Eis um trecho do capítulo do evangelho de Mateus, onde Jesus anuncia profeticamente a destruição do templo de Jerusalém, e enumera outras coisas que iriam acontecer como prenúncio do fim. Entre elas, o surgimento de falsos profetas que viriam em seu nome para enganar os incautos e desavisados.
Em se tratando da “igreja de Cristo” no Brasil, eu incluiria a essa lista de intempéries sócio religiosas uma CPI que investiga os abusos financeiros cometidos por boa parte das igrejas evangélicas brasileiras, sob a bênção de um Estado omisso que ainda garante a essas instituições religiosas o beneplácito da imunidade tributária, estendendo a renúncia fiscal para outras associações supostamente beneficentes ligadas a elas. Sem falar nas prebendas, o salário dos pastores, que foram isentas de imposto de renda numa canetada dada pelo governo Bolsonaro.
Uma CPI sobre essas igrejas evangélicas não deixaria pedras de Hebron sobre pedras de Hebron. As mesmas que foram transportadas em toneladas para a construção do Templo de Salomão, de propriedade do empresário da fé Edir Macedo, sem que a receita federal pudesse cobrar um centavo sequer de impostos sobre a importação.
Justiça seja feita, em 1997 a Receita Federal já havia tentado enquadrar a Igreja Universal cobrando impostos devidos e não pagos, sob a pertinente afirmação de que a referida instituição religiosa praticava atividades visando lucros, se aproveitando da imunidade tributária que a constituição oferece às igrejas.
Na época, os valores devidos foram estimados em R$ 98,360 milhões e uma notificação foi entregue à igreja. A autuação resultou de meses de investigação onde a Receita identificou atividades comerciais suspeitas realizadas pela IURD nos anos de 1991, 1992, 1993 e 1994, o auge do charlatanismo de Edir Macedo no Brasil. Período onde a sua empresa faturou rios jordões de dinheiro com dízimos, doações e outras estripulias ungidas. Donde concluiu-se que a igreja atuava como um banco e usava seus recursos para fazer empréstimos para vários de seus dirigentes.
O custo para a construção do suntuoso e farisaico Templo de Salomão, em São Paulo, foi avaliado em R$ 400 milhões e, mais uma vez, chamou a atenção da Receita Federal que em 2013 foi cobrar os impostos referentes a importação de materiais utilizados no adorno do castelo de Macedo. Foi calculado um débito total de 1,8 milhão de reais que seriam devidos no recolhimento do ICMS por esses produtos e 615.000 reais em outros impostos, como o IPI.
Se fizermos uma pesquisa mais detalhada, perceberemos que líderes religiosos de igrejas evangélicas estão entre os maiores sonegadores e devedores de impostos do país.
Silas Malafaia e sua voz nauseante que parece eclodir de um gargalo entupido, mantém uma dívida de R$ 4,6 milhões em impostos com a União, segundo matéria do UOL de 2021, cujas informações foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação.
Segundo outra matéria do UOL, também de 2021, a Igreja Internacional da Graça de Deus, empresa de propriedade de R.R Soares, cunhado de Edir Macedo, possui débitos inscritos na dívida ativa da União de R$ 162 milhões, de acordo com dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Algo que o deputado federal David Soares (DEM-SP), filho de R.R, cuidou de resolver criando o PL 1581/2020, uma emenda que regulamenta o acordo direto para pagamento com desconto ou parcelado de precatórios federais.
Outro homem de Deus que está enrolado em dívidas com a União é o apóstolo Valdemiro Santiago, aquele que gosta de usar chapéu de fazendeiro. As dívidas de impostos da Igreja Mundial do Poder de Deus, empresa de sua propriedade, triplicaram entre dezembro de 2018 e setembro de 2021, saltando de R$ 48,66 milhões para R$ 171,6 milhões.
A maioria das pendências está relacionada com a folha de pagamento da igreja, como contribuições previdenciárias e imposto de renda retido na fonte de FGTS. Ou seja, o ungido do senhor está dando calote nos direitos trabalhistas dos seus funcionários. Não por acaso, sua empresa foi surpreendida por uma greve onde os colaboradores cobravam os seus direitos. Vale lembrar que Valdemiro foi o primeiro a ser vítima de uma facada que o transformaria em mártir do evangelho de Cristo. Por pouco não vira presidente da república.
Marco Feliciano, o pastor deputado dos dentes de ouro, devia R$ 47.582,69 ao INSS em 2017, segundo matéria do site Repórter Brasil. Uma dívida que também deve ter aumentado consideravelmente, tendo em vista que o governo Bolsonaro do qual o sorriso mais caro do Brasil era apoiador, não cobrou essa fatura.
São apenas alguns dados que demonstram o porquê que não devemos ter líderes religiosos ocupando cargos públicos. A bancada evangélica no Congresso foi a responsável pela derrubada do veto presidencial ao dispositivo que concedia anistia aos tributos devidos por igrejas, que totaliza mais de R$ 1 bilhão em dívidas registradas com a União. Curiosamente, a derrubada do veto teve o apoio de quem o havia determinado, o então presidente Jair Bolsonaro.
Na Câmara, 439 deputados votaram pela derrubada do vetado, enquanto que no Senado 71 parlamentares ratificaram a decisão imoral. Uma demonstração de força de um segmento religiosos que pretende exercer o poder no país em todas as esferas, contando com a covardia de um Estado cada dia menos laico e com o bundamolismo do povo brasileiro que assiste passivamente a essa orgia abençoada pelo dinheiro público.
Qual é o nosso medo diante dessa patifaria? Será que acreditamos que Deus está ao lado dessa gente hipócrita e desonesta? Será que tememos Jesus voltar e nos castigar por ter feito os seus representantes comerciais pagarem os impostos que eles deviam?
Aliás, se esses mandriões da fé pregam a volta de Jesus, é porque eles não acreditam que ele esteja presente em suas igrejas. Se é a presença espiritual de Jesus que eles invocam para fazer os milagres que alardeiam, ele já deve estar entre nós. Não seria a sua presença física que iria alterar o curso de seus “projetos”.
A não ser que ele volte para destruir essa igreja que está corrompendo a fé das pessoas, sonegando impostos que poderiam ser utilizados em políticas públicas e projetos sociais em assistência aos mais pobres e vulneráveis – como Jesus pregava – e enriquecendo seus líderes em detrimento das necessidades de seus fiéis.
Tenho a certeza de que Jesus Cristo seria o primeiro a assinar essa CPI para investigar as igrejas evangélicas. Se Pilatos lavou as mãos diante da inocência do seu sangue, Malafaia, Macedo, Feliciano e afins, podem estar lavando dinheiro em troca do mesmo sangue.
Acabar com a imunidade tributária das igrejas, proibir que líderes religiosos exerçam cargos políticos e punir judicialmente instituições religiosas que fazem campanha política em seus templos sob a égide de um culto a um deus verdadeiro, é o novo evangelho de Cristo para esta nação.
O ideal de igreja sem partido deve ser propagado em nome de Jesus por todos aqueles que, independentemente de credo religioso, já estão fartos de verem o nome de alguém que nunca esteve envolvido em pilantragem, chafurdar na lama ungida por falsos profetas e doutores da lei religiosa deste tempo.
O sinédrio de hoje precisa pagar pelo que o sinédrio de ontem fez há dois mil anos. E vai pagar!
Fonte: https://www.brasil247.com/blog/cpi-das-igrejas-evangelicas-ja
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