domingo, 23 de junho de 2024

Falando em censura...

“No Brasil, segundo informações, os tópicos mais comumente alvo de censura estão relacionados a questões de gênero e sexualidade, muitas vezes usados para estimular o pânico moral com base em notícias falsas”, informou Farida Shaheed, relatora da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre documento que reúne censuras a livros por governos no mundo.

O relatório ainda será submetido aos governos membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU durante a sessão de julho. Nele, também são citados o fundamentalismo religioso presente nos Estados Unidos e o governo húngaro de extrema direita de Viktor Orbán. A informação é do jornalista Jamil Chade, do UOL.

De acordo com a relatora da ONU, temas fundamentais como racismo, cultura afro-brasileira, história e cultura indígena, liberdade religiosa, exploração colonial, ditadura militar, teoria da evolução, vacinação, crise climática e destruição ambiental também se tornam “motivos” para a censura no Brasil. No entanto, quando se discute sexualidade e gênero, a quantidade de obras censuradas é maior, até em outros países.

Embora o relatório da ONU não mencione nomes, o caso do escritor Jeferson Tenório, que ainda sofre ataques da extrema direita, ganhou destaque nos últimos meses. O mais recente, do récém-falecido cartunista e escritor Ziraldo, “O Menino Marrom”, também foi censurado há poucos dias após um pastor filiado ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, publicar em suas redes que o livro “não diz nada sobre o racismo, induz as crianças a fazer pacto de sangue cortando o punho”.

Uma reportagem da Fórum reuniu todos os livros que foram retirados de bibliotecas, eventos e escolas por governos de extrema direita aliados ao bolsonarismo. Apesar da Constituição Federal garantir no Art. 1ª a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, o Brasil continua vivendo um momento de crescente censura a livros.

O relatório da organização ainda cita os EUA, onde pelo menos sete estados silenciaram o ensino de orientação sexual e identidade de gênero em sala de aula através de leis repressivas. Em alguns casos, livros que abordam esses temas foram removidos à força de escolas e bibliotecas públicas. “Mais de 20 estados decretaram restrições contra a Teoria Crítica da Raça, o ensino do racismo estrutural e da desigualdade de gênero. As restrições aumentaram para abranger o feminismo negro e as estruturas que abordam a desigualdade estrutural", diz o trecho.

O governo do Quênia criminalizou a educação sobre temas LGBTI, silenciando o debate. Na Hungria, por exemplo, o governo ultraliberalismo de Órban está usando seu poder para controlar a academia e silenciar pesquisas que contrariam sua agenda. O fechamento da Universidade da Europa Central, a proibição dos estudos de gênero e a perda de autonomia da Academia de Ciências são alguns dos exemplos citados no relatório.

Fonte: https://revistaforum.com.br/cultura/2024/6/21/censura-livros-pela-extrema-direita-no-brasil-recebe-alerta-da-onu-160899.html

Nota: os mesmos que vociferavam pela liberdade de expressão (seletiva) querem censurar.
Eu vou encaixar aqui notícia semelhante.

Neste final de semana um fato causou perplexidade: a prefeitura de São José dos Campos, após pressão bolsonarista, censurou e mandou retirar das salas de leitura do município o livro "Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas", de autoria de Flávia Martins e publicado pela editora Mostarda.

O veto à obra ocorreu após um pedido do vereador Thomaz Henrique (PL-SP), que acusou a obra de fazer "apologia ao aborto".

À Revista Fórum, a prefeitura de São José dos Campos confirmou o veto ao livro que apresenta uma coletânea de mulheres na ciência.

“A Prefeitura de São José dos Campos informa que o livro ‘Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas’ foi recolhido das salas de leitura de todas as unidades de ensino para que o conteúdo seja reavaliado pela equipe técnica da Secretaria de Educação e Cidadania. Os exemplares nunca estiveram disponíveis nas salas de aula ou nas bibliotecas públicas do município, apenas nas salas de leitura das escolas’, declarou a prefeitura de São José dos Campos.

Em suas redes sociais, o vereador atacou a memória de Marielle Franco e o trabalho de Débora Diniz.

"Após a minha denúncia na última terça-feira, a Prefeitura informou oficialmente que retirou de todas as escolas municipais o livro que define a maior defensora do 4B0RT0 no Brasil, Débora Diniz, como mulher inspiradora. O livro defende os 'direitos reprodutivos' da mulher e o direito da mulher 'escolher ser mãe ou não', além de chamar os contrários ao @b0rt0 de 'gente chata'. O livro ainda trazia a ex-vereadora do PSOL, Marielle Franco, também como mulher inspiradora para alunas do 5º ano", disparou o parlamentar de extrema direita.

Fonte, citado parcialmente: https://revistaforum.com.br/brasil/sudeste/2024/6/17/obscurantismo-prefeitura-de-so-jose-dos-campos-confirma-censura-obra-sobre-mulheres-na-cincia-160654.html

Nota 2: onde estão os paladinos, colunistas (bolsonaristas), que defendiam a liberdade de expressão incondicional?

Impróprio para menores

Autor: Ricardo Neggo Tom.

Sob o argumento de que trechos do livro “O menino marrom”, lançado por Ziraldo em 1986, apresentam conteúdo agressivo e induzem crianças a fazerem maldade, pais de alunos da cidade de Conselheiro Lafaiete pressionaram a Secretaria Municipal de Educação para que o livro fosse retirado temporariamente das atividades de leitura das escolas do município. A obra conta a história de dois meninos, um marrom e outro cor de rosa, que buscam compreender as suas cores. A inocente amizade entre os dois amigos, acaba de ser interrompida e criminalizada pelo fundamentalismo político-religioso que vem se espalhando e promovendo uma onda de retrocesso social, cultural e civilizatório na sociedade brasileira.

Segundo a Secretaria de Educação Municipal, “as suspensões dos trabalhos sobre a obra visam a melhor readequação da abordagem pedagógica, evitando assim interpretações equivocadas”. Entre os trechos do livro apontados como perigosos para crianças, está um diálogo entre os dois meninos em relação a uma “velhinha” que todos os dias atravessava a rua para ir à missa. “No final de algumas manhãs, já que o menino marrom não dizia nada, o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: ‘Por que você vem todo dia ver a velhinha atravessar a rua? ’ E o menino marrom respondeu: ‘Eu quero ver ela ser atropelada’. Uma travessura infantil que nem se compara, por exemplo, ao capítulo 9, versículo 6 do livro de Ezequiel, onde Deus teria dado a seguinte ordem: “Matai sem dó: idosos, rapazes e moças, crianças e mulheres, até aniquilar a todos. Todavia não tocai em ninguém que tenha recebido o sinal da salvação. Começai, pois, a destruição pela minha própria Casa, o Templo”. Imaginem os seus filhos lendo isso?

Outro trecho do livro de Ziraldo que gerou a preocupação dos pais com relação a segurança física de seus filhos, foi a parte onde o menino cor de rosa, já adolescente, está se mudando da cidade e o menino marrom o acompanha até a rodoviária. No caminho, ambos falam em eternizar a amizade com um “pacto de sangue”. Ziraldo lembra como surgiu essa brincadeira e escreve: “Um deles foi até a cozinha buscar uma faca de ponta para furar os pulsos e misturar o sangue dos amigos eternos. Ficaram os dois, os bracinhos espichados, as mãozinhas fechadas para cima, os pulsos à mostra, latejando. A faquinha na mão de um, esperando o pacto. Os dois ali, parados, sem um sorriso sequer, só o ruído das suas respirações ofegantes, olhando firmes um no olho do outro, sem piscar: pacto é pacto. E a faquinha parada no ar. Até que um deles resolveu a questão: ‘não tem um alfinete?' Lúdico e pueril demais em comparação ao livro dos Gênesis, capítulo 22, onde Deus manda Abraão matar o seu próprio filho Isaque, para fazer um pacto a sua fidelidade com ele.

“E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. 2 E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi. ” Por sorte, um anjo enviado pelo próprio Deus que havia pedido a execução, apareceu e disse a Abraão que tudo não passava de uma pegadinha e que Deus estava apenas testando a sua fidelidade. Se os pais dos alunos da cidade de Conselheiro Lafaiete deixarem os seus filhos lerem esse trecho da Bíblia, eles terão dois problemas. Primeiro, explicar para as crianças porque um deus de amor pediria o sacrifício de um ser humano apenas para exaltar o seu poder, segundo, convencer a curiosidade infantil dessas crianças de que esse Deus, mesmo sendo onipotente, onipresente e onisciente, ou seja, sabedor de todas as coisas, não sabia se Abraão era ou não fiel a ele. Por que testá-lo, então?

De fato, o que está por trás dessa sanha censora é uma ideologia política fascista que não consegue se sustentar por si mesma, uma vez que representa o atraso, a castração do senso crítico e cerceamento das liberdades individuais, e apela para a chamada pauta moral como base de sustentação de seu projeto de poder. Aliada a essa barbárie cultural está o segmento neopentecostal evangélico, um partido político imperialista e neoliberal, que se disfarça de igreja para converter os mais desavisados e alienados. Também se alia a eles nessa cruzada neomedieval, as forças de segurança do Estado burguês brasileiro que, através das Escolas Cívico-Militares, poderão concretizar o sonho da escola sem partido. O que, na verdade, seria uma escola sem condições intelectuais de fazer oposição ao projeto de poder que eles querem estabelecer. Um poder amplo e irrestrito, que lhes permitiria controlar as mentes através da educação, e formar uma sociedade de ovelhas cegas e obedientes ao evangelho do deus capital. O menino marrom ficaria branco de susto diante de tamanha perversidade.

O outro trecho citado como problemático pelos pais, pode revelar um viés racista e homofóbico da censura ao livro de Ziraldo. Saudoso do amigo, o menino marrom lhe escreve uma carta onde diz: “Meu querido amigo, eu andava muito triste ultimamente, pois estava sentindo muito a sua falta. Agora estou mais contente porque acabo de descobrir uma coisa importante: preto é, apenas, a ausência do branco. ” Uma mente suja e fundamentalista, com o perdão do pleonasmo, é bem capaz de associar a saudade sentida pelo menino marrom, a um sentimento homoafetivo pelo amiguinho. Sem falar que o quê de racismo expresso pelo fundamentalismo deve ter se sentido ofendido, diante da constatação do menino marrom, de que não havia diferença existencial entre a sua cor e a do menino rosa, porque, no fundo, elas se completam. A supremacia branca imperialista que patrocina o fundamentalismo neopentecostal no Brasil pira. Se pelo menos o menino marrom fosse o Obama, eles conseguiriam reescrever a história a seu gosto.

Tempos sombrios, difíceis e desesperadores que estamos vivendo. Enquanto isso, a Bíblia, e seus livros vermelhos de sangue, segue sendo recomendada para todas as idades. Até que uma criança, orientada pelos ensinamentos religiosos de seus pais fundamentalistas, leia Êxodo 32:25-28, e, assim como Moisés, sinta-se escolhida por Deus para determinar o extermínio dos seus ímpios e infiéis coleguinhas na hora do recreio. Que os meninos marrom e cor de rosa não estejam estudando nessa escola. Deus nos livre dos fundamentalistas!

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/o-menino-marrom-pergunta-a-biblia-e-leitura-para-criancas

sábado, 22 de junho de 2024

Traduttore, traditore

Esta expressão italiana, conhecida por meio mundo, significa “tradutor, traidor”, isto é, quem traduz trai (diversas fontes).

Um trecho enigmático dos livros atribuídos a François Rabelais, Gargântua e Pantagruel, mais exatamente no Livro 5, Capítulo 2, provocou meu questionamento.

Na tradução de Guilherme Gontijo Flores, na Editora 34, o jogo com palavras era desconcertante. Clerigaio, bispogaio, cardigaio e papagaio. Genial, eu pensei ao ler. Eu, pretenso escritor, pensador e artífice das palavras, não havia pensado nesse jogo de palavras.

