinizam as flores. Diversas abelhas. Polinizando diversas flores.
Nós acreditamos nessa mentira que amar=fidelidade, que amar=monogamia/monotonia. Todos são livres e tem o direito de amar quem quiser, quantos quiser. Que sejam maduros e haja consentimento.
Dizer que apenas se ama realmente quando se é fiel, é diminuir o coração, é empobrecer o amor, é tornar o relacionamento um cárcere.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Olhai os lirios do campo

Um dos assuntos favoritos deste blog: sexo.
Mas por que logo um texto sobre sexo, titio Bode?
Bom, eu não suporto a confusão conceitual e mental que fazem pagãos, bruxos e wiccanos quando abordam o tema "sexo ritual".
E porque vem a calhar, haja visto a polêmica e discussão sobre a legitimidade dos protestos da Femen pelo mundo. Protestos que, por sinal, são duramente criticados por...feministas. Unicamente porque os protestos da Femen usam a nudez feminina como ferramenta. E também porque a nudez feminina, mesmo na Femen, tem interessantes nuances de conceitos e concepções.
E o que amor, relacionamento e sexo tem a ver com o livro "O Mito da Monogonia" e o filme "Qualquer Gato Viralata". E o que isto tem a ver com "Manifesto Onigâmico".
E o que isto tem a ver com essa cultura construida em cima dos valores judaico-cristãos, sexualmente recalcada, reprimida e oprimida. E o que isto tem a ver com a Musa Nana Odara e o sonho deste pagão em um mundo onde todos tenham o direito e a liberdade de amar quem quiser, quantos quiser.
Mas vamos pelas beiradas. Que o assunto é quente. Falar sobre sexo, amor e relacionamento causa comoção, indignação, críticas e comentários inflamados. E o prato do dia é Femen.
Existem movimentos feministas desde o século XVIII [desculpem se a informação não é precisa] e desde então existem várias vertentes, como em toda atividade que envolve posições políticas e ideológicas de muitas pessoas. E apareceu a Femen. Neo-feminismo. Argh. Detesto essa mania de inserir um prefixo antes de uma palavra, como "Neopaganismo". Paganismo é paganismo. Nossos ancestrais exerciam suas crenças conforme a época, sem se preocuparem com rótulos. Feminismo é feminismo. Mulheres [e homens] lutam por diversos meios por uma sociedade mais inclusiva e igualitária.
Femen conseguiu exposição e importância no mundo e entre militâncias e protestos através do simples ato de se exporem sem roupa nas manifestações. Objeta-se que isto não é protestar contra a sociedade patriarcal, sexista e machista, mas reforça a idéia de que o corpo [especialmente o feminino] é um objeto e que a nudez [especialmente a feminina] é exploração sexual.
Seria, se as meninas do Femen fossem coelhinhas da Playboy. Ou uma figurante em comercial de cerveja.
A nudez das meninas do Femen sai do status quo exatamente porque elas se despem por escolha e decisão própria, elas demonstram que são donas de seus corpos e da forma como elas usam, em prol dos ideais feministas. Daí meu espanto e curiosidade ao ler que, na concepção da Femen, é idiotice ver o corpo feminino com sensualidade. Uma incoerência e contradição. Oh, bem, nada é perfeito.
Uma das bandeiras do Paganismo é a ressacralização do desejo, do prazer e do corpo. Faz parte da natureza das espécies, especialmente as mamíferas, que a fêmea exerça sobre o macho o efeito da atração sexual, por suas formas, por sua sensualidade. Isso é biologia básica, o que me leva ao livro e ao filme.
No filme "Qualquer gato...", o personagem-professor solta uma definição que soa como machismo, a de que a fêmea tem que ser recatada e monogâmica para que o macho [man]tenha interesse. Não é o que demonstra o livro "O Mito da Monogamia". Espécies supostamente "monogâmicas" demonstraram [man]ter escandalosos casos extra-conjugais, extamanete para garantir o êxito da espécie [e a diversidade sexual, entre outras coisas...]. Biologia básica, professor, fêmeas tem uma prole melhor [maior, mais saudavel, mais resistente] porque pula a cerca. Apenas o ser humano cria fronteiras, tabus e proibições nos seus relacionamentos e na sua vida sexual. O que me leva ao "Manifesto Onigâmico".
Um livro pequeno e de fácil leitura, obra de Mauro Bartolomeu, mas com um conteúdo explosivo, para não dizer perigoso e subversivo, para o status quo e nossa sociedade [patriarcal, sexista, machista] cheia de frustrações, recalques, opressão e repressão sexual. A proposta do autor é a da coletividade de relacionamentos, contada através de um conto-ficção, pela interação de um humano com um alienígena. Os pesquisadores de X1S concordam com as idéias do movimento da Contracultura [década de 60, século XX]. O que me leva ao meu sonho por um mundo onde todos tem o direito de amar quem quiser, quantos quiser. No Brasil, a Suma-Sacerdotisa seria Nana Odara.
Mas titio Bode, o que isto tem a ver com os lírios do campo?
Simples, Jovem Gafanhoto. A beleza de um jardim é diretamente proporcional à quantidade de abelhas que a polinizam. Diversas abelhas. Polinizando diversas flores.
Podíamos ser como os lírios, mas preferimos ser cardos...