domingo, 26 de junho de 2022

A letra mata

O texto sagrado conta que Cristo teve doze apóstolos, então a pergunta que nenhum padre ou pastor conseguiu responder até hoje é: por que só existem quatro evangelhos?

Irineu, um dos Patriarcas da Igreja disse: "não é possível que os Evangelhos sejam mais ou menso numerosos que são. Pois, visto que há quatro zonas do mundo em que vivemos e quatro ventos principais [...] é apropriade que ela [a Igreja] tenha quatro pilares [...]"
[Contra as Heresias, Livro III, Capítulo 11]. Eu cheguei a essa citação a partir de uma citação livre feita por Elaine Pagels.
Mas porque Irineu usaria um conceito do Neoplatonismo e das religiões antigas?

Em outro artigo, Tim Barnett tenta dar uma explicação. Segundo ele, os quatro Evangelhos são os "reais", foram "reconhecidos", são os "primeiros" e são "apostólicos". Infelizmente, não é isso o que a história nos conta. Nem todos os Evangelhos foram reconhecidos pelas Igrejas primitivas, se o fossem, Irineu não teria tido o trabalho e a preocupação em refutar os hereges que sustentavam suas crenças precisamente por terem outros Evangelhos.
Também não foram os primeiros, eu me baseio na consulta feita ao site Early Christian Writings para estabelecer uma cronologia dos Evangelhos. Textos contemporâneos aos dos apóstolos foram deixados de lado. Curiosamente, as cartas paulinas são anteriores. A autoria dos Evangelhos não é comprovada, o título dá a entender que foi, provavelmente, escrito por um terceiro.
Ainda tem o problema sério de que a mensagem do Evangelho de João possui uma linguagem Gnóstica. Na falta de autenticidade ou originalidade, quais textos seriam considerados canônicos foi uma decisão humana efetuada nos concílios da Igreja.
O poder político, econômico e espiritual da Igreja tem sido sustentado exatamente porque o Cristianismo, como uma religião de livro, é baseada na crença que o texto sagrado é uma revelação que veio de Deus e, portanto, possui autenticidade e autoridade. Partido desse argumento questionável e discutível, padres e pastores se servem de trechos escolhidos do texto sagrado para endossarem opiniões, discursos e doutrinas que afrontam o bom senso, a ciência e a humanidade.

A Boa Nova, que Cristo veio anunciar para o mundo, tirando o domínio espiritual que antes era dos poderosos, foi rapidamente assimilada e retirada daqueles que supostamente deveria libertar. A seita, que cresceu entre servos e escravos, foi transformada em instrumento de escravidão mundial.
Quando eu estudei extensivamente e amplamente a Bíblia e a história do Cristianismo, o que eu percebi é que raros são os cristãos que efetivamente leram a Bíblia por inteiro e mais raros os que conhecem a história da Igreja.
Está bem claro para quem quiser ler, dito por um profeta: maldito o homem que confia no homem, mas os cristãos seguem ao padre e ao pastor, não a Deus ou a Cristo.
Está também bem claro, dito nos Salmos e citado por Cristo: vós sois Deuses, então Cristo não queria seguidores, mas que o Homem percebesse que é Filho de Deus, nós mesmos, também podemos ser Cristo.

Eu lembro de ter lido em algum lugar que são apenas quatro Evangelhos porque foram quatro cidades os centros mais ativos e principais da disseminação do Cristianismo: Alexandria, Judeia, Antioquia e Éfeso.
As cartas paulinas por si só demonstram que haviam doutrinas diferentes, portanto, a existênia de diferentes Evangelhos. As cartas paulinas citam: Corinto, Galácia, Éfeso, Filipo, Colossas e Tessalônica.
Outras sete cidades são citadas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. O tom de censura para algumas demonstra, como nas cartas paulinas, que existiam outras doutrinas, por terem outros Evangelhos.

Assim a Igreja (tanto a Católica quanto a Protestante) decidiu conforme a conveniência humana qual escritura poderia ser considerada canônica e foi apenas há pouco tempo que uma editora local ousou publicar os textos apócrifos.
Os Romanos perceberam o potencial de submissão da massa. A troca parecia ser irrecusável: por poder e riqueza, a Igreja se uniria ao Império. Por muitos anos, a Igreja sustentou a monarquia, a escravidão, a segregação e a desigualdade social.
Em seus quase 2k de existência, o Cristianismo negou suas bases e ideais, tornando-se mais um produto à serviço dos grupos dominantes. Essa sociedade levou essa crença a endossar e apoiar o conservadorismo e a direita política.
Tudo o que o mundo ocidental conheceu com esse império espiritual foi medo, vergonha, culpa, violência e intolerância.

Para descontrair, eu pergunto ao eventual e dileto leitor: quais seriam as cidades sagradas do Paganismo?
A primeira que vem na lembrança é Lacedemônia. Onde, como diz a liturgia wiccana, os jovens de Esparta prestavam culto à Deusa. Por outras influências, eu citaria Ecrom, onde os ritos ancestrais resistiram ao domínio das religões monoteístas. Por amor, Sidon, Tiro e Biblos, cidades que entoaram, por séculos, hinos à Inanna e Ishtar. As cidades da Suméria, de Acádia, da Fenícia. Todas as ilhas da Grécia. Eu não saberia numerar as cidades no Egito. Cartago e Roma, sem dúvida. Por respeito e consideração, a região de New Forest, onde Gardner começou a estruturar a Wicca.

O nosso "texto sagrado" é a natureza. A nossa "salvação" é a reconsagração do corpo, do desejo, do prazer e do sexo. O nosso "Paraíso" é o mundo. O nosso "Cristo" somos nós mesmos.
Nós comungamos nossa conexão com o divino desde a primeira vez em que estivemos no círculo sagrado. Debaixo da lua cheia, em uma das oito datas sagradas, depois de evocarmos os quadrantes e os ancestrais, nós recebemos a visita do nosso Doce Senhor naquele círculo de nove pés. O Mestre do Sabá, o Homem de Negro, nos abençoou com SUA marca e nós nos tornamos o SEU povo.

Foi assim que eu vi. No pior momento de minha vida. Através de uma fresta estreita de uma porta de ferro. O sinal, algo, alguém, chamou por mim e eu vi a lua em quarto crescente coroada por uma estrela (Vênus). O sinal foi indevidamente roubado pelo Islamismo, esse sinal pertence às religiões antigas, pertence a Deuses cujos nomes me são queridos.
O sinal é silencioso, não fala, não vocifera, não condena, não julga. Ali, naquele momento, eu obtive a minha liberdade, o meu perdão e a minha redenção.
Se eu pudesse ouvir, certamente ouviria: "Eu Sou a Deusa, Eu Sou a Porta e o Cálice da Vida Eterna".
Assim seja, assim é, assim será.

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