Então veio o questionamento. Mas François Rabelais escreveu isso?

Na Biblioteca Gutemberg tem a seguinte tradução em inglês:

He called the males clerg-hawks, monk-hawks, priest-hawks, abbot-hawks, bish-hawks, cardin-hawks, and one pope-hawk, who is a species by himself. He called the females clerg-kites, nun-kites, priest-kites, abbess-kites, bish-kites, cardin-kites, and pope-kites.

Em um verbete do Wikipédia eu achei uma versão do original de 1873:

Les maſſes il nommoit Clergaux, Monagaux, Preſtregaux, Abbegaux, Eueſgaux, Cardingaux, & Papegaut, qui eſt vnique en ſon eſpece. Les femelles il nommoit Clergeſſes, Monageſſes, Preſtregeſſes, Abbegeſſes, Eueſgeſſes, Cardingeſſes, Papegeſſe.

Aparentemente Rabelais faz um jogo de palavras com alguma referência com aves. O problema é que a palavra "hawk", ou "papagaio", em francês, não tem conferência.

A outra palavra, "kite" faz referência a outro tipo de falcão, também não tem conferência com o termo em francês. Então de onde Rabelais tirou o sufixo para fazer o jogo de palavras?

Eu achei algumas referências com as palavras papegai e papegau.

De acordo com um verbete do Wikipédia:

Papegai ou papegault , dependendo da região, é uma palavra do francês antigo que designa uma ave aparentada com o papagaio.

Guilherme acertou, mas o tradutor inglês, não.

Nós estamos falando de traduzir uma obra do século XVI, em francês e a tradução foi traiçoeira (piada intencional).
Imagine a tradução de um texto escrito em hebraico ou aramaico, na Era do Bronze.

Nós não somos descendentes das Tribos de Israel, nem de Abraão, Isaque e Jacó. Nada do que esse texto sagrado diga nos diz respeito.
Nós temos que fazer uma lei punindo o fundamentalismo cristão.

A evangelhocracia de coalisão

1. E o Brasil se tornou refém de pautas medievais?

Sabiam que até 1974 existia na Espanha a pena de morte executada por garrote vil? Sim, o último condenado foi executado naquele ano, sendo a pena extinta em 1978.

O que é o garrote vil? Morte lenta. Agonizante. Coisa de tempos anteriores à modernidade…!

Pois ao tomar conhecimento do projeto sobre a criminalização do aborto com pena maior do que o estuprador (fora os demais terríveis problemas do projeto) fiquei pensando: será que extrema-direita não proporá a pena de garrote vil?

Esse é o tom com o qual devemos discutir o assunto. Porque quem estabeleceu esse tom foram os autores do referido projeto de lei. Deixou – e isso ainda não terminou – uma péssima impressão, mormente estando como signatária uma ex-procuradora e ex-presidente da CCJ, deputada Bia Kicis. Para que serve o direito? Para isso?

2. A Bíblia e Os Escravos de Jó… e a serva Bila

O que pensam os apoiadores do projeto do estupro? Vi e ouvi vários deputados dizendo que o fazem em nome da fé. Como assim? Foi Jesus mesmo quem disse que “dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é Deus”. Isto quer dizer: separação do Estado, das coisas da política… da religião. Está na Bíblia, senhoras e senhores evangélicos.

Mas, se quiserem insistir – e, de novo, o tom da discussão foi dado pela bancada conhecida como evangélica, podemos buscar o livro sagrado.

Falemos do livro Contos de Aia e da república de Gilead, em que às mulheres é reservada a função de procriação e, ainda por cima, à base de relação forçada (para ser eufemista). Atenção: a autora do livro não inventou essa passagem de Gênesis: 30: 1-3, que exatamente mostra como a “palavra de Deus” é usada para justificar o uso das aias (mulheres) apenas como um objeto de reprodução: vendo Raquel que não dava filhos a Jacó, teve inveja de sua irmã, e disse a Jacó: “Dá-me filhos, se não morro”. E ela disse:

“Eis aqui minha serva, Bila. Coabita com ela, para que dê à luz sobre meus joelhos… e eu, assim receba filhos por ela”. Assim lhe deu a Bila, sua serva, por mulher… e Jacó a possuiu.

Talvez passagens como essa sejam inspiradoras. Outra vez: quem colocou a discussão no plano da religião não foram as pessoas contrárias ao projeto. Foram os próprios apoiadores.

Vamos falar de fé? De política misturada com religião? Usando a Bíblia? OK. Então: os dois ursos que mataram 42 crianças “a mando de Deus” são “de verdade” e essa passagem bíblica pode ser lida do mesmo modo que a Bíblia proíbe, por exemplo, o homossexualismo (que as igrejas gostam de utilizar)?

E o que dizer das filhas de Ló? O incesto? Ou do momento em que Ló, para salvar os dois anjos, oferece suas filhas para serem estupradas pelos invasores? Isso deve ser entendido literalmente, senhores pastores? Quanto à Ló, das duas, uma: se for ao pé-da-letra, parece “complicado” o pai oferecer as filhas, não acham? Se for simbólico ou alegórico (mas há que escolher qual leitura fazer da Bíblia), o gesto de Ló é visto de outro modo.

O que quero dizer, principalmente aos evangélicos e cristãos que não concordam com a mistura “política-religião”, é que a Bíblia não pode ser lida ad hoc. Não dá para ser literalista e alegórico um dia sim, um dia não, segundo os interesses.

3. A “escolha” que certos evangélicos fazem de passagens bíblicas…também posso fazer. Querem ver?

Vamos fazer um festival de escolhas literárias ad hoc de passagens bíblicas, com as quais poderemos justificar a terceira guerra mundial, estupros para salvar a continuidade da humanidade, matança de crianças, traições como a do Rei Davi que fez sexo com a mulher de seu soldado e ainda por cima enviou o seu concorrente para a guerra para que morresse.

E o que dizer de seu filho Ammon, que estuprou sua meia-irmã Tamar, embora ela implorasse a ele que não o fizesse? Mais à frente, Absalão, também irmão de Tamar, faz o mesmo com dez concubinas de Davi. Quanta promiscuidade, não? Já no livro Juízes, os benjaminitas vão até Jabes, em Galaad, e sequestram 400 mulheres, obrigando-as a desposar seus sequestradores — supostamente tudo isso com a bênção do Senhor.

Portanto, o Velho Testamento trata o estupro como “normal”. Que tal ler ao pé-da-letra o Código Penal da Bíblia, em Deuteronômio 22:28–29?

“Se um homem achar moça virgem, que não está desposada, e a pegar, e se deitar com ela, e forem apanhados, então, o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta siclos de prata; e, uma vez que a humilhou, lhe será por mulher; não poderá mandá-la embora durante a sua vida.” Se a vítima de estupro não estava noiva, então o estuprador enfrentava consequências diferentes.

Um pouco antes disso, nos versículos 23 e 24, o mesmo Deuteronômio sugere que, se um homem encontrar uma mulher prometida ou casada e se deitar (sic) com ela no campo, tudo bem, aí a culpa é só dele, porque ninguém a teria ouvido de qualquer forma. Mas, se for na cidade, os dois devem ser apedrejados — ele pelo ato, ela porque não gritou pedindo ajuda.

Boa essa parte “porque não gritou pedindo ajuda”. E assim segue a Bíblia.

O que quero dizer é que há que se ir muito devagar com o andor nessa coisa de “usar a Bíblia”. Ou misturar política e religião. Dai a César…

Nesta coluna, apenas quero mostrar que não parece adequado e correto invocar a fé para cometer absurdos como esse de condenar a vítima de estupro.

A literalidade da Bíblia é certeza de derrota para quem quiser misturar política e religião. Perderão facilmente. Como mostrei acima.

4. Vamos discutir esses temas à luz de outro livro, a Constituição?

O que eu desejo é, sim, discutir o aborto, saidinhas de presos e quejandos à luz de um outro livrinho, a Constituição. Esta sim até pode ser lida ao pé-da-letra. Pode, às vezes, apresentar pequeníssimas contradições. Que qualquer hermenêutica resolve. Mas, com certeza, não traz contradições e paroxismos com a Bíblia. Fiquemos, pois, com a Constituição, senhoras e senhores deputados. Pelo menos enquanto fazemos política. A Bíblia? Usemo-la nos templos.

Podem crer: Deus não mandou o Sol parar para Josué matar mais gente. É que…o Sol já estava parado…!

Portanto, sem essa de que fazem esses projetos em nome da fé e que estão amparados na Bíblia.

Post scriptum. Recentemente, escrevi um livro chamado O que é fazer a coisa certa no direito. O busílis é muito simples. Lembram-se dos dileminhas popularizados por Sandel? “Você prefere mudar o curso do trem e matar o gordinho ou deixar que o trem mate cinco pessoas?” O ponto é que o direito dissolve esse tipo de problema. Vira um não-problema. Porque, numa democracia, é o direito que institucionaliza e resolve os desacordos morais. E o que esse caso da handmaidestalização da democracia mostra é que estão degenerando o direito.

Para que serve um direito que se pode levar a um paradoxo tal em que a pena da mulher estuprada é maior que a do estuprador? Fracassamos? Se for assim, vamos todos para casa. E entreguemos as chaves do sistema político às Igrejas. Sim, isso tem de ser dito. Talvez este seja o momento. Quando deram o maior tiro no pé da história, pode ser o momento de colocarmos cada coisa em seu quadrado.

Pois então façamos a coisa certa. Qualquer que seja sua convicção moral. Ônus da democracia. Que não pode aceitar certos tipos de coisa.

Ou vamos subverter os fundamentos da democracia com o nome de “democracia”? Por isso, peço atenção para uma leitura atenta da presente coluna.

Para evitar mal-entendidos.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-evangelhocracia-de-coalisao-nossa-democracia-esta-garroteada-por-lenio-streck/

Buffet Universal

Registros de uma formatura do Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) em Florianópolis, no estado de Santa Catarina, estão repercutindo negativamente nas redes sociais. Isso porque Topázio Neto (PSD), prefeito da cidade, teria transformado o evento, realizado em uma filial da Igreja Universal do Reino de Deus, em uma espécie de comício.

“DOUTRINAÇÃO – Formatura do Proerd em Florianópolis virou comício do Prefeito dentro da Igreja Universal do Reino de Deus! Eles falam em ‘escola sem partido’, mas aparelham igrejas e a polícia para se perpetuar no poder! O Estado e a escola são laicos”, publicou o vereador suplente de Florianópolis Leonel Camasão (PSOL-SC), no X/Twitter.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/formatura-do-proerd-em-igreja-universal-em-sc-chama-a-atencao-da-web/

Nota: eu considero muito preocupante que a PM do Tarcísio use a Universal para seus eventos. Agora foi a PROERD. A Universal está pensando em trocar seu tipo de "negócio"? Buffet Universal 😏🤭.

Na Universal não existe LGPD

Pastores solteiros da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) alegam estar sendo pressionados a fornecer cópias de seus extratos bancários e faturas de cartões de crédito dos últimos dois anos, além de listar todos os bens que possuem. Desde o final de 2023, eles têm sido convocados a salas reservadas nos templos da Universal para assinarem um documento denominado “declaração”, onde afirmam ceder seus dados financeiros e patrimoniais “por livre e espontânea vontade”.

Os líderes religiosos disseram que não têm permissão para levar uma cópia da declaração. No documento, obtido pelo UOL, lê-se: “Declaro também, para os devidos fins de direito e sob as penas da lei, que concedo, por livre e espontânea vontade, à Igreja Universal do Reino de Deus na pessoa de seus oficiais (Bispos e Pastores), o acesso aos extratos das minhas contas correntes bancárias (ativas ou não) e aos extratos das minhas contas poupança – caso existam (ativas ou não), bem como às faturas dos meus cartões de crédito (ativos ou não) dos últimos dois anos, contados a partir da assinatura desta declaração”.

