Primeiro foram os olmecas, que faziam uma bebida com o ingrediente para utilizá-la como remédio e como condutor de estados mais conectados num sentido espiritual. Depois vieram os Maias, que aperfeiçoaram a bebida com outras especiarias, como pimentas. Já os astecas, no século 15, utilizavam o cacau como moeda de troca e também como afrodisíaco. Eles acreditavam que o alimento era um verdadeiro presente dos Deuses.
"A origem exata do uso do cacau em ritualísticas é misteriosa, não temos como rastreá-la porque é realmente muito antiga. O que sabemos é que civilizações originárias das Américas, como os maias e os olmecas, já faziam celebrações e ritos espirituais com o uso do cacau", diz Marilia Lins, estudiosa e facilitadora do chamado Cacau Sagrado, que tem sido buscado por inúmeros terapeutas e espiritualistas nos últimos anos.
Marilia conta que o resgate dessa tradição surgiu com Keith Wilson, há aproximadamente 15 anos, nos Estados Unidos. O americano foi responsável por trazer o alimento como protagonista de uma busca espiritual dentro do que podemos chamar de nova era. Sua jornada, porém, começou ao morar em uma fazenda de cacau em 2012, na Bahia. Desde então, ela percebe como o alimento transformou sua vida, principalmente profissional, visto que deu origem à Cacao Shakti, sua empresa.
"Muitas pessoas que buscam ou que oferecem o Cacau Sagrado hoje em dia trazem essas origens para que seja possível entender o valor que o cacau tem desde nossa ancestralidade. Essa busca é algo muito forte no meu trabalho, por isso estou sempre estudando essa forma antiga de utilizá-lo, a fim de compreender ao máximo seu papel espiritual", conta a facilitadora.
Marilia destaca que entre as cerimônias que podem ser feitas utilizando a bebida preparada com cacau estão ritos de passagem como aniversários, casamentos e até mesmo ritualísticas que têm como propósito a comunhão com o divino. Afinal, ele vai trabalhar nossas relações e a capacidade de expandir o coração e a amorosidade. Como é um alimento muito associado à prosperidade, também é possível trabalhar a abundância.
"Como as pessoas hoje em dia costumam dizer, um dos principais objetivos desse ritual é a abertura do coração. Isso significa que o cacau vai permitir que a gente entre em contato com aquilo que habita nossa essência. Não necessariamente significa que é um processo simples, mas significa que poderemos encontrar uma oportunidade de olhar com amorosidade para tudo o que sentimos", diz a estudiosa.
Para ela, uma das formas com que o cacau trabalha a espiritualidade é permitindo que haja uma purificação para que possamos habitar nosso corpo físico com mais consciência. Assim, é possível permitir que o corpo se abra para acessar lugares emocionais transformadores, como através do perdão, do reconhecimento da sua própria verdade e a busca por uma forma mais amorosa e compassiva de agir.
"Muitos daqueles que começam a tomar o cacau conseguem olhar para aspectos profundos e trabalhá-los com mais afetuosidade. É uma medicina que ajuda as pessoas a se perdoarem e buscarem uma realidade mais integrada com sua essência."
"Desse ponto de vista, não é uma espiritualidade que carrega nenhum dogma. É uma espiritualidade que traz permissão para sermos verdadeiramente quem somos, sem julgamentos", diz.
Marilia explica que o cacau é um dos alimentos mais ricos do mundo em magnésio e em antioxidantes, além de ter precursores hormonais que funcionam como matéria-prima para os hormônios da felicidade e do prazer. Existem também alguns flavonoides antioxidantes que têm como função dilatar os vasos sanguíneos. "Com essa dilatação, a gente tem uma melhor irrigação sanguínea em nosso corpo, inclusive no cérebro. Isso tem efeitos positivos no processo cognitivo, na concentração e na memória", diz.
Como o magnésio é um ótimo relaxante muscular e nosso coração é um músculo, a bebida feita com cacau serve para expandir o que chamamos de chakra cardíaco. Embora o cacau também seja estimulante, seu efeito é mais suave e estável do que o do café. Por isso, Marilia afirma que ele traz mais disposição junto ao estado de relaxamento. Importante destacar que ele não tem efeito alterador de consciência como outras bebidas usadas ritualisticamente, como a ayahuasca.
Como contraindicação ela destaca pessoas que tenham condições cardíacas graves, já que o cacau vai atuar no sistema cardíaco e circulatório, além de pessoas que tomam antidepressivos que tenham em sua composição o IMAO, que é o inibidor da monoamina oxidase, e gestantes, que devem evitar no primeiro trimestre e consumir doses pequenas a partir do segundo trimestre. Outro ponto de atenção, como o cacau é rico em oxalato, é com pessoas que sofrem com cálculos renais.
Marilia é responsável por formar guardiãs e guardiões do cacau no Brasil e também internacionalmente. Ela, que já conduzia cerimônias, começou a ser procurada devido ao seu vasto conhecimento para formar outros condutores de rituais com o cacau. Nas suas formações, ela ensina a como preparar a bebida e também traz um importante embasamento histórico e técnico enquanto parte da teoria.
Para ela, criar um espaço para ritualizar com o cacau é criar um momento para que algo sagrado possa acontecer.
"Eu sinto que o cacau ainda pode causar uma verdadeira revolução no mundo em direção a exatamente aquilo que estamos precisando: mais conexão humana, mais bem-estar e menos angústias."
Marilia destaca que o cacau é para todo mundo, mas nem todo mundo é para o cacau. Afinal, de maneira menos lógica e mais mágica, ele promove uma verdadeira faxina interna que começa a trazer para a superfície obstáculos que estão impedindo a nossa evolução. Porém, se a pessoa não está disposta a transformar o que o cacau traz à tona, dificilmente ela vai conseguir orientar outras pessoas dentro desse caminho", frisa.
Fonte: https://www.uol.com.br/universa/horoscopo/noticias/redacao/2024/04/30/cacau-sagrado-ritual-usa-ingrediente-pra-criar-conexao-espiritual-aprenda.htm
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