Nós nascemos em um meio social e adquirimos diversos valores que nos dizem como devemos nos vestir, como devemos nos portar, o que devemos comer, qual a melhor profissão a seguir, qual o melhor carro a comprar, por quais propósitos devemos lutar, o que devemos realizar para sermos considerados bem sucedidos.
Acabamos perdendo nossa perspectiva, nosso eixo e felicidade, perseguimos coisas e riquezas, isso geralmente conduz a sofrimentos, frustrações e decepções. Criamos um conceito artificial de felicidade extremamente materialista, individualista e egoísta e a solução não está em criar outro conceito artificial de felicidade, idealizando um Nirvana ascético.
Não nascemos por acaso, ganhamos uma vida e um corpo para realizar algo com o que temos, o que seria de todos os mestres iluminados sem um corpo carnal? O corpo é a ferramenta, como tal segue a inclinação de seu instrumentador, querer fazer da ferramenta a origem de nossos males é uma covardia comodista.
Mas então, muitos devem chegar na metade da vida e se ver em meio a um emprego que detesta, cheio de coisas que quase não usa ou são completamente inúteis e pior, está em um relacionamento que começou desgastado por falta de qualquer atração ou afeto.
Nos vemos rindo de piadas estúpidas, julgando as pessoas por sua aparência, escolaridade ou opções feitas. Nos olhamos no espelho e parecemos uma árvore de natal, carregados de adornos, objetos, coisas, símbolos de status que de repente não fazem mais nenhum sentido a não ser de transformar você em um alvo do crime.
Para muitos, este é o momento da crise de meia-idade, nos deparamos diante de um dilema existencial de dimensões épicas e estamos muito acostumados com esse jeito de ser para tentar mudar, não somos mais jovens que tem a vida inteira para experimentar e corrigir os erros cometidos nessa experiência.
Acabamos nos enganando: para resolver o marasmo profissional, abrimos um negócio próprio ou tentamos encontrar um novo emprego e percebemos o quanto obsoletos nos tornamos; para aliviar a rotina doméstica, procuramos relacionamentos aventureiros e multiplicamos as despesas e as responsabilidades; para diversificar nosso círculo social, entramos em comunidades virtuais para aumentar nosso número de amigos e nos vemos cercados de mais gente que nos sorri, dá tapinha nas costas, mas são totalmente superficiais; para diminuir o sofrimento com essa vida, procuramos conforto em organizações religiosas e acabamos com uma promessa de felicidade futura que cobra hoje uma fidelidade militar.
Pois então tentamos corrigir apenas partes de nossas vidas que parecem desgastadas, quando estas são apenas as conseqüências mais visíveis das escolhas ruins que fizemos durante a vida. Tentamos acertar, desesperadamente, como se tivesse uma resposta certa, mas não há.
As experiências ruins servem para nosso amadurecimento, fazem parte daquilo que somos, olhar para trás e ter arrependimentos ou remorsos é aumentar a sombra, a cisão de nossa natureza e essência. Também não devemos ter medo de errar ou tentar modificar profundamente nossos valores, o tempo que temos de vida serve exatamente para isso e é daquilo que fazemos efetivamente nessa encarnação que teremos como conseqüência no pós-vida, para o bem ou para o mal, sempre esteve em nossas mãos, os Deuses não nos julgam nem nos condenam.
Dar o passo seguinte, tentar melhorar, dar prioridades aos nossos sonhos, estabelecer quais as necessidades que queremos manter a longo prazo, aprender a se gostar para ser gostado por outros e gostar de outros, conservar a riqueza da família e das boas amizades, ter bens e riquezas dentro do razoável, modificar hábitos de alimentação e estilo de vida, ingressar em uma religião para melhorar nosso relacionamento com os Deuses, simplesmente viver cada dia sem idealizar recompensas futuras. Isto é o que eu conheço como sendo os princípios do Paganismo.
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