O documento permite que a Universal armazene, acesse, consulte, avalie e utilize todos os dados pessoais dos pastores para tomar decisões acerca de sua atuação como ministros religiosos. Também inclui consentimento para que a igreja de Edir Macedo colete e trate dados pessoais sensíveis, especialmente informações relacionadas à convicção religiosa e atividades espirituais dos religiosos.

Segundo membros da instituição, ouvidos sob condição de anonimato, essa exigência não é acompanhada de uma explicação por parte da direção da igreja. Um membro da Universal relatou que foi orientado a ir à agência bancária e solicitar os extratos de sua conta, mas sem revelar que os documentos seriam entregues à direção da instituição religiosa.

A medida parece ser direcionada especificamente a pastores solteiros prestes a se casar, que estão sendo chamados para assinar a declaração junto com suas noivas. A ação está ocorrendo em todos os estados brasileiros.

Aqueles que questionam a exigência ou se recusam a assinar o documento enfrentam pressão interna para deixar seus postos. A Universal, fundada em 1977 pelo autointitulado bispo Edir Macedo, conta com cerca de 10 mil templos e 14 mil pastores em pelo menos 95 países.

A hierarquia da igreja permite que uma pessoa comece como obreiro e, ao mostrar certas qualidades, possa se tornar pastor, com um salário inicial de pelo menos R$ 2.000 brutos, e eventualmente ascender ao cargo de bispo.

A IURD defende que, como instituição religiosa, pode agir conforme suas próprias regras sem intervenção do Estado, uma vez que a Constituição brasileira garante a liberdade religiosa. A declaração assinada pelos pastores reafirma a missão de Edir Macedo de pregar o Evangelho e destaca a crescente influência e expansão da igreja ao redor do mundo.

Edir Macedo, segundo o último ranking de bilionários da revista Forbes, tem uma fortuna estimada em 2 bilhões de dólares. No documento, os pastores declaram que sua colaboração com a igreja se deve ao desejo de ganhar almas e ajudar os necessitados, reforçando a natureza religiosa e sem fins lucrativos da instituição.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/pastores-solteiros-sao-obrigados-pela-universal-a-entregarem-dados-bancarios/

sexta-feira, 21 de junho de 2024

AGU denuncia CFM

A Advocacia-Geral da União (AGU) enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma manifestação afirmando que o Conselho Federal de Medicina (CFM) cometeu abuso de poder ao editar uma resolução que restringe o acesso ao aborto legal no Brasil. A informação é da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.

Segundo o órgão, o CFM tentou promover a “manutenção da gravidez resultante de estupro” em detrimento da saúde e liberdade das mulheres.

Na manifestação, a AGU argumentou que a norma que vetava a prática da assistolia fetal acima das 22 semanas de gestação buscou, de forma disfarçada, alterar uma previsão do Código Penal. “Tal limitação somente seria possível por meio de lei formal. E essa é uma atribuição do Congresso Nacional, nunca de um conselho profissional”, destacou.

A manifestação ocorre no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 1141, que questiona a resolução publicada pelo CFM em abril deste ano. A ação foi apresentada pelo PSOL, Anis – Instituto de Bioética e a Clínica Jurídica Cravinas, e motivou a criação do Projeto de Lei Antiaborto por Estupro na Câmara dos Deputados.

Comandado pelo ministro Jorge Messias, o órgão destacou que se manifesta no sentido “estritamente jurídico”, “sem adentrar em questões políticas, morais, filosóficas ou religiosas que dividem a sociedade brasileira nesse específico tema”.

Além disso, a AGU sustentou que o ato do CFM é inconstitucional e que o “abuso do poder regulamentar” inviabiliza o exercício de um direito já previsto em lei.

A AGU reforçou ainda que, apesar do aborto ser crime no Brasil, a legislação permite exceções em casos de gravidez decorrente de estupro, anencefalia e quando a gestação representa risco de vida para a gestante.

“No caso específico da gravidez decorrente de estupro, a lei preserva o direito de escolha da mulher, não atentando para a viabilidade ou inviabilidade do feto”, disse o órgão na peça enviada ao STF.

De acordo com a AGU, o CFM não propôs aos médicos nenhuma alternativa à assistolia fetal, recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a interrupção de gestações avançadas, e que teria feito uma “ponderação de valores” diversa da que está prevista em lei.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/conselho-federal-de-medicina-cometeu-abuso-ao-restringir-aborto-diz-agu/

Nota: (com trecho de notícia)

O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran Gallo, declarou que "a autonomia da mulher deve ter limites" em relação ao aborto legal durante audiência no Senado, nesta segunda-feira (17), sobre o PL 1904/2024, conhecido como PL do Estupro.

“A autonomia da mulher esbarra, sem dúvida, no dever constitucional imposto a todos nós, de proteger a vida de qualquer um, mesmo ser humano formado por 22 semanas”, disse.

Fonte, citado parcialmente: https://revistaforum.com.br/politica/2024/6/18/presidente-do-cfm-defende-limite-para-autonomia-da-mulher-em-relao-ao-aborto-legal-160729.html

Nem é necessário dizer que isso foi dito por um homem, cisgênero, heterossexual (e cristão?). Não haverá o reconhecimento dos direitos reprodutivos enquanto o Brasil tiver essa mentalidade medieval e colonial.

Gilead é nos EUA

O governador da Louisiana, Jeff Landry, sancionou uma lei nesta quarta-feira (19) que exige a exibição dos “dez mandamentos” em todas as salas de aula públicas, tornando o estado o único com uma legislação desse tipo e reacendendo o debate sobre o limite entre “Igreja e Estado”.

Grupos como a União Americana pelas Liberdades Civis e a Fundação Liberdade de Religião prometeram desafiar a legislação na Justiça, considerando-a “flagrantemente inconstitucional”. No entanto, os defensores da medida estão preparados e ansiosos para enfrentar essa batalha.

Landry, descrito como um homem branco de terno e gravata, discursou em um púlpito com o logotipo do “CPAC”, diante de um fundo com estrelas e listras evocando a bandeira americana. Em um evento do Partido Republicano em Nashville, Tennessee, ele declarou: “Mal posso esperar para ser processado”, conforme relatado pelo jornal The Tennessean. Ao assinar a medida na quarta-feira, argumentou que os dez mandamentos oferecem lições valiosas para os estudantes.

“Se você quer respeitar o estado de direito”, disse ele, “você tem que começar pelo legislador original, que foi Moisés.”

Essa legislação faz parte de uma campanha mais ampla de grupos cristãos conservadores nos Estados Unidos para amplificar as expressões públicas de fé e provocar processos judiciais que possam chegar à “Suprema Corte”, onde esperam um resultado mais favorável do que em anos anteriores.

Essa expectativa é sustentada por decisões recentes, especialmente uma em 2022, onde a corte decidiu a favor de um treinador de futebol americano do ensino médio que reivindicou o direito constitucional de rezar em campo após os jogos de sua equipe.

A medida na Louisiana exige que os mandamentos bíblicos sejam exibidos em cada sala de aula de todas as escolas públicas de ensino fundamental e médio, bem como nas salas de aula de faculdades públicas. Os cartazes devem ter no mínimo 27 por 35 centímetros, e os mandamentos devem ser “o foco central do cartaz” e estar “em uma fonte grande e facilmente legível”.

Além disso, incluirá uma declaração de três parágrafos afirmando que os dez mandamentos foram uma “parte proeminente da educação pública americana por quase três séculos”.

Os defensores da lei sustentam que os dez mandamentos não são apenas um texto religioso, mas também um documento histórico, argumentando que as instruções de Deus a Moisés no Livro do Êxodo são uma grande influência na lei dos “Estados Unidos”.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/governo-trumpista-exige-que-escolas-exponham-os-10-mandamentos-em-todas-salas-de-aula/

Até quando vamos aturar?

Por que as festas juninas das escolas estão recebendo outros nomes nos últimos anos, como “festa da colheita” e “festa da tradição”? E por qual motivo alguns colégios até desistiram de juntar as crianças para dançar quadrilha e brincar de pescaria?

São duas razões principais:

Em tese, a cerimônia homenageia santos católicos (São João, Santo Antônio e São Pedro), que não são cultuados por famílias evangélicas.

Com o crescimento das religiões neopentecostais no Brasil, o número de alunos que não são liberados pelos pais para participar das festas tende a aumentar. Ao trocar o nome da comemoração ou cancelá-la, a escola tenta evitar que parte dos estudantes se sinta excluída.

A professora Rebeca Café, de 29 anos, por exemplo, nunca pôde participar da festa junina da escola quando era criança. “Tentavam explicar para os meus pais, evangélicos, que a gente só ia comer comida gostosa e dançar, mas não tinha jeito, eles achavam que era um culto a santos da Igreja Católica. Eu e mais quatro alunos da classe ficávamos de fora”, diz.

“Agora, na escola [pública] onde trabalho, só três crianças da minha turma não são evangélicas. A alteração [do nome da festa] se fez necessária. Mas ainda acho que precisamos conhecer a história do nosso país, não importa a religião.”

No outro extremo, em menor escala, colégios mais “progressistas” têm tentado transformar as tradicionais festas juninas em cerimônias mais abrangentes, para “celebrar outras crenças e culturas” do país.

Na Escola Vera Cruz (SP), por exemplo, o evento para o ensino médio inclui outras tradições culturais brasileiras — o ponto alto neste ano não será a quadrilha, e sim um cortejo afro inspirado em São Luís do Paraitinga.

Para Amailton Azevedo, professor de história da PUC-SP, não importa qual seja a razão de “abandonar” a festa junina: será um equívoco do ponto de vista histórico e pedagógico.

“Deixar de comemorar é dar de ombros para uma tradição secular da cultura brasileira, trazida pelos portugueses no século XVI, mas que assumiu marcas próprias e incorporou elementos culturais afro-indígenas”, explica.

“As festas juninas são um patrimônio imaterial riquíssimo do ponto de vista histórico e cultural. É um erro abandoná-las e impedir as crianças de brincar. Esse conservadorismo é retrógrado.”
Ele também critica a postura de dissolver a festa junina (e todas as suas variantes regionais) e transformá-la em qualquer outra comemoração. “A celebração de outras culturas pode ocorrer em qualquer outra data do calendário escolar. Temos uma enorme gama de festividades brasileiras e internacionais.”

Já a antropóloga Denise Pimenta, da Universidade de São Paulo (USP), reforça que não faz sentido resistirmos às mudanças. “A gente vê uma ascensão do início de um estado evangélico. A escola vai deixar de reforçar tradições católicas. Acho muito difícil que a festa desapareça, mas não vai mais se pautar por São João. Vai chamar, por exemplo, festa das tradições”, afirma.

“No fim, foi isso o que o catolicismo fez. Era uma festa pagã que foi atrelada pela Igreja aos santos. Essas mudanças acontecem. A tradição não está morrendo: está se adaptando para continuar viva.”

E um lembrete: outras comemorações, mesmo que com motivações não religiosas, já foram alteradas no dia a dia das escolas, como o Dia das Mães e o Dia dos Pais. Para abarcar famílias com casais homoafetivos ou para não entristecer os alunos órfãos/abandonados, as datas são trocadas por “Dia da Família”, por exemplo.

De onde veio a festa junina?

A festa junina, a princípio, era pagã e servia para os europeus comemorarem a colheita e o solstício de verão (no hemisfério Norte, ele ocorre em junho).

Depois, com o avanço do cristianismo na Europa, a Igreja Católica apropriou-se da tradição e incluiu a celebração dos santos.

