segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

O testemunho popular

Eu acabei de ler "Magia e Religião na Inglaterra Medieval" de Catherine Rider.

Antes eu li o livro "Magia no Mundo Grego Antigo", de Derek Collins. Fica bem nítido que as crenças antigas, as práticas populares, chamadas pejorativamente de "superstição", sobreviveram mesmo depois da imposição do Cristianismo.

Eu devo ter escrito sobre como o Cristianismo passou por uma adaptação, assimilando e sincretizando as crenças e práticas antigas. As pessoas acrescentaram ao seu repertório as ferramentas que o Cristianismo dispunha.

A fronteira entre a religião permitida e proibida, entre práticas autorizadas pela Igreja e o que foi chamada de "experimento", "magia", "heresia" e "bruxaria" não estava bem definida.
Foi por volta do século XV que começaram as denúncias e os testemunhos. Mesmo considerando as bulas do século XII e as ações da Igreja contra a heresia, a perseguição, prisão, tortura e morte de pessoas (inocentes) pelo chamado Santo Ofício (Inquisição) ocorreu no início da Era Moderna.

A prática de magia (heresia/bruxaria) tornou-se uma questão legal e jurídica depois que autoridades (seculares e clericais) viram que esse era um fenômeno arraigado.
Tornou-se um problema porque era (ou parecia ser) eficiente em sua execução.
O que era um problema. Muita discussão teológica aconteceu e os regimes tinham que tomar providências porque foram detectados atos de magia contra o rei.
As pessoas falavam sobre a existência de seres sobrenaturais, sobre ver fadas voando. A existência desse mundo paralelo somado ao folclore que sobreviveu de forma sincrética deu a imagem e a ideia inicial das bruxas, de seus rituais, de seu pacto com o "Diabo" e de suas "assembléias".
Tratados de e sobre bruxaria foram escritos (e praticados) pelos padres. Curiosamente medidas contra a ação da magia (bruxaria) envolvia práticas mágicas. Muitas das pessoas assassinadas no Santo Ofício eram pessoas contratadas (magos e bruxos) para combater a bruxaria, porque foram igualmente acusadas de heresia e bruxaria.
Foi embaraçoso para os pensadores e regentes da Era Moderna que o genocídio causado pela Inquisição tenha ocorrido ao mesmo tempo que se falava em Renascença e no Iluminismo. Por isso teve um esforço para acusar a Idade Média, a Igreja e tentaram desacreditar os testemunhos (muitos dados voluntariamente) sobre as bruxas e suas assembléias. Mas as mãos desses pensadores e cientistas também estavam manchados com o sangue dos inocentes.
Ainda nos nossos dias, pesquisadores, pensadores, céticos, descrentes, psicólogos e psiquiatras tentam negar, apagar, as bruxas e suas assembléias.
Quanto mais tentam esconder, omitir e negar, mais tornam evidente que isso é necessário porque funciona, porque é eficiente.
Quem tiver ouvidos, ouça. Quem tiver entendimento, entenda.

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