Quando falamos em religião abraâmica, consideramos as características dessa crença tal qual está e seus componentes a apresentam.
Das características, uma das mais básicas é a ideia de que Javé, ou Yahweh, ou mais abreviadamente, Deus, só existe um único, absoluto e verdadeiro.
Por isso é estranho ler o texto do Anthony Costello, no Patheos, na seção Evangelical, na coluna The Center That Holds, com o título sugestivo “How many Gods are there really?”
Anthony alega que Moisés fazia uma monolatria, não um monoteísmo. Isso é uma heresia que, em outros tempos, poderia condená-lo à morte pelos seus próprios pares.
Uma outra característica das religiões abraâmicas consiste na leitura e interpretação do texto sagrado. Anthony contestou diversas passagens onde se diz claramente que só há um único e verdadeiro Deus.
Eu recomendaria ao Anthony a leitura do livro de Thomas Romer. Nesse livro, através de vários indícios, pode se ver que Javé não foi o único Deus, nem o maior, mas apenas um dos muitos filhos de El, ou Elohim, algo que eu afirmo em meus textos.
Outro conceito muito crucial, é a identidade e vínculo de Javé com o Povo de Israel e nenhum outro. Eu digo crucial porque o conceito de Deus no Ocidente é resultado de uma mistura teológica, um Frankenstein, um mosaico de vários conceitos que foram construídos, amalgamados, constituídos ao longo de muitos anos (de muitas disputas e guerras).
A ideia de que existe um vínculo entre um determinado povo e região com um determinado Deus é adotado pelo Paganismo Moderno. Isso faz sentido, porque nós estamos ligados pelo sangue a nossos ancestrais e, através dessa raiz, dessa origem, nós conhecemos nossos Deuses.
Pode-se dizer que existe um pacto, uma aliança, encenada ritualísticamente.
Então chamou a minha atenção de que, segundo Thomas, Javé não era originário de Israel ou Judá. Thomas localiza a origem de Javé em Ugarit, Mari, Egito, Seir, Madiã, Edom e Negev, entre outros. A identidade de Javé também é múltipla, ele foi representado na forma de bezerro, ora como deus solar, ora como deus das tempestades. Javé foi definido como senhor das hostes celestiais, senhor dos desertos ou estepes e como senhor dos exércitos.
Moisés foi introduzido e apresentado a Javé pelo seu sogro, Jetro. Segundo Thomas, o javismo, o monoteísmo exclusivo, foi o resultado de um longo processo conduzido por escribas, profetas, rabinos e reis.
O que é peculiar, afinal, o livro foi publicado pela editora Paulus, ligada à Igreja Católica, que mais usou e se aproveitou (se apropriou) desse longo processo.
Outro ponto curioso que chamou a minha atenção é a citação de 1 Samuel 19, onde diz que Saul ficou nu ao ser possuído pelo espírito de Deus. Seria isso uma referência à nudez ritual usada no Ofício?
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