No Patheos, na seção Pagan, na coluna Light Your Path, Emily Guenther inicia sua postagem com uma pergunta.
“Quem é a Deusa?”
Em alguns textos aqui eu mesmo tentei abordar a natureza do Deus e da Deusa.
Não é fácil nem simples falar do Deus no meio do Paganismo Moderno, onde predomina a presença das religiões da Deusa.
O Paulo não deve ter entendido quando eu disse que o ateísmo é baseado na firme convicção da inexistência do sobrenatural. O Paulo não deve ter entendido quando eu disse que, se algo só existe, só é válido, quando tem evidência de existência, confere um caráter transcendental, metafísico, até espiritual, às evidências. Eu duvido que ele entenda algum dia que a religião não é o problema. Essa merda toda começou quando começou a ter organizações religiosas.
O que não falta no Paganismo Moderno são celebridades, cagando regra para o público, até aparecer um inconveniente (eu), que não os idolatra e desmonta os argumentos com conhecimento acadêmico.
Lamento, Emily, mas eu vou desmontar seus argumentos.
“Acredito que os deuses são geralmente activos no nosso mundo e nas nossas vidas, mas sinto como se a Deusa estivesse a fazer com que a Sua presença fosse sentida de forma mais óbvia agora.”
Isso é um problema, não uma solução. Os Deuses sempre estiveram presentes. Essa é uma concepção moderna, conceitua-se que os Deuses são transcendentes e imanentes.
Nós voltamos as costas aos Deuses e aceitamos um Deus e uma crença impostos.
“A Deusa é a personificação do divino feminino. O divino feminino é uma energia dentro de tudo e de todos que é frequentemente associada à compaixão, carinho, perdão, intuição e empatia.”
Tem um ditado ou pegadinha que pergunta quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. Óbvio que a resposta é o ovo, afinal, as galinhas não são os únicos animais que botam ovos. E as galinhas são descendentes desses animais, os répteis.
O divino feminino foi um conceito formado a partir da concepção moderna da Deusa. Um conceito poético muito belo, onde o divino está dentro de nós. Isso ressoa docemente em meus ouvidos, pois toda mulher é uma manifestação da Deusa. Conciliando com o conceito de que o corpo, o desejo, o sexo e o prazer são atos sagrados, toda mulher é uma sacerdotisa. Então porque o Paganismo Moderno tenta apagar o sexo da Deusa e tem adotado um certo puritanismo?
“As energias do divino masculino e do divino feminino estiveram presentes em várias tradições espirituais e sistemas de crenças ao longo da história. Você pode encontrar listas explicando que a energia masculina divina geralmente representa qualidades como força, ação, lógica e racionalidade, enquanto o Feminino Divino representa qualidades como intuição, carinho, criatividade e inteligência emocional.”
Essa é uma interpretação superficial, generalizada e provinciana, tanto da história, quanto dessas várias tradições espirituais. Inclusive as designações de cada energia carrega em si inúmeros preconceitos.
“A Deusa é a personificação do Divino Feminino. Ela tem sido adorada em todo o mundo desde que os humanos desenvolveram inclinações espirituais.”
O pagão moderno tem que entender, definitivamente, que essa é uma concepção romântica idealizada a partir de uma interpretação muito equivocada de indícios arqueológicos.
A Deusa, tal como a concebemos, é, digamos, uma invenção moderna. A ideia de que a Deusa é todas as Deusas foi cunhada por Dion Fortune, da Teosofia, uma das muitas influências que formaram o Paganismo Moderno.
*Embora a Deusa não estivesse escondida nas antigas culturas pagãs, ela teve que se esconder quando o cristianismo foi imposto ao mundo.”
As Deusas, bem como os Deuses, foram “apagados”. Templos, estátuas e livros foram proibidos, destruídos. Mas isso antecede ao Cristianismo. Esse projeto pertence às religiões abraâmicas. Judaísmo, Cristianismo e Islamismo.
Felizmente essa dominação e erradicação não foi total. As religiões abraâmicas tiveram que assimilar, sincretizar, as crenças e folclores antigos para conseguir crescer e ampliar seu reinado. Foi apenas uma questão de tempo e questionamento para que a humanidade lembrasse suas origens, suas raízes e os Deuses.
“A Deusa deu à luz a todos nós. E ao fazer isso, Ela deu a cada um de nós um pedaço dela para carregar, para nos conectar com Ela e para garantir que encontraríamos o caminho de casa no final da nossa jornada.”
O Deus tem sua parte em nossa concepção e em nossa fagulha divina. O Deus também vive dentro de cada um de nós. Ele é o conhecedor dos caminhos e doador dos saberes.
Nunca, jamais, devemos transformar a Deusa em uma mera versão feminina de Yahweh.
Nunca, jamais, devemos nos esquecer nem negar o Deus.
Nossa caminhada apenas começou e estamos muito longe de casa. Minha única recomendação é que essa busca seja pessoal, privada e íntima.
Aquilo que encontrar, será a sua verdade. Mas não será a única.
Quem tiver ouvidos, que ouça.
Quem tiver entendimento, que entenda.
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