segunda-feira, 20 de maio de 2024

Conversa de chapado

Karl Marx cunhou a frase: “a religião é o ópio do povo”.

No Patheos, Lorraine Kisly coloca como título do texto dela uma curiosa versão: “o opiáceo da descrença”.

Eu tenho a impressão que Lorraine está enganada ou “forçando a barra”.

Citando:

“A negação generalizada, crescente e sempre cada vez mais inflexível de Deus e o repúdio da dimensão espiritual podem ser difíceis de compreender.”

A base do ateísmo, da descrença, consiste na negação do espiritual, do divino. Para embasar seus argumentos, o ateu recorre à generalização. Mas Lorraine também generaliza, pois tal como o ateu, o conceito de Deus é o cristão.

Citando:

“Esta negação é sempre expressa com total convicção, sem agnosticismos ou questionamentos geralmente admitidos.”

Lorraine pulou o detalhe de onde vem a convicção do descrente, do ateu. Nessa parte a Lorraine perde, pois a característica mais elementar do cristão é a falta de questionamento. A convicção do ateu vem do princípio (uma falácia de petição de princípio) de que algo só existe se tiver evidência.

Citando:

“Há muito que me parece que a incapacidade de sentir o sagrado é uma deficiência. O sentido do sagrado é inerente ao ser humano. Se faltar esse sentido, não será diferente de não ter a capacidade de ver, ouvir ou cheirar. É uma deficiência como qualquer outra.”

Eu concordo, mas aqui a Lorraine perde. Afinal, o que mais o cristão faz é a imposição de um determinado padrão de sensações e da negação de outras formas de sentir o sagrado e o divino.

Citando uma citação:

“O materialismo é uma convicção baseada não em evidências ou lógica, mas naquilo que Carl Sagan (falando de outro tipo de fé) chamou de “necessidade profunda de acreditar”.

Como vimos acima, Lorraine e David Bentley Hart (o autor da frase) estão errados. O ateu, o descrente, baseia sua visão de mundo totalmente em evidências e lógica.

Continuando:

“Considerada puramente como uma filosofia racional (...) oferece um refúgio de tantas perplexidades elaboradas, de tantos esforços espirituais árduos, de tantos problemas intelectuais e morais difíceis, de tantas expressões exaustivas de esperança ou medo, caridade ou remorso.
Neste sentido, deveria ser classificada como uma daquelas religiões de consolação cujo propósito não é envolver a mente ou a vontade nos mistérios do ser, mas apenas fornecer um paliativo para as mágoas existenciais e as desilusões privadas.”

O ateísmo não propõe qualquer consolo. Surgiu a partir dos absurdos que estão amplamente demonstrados pela história e pelas notícias. Embora perca todo sentido atribuir os males inerentes da vida a um ser que, teórica e conceitualmente, não existe. Essa merda toda aconteceu por causa das organizações religiosas. Quando existe um erro, a culpa é do ferramenteiro, não da ferramenta.

Continuando:

“Tendemos a presumir que, se pudermos descobrir as causas físicas (...) eliminaremos assim todas as outras explicações causais possíveis.”

No modelo científico, que é usado pelo ateu, parte-se da coleta, mensuração e observação dos fenômenos para, então, estabelecer teorias comprováveis. Então Lorraine e David perderam, porque o Cristianismo parte daquilo que quer “provar” para depois procurar “evidências” que sustentem a doutrina cristã.

Continuando.

“Aqueles que perderam completamente a capacidade de ver a realidade transcendente que se mostra em todas as coisas, e que se recusam a procurá-la ou mesmo a acreditar que a busca é significativa, confinaram-se por enquanto dentro de um mundo ilusório, e vagam em um labirinto de sonhos.”

Como vimos acima, trata-se de codificar a apreensão dos sentidos do real. Aquilo que é transcendente, o nome diz, ultrapassa o real. Aquilo que se mostra nas coisas é o imanente. O ateu provavelmente nunca vai entender que o conhecimento humano é formado também pelo pensamento abstrato, pelas experiências pessoais e pelos sonhos.
O problema, é que o cristão, tal como o ateu, rejeita as outras visões e experiências espirituais.

Continuando.

“Aqueles outros, no entanto, que ainda são capazes de ver a verdade que brilha dentro, através e além do mundo da experiência comum, e que sabem que a natureza é, em todos os seus aspectos, o dom do sobrenatural, e que entendem que Deus é aquele absoluto realidade na qual, a cada momento, eles vivem, se movem e existem (...)”.

Em outro tempo, na Idade Média, David seria perseguido, preso, torturado e morto por heresia.
Por esses crimes, o questionamento do descrente, do ateu, é bem vindo. Até o ponto em que este também se torna fundamentalista e dogmático.

Resumindo, temos visões de mundo. Nossos sentidos são limitados e sujeitos a erros. Uma teoria científica indica a possibilidade de termos outras dimensões. O método científico é uma das formas de compreender a realidade. A discussão só começa quando se coloca uma forma de ver o mundo como a única certa e verdadeira. O que não significa que devemos rejeitar qualquer tipo de conhecimento.

Em acréscimo, eu recordo a minha experiência com o maná índigo. Eu não sei como explicar ou entender essa experiência. Aquilo que eu vi e senti, esteve sempre presente e eu fui capaz de perceber por ter meus sentidos expandidos, ou aquilo que eu vi e senti foram efeitos da ação da substância enteógena?

Nenhum texto sagrado responde. A ciência também não tem a resposta. Em uma conversa de bêbado, ninguém tem razão.

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