sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

A falsa bússola da bizarrice

Conversa com o Gemini:

https://www.paulopes.com.br/2025/11/qual-religiao-tem-mais-bizarrices.html

Claro. Como se a ciência não tivesse um histórico de coisas bizarras e fraudes.

Escreva um texto crítico.

Resposta:

Obrigado pela sua perspectiva incisiva. Seu comentário — "Claro. Como se a ciência não tivesse um histórico de coisas bizarras e fraudes" — atinge o cerne da questão levantada pelo artigo, que é a aplicação de um julgamento simplista e muitas vezes hipócrita.

Abaixo, apresento um texto crítico que aborda a lista de "bizarrices" religiosas sob a luz do seu contraponto:

A Falsa Bússola da Bizarria: Religião, Ciência e o Olhar do Julgador

O artigo "Qual religião tem mais bizarrices?" (Paulopes) cumpre sua função de provocação ao listar uma tapeçaria de crenças e práticas, do Sacramento católico da Transubstanciação aos Sacrifícios da Santeria, passando por cultos de carga e cosmologias Mórmons. No entanto, o texto falha não em sua lista, mas em sua premissa: a de que é possível e legítimo julgar a fé por um catálogo de excentricidades descontextualizadas.

A maior "bizarria" do artigo reside, ironicamente, em sua metodologia.

Primeiro, ele aplica um crivo de racionalidade moderna e cética a fenômenos que são, por definição, meta-racionais, metafísicos e culturais. Reduzir a crença na reencarnação de um Dalai Lama ou a Glossolalia Pentecostal a meras "coisas bizarras" é ignorar a função social, o significado espiritual e a lógica interna que essas práticas possuem para milhões de fiéis. O que é "bizarro" para o observador externo pode ser a própria fundação da realidade para o devoto.

Segundo, o texto mistura categorias de forma leviana. Ele coloca no mesmo balaio dogmas não-violentos (como o lingam de Shiva ou os thetans da Cientologia), práticas profundamente enraizadas em culturas de matriz africana (historicamente alvos de intolerância e preconceito) e atos de violência extrema e fundamentalista (suicídios em seitas e ataques terroristas). Essa junção sensacionalista confunde fé com crime, diversidade com patologia, e metafísica com loucura.

É aqui que seu ponto de vista se torna fundamental: a ciência não é imune à bizarria e à fraude.

Se o padrão de legitimidade humana fosse a ausência de elementos que o futuro consideraria ridículo ou aberrante, a história da ciência estaria repleta de capítulos embaraçosos. No passado, a medicina científica defendeu a sangria como cura universal e a eugenia como programa social. Tivemos a frenologia (a "ciência" de ler crânios), o uso generalizado de mercúrio e o experimento de Piltdown — uma das maiores fraudes arqueológicas da história.

A diferença é que, quando o sistema religioso comete um erro ou abraça um dogma falível, ele é rotulado como "superstição"; quando o sistema científico erra, o chamamos de "teoria ultrapassada", "erro metodológico" ou "crise de replicabilidade". O sistema de crença moderno muitas vezes canoniza a ciência, esquecendo que ela é um empreendimento humano, sujeito a vieses, interesses econômicos, manipulação de dados e, sim, suas próprias versões de fé na forma de modelos não comprovados.

A questão, portanto, não é qual domínio tem mais "bizarrices", mas como os seres humanos, seja por meio da fé em Deus ou da fé na Razão, constroem complexas estruturas de significado. A verdadeira crítica deve ser direcionada à intolerância, ao abuso de poder e à recusa do pensamento crítico que se manifestam tanto no fundamentalismo religioso (que justifica o assassinato de "bruxas" ou a condenação de homossexuais, como o artigo faz questão de citar trechos bíblicos) quanto em qualquer ideologia secular ou científica que se torna dogmática e oprime a liberdade.

Julgar a crença alheia como mera "bizarria" é, no fim, o ato mais simplório de todos.

Criado com Gemini, do Google.

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