Com a vinda de portugueses para o Brasil, no início do século XVI, a festa veio “na bagagem”, mas foi adaptada à nossa realidade.

A dança, por exemplo, varia em cada região do Brasil, mas nada tem a ver com o que era apresentado pelas cortes europeias no passado. O pisado forte na terra, por exemplo, no piseiro ou no forró, é uma herança indígena, e os ritmos e instrumentos musicais têm influência africana.

Não adiantou trocar o nome de “festa junina” por “festa cultural”: na escola onde Esther* dá aula, os pais de uma aluna evangélica não liberaram a criança para o evento.

“Entrei na sala e vi uma das crianças do 1º ano [do ensino fundamental] chorando, porque a família dela não ia deixar que ela participasse da dança. Ela e a amiga estavam discutindo se festa ‘é ou não de Deus’”, diz.

“Tentei intervir e explicar para a turma que estávamos seguindo uma tradição cultural, e não religiosa. Mas não adiantou. A mãe da aluna mandou um recado na agenda e avisou que a menina está proibida de participar de qualquer atividade relacionada a festas juninas.”

Os evangélicos não acreditam em santos, como explicado no início da reportagem. Na interpretação que esses religiosos fazem da Bíblia, somente Deus deve ser adorado.

Talvez você esteja pensando que as festas da escola raramente mencionam os nomes dos santos — em geral, giram em torno das músicas, brincadeiras e comidinhas. Seria realmente “errado”, do ponto de vista dos não católicos, participar das danças e comer pipoca, paçoca e milho?

Não há uma resposta definitiva — dependerá da interpretação de cada fiel e da orientação das igrejas.

Fonte, citado parcialmente: https://g1.globo.com/google/amp/educacao/noticia/2024/06/19/festa-junina-das-tradicoes-ou-da-colheita-como-a-visao-de-evangelicos-e-de-progressistas-muda-nome-e-formato-do-evento-nas-escolas.ghtml

Adendo:

Um vídeo publicado há cinco dias por um “pastor” evangélico de Minas Gerais, que viralizou nas redes sociais nas últimas horas, vem despertando a fúria de muitos brasileiros pelo tom extremista, odioso e fundamentalista ao tratar das festas juninas, uma tradição de séculos nos países católicos, sobretudo em Portugal, na Espanha e no Brasil, nas quais são celebrados São João, Santo Antônio e São Pedro. Sinônimo de alegria, comidas deliciosas, danças e muita fé, o período junino, verdadeiro patrimônio cultural dessas nações, foi atacado com desprezo e agressividade pelo clérigo radical.

O sujeito em questão é Matheus Alves, que seria “pastor” da Igreja Lagoinha, do luxuoso bairro Mangabeiras, em Belo Horizonte. Jovem e com o tom proselitista e belicoso típico dos mais aguerridos neopentecostais, ele começa afirmando que junho é o mês mais triste de sua vida porque precisaria ficar explicando a razão pela qual protestantes não devem participar de festas juninas. O que vem na sequência é um espetáculo triste de intolerância religiosa e sectarismo, daqueles que viraram tendência e moda no país nos últimos anos com a ascensão da extrema direita bolsonarista.

“Hoje é 1º de junho, né? Um dos meses mais tristes da minha vida, porque nesse mês eu tenho que ficar o mês inteiro explicando o óbvio: protestante não participa de festa junina. É uma festa católica, para São João, Santo Antônio e São Pedro. Protestante, você já entendeu por que você não participa? ‘Ah, vou lá só pra comer uma comidinha típica na festa junina’... Primeiro Coríntios, capítulo 8 e capítulo 10, te proíbe isso... Você pode estar ferindo a consciência de um neófito sentando à mesa de ídolos... Comida sacrificada a ídolo tem um problema, apesar do ídolo não existir e o ídolo não ser nada: o apóstolo Paulo diz que ídolos é (sic) moradas de demônios. E o apóstolo Paulo te proíbe de sentar na mesa do Senhor em um dia e na mesa de demônios outro dia. Deus se irrita, ele fica irado, com ações como essas baseadas em idolatria... Festa junina é idolatria! ‘Ah, mas é minha tia que tá fazendo’... Você quer sentar junto com sua tia na mesa do demônio, ô criatura? Você quer seguir a modinha? Você quer seguir o ‘não tem nada a ver’? Ou você quer seguir a escritura sagrada, que explicita ao proibir o cristão de participar de festa idólatra e de mesa de ídolos?”, diz o “pastor” Matheus Alves em sua “pregação” gravada dentro de um carro.

Pela lógica do orador evangélico em questão, não deveria haver liberdade religiosa no país e qualquer culto ou atividade de natureza ecumênica seriam inaceitáveis, já que um protestante não pode comer uns acepipes e guloseimas servidos numa festa de outra crença.

Fonte, citado parcialmente: https://revistaforum.com.br/brasil/2024/6/6/video-pastor-demoniza-festas-juninas-comidinhas-so-sacrificadas-idolos-160056.html

Nota: que seja feita uma lei punindo qualquer pessoa ou grupo que tentar impedir ou atrapalhar a celebração da festa junina.

Sexo na antiguidade

O poeta grego Semônides de Amorgos dizia, no século 7 a.C., que existem 10 principais tipos de mulheres.

Para ele, existem mulheres que são como porcos, porque preferem comer a fazer limpeza; mulheres que parecem raposas, particularmente observadoras; mulheres-asnos, sexualmente promíscuas; mulheres-cães, marcadas pela desobediência.

E ele conta que também há as mulheres-tormentas do mar, mulheres-terra gananciosas, mulheres-doninhas ladras, mulheres-éguas preguiçosas, mulheres-macacos não atraentes e – pelo menos uma avaliação favorável – mulheres-abelhas trabalhadoras.

Sem dúvida, a lista de Semônides retrata a misoginia da época. E, de todas as mulheres descritas, as chamadas "mulheres-asnos" sexualmente promíscuas talvez sejam as mais misteriosas.

Os relatos históricos do mundo antigo costumam revelar a vida enclausurada das mulheres.

Na Grécia, elas normalmente usavam véus em público. Em Roma, elas tinham "guardiões" (normalmente, o pai ou marido) para supervisionar seus movimentos e cuidar dos seus bens.

Será que o conceito da mulher luxuriosa era pura fantasia masculina? Ou as mulheres da Antiguidade eram mais interessadas em sexo do que geralmente se acredita?

Durante as pesquisas para meu novo livro, The Missing Thread ("O fio que faltava", em tradução livre), a primeira história do mundo antigo escrita através das mulheres, precisamos procurar muito para poder descobrir o que as mulheres realmente pensavam sobre sexo.

As fontes que chegaram até nós, em sua grande maioria, foram escritas por homens com clara propensão a exagerar os hábitos sexuais das mulheres em uma ou outra direção.

Alguns chegaram a enfatizar as virtudes de uma mulher a ponto de fazer com que ela parecesse quase santa e não humana. Outros apresentaram as mulheres como sexualmente vorazes, como forma de manchar propositadamente o seu caráter.

Se tomarmos essas descrições literalmente, chegaremos à conclusão de que as mulheres do mundo antigo ou eram totalmente castas, ou eram malucas por sexo.

Felizmente, é possível examinar o íntimo de algumas mulheres clássicas, que oferecem uma visão muito mais profunda da sexualidade feminina da época.

Analisando o mesmo período em que viveu Semônides, podemos encontrar Safo, compositora de poesia lírica da ilha grega de Lesbos, no mesmo século 7 a.C.

Ao observar uma mulher sentada, conversando com um homem, Safo documentou suas intensas sensações físicas: coração agitado, fala vacilante, fogo pelas veias, cegueira temporária, zumbido no ouvido, suor frio, tremores, palidez – todas as sensações familiares para qualquer pessoa que já tenha caído no desejo.

Em outro poema, Safo descreve ter coberto uma mulher de flores, relembrando melancolicamente como ela teria, em uma cama macia, "saciado [seu] desejo".

Estas são confissões de uma mulher que compreende como é impossível reprimir uma paixão.

Os poemas de Safo chegaram até nós em fragmentos e sua leitura precisa pode ser difícil. Mas os acadêmicos encontraram, em um dos papiros, uma referência a "dildos", ou olisboi, em grego.

Eles eram empregados na Grécia em rituais de fertilidade e também para conseguir prazer. Eles aparecem em diversas pinturas de vasos.

Em Roma, objetos fálicos também eram apreciados como talismãs. E não faria sentido que as mulheres se afastassem de símbolos que, segundo se acreditava, trariam boa sorte.

As mulheres antigas não se acanhavam ao verem objetos eróticos – tanto que algumas delas eram até enterradas com eles.

Antes de Roma assumir proeminência na região, os habilidosos etruscos dominavam as terras italianas e as deixaram repletas de cenas de natureza romântica.

Inúmeras obras de arte, incluindo esculturas em túmulos, ilustram homens e mulheres se reclinando juntos.

Um queimador de incenso mostrando homens e mulheres tocando os genitais um do outro foi enterrado com uma mulher etrusca, no século 8 a.C.

Basta visitar um antigo bordel, como os de Pompeia, para ver como o sexo era exposto com frequência naquela época.

As paredes dos quartos sombrios, que mais pareciam celas, onde trabalhavam as profissionais do sexo, estão cobertas de grafites. Muitos deles foram escritos por clientes homens, que gostavam de comentar o desempenho das mulheres.

Existem muitos discursos e relatos históricos que descrevem as dificuldades enfrentadas por essas profissionais. O Discurso contra Neaera, do político ateniense Apolodoro no século 4 a.C., fornece uma visão bastante surpreendente da precariedade da vida dessas mulheres.

Mas, às vezes, podemos ler o que escreveram as próprias mulheres que mantinham contato com esse mundo. E seus relatos são surpreendentes.

No século 3 a.C., uma poeta chamada Nossis morava no bico da península italiana. E um de seus escritos elogiava uma obra de arte financiada por uma profissional do sexo.

Nossis conta que uma gloriosa estátua de Afrodite, a deusa do amor e do sexo, foi construída em um templo com dinheiro levantado por Poliarquis.

Poliarquis não foi um caso isolado. Anteriormente, outra hetaera (cortesã, ou profissional do sexo de alto escalão) chamada Dórica também usou o dinheiro que havia conseguido para comprar um objeto para exposição pública – no caso, enormes espetos de carne bovina, que foram exibidos em Delfos.

O que atraía essas mulheres não era o sexo, mas sim a rara oportunidade que o sexo oferecia para que elas fossem lembradas depois da morte. Afinal, o destino da imensa maioria das mulheres que elas conheciam era o anonimato.

Apesar de todos os seus preconceitos, os escritores homens podem fornecer algumas das visões mais interessantes sobre as mulheres e o sexo.

No ano 411 a.C., o comediante Aristófanes apresentou uma peça chamada Lisístrata. Nela, as mulheres de Atenas organizam uma greve de sexo para convencer seus maridos a chegar a um acordo de paz durante a Guerra do Peloponeso.

O conflito realmente aconteceu. Ele foi travado entre Atenas e Esparta e seus respectivos aliados e durou três décadas.

Muitas das mulheres da peça ficaram descontentes por precisarem abrir mão do seu prazer. Elas são retratadas segundo o estereótipo das mulheres-asnos, para melhor efeito cômico.

Mas existe um momento em que a peça toma um rumo sério e Aristófanes oferece um ponto de vista feminino mais convincente.

A personagem-título, Lisístrata, é a organizadora da greve. Ela descreve como realmente era a vida das mulheres em tempos de guerra.

Elas não só eram proibidas na Assembleia, onde a guerra era discutida, mas ficavam cada vez mais enlutadas. E, embora o conflito prolongado fosse terrível para as mulheres casadas, ele era ainda pior para as solteiras, que perdiam todas as possibilidades de chegar ao casamento.

