Enquanto eu estava fazendo uma pesquisa a respeito de um insulto feito a uma Deusa egípcia, Nebt-Het (Néftis), em um texto antigo de proteção para um espírito eu acabei me encontrando em outro conceito pouco debatido: a visão que os egípcios tinham de Sexualidade e Gênero.
O termo usado para ofender a Deusa era “imitação de mulher sem vagina” e me peguei criando teorias do motivo para isso, provavelmente deve ser algo referente à (in)fertilidade dessa Deusa, já que isso era algo muito importante para os keméticos.
Não é novidade que os egípcios têm deidades que vão além da visão tradicional de gênero, muitas divindades, especialmente divindades primordiais, são chamadas de “The He-she” (O Ele-Ela), “A mãe que também é pai” e até mesmo sendo um complemento masculino ou feminino de outra divindade (como ocorre com os deuses de Ogdoade, onde cada “casal” é na verdade o complemento um do outro), mas algumas obras dos nossos amigos egípcios nos mostram que eles tinham três concepções de gênero.
Esses gêneros eram “tai” (masculino), “sḫt” (Sekhyt) e “hmt” (feminino). A Palavra Sekhyt seria traduzida como “eunuco” que é a definição de um homem castrado, porém não existem relatos de castração na antiga Kemet, logo, ele se refere a um gênero.
É importante frisar que os egípcios eram muito complexos, porém gostavam de manter as coisas simples (a própria contagem de tempo é uma prova deles, já que eles tinham apenas três termos para definir os acontecimentos, que seriam “Insh’allah”, pela vontade dos deuses”, Bukra”, amanhã, e “Mumkin”, talvez) e isso não era diferente com os gêneros e sexualidade. Mesmo eles não tendo a concepção de gênero X sexualidade X sexo que temos atualmente, a forma deles dividir isso era muito interessante.
Podemos dividir as visões de gêneros deles da seguinte forma:
1. Homem que “atua” como homem. (Tai)
2. Mulher que “atua” como mulher. (hmt)
3. Homem que “atua” como mulher. (Sekhyt)
4. Mulher que “atua” como homem. (Sekhyt)
As pessoas “Sekhyt” podem ser divididas em ainda duas concepções, então temos uma concepção de mais dois gêneros, contendo o mesmo nome, indo além dos dois gêneros tradicionais.
Esse “atuar” que eu disse é referente a todo tipo de ação, desde o papel social, até sexualidade e gênero e, como eu havia dito anteriormente, a fertilidade era algo muito importante para os egípcios. Tudo que eles faziam era baseado nisso, logo, as concepções de “estilo de vida” não podiam ser diