domingo, 30 de junho de 2024

Witchsplaining

De acordo com o Wikipédia:

Mansplaining (do inglês: man = homem, e splaining = a forma informal do verbo explain, que significa explicar) é um termo que significa "(um homem) comentar ou explicar algo a uma mulher de uma maneira condescendente, excessivamente confiante, e, muitas vezes, imprecisa ou de forma simplista".

Eu usei minhas habilidades como artífice das palavras e criei a palavra witchsplaining.
Eu vou usar esse termo para definir quando uma pessoa, que se coloca em um pedestal, tentativa explicar "ex-catedra" o que é Bruxaria.

Lembrando que o que nós estamos fazendo é uma reconstrução cultural. Lembrando que, a bruxa, nas lendas e mitos, faz referência a uma existência sobrenatural, não humana. Lembrando que muito do que hoje é descrito e chamado de Bruxaria é resultado de livros, sem conhecimento acadêmico, influenciados pela cultura popular.

A única forma de conhecer e praticar a Bruxaria é mergulhar em muitos livros e em incansáveis experiências.

Dito isso, vejamos o que Joey Morris tem a nos contar na coluna Celtic Hedge Witch, na seção Pagan, no Patheos, sobre Bruxaria.

"Você já notou a simplificação excessiva da Bruxaria nas redes sociais? Eu tenho. Pode ser muito prejudicial, então pensei em abordar alguns deles."

Não fode, Joey. Provavelmente você teve contato com a Bruxaria pelas redes sociais. Você provavelmente foi mais uma adolescente deslumbrada com os livros sobre bruxaria e Wicca, que maís parece um manual de auto-ajuda com uma mistura kitsch de esoterismo.

"Alegação: Uma bruxa não é algo que você compra!!!
BEM, NA VERDADE… comprar e apoiar negócios espirituais e de bruxas é uma parte regular da comunidade onde você compra produtos e serviços de bruxas. Isso vem acontecendo desde que era um sistema de troca e as bruxas não eram chamadas de bruxas."

Ops. Contradição. O sustento de templos e o comércio de assistência espiritual era algo voluntário. A autora comete contradição ao dizer que isso era normal em um tempo onde as bruxas não eram chamadas de bruxas, portanto, não são as mesmas pessoas ou ocupações.
Outra coisa bem diferente é fazer propaganda. Sobretudo cobrar por iniciação. Como cidadão do Paganistão, eu fico embaraçado com a forma que pessoas, supostamente "bruxas", mais parecem mercenárias. Falando por experiência própria, eu sinto enjôo quando visito uma feira direcionada aos meu povo. Eu chamei de seven-eleven por delicadeza.

"Alegação: Uma Bruxa não é algo que você veste!
BEM, NA VERDADE… Eu entendo que as pessoas ficam irritadas quando é tudo estética e nenhuma substância."

Novamente, eu posso falar por experiência própria. Qualquer reunião de "bruxas" mais parece uma convenção de cosplay. As pessoas que foram acusadas e condenadas por praticar bruxaria vestia roupas locais e da época.
Ser uma bruxa (ou bruxo) requer uma preparação espiritual e um certo contrato com o Mestre do Sabá. Mas vamos falar baixo para não acordar os iludidos.
Como diz o ditado, o hábito não faz o monge.


"Alegação: Uma bruxa não é algo que você posta…
BEM, NA VERDADE… Presumo que seja uma postagem on-line, em vez de colocar coisas no correio. ENTÃO… censura ? As bruxas já escrevem sobre suas experiências há algum tempo, e elas são bons recursos (espero) para outras pessoas."

Bingo. Joey revela (assume) que é mais uma "bruxa" de internet. Não que essa ferramenta seja ruim, mas também tem muita coisa que não cheira bem, como o Witchtok.
As pessoas que foram acusadas e condenadas por praticar bruxaria, em sua maioria, não sabiam ler ou escrever. Quem escreveu sobre ou a respeito de bruxas e bruxaria foram os padres. Mais tarde surgiram trabalhos acadêmicos no campo do folclore e da antropologia.
Os livros de bruxaria que podiam ser encontrados, alguns textos oriundos da Antiguidade, não foram escritos pelas "bruxas".
Charles Godfrey Leland e Margareth Murray foram alguns dos percursores. Depois veio Gerald Gardner. Quando se tornou mais um produto de consumo de massa, a Bruxaria começou a ganhar as prateleiras das livrarias, por autores nem sempre confiáveis.
A internet apenas impulsionou essa massificação.

"Alegação: Uma bruxa não é algo que você age…
BEM, NA VERDADE… esta parte do post insinua que agir como se algo fosse diferente de incorporá-lo. E novamente, entendo a frustração.'

Ops. Lembra que eu disse que o que nós fazemos é uma reconstrução cultural? Pois então. Muito do que é apresentando como "bruxaria" é produto mais da cultura popular do que Bruxaria. Maldito seja o witchtok.

Não foi dessa vez, Joey. Melhor sorte na próxima.

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