Lisístrata destaca que os homens podem voltar para casa depois da guerra com cabelos grisalhos e ainda se casar, mas o mesmo não acontece com as mulheres solteiras, já que muitas delas serão consideradas velhas demais para se casar e procriar.

Estas falas mostram a diferença entre a experiência de guerra de homens e mulheres com tanta precisão que somos tentados a acreditar que elas sejam um reflexo do que realmente diziam as mulheres da época.

Podemos também encontrar os temores reais das mulheres sobre o sexo expressos na tragédia grega.

Sófocles, o mais famoso dramaturgo grego e autor de Édipo Rei, criou uma personagem feminina na sua peça perdida Tereu. Ela descreve como uma mulher virgem se transforma em uma esposa.

"E isso, depois que uma noite nos uniu", diz a rainha mitológica Procne, "precisamos enaltecer e considerar muito agradável".

Os casamentos arranjados eram bastante comuns entre as classes mais altas. E a primeira experiência sexual de uma mulher poderia ser tão desorientadora quanto a descrição de Procne.

Às vezes, as mulheres expressavam seus pensamentos em papiros.

Uma carta atribuída à filósofa grega Teano, do círculo de Pitágoras (que alguns afirmam ter sido sua esposa), oferece à amiga Eurídice alguns conselhos atemporais.

Teano escreve que a mulher deveria se livrar da vergonha junto com suas roupas, ao chegar à cama do marido. E que ela pode vestir as duas juntas quando se levantar novamente.

A carta de Teano foi analisada e pode não ser autêntica. Mas seu conteúdo reflete com precisão o que muitas mulheres teriam dito umas às outras em tempos mais modernos. E seu conselho parece também ter servido para as mulheres do mundo antigo.

Uma poeta grega chamada Elefantis supostamente era tão disposta a oferecer dicas sexuais para as mulheres que escreveu seus próprios livros sobre o tema.

Infelizmente, não existem sinais das suas obras hoje em dia, mas ela é mencionada no século 1 d.C. pelo poeta romano Marcial e pelo biógrafo e arquivista romano Suetônio – que relata que o imperador Tibério, conhecido pelo seu apetite sexual, tinha cópias dos seus livros.

Outras mulheres foram mencionadas em textos de outros homens, mas elas costumavam se expressar em termos de amor e não de forma explicitamente sexual. Isso as excluiu dos textos de alguns de seus contemporâneos homens, como Marcial e Catulo (séc. 1 d.C.).

Já Lésbia, pseudônimo da amante de Catulo, diz a ele que "o que uma mulher diz ao seu amante no momento / Deve ser escrito no vento e na água que corre". Os versos relembram a expressão "conversa de travesseiro".

Sulpícia é uma das poucas escritoras romanas cujos versos ainda sobrevivem. Ela descreve sua tristeza ao estar no campo, longe do seu amado Cerinto, no dia do seu aniversário – e seu alívio quando finalmente pode ir a Roma.

Estas mulheres não precisavam descrever com todos os detalhes o sexo com seus amantes para revelar o que elas realmente pensavam a respeito.

Os homens podem dominar as fontes históricas, mas as mulheres, como bem sabia Afrodite, podiam ser igualmente apaixonadas quando se fechavam as cortinas.

O livro de Daisy Dunn intitulado 'The Missing Thread: A New History of the Ancient World Through the Women Who Shaped It' ("O fio que faltava: uma nova história do mundo antigo através das mulheres que o formaram", em tradução livre) foi lançado recentemente no Reino Unido pela editora Weidenfeld & Nicolson e será publicado nos Estados Unidos pela editora Viking, no dia 30 de julho.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c72251d72jzo

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Tailândia legaliza casamento homoafetivo

O Senado tailandês aprovou nesta terça (18) lei que legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A Tailândia se torna, desta forma, o primeiro primeiro país do sudeste asiático a legalizar o casamento homoafetivo.

A votação foi considerada uma vitória da comunidade LGBTQIAPN+. A provado por 130 senadores, o texto agora será apresentado ao rei e entrará em vigor até o final do ano. 

Com a lei, a Tailândia se tornará o segundo país da Ásia a permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, após Nepal. Taiwan também permite o casamento homoafetivo.

A expectativa é que os primeiros casamentos possam ser celebrados já em outubro, segundo ativistas.

"Estamos muito orgulhosos daqueles que participaram deste momento histórico. Hoje o amor derrotou o preconceito", disse Plaifah Kyoka Shodladd, ativista que trabalhou na comissão que analisou o texto, aos senadores após a votação.

A lei muda referências a termos como "homens", "mulheres", "maridos" e "esposas", os trocando por palavras neutras. Casais homossexuais passam a ter os mesmos direitos que os heterossexuais, em assuntos como herança e adoção.

No centro da capital, Bangkok, ativistas celebraram a notícia em um show de drag queens. Uma bandeira arco-íris gigante foi estendida no local. 

A Tailândia é considerado um dos países mais favoráveis à comunidade LGBTQIAPN+ na Ásia e pesquisas indicam forte apoio popular ao casamento homoafetivo. Ainda assim, há muitas denúncias de preconceito no país.

Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2024/06/18/tailandia-se-torna-o-primeiro-pais-do-sudeste-asiatico-a-legalizar-casamento-homoafetivo

A ONU se manifesta

Nesta sexta-feira (14), o Alto Comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para Direitos Humanos criticou o Projeto de Lei 1904 que equipara a punição de abortos realizados após 22 semanas de gestação em casos de estupro a pena por homicídio. Gestantes e médicos seriam punidos com penas eventualmente superiores às do estuprador. Com informações do colunista Jamil Chade, do Uol.

A ação ocorre após a Câmara dos Deputados ter aprovado, em votação relâmpago, a urgência do projeto de lei. Com isso, a proposta pode ser analisada no plenário a qualquer momento, sem a necessidade de passar pelas comissões temáticas.

O deputado Sóstenes Cavalcante (PI-RJ), autor da proposta, visa modificar o Código Penal, que desde 1940 não penaliza o aborto em situações de estupro ou quando há risco à vida da mãe.

Cavalcante, que é próximo do pastor Silas Malafaia, recebeu apoio para que o tema fosse debatido no plenário, conforme prometido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, em troca do suporte da bancada evangélica à sua reeleição em 2023.

Liz Throssell, porta-voz de direitos humanos da ONU, declarou em Genebra que a entidade está “preocupada com a rapidez na aprovação do procedimento de emergência para essa lei, que equipara o aborto após 22 semanas a homicídio”.

“Estamos preocupados com o fato de que esse procedimento impede um debate sobre o projeto de lei nas comissões parlamentares, e isso é um passo necessário para entender as implicações dessa lei e se cumpre os padrões internacionais de direitos humanos”, disse.

Ela também mencionou que, recentemente, o Comitê sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW) recomendou a descriminalização total do aborto e o acesso garantido ao aborto seguro para mulheres e meninas.

O Comitê alertou sobre o avanço do “fundamentalismo religioso” no Brasil e recomendou que o governo federal legalize o aborto, descriminalize-o em todas as situações, e assegure que mulheres e meninas tenham acesso adequado a serviços de aborto seguro e cuidados pós-aborto. Além disso, sugeriu medidas para combater a alta taxa de mortalidade materna, melhorar o acesso a cuidados pré-natais e pós-natais e abordar problemas como complicações obstétricas, gravidez precoce e abortos inseguros.

“Acesso ao aborto legal e seguro é um direito fundamental garantido pelas leis internacionais de direitos humanos”, enfatizou Throssell. “É crucial para a autonomia das mulheres e meninas e sua capacidade de tomar decisões sobre seus corpos e vidas, livres de discriminação, violência ou coerção”, concluiu.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/onu-condena-pl-do-aborto-e-recomenda-descriminalizacao-no-brasil/

O Projeto de Lei 1904/24, que equipara o aborto realizado após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio simples, viola padrões internacionais de direitos humanos e representa uma ameaça para as mulheres mais pobres do Brasil.

O alerta é da perita do Comitê da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), Leticia Bonifaz Alfonzo.

Em entrevista ao UOL, Leticia destacou que o projeto contraria as normas internacionais. “A CEDAW trabalha com um esquema no qual o ideal é que se deixe um espaço de liberdade até 12 semanas [para um aborto]. Se isso não é possível, pelo menos deve haver uma garantia em caso de estupro ou quando a vida da mãe está em risco”, disse.

“Esses são os padrões internacionais e qualquer ação contrária vai ter reações por parte da ONU. E é por isso que é tão importante continuar acompanhando o que ocorre em Brasília”.

A Câmara dos Deputados aprovou na última quarta-feira (12), em votação relâmpago, a urgência do projeto. Com isso, a proposta pode ser analisada no plenário a qualquer momento, sem a necessidade de passar pelas comissões temáticas.

O projeto é de autoria do deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e contou com o apoio da bancada evangélica. A proposta altera o Código Penal e equipara os abortos realizados após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio simples, além de determinar que, mesmo em casos de estupro, o procedimento não será permitido.

Segundo a perita, as mais ameaçadas pela lei são mulheres com menos poder aquisitivo. “Com os níveis de contraste que tem o Brasil, com a riqueza e apodera, são as mulheres com escassos recursos que recorrem ao aborto clandestinos, e são elas que temos de proteger”, afirmou.

Leticia destacou que, se leis como o PL do aborto entram em vigor, as práticas clandestinas continuam em “situações que colocam risco as vidas dessas mulheres”.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/perita-da-onu-diz-que-pl-do-estupro-viola-padroes-internacionais/

As origens de Hera

Trechos do texto publicado no Ancient Origins.

Por que a literatura grega foi cruel com Hera? Além disso, o que poderia explicar o relacionamento tempestuoso entre Zeus e Hera? Ao examinar as causas por trás do desenvolvimento de seu caráter, os achados arqueológicos – especialmente seus templos – serão revisados para ajudar a determinar o início histórico de Hera e de sua adoração.

Para entender por que a literatura grega foi cruel com Hera, é útil considerar a história pré-grega (ou pré-helênica). No século XVIII a.C., os micênicos – uma sociedade guerreira avançada – invadiram a região do Egeu, conquistando o continente indígena pré-helênico. Representando a primeira civilização caracteristicamente grega, a Grécia micênica dominou a última fase da Idade do Bronze, aproximadamente do século XVIII ao XI aC. Eles são chamados de “primeiros gregos” porque foram os primeiros a usar a língua grega indo-europeia. É certo que os testes de ADN subsequentes revelaram uma herança genética comum entre os gregos de hoje e os seus antepassados micénicos. Embora estivessem inicialmente sob a hegemonia política minóica, por volta de 1400 aC eles adicionaram a lendária ilha minóica de Creta e ilhas próximas à sua longa lista de conquistas, tornando-se a potência dominante na região.

Fonte, citado parcialmente: https://members.ancient-origins.net/articles/pre-hellenic-hera
Traduzido com Google Tradutor.

Outro texto sobre o assunto:

Hera provavelmente se originou como uma deusa pré-helênica da fertilidade, o que corresponde ao seu papel de deusa de todas as fases da vida de uma mulher: menina, nova noiva e velha. Ela é frequentemente confundida com sua filha, Eileithyia, como uma deusa do parto, assim como sua contraparte romana, Juno, com a deusa romana do parto, Lucina. Hera tinha a habilidade única de se tornar virgem novamente todos os anos, banhando-se em uma fonte chamada Canathus.

 Fonte, citado parcialmente: https://uen.pressbooks.pub/mythologyunbound/chapter/hera/#:~:text=Hera%27s%20Origin,new%20bride%2C%20and%20old%20woman.
Traduzido com Google Tradutor.

