O super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher
Super Homem - Gilberto Gil
O Brasil é um país extremamente atrasado. Até seu conservadorismo é mais atrasado do que o conservadorismo que vigora no mundo. Enquanto os países europeus e o Tio Sam olham para um projeto de futuro, o Brasil tem os pés fincados na Idade Média. Nossa economia ainda é basicamente estruturada na monocultura. Nós falamos tanto no Afeganistão e no Talibã e não damos conta do fundamentalismo religioso cristão fomentado pelos pregadores televangelistas.
Um bom exemplo disso é a polêmica e controvérsia gerada pela postagem do Maurício Souza, jogador de vôlei que, pelas postagens que publica, pode ser caracterizado como um "bolsominion", a saber, uma pessoa tão ignorante, tacanha , intolerante e preconceituosa quanto o presidente fascista e genocida.
Mauricio Souza fez uma postagem criticando o quadrinho onde o filho do Super-Homem se declara [ou se demonstra] bissexual.
Eu fico pasmo em ver comentários e postagens no LinkedIn querendo explicar e justificar a homofobia do Maurício, dizendo que é "apenas a opinião dele". Outros, piores, clamam pela "liberdade de expressão". Esse tipo de clamor é falso, essa gente só defende a "liberdade de expressão" quando é para defender os interesses deles.
Basta dar uma visitada nos inúmeros sites de agências de notícias brasileiras, ou nos sites que são nitidamente fundamentalistas cristãos para ver a insanidade sobre a "Agenda LGBT" e o perigo da "Ideologia de Gênero".
Na concepção de mundo dessa gente, uma pessoa só é ser humano se for homem, heterossexual, branco e cristão. Quando pessoas são perseguidas, presas, torturadas e mortas apenas por serem diferentes do padrão, então não é o caso de ser apenas a opinião de um mentecapto.
Eu aqui explorei a Mulher Maravilha e citei brevemente o Super-Homem. Assim como outros produtos culturais, as Histórias em Quadrinhos fazem parte da Indústria de Comunicação de Massa e vão refletir a sociedade e a época. A percepção e inclusão de personagens LGBT nas HQ é resultado da luta dessa comunidade para terem seus direitos reconhecidos e respeitados. Gente de mentalidade tacanha e preconceituosa sequer reconhecerá que sua situação dentro da sociedade é privilegiada, muito dificilmente gente assim terá empatia com pessoas socialmente vulneráveis.
Eu sei que é uma enorme heresia, mas como aficionado de HQ e conhecedor de sua história, eu tenho que dizer que o Super-Homem foi baseado na ideia do Uber Man, que foi apropriada e distorcida pelo Nazismo.
Além-homem, ou super-homem é o termo originado do alemão Übermensch, descrito no livro Assim Falou Zaratustra (Also sprach Zarathustra), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, em que explica os passos através dos quais o homem pode se tornar um 'além-homem' (homos superior, como no inglês Beyond-Human a tradução também pode ser compreendida como Além-do-humano).
Através da transvaloração de todos os valores do indivíduo;
Através da sede de poder (vontade de potência), manifestado criativamente em superar o niilismo e em reavaliar ideais velhos ou em criar novos.
E, de um processo contínuo de superação. - Wikipédia.
Förster-Nietzsche era casada com um proeminente nacionalista e antissemita alemão, Bernhard Förster, e retrabalhou escritos inéditos de Nietzsche para se adequar à ideologia de seu marido, muitas vezes de maneiras contrárias às suas opiniões expressas, que estavam fortemente e explicitamente opostas ao antissemitismo e nacionalismo. Através de edições de Förster-Nietzsche, o nome de Friedrich tornou-se associado com o militarismo alemão e o nazismo, mas estudiosos posteriores do século XX vêm tentando neutralizar esse equívoco de suas ideias. - Wikipédia.
O Super-Homem [personagem da DC Comics] foi criado por volta da década de 40, século XX e é inevitável ver o personagem como uma propaganda de guerra do governo [senão do próprio governo] dos EUA. O que se ignora é que, antes de entrar na Segunda Guerra Mundial, existiam partidos e organizações nazistas nas terras do Tio Sam.
O nascimento do fascismo americano é quase impossível de identificar dentro do contexto da história. O movimento fascista americano na década de 1930 e no início da década de 1940, até recentemente, foi sem dúvida a tentativa mais organizada de trazer o nazismo para a vanguarda da sociedade americana. Embora não seja a primeira organização pró-nazista americana, o Bund germano-americano foi uma das mais bem-sucedidas. O Bund foi fundado em 1936 com o objetivo de capacitar os cidadãos germano-americanos para espalhar a ideologia nazista nos Estados Unidos e criar uma contraparte americana para o Partido Nazista Alemão. - National World War Museum.
Então não é mera coincidência que os EUA seja a terra do fundamentalismo cristão, da supremacia branca, da direita alternativa, do racismo e da xenofobia.
Outro personagem criado na época foi Batman. Outro personagem de HQ que gera inúmeras análises e comparações. Enquanto Super-Homem é a representação do governo americano, Batman é a representação dos aparatos de repressão social. Enquanto Super-Homem é o Estado indiferente, Batman é o cidadão médio comum que busca por reparação, mesmo que por meios questionáveis.
Coube a Frank Miller colocar ambos os personagens em conflito, no "Cavaleiro das Trevas", muito mal e porcamente aproveitado para o filme "Batman vs Superman: Dawn of Justice", no qual mistura trechos dos quadrinhos "The Death of Superman".
Na obra de Frank Miller, Super-Homem tem traços nitidamente fascistas, Batman faz o papel do vigilante, aquele que "faz a justiça" com as próprias mãos, se necessário. A Polícia Americana é bem conhecida por sua violência desnecessária e desmedida, algo que tem sido imitado pela Polícia Brasileira. Os alvos são sempre os pobres, os negros e a periferia. Isso é praticamente fascismo. Então Batman não combate Super-Homem porque ele é um fascista, mas porque suas ações estão atingindo a camada da população privilegiada: homem, branco, heterossexual e cristão.
A sociedade tem determinados padrões. Pessoas que se encaixam nesses padrões são privilegiadas. Pessoas que saem do padrão compõem a parcela dos socialmente vulneráveis. Pessoas cujos direitos são negados. Pessoas que são oprimidas, reprimidas e perseguidas. A mesma gente que fala em "liberdade de expressão" ou outro direito, nega a essas pessoas os mesmos direitos. Nega-se o direito de escolher sua religião. Nega-se o direito de escolher sua orientação/preferência sexual. Nega-se o direito de inserção social. Nega-se o direito de ter reconhecida sua forma de amor. Nega-se o direito da vida, da liberdade e da segurança. Nega-se sua humanidade.
Mauricio certamente gosta mais desse Super-Homem.
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