Anitta, uma artista brasileira reconhecida mundialmente, é uma adepta e defensora do Candomblé, uma religião de origem africana continuamente mal interpretada e estigmatizada no Brasil. Em seu novo videoclipe 'Aceita', Anitta presta homenagem a essa fé, particularmente ao orixá Exu, frequentemente e erroneamente associado à figura do diabo no imaginário cristão. Ao proclamar "Laroyê Exu, tirando dos meus caminhos tudo o que já não me serve mais", a cantora não apenas invoca a proteção espiritual, mas também destaca uma escolha consciente pela qualidade de vida e autenticidade cultural em detrimento da quantidade de seguidores ou aprovação superficial.
Este episódio é um triste espelho da sociedade brasileira, refletindo a persistente marginalização das práticas africanas e de seus seguidores. O gesto de Anitta, embora pessoal e artístico, transcende sua individualidade e se torna um símbolo de resistência contra o racismo religioso. A africanidade, que corre nas veias do Brasil e molda parte significativa de sua cultura e história, ainda é frequentemente desvalorizada e inferiorizada. Ignorar a dimensão do problema seria perpetuar o apagamento dessa rica herança cultural.
Adicionalmente, Anitta compartilhou imagens do videoclipe que incluem uma homenagem ao orixá Logun Edé, revelando "Eu sou Logun Edé, o grande príncipe herdeiro da raça dos meus pais! Tenho a sensibilidade e a inteligência da minha mãe e a bravura e astúcia do meu pai. Como caçador e pescador, sou minha própria natureza. Eu sou o único capaz de reunir todos os mundos. Eu sou o equilíbrio entre homens e mulheres." Este trecho não apenas destaca a riqueza e profundidade da mitologia do Candomblé, mas também celebra a dualidade e a harmonia, princípios frequentemente ausentes no discurso público sobre religião e raça.
Um levantamento da startup JusRacial revelou que a intolerância religiosa representa um terço (33%) dos processos por racismo em andamento nos tribunais brasileiros, conforme levantamento recente. Este estudo identificou um total de 176 mil processos por racismo em todo o país. No âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), a intolerância religiosa corresponde a 43% dos 1,9 mil processos de racismo em trâmite na corte, de acordo com a mesma pesquisa. Nos tribunais estaduais, foram identificados 76,6 mil processos relacionados ao tema, dos quais 29,5 mil estão relacionados à intolerância religiosa.
Entre 2022 e 2023, o número de denúncias sobre intolerância religiosa feitas ao Disque 100, um serviço governamental, registrou um crescimento significativo. Durante esse período, houve um aumento de 64,5% nas denúncias e de 80,7% nas violações relatadas. Em 2023, os registros alcançaram um novo patamar. Notavelmente, os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia lideram em número de denúncias. Esses dados e a repercussão do caso de Anitta mostram que o debate sobre intolerância e racismo religioso precisa ser feito em todas as esferas sociais: nas escolas, nas casas, pela cultura e, principalmente, com políticas públicas de combate ao preconceito.
A frase "Aceita", então, torna-se um desafio lançado à sociedade, um convite à aceitação e ao respeito pela diversidade religiosa e cultural. Entretanto, como visto pela reação adversa de parte do público, esse aceite ainda é um caminho árduo, onde o preconceito ainda é uma máquina estruturada que a sociedade precisa levar de maneira séria.
Este caso de Anitta é um exemplo vívido de como a prática da africanidade é um problema sério para muitas pessoas no Brasil, provocando aversão e desejo de expurgar aquilo que é essencial e verdadeiro para muitos brasileiros. Em última análise, enfrentar o racismo religioso é um passo crucial não apenas para proteger as liberdades individuais, mas também para enriquecer a sociedade com a aceitação e valorização da pluralidade que define o Brasil.
Fonte: https://revistaforum.com.br/debates/2024/5/15/racismo-religioso-caso-de-anitta-os-desafios-da-africanidade-no-brasil-por-bba-vitor-ifasola-158894.html
Nota: enquanto isso, no Evangequistão, páginas direcionadas aos evanjegues vivem de falar da "igreja perseguida".
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