Eu escrevi em algum lugar sobre as origens de Atena, Afrodite e Hécate. Eu não estranharia se encontrassem indícios da origem de Zeus em solo não helênico.
Isso é um desafio e uma questão intrigante. Eu acreditei que os Deuses Antigos tinham um vínculo com a terra e o povo que ali habitavam. Nem mesmo Javé, que foi "emprestado" na formação do Deus Cristão, tem origem na terra e no povo que Ele escolheu.
Isso deve ser frustrante ao pagão moderno que é racista. Nossos ancestrais eram imigrantes e nós somos todos miscigenados. Nossos Deuses e suas origens refletem isso.
Tudo deve estar conectado. Os Deuses escolheram onde ficar, com qual terra e com qual povo constituiriam uma comunidade.
O problema é quando a "vizinhança" estraga a convivência.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Parece piada...

Foi aprovada na quarta-feira (12), pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a criação do "Dia Municipal do Conservadorismo", proposta do vereador Carlos Bolsonaro (PL) assinada também por Alexandre Isquierdo (União), Felipe Michel (Progressistas), Rogério Amorim (PL) e Zico (PSD). O projeto segue agora para a sanção do prefeito Eduardo Paes (PSD).

O texto do PL1265, proposto em maio de 2022, aponta em sua justificativa que a instituição da data em 10 de março "tem como objetivo rememorar princípios caros ao conservadorismo, como a família, a religião, a ordem, a liberdade".

Feita de forma simbólica, a votação contou com a manifestação contrária de três parlamentares do PSOL na Casa: Mônica Cunha, Monica Benicio e Luciana Boiteux.

Outras cidades brasileiras já aprovaram projetos semelhantes. Em 2023, a Câmara Municipal de Manaus também aprovou a data, que virou lei após a sanção do prefeito David Almeida (Avante). À época, o autor da proposta, vereador Raiff Matos (DC), pontuou que o objetivo da proposta era estimular o conhecimento sobre o conservadorismo, principalmente nas escolas da capital amazonense. "Infelizmente, há uma doutrinação ideológica muito grande nas universidades e nas escolas", lamentou, repetindo um jargão utilizado pela extrema direita.

Neste ano, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro aprovou quatro propostas na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Uma delas nomeava uma escola da rede municipal de ensino como "Dr. Alysson Paolinelli", aprovada em abril. Um outro projeto concedia às pessoas com fibromialgia os mesmos direitos e garantias das pessoas com deficiência no município e uma terceira proposta incluiu no calendário oficial da cidade o Dia de solidariedade da população carioca ao Povo de Israel.

Antes disso, segundo matéria do jornal O Estado de S. Paulo publicada em fevereiro, nos seus 23 anos como vereador na Câmara Municipal carioca, Carlos Bolsonaro havia aprovado menos de um projeto de lei de autoria própria, sem coautoria de outros parlamentares, por ano. De 43 leis aprovadas até então, 19 eram assinadas apenas pelo parlamentar.

Em abril, o vereador apresentou um projeto de lei para proibir a inclusão de cardápios vegetarianos e veganos em creches e escolas públicas do Rio de Janeiro. Segundo ele, trata-se de uma pauta que teria sido “sequestrada pela militância mais radical da esquerda”, que estaria distorcendo a questão.

Fonte: https://revistaforum.com.br/politica/2024/6/15/cmara-municipal-do-rj-aprova-criao-do-dia-do-conservadorismo-proposto-por-carlos-bolsonaro-160539.html

Nota: isso é tão estúpido quanto propor o Dia do Orgulho Hétero, o Dia do Homem, ou o Dia do Orgulho Cristão. O que há de bom no conservadorismo? O Brasil está atrasado por causa disso. Atrelado à extrema direita e ao fundamentalismo cristão, não existe reconhecimento aos direitos reprodutivos.
Pondé escreveu na Folha um texto dizendo que ter filhos atrapalha a carreira das mulheres.
Há o que comemorar?

O fundo do poço


Cada mergulho é um flash. Blitzkrieg, Desert Storm, tudo ao mesmo tempo agora. A avalanche de retrocessos chega em velocidade maior que a da luz. Experimentem ficar 48 horas sem ler notícias. Quanto retornarem, o mundo terá piorado significativamente.

A extrema direita não para, aqui e alhures. A vitória eleitoral de Lula foi um suspiro, um alento, nos deu mais tempo e esperança, deu maiores condições para resistir. Mas foi só isso. O bolsonarismo, o neofascismo e o fundamentalismo religioso seguem em brutal ofensiva, lépidos e faceiros. Comandam a agenda política e legislativa, pautam o debate público, impõe a agenda-setting.

Restringir ou eliminar os direitos sexuais e reprodutivos, ou seja, atentar contra a vida e dignidade das mulheres e de LGBTI sempre esteve na pauta legislativa. Mas, nunca antes esse tipo de proposição teve tanta força no parlamento e na sociedade. Desde o golpe de 2016, mergulhamos num buraco profundo, do qual não saímos. Pior, seguimos em queda sem nem conseguir imaginar onde, afinal está o fundo desse poço.

Os fascistas, homofóbicos, machistas, racistas, negacionistas e estúpidos em geral saíram do armário. E mais, andam por aí orgulhosos de sua escrotidão. Legitimados.

Esse zeitgeist, esse desolador esprit du temp no qual estamos mergulhados é que explica o avanço de aberrações legislativas como “o” (e não “a”, por favor, a palavra projeto é um substantivo masculino) PL 1904-24 de autoria de um pastor da assembleia de deus fluminense, filiado ao PL (partido liberal), que hoje é deputado. Não vou escrever o nome do verme oportunista.

O movimento LGBTI conhece a figura há anos. O problema é que esse tipo de fascistinha, em muito pouco tempo, passou da condição de minoria barulhenta e exótica a maioria social-parlamentar. A escória perdeu o pudor. Os bichos escrotos saíram do esgoto e vieram infestar nosso lar, nosso jantar e nosso nobre paladar. Rastejaram para fora de seus guetos fundamentalistas e agora mandam no país.

Enquanto a revolução não vem, enquanto não tivermos meios para julgá-los e puni-los – seja à maneira do guia genial dos povos, ou então pelos métodos compassivos do grande timoneiro – o que nos resta é muita luta política, ideológica e acionar a justiça burguesa, com base na legislação vigente.

Viva as mulheres! Viva a luta feminista. Nossos corpos nos pertencem.

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/o-fundo-desse-poco

Origens do Poderoso Culto da Serpente

Na mitologia, a serpente simboliza fertilidade e procriação, sabedoria, morte e ressurreição (devido à troca de pele, que não é semelhante ao renascimento), e nas primeiras escolas de misticismo, o símbolo de 'A Palavra' era o serpente. A 'luz' que apareceu foi definida metaforicamente como uma serpente chamada 'Kundalini', enrolada na base da espinha para permanecer adormecida em uma pessoa não desperta. A divindade ou o despertar da divindade e das habilidades latentes veio com os rituais e ensinamentos trazidos pelo povo serpente.

Para compreendê-los, devemos olhar para as “ serpentes” originais. Na China, foi um par masculino e feminino com cabeças humanas e corpos de serpentes chamados Fu Xi e Nu Wa que criou os humanos. Na Suméria, foram Annunaki Nin-Khursag e seu marido Enki que receberam a tarefa de criar trabalhadores. Enki é conhecido por nós como a serpente do Gênesis – aquele que nos deu a capacidade de pensar e raciocinar e por isso foi amaldiçoado por seu irmão Enlil por isso. Para os hindus, foi a serpente cósmica Ananta quem nos criou. Portanto, se, no início da criação do homem, temos um par de seres semelhantes a serpentes que nos criaram, então aqueles do culto da serpente devem ter sido seus descendentes diretos, seja por sangue ou por espírito.

A próxima serpente foi Ningizzidda, filho de Enki, conhecido pelos sumérios, egípcios e tibetanos. De acordo com Zecharia Sitchin, ele morava em Magan, ou o que é conhecido por nós como Egito, levando os teóricos a acreditar que ele foi Thoth quem formou uma escola de mistério propagando ideias de autoaperfeiçoamento e iluminação, promovendo os feitos e a filosofia de seu pai. Se Enki e Ningizzidda governassem Magan como se afirma, então aquela escola teria sido um farol atraindo todos os que desejassem adquirir conhecimento, apoiados pelo poder e poder de Magan. Existe alguma outra prova para essa teoria? Foi afirmado no Concílio de Nicéia que “os poderes dos deuses vieram do Egito”. Havia uma Grande Irmandade Branca (nomeada por suas vestimentas), uma importante escola de mistérios em Karnak. Um ramo dele tornou-se o Terapeutato Egípcio, que na Judéia era conhecido como os Essênios . Jesus, sendo um Essênio, muito provavelmente foi iniciado no Egito nesta escola de mistérios, subindo de nível até se tornar um 'Mestre'.

Eventualmente, os Annunaki perderam o controlo da Terra e da sua população, que estava em rápida expansão, com a humanidade espalhada por todo o mundo formando as suas próprias colónias e estruturas sociais. Aqueles que seguiram a ideologia da serpente teriam se preocupado em manter a relevância enquanto enfrentavam mudanças constantes, novas religiões e ameaças potenciais à sua própria terra, que era rica. Para se protegerem e para encorajar as pessoas a seguirem o seu sistema de crenças, eles enviaram emissários (os 'Iluminados') e encontramos histórias destes Iluminados por todo o mundo. Para simples caçadores e pescadores eles pareciam deuses. Eles não vieram para conquistar as terras, mas sim para ajudar as pessoas, ensinando-as a cultivar, a curar seus enfermos e feridos e a ler as estrelas.

Numerosas culturas antigas em todo o mundo adoravam a serpente, seres como Quetzalcoatl , Cihuacohuatziti e Cihuacohuatl no México e no Peru, o rei Naga da Índia e seus filhos Nagin, Po Nagar no Vietnã, que foi sua primeira imperatriz, e as divindades serpentes que eram belas mulheres associadas a árvores e lagos. A Deusa Cobra do Egito, Wadjet, era protetora da terra, dos reis e das mulheres durante o parto. Em Minoa, a Deusa Cobra era chamada de A-sa-sa-ra-me e estava relacionada com o hitita Ishassara, o Khmer Apsara e o cananeu Asherah. A Irlanda pré-cristã, a Escócia e a Inglaterra também adoravam a serpente.

Contudo, uma figura de proa visitante não foi suficiente para consolidar a posição do culto da serpente, especialmente quando confrontado com novas religiões e reinos que adquiriam poder político e militar. Para esse fim, foram arranjados casamentos politicamente vantajosos com as famílias governantes emergentes. Um príncipe ou princesa serpente casando-se com alguém da família traria comércio, riqueza, conhecimento sobre como formar uma sociedade coerente e os segredos conhecidos apenas pelo culto, que seriam então transmitidos aos filhos resultantes. Foi este poço de conhecimento que deu à nova família governante a vantagem sobre o seu povo e permitiu-lhes reivindicar a “Divindade” – ou superioridade sobre todas as outras. No entanto, a maioria destes casamentos não terminou feliz. 

O rei Dwuttabaung da Birmânia tinha uma princesa Naga como esposa. A capital da Birmânia, Pagan, tinha conselheiros e atendentes Naga. Em alguns relatos, após um desentendimento com sua esposa, ele teria sido morto pelos Nagas.

No Laos, conta-se a história do príncipe Naga Phangkhi, que se apaixonou por uma princesa Khmer, Aikham. Desejando vê-la, mas permanecendo incógnito, ele se transformou em um esquilo, mas infelizmente foi capturado e comido. Seu pai, o Rei Naga, travou uma guerra contra o reino em retaliação, capturando a princesa. O Rei Phadaeng, que também estava apaixonado por ela, foi resgatá-la, mas não teve sucesso, tornando-se o Rei Fantasma e continuando o cerco à capital do Rei Naga.

No Camboja, foi Soma, filha do rei Naga, que foi capturada pelo sacerdote brâmane Kaundinya, que então se casou com ele. Seu pai sugou a água de um terreno pantanoso, criando o país de Kampuchea para o casal.

Em Java, existe uma história que tem alguma semelhança com a Pequena Sereia. É a história de Nyai Lara Kidul, que era casada com o rei humano. Ela era tão linda que suas outras esposas contrataram uma bruxa para torná-la feia. Em desespero, ela pulou no oceano, onde a deusa teve pena dela, transformando-a em meio humana, meio cobra e ungindo-a como Rainha do Oceano. 

Na Índia, os seres serpentes eram conhecidos como Nagin – os filhos do Rei Naga. Várias famílias reais reivindicam linhagem por meio de casamentos mistos em Nagin, incluindo Manipur, Yadavas e Pallavas.

Na Grécia, o exemplo mais famoso é Alexandre, o Grande, cuja mãe era uma participante entusiasta dos ritos órficos , muitas vezes dançando com serpentes enroladas em torno dela. No afresco intitulado 'Zeus seduz Olímpia ', de Giulio Romano; Zeus tem cabeça e torso de humano, mas cauda de serpente. 

Na França, temos a história de Melusina — metade humana/metade peixe (ou serpente), traída por seu marido, que quebrou sua palavra de honrar seu pedido de não incomodá-la enquanto ela tomava seu banho ritual.

Por que, quando os seres serpentes eram conhecidos por sua beleza e traziam tantas vantagens, os casamentos muitas vezes terminavam tão mal? Talvez a princesa serpente tenha sentido falta de casa. Ela também se viu dependente da boa vontade do marido para garantir que seria bem-vinda na sociedade e muitas vezes enfrentou censura, suspeita de suas influências estrangeiras e ciúme total. Incapaz de formar amizades, ela foi condenada ao ostracismo e, caso o afeto de seu marido vacilasse, aqueles que buscavam sua queda atacariam. Em muitos casos, a princesa simplesmente voltou para casa, deixando os filhos para trás. Em outros, ela ou o marido morreriam. No entanto, ela é lembrada através de seus filhos, que nasceram com maior força e inteligência do que aqueles ao seu redor, permitindo à família afirmar a sua reivindicação de que lhes foi concedido o direito divino de governar pelos deuses, sendo os filhos superiores a prova do poder dos deuses.

Fonte: https://www.ancient-origins.net/myths-legends/tracing-origins-serpent-cult-002393
Traduzido com Google Tradutor.

terça-feira, 18 de junho de 2024

Islamofobia na USP

A Rede Universitária de solidariedade ao povo palestino lançou nota de repúdio à palestra promovida pelo Centro de Estudos Judaicos da Universidade de São Paulo (USP) chamada “TERROR FUNDAMENTALISTA ISLÂMICO: ameaça letal à DEMOCRACIA”, por compreender que tal evento incentivaria a islamofobia.

Desde seu nome, a atividade acadêmica realizada na última segunda-feira (11), fomentaria “uma identificação automática e indevida entre a religião islâmica, o fundamentalismo, e o terror”, segundo a Rede, como se esses elementos resumissem a “essência do Islã”, além de trazer o conceito de “democracia” de forma “abstrata, sem definir localidade, país ou contexto social”.

Tal discurso poderia gerar “medo infundado ao islamismo e aos muçulmanos que vivem integrados e de forma pacífica no Brasil”, religião presente no país desde o sequestro e escravização dos malês, grupo de origem nagô e que falavam árabe. Os malês, inclusive, foram protagonistas de uma das grandes revoltas abolicionistas do final do século XIX em Salvador.

“A disseminação de estereótipos anti-islâmicos gera desconfiança e temor, contribuindo para isolar os muçulmanos brasileiros da comunidade brasileira em geral, gerar ódios, culpabilizações infundadas, e expor suas vidas a perigo”, afirma a nota.

Os efeitos da intolerância e racismo religioso contra muçulmanos no Brasil é um tema pouco abordado, ainda que sejam o segundo grupo mais atacado, superados apenas pelos povos do axé (umbanda, candomblé, ifá, culto à jurema, entre outros). As mulheres, principalmente as revertidas, são o principal alvo de discriminação, sofrendo desde agressões verbais e físicas até sendo negadas oportunidades de trabalho.

Sob a coordenação da professora da USP, Francirosy Campos Barbosa, o Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos (Gracias) realizou o primeiro Relatório de Islamofobia no Brasil em 2022. O trabalho possibilitou a organização de dados para dar resposta aos desafios cotidianos enfrentados pela comunidade.

Nesse sentido, organizações como a (Associação Nacional de Juristas Islâmicos) ANAJI oferece serviços jurídicos para amparar em casos de islamofobia, como a luta das mulheres que usam vestimentas religiosas como o hijab, de não serem impedidas de emitir a CNH. Outro caso recente abordado pela ANAJI foi o ataque islamofóbico na Mesquita Abu Baker Assadik, em São Bernardo do Campo (SP), em que um homem invadiu o Jummah Salat (reza de sexta-feira, a mais importante da semana), para desferir insultos e ameaças.

Além do viés islamofóbico, o evento contou com a participação de Zeev Benny Begin, ex-parlamentar sionista “favorável a que o Estado racista de Israel mantenha o controle sobre a Palestina ocupada e à mentira do “direito de defesa” do ocupante e colonizador”, de acordo com nota lançada pelo Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP-USP). Zeev é filho do ex-Primeiro Ministro israelense Menachen Begin, responsável pela milícia Irgun, que realizou expulsões em massa e limpeza étnica contra o povo palestino.

Fonte, citado parcialmente:  https://jornalggn.com.br/cidadania/academicos-repudiam-evento-islamofobico-na-usp/

Nota: como se o terrorismo estatal cometido por Israel não fosse uma ameaça. Como se não tivesse terrorismo cristão. Como se o fundamentalismo cristão não fosse uma ameaça mais tangível na realidade brasileira.

O evangelho dos estupradores

Há muito tempo venho escrevendo nesta coluna que o fundamentalismo religioso precisa ser abortado da sociedade brasileira. Sobretudo, o neopentecostalismo evangélico, um partido político travestido de religião, que defende interesses neoliberais e imperialistas dentro da nossa sociedade. Engana-se quem acredita que a base de sustentação dessas igrejas seja o poder de Deus. O que as sustenta é o poder do capital investido no franqueamento do negócio, que se torna rentável através do dízimo ofertado pelos fiéis por meio da fé depositada no “deus” posto à venda, e que se amplia com a permissividade do Estado que, além de não cobrar os bilhões que essas igrejas devem de impostos à União, ainda amplia a isenção dada a elas, favorecendo a consolidação do seu projeto de poder. Um poder político e social que vai se estabelecendo sob a égide da pauta de costumes e da difusão do pânico moral.

Tomemos como alento a reação popular diante do absurdo que representa o PL 1904/2024, de autoria do Deputado Federal Sóstenes Cavalcante, a voz de Silas Malafaia na Câmara dos Deputados, que propõe encarcerar mulheres vítimas de estupro que abortem os fetos oriundos do crime de violência sexual a que foram submetidas. E com uma pena superior à dos estupradores. Um projeto que pretende nos levar na velocidade das trevas para a era medieval. Apelando para o emocional das pessoas, que estão sendo confrontadas em sua dignidade humana sob um argumento pró-vida, a bancada evangélica tenta desestabilizar política e moralmente o governo e o STF, com uma pauta que sempre foi um grande tabu na sociedade. Convido-os a uma breve reflexão sobre quem é favorável ao aborto. Que mulher seria capaz de engravidar espontaneamente, só para ter o prazer de matar o feto que abriga em seu ventre? Que homem seria capaz de propor que uma mulher engravide, apenas para sentir o prazer de ver o feto sendo morto? Sinceramente, eu acho que ninguém seria capaz disso.

No entanto, apesar de ninguém ser deliberadamente favorável ao aborto, temos uma realidade diante dos nossos olhos. Essa realidade se apresenta através de situações que obrigam algumas pessoas a interromperem uma gravidez indesejada ou de risco. Anencefalia, risco de morte à gestante e estupro, são situações que estão amparadas pela lei. Nos casos de estupro (aborto humanitário) e risco à gestante (aborto necessário), o código penal de 1940 garante à mulher esse direito, por meio do artigo 128, parágrafos 1 e 2. Ou seja, a proposta de Sóstenes Cavalcante, além de desumana, nos leva a um retrocesso civilizatório que pode custar muito caro à liberdade e à autonomia das mulheres brasileiras. Algo que só poderia servir aos dogmas machistas e misóginos da Igreja (evangélica e católica), que sempre subjugou o sexo feminino e limitou as mulheres à condição de dedicadas esposas e férteis reprodutoras. O que é ratificado no posicionamento oficial da CNBB, ao emitir uma nota em apoio ao PL 1904, aliando-se ao neopentecostalismo no processo de encarceramento das liberdades individuais no país.

O que precisa ficar evidente para os fundamentalistas através de reações e manifestações populares, é que a sociedade brasileira não está submetida aos dogmas da igreja evangélica e não irá permitir que estelionatários, empresários e outros picaretas da fé alheia subvertam a ordem democrática em favor de seus interesses mais espúrios. Até porque, Deus não é evangélico e o Estado laico não pode ser convertido. Porém, a chamada “Bancada da Bíblia” pode ser enquadrada, colocada em seu devido lugar e orientada de que ela não manda e nem mandará no país. O enfrentamento a esses vendilhões do templo e da soberania nacional precisa ser intensificado e até tensionado, caso necessário. Sim, estou propondo uma revolta popular contra a bancada evangélica e contra a ordem teocrática que pretende se estabelecer. Se o governo não pode comprar essa briga por questões políticas, nós, o povo que o elegeu, podemos. Afinal, até o poder dessas igrejas emana do povo que garante o seu sustento e a vida luxuosa de seus proprietários. E muitos evangélicos não concordam com a marmotagem ungida praticada pelos lobos vorazes que representam o segmento.

Tenhamos a certeza de que eles estão apreensivos com a reação popular contra o PL do estupro evangélico, e já estão se movimentando diabolicamente para tentar reverter a possível perda de popularidade junto à própria comunidade. Uma das táticas é usar o discurso de que “o inferno está se levantando contra o povo de Deus”, como a deputada Júlia Zanatta, do PL-SC, utilizou na CNN quando lhe faltaram argumentos para se contrapor à deputada Fernanda Melchionna, do PSOL-RS, que escrachou a violência contra a mulher exposta no projeto de Sóstenes Cavalcante. Aliás, a deputada bolsonarista que anda com uma guirlanda de Natal na cabeça, talvez em celebração diária ao nascimento do messias nazista, tem sido usada na linha de frente do fundamentalismo, como um exemplo de mulher combativa às mulheres da “esquerda abortista”. Simone de Beauvoir explica. O que não se explica é ainda termos boa parte da sociedade se permitindo guiar moralmente pela desonestidade política, intelectual e religiosa da extrema-direita brasileira, disfarçada de igreja evangélica no parlamento. Ou seria da desonestidade religiosa da igreja evangélica neopentecostal disfarçada de extrema-direita política?

Mas como dialogar com os evangélicos que, mesmo não sendo fundamentalistas, creem nos dogmas da igreja como sendo divinos e determinados por Deus? Se usarmos a parte boa da Bíblia para nos contrapormos ao discurso que os maus líderes disseminam sobre eles, temos que estar preparados para ouvir e saber contrapor a parte ruim da Bíblia que eles usarão como defesa de sua “fé”. Uma parte do livro que costuma tratar as mulheres como animais de estimação de seus maridos, premiando a sua submissão e punindo a sua desobediência. O curioso é que boa parte dos evangélicos acredita na unção de Israel como terra santa e escolhida por Deus, mas desconhece as leis do país no que se refere ao aborto e ao casamento homossexual, dois temas que eles costumam repreender em nome de um Jesus que os judeus israelenses não têm como senhor e salvador de suas vidas. O aborto em Israel é permitido quando a pessoa gestante tem menos de 18 anos; quando a pessoa gestante não é casada ou quando a gravidez não é do casamento; quando a pessoa gestante tem 40 anos ou mais; quando a gravidez provém de relação incestuosa ou de estupro; quando o feto apresenta probabilidade de doenças; quando a gravidez põe em perigo a vida da pessoa gestante ou lhe causa danos físicos ou emocionais.

A verdade é que estamos falando muito e agindo pouco contra esse fundamentalismo político-religioso. A tentativa de diálogo com os exploradores da fé política tem sido inócua e contraproducente. Estamos lidando com verdadeiros gângsteres do evangelho de Cristo, mafiosos de uma orcrim bíblica que pretende tomar de assalto a sociedade, atribuindo a Deus a autoria do plano. Proprietários de igrejas que, se deixarem de existir, não farão a menor diferença do ponto de vista espiritual, uma vez que Deus não deixaria de existir se elas acabassem. Ou deixaria? Por outro lado, o número de pobres aumentaria e muitos que “trabalham” como pastores, bispos e apóstolos explorando a fé alheia, teriam que trabalhar de verdade e ter muita fé em Deus para sobreviverem como assalariados. CPI das igrejas evangélicas, fim da imunidade tributária para elas e proibição de candidaturas de líderes religiosos aos parlamentos, já seria um bom começo. Aliás, seria o fim do “poder de Deus” sobre a política brasileira.

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/o-evangelho-dos-estupradores-segundo-a-biblia-bolsonarista

A surpresa do voto adolescente

O taxista desce a 9 de Julio, principal avenida de Buenos Aires, enquanto se queixa da "ridícula" presença de Javier Milei na Casa Rosada. "Foram os 'pibes' de 16 anos que colocaram ele lá", reclama. "O que um menino de 16 anos entende de política?" Os números confirmam: os eleitores entre 16 e 24 anos deram 61% dos votos ao picareta de extrema direita que chegou ao poder na Argentina usando as redes sociais e prometendo "destruir o Estado". Será que o voto aos 16, conquista da esquerda, está se voltando contra ela?

O avanço da extrema direita no Parlamento europeu no último final de semana indica que alguma coisa mudou na cabeça dos jovens desde 1988, quando os brasileiros acima de 16 anos conquistaram na Constituição o direito ao voto. Ou pelo menos a partir dos anos 2000, quando as redes sociais começaram a ganhar força. As redes estão na origem da guinada do votante de 16 a 18 anos, naturalmente inclinados à esquerda, se tornarem mais suscetíveis à falácia da "rebeldia contra o sistema" dos Mileis mundo afora.

O Brasil foi um dos primeiros países em aprovar uma lei que reduzia a idade mínima para votar, resultado da forte mobilização das entidades estudantis que antecedeu a primeira eleição direta para presidente pós-ditadura. Ulysses Guimarães era contra (a maioria dos países do mundo até hoje utiliza a idade de 18 anos), mas a mudança acabou sendo aprovada.

Na Argentina, foi a partir de 2012 que os jovens de 16 em diante foram autorizados a votar, uma lei sancionada pela então presidenta Cristina Kirchner. Na Europa, o voto aos 16 começou na Áustria, em 2007. Nesta eleição ao Parlamento, belgas, alemães, gregos e moradores da ilha de Malta menores de 18 anos estiveram aptos a votar. Atualmente há projetos reduzindo a idade do direito ao voto em vários outros países, inclusive nos EUA.

Os extremistas de direita sempre se posicionaram contrários ao voto aos 16 por temer a hegemonia da esquerda nesta parcela do eleitorado –afinal, "ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética", como dizia Che Guevara. Em 2018, o partido neonazista alemão AfD (Alternativa para a Alemanha) recorreu à Justiça quando a redução na idade para votar foi aprovada, argumentando que os partidos de esquerda e os verdes só queriam autorizar o voto aos 16 porque isso iria beneficiá-los –na eleição para o Parlamento europeu em 2019 os jovens votaram maciçamente nos verdes.

Em março de 2022, Jair Bolsonaro reclamou publicamente da campanha feita por artistas e influenciadores de esquerda para que os jovens maiores de 16 anos fossem tirar o título para votar contra ele. Até astros hollywoodianos, como Leonardo Di Caprio e Mark Ruffalo, se juntaram ao movimento, que se mostrou vitorioso: 2,04 milhões de novos eleitores nessa faixa de idade se registraram para votar em 2022. Bolsonaro chegou a pedir a pais e avós que tentassem convencer os filhos a votar nele. De nada adiantou: Lula ganhou de lavada entre os mais jovens.

Acontece que as redes sociais vêm ajudando a extrema direita a convencer cada vez mais adolescentes de que elegê-los seria um "voto de protesto contra o sistema", duas falácias absolutamente contraditórias. Ora, se o "sistema" é o capitalismo e a extrema direita é capitalista, como é que se pode ser "contra o sistema" e votar na extrema direita? Por outro lado, qual jovem do mundo não gosta de protestar "contra o sistema"? O candidato que conseguir usar as redes para transmitir essa ideia sairá em vantagem –e se os algoritmos favorecem a extrema direita, bingo.

O truque narrativo que está atraindo os jovens é o "anarcocapitalismo" preconizado por Milei e outros extremistas de direita mundo afora, disfarçados sob o epíteto de "libertários". O conceito é uma contradição em termos, já que o anarquismo é de esquerda e anticapitalista. Mas encontra eco nas cabecinhas despolitizadas dos adolescentes aptos a votar porque concretiza a "utopia" de poder ser "capitalista" e "antissistema" ao mesmo tempo. Teria o anarcocapitalismo substituído o socialismo e o comunismo nos ideais dos jovens? Em boa parte deles, sim, e é o que explica o voto na extrema direita.

Milei descobriu o anarcocapitalismo em 2008, após ler um artigo do economista norte-americano da escola austríaca Murray Rothbard que recebera de um colega. O atual presidente argentino tinha então 38 anos e considera a leitura do artigo um turning point em sua vida. Durante os anos que antecederam a vitória na eleição, Milei não se intimidou em pagar mico fazendo cosplay de "general Ancap", e seus apoiadores lançaram até um gibi com o mesmo nome. Enquanto a esquerda achava ridículo, Milei ganhava pontos entre os "pibes".

Rothbard, um discípulo de Ludwig von Mises, cunhou o termo "anarcocapitalismo" em 1971. A principal diferença do anarcocapitalismo para o anarquismo é que os primeiros pregam a inexistência do Estado, mas defendem com unhas e dentes a propriedade privada, enquanto para os anarquistas originais "a propriedade é roubo" (Proudhon). Tanto é que alguns intelectuais defendem que o "libertarianismo" dos Ancaps deveria ser chamado de "proprietarianismo", já que advogam a "liberdade" de utilizar a terra a seu bel-prazer, até mesmo o direito de derrubar uma floresta se assim o desejarem, mas ai de quem falar em reparti-la.

Com essa falácia na cabeça e as redes sociais em mãos, a extrema direita avança entre a juventude. Na Alemanha, nestas eleições para o Parlamento, os populistas de extrema direita do AfD cresceram em todas as faixas etárias, mas tiveram seu maior sucesso entre os jovens: em 2019, um em cada três eleitores alemães com menos de 24 anos escolheram o Partido Verde, enquanto a AfD conseguiu apenas 5% dos votos entre os jovens; em 2024, 16% dos jovens votaram na extrema direita enquanto os verdes viam encolher sua bancada. A AfD foi apelidada de "partido tiktok", tamanha a influência da rede no fenômeno.

Na Espanha, 25% dos votantes entre 18 e 24 anos disseram que iriam votar em partidos de extrema direita nas eleições europeias (Vox e Se Acabó la Fiesta); na França, o partido de Marine Le Pen era a escolha mais popular do grupo entre 18 e 34 anos. A explicação para isso está no uso das redes sociais: segundo uma pesquisa feita pelo Parlamento Europeu entre os jovens em 2021, 64% deles usam o instagram e 25% usam o tiktok para se informar.

Agora, os extremistas de direita saltam direto das plataformas com milhões de seguidores para a política, como aconteceu com Fidias Panayiotou, jovem youtuber de 24 anos do Chipre que foi eleito deputado europeu sem saber nada de política, como ele próprio admite. Na Alemanha, onde os jovens de 16 anos votaram pela primeira vez, Maximilian Krah só não foi eleito deputado porque acabou sendo excluído da AfD devido ao envolvimento em escândalos como passar pano para a SS nazista e a acusação de ser espião chinês.

Krah havia ganhado notoriedade ao afirmar no tiktok que "homens gentis" e eleitores do partido Verde não arranjam namorada. "Um em cada três jovens homens na Alemanha nunca tiveram uma namorada. Você é um deles? Não assista pornô, não vote nos verdes, vá para a rua tomar ar fresco. Seja confiante. E acima de tudo não acredite que você precisa ser suave e gentil. Homens de verdade estão na extrema direita. Homens de verdade são patriotas. É assim que se arranja namorada!"

A França, cujo parlamento foi dissolvido por Emmanuel Macron após a eleição, corre o risco de ter como primeiro-ministro Jordan Bardella, um extremista de 28 anos alcunhado "rei do tiktok". Bardella, que, como Bolsonaro, Milei e outros enganadores de extrema direita se diz "apolítico", tem 1,6 milhão de seguidores na rede chinesa –Lula possui 4,6 milhões, Bolsonaro 5,6 milhões e Donald Trump, que entrou no tiktok há menos de um mês, já tem 6,1 milhões de seguidores.

Todo este fenômeno, segundo os especialistas, é resultado direto do confinamento durante a pandemia, quando os jovens que estão com 16 anos ou menos agora estavam trancados em seus quartos, solitários, sem amigos, sem fazer esporte, sem se divertir fora, à mercê das redes sociais. Qual é o pai ou mãe que não está enfrentando este problema?

Os partidos da direita radical estão cortejando ativamente o voto dos mais jovens, disse o professor de Ciência Política na Universidade Livre de Bruxelas, Dave Sinardet, à BBC. "A direita radical canaliza sentimentos anti-establishment. Eles têm uma vibe um pouco rebelde, especialmente quando se trata de sua agenda anti-woke (anti-identitária), e isso atrai os jovens. O tiktok e o instagram servem ao tipo de mensagens que a direita radical quer espalhar. Vídeos simplistas e sem nuances sobre questões como imigração, segurança e gênero.”

A esquerda precisa estar atenta a esta guinada que ainda não ocorreu no Brasil para que ela não dê as caras já nesta eleição de 2024. Em dezembro do ano passado, durante a Conferência Nacional da Juventude, o presidente Lula, que sabe bem mais de política do que nós, já advertia para a questão e conclamava os jovens a se comprometerem com a conscientização política da juventude. "Qual é o trabalho que vamos fazer com os milhões de jovens que ainda não nos entendem?”, questionou Lula.

“Como vamos tratar esses milhões de jovens? 65% votaram no Milei, de 16 a 24 anos de idade. Como é que a gente vai competir na formação política dessa juventude, que está abandonada na periferia, sendo violentada todo dia com a indústria da fake news, da mentira, da destruição?", provocou. Da resposta a estas perguntas depende o futuro da esquerda e a derrota da extrema direita no mundo.

Fonte: https://revistaforum.com.br/blogs/socialista-morena/2024/6/12/conquista-da-esquerda-voto-aos-16-anos-esta-se-voltando-contra-ela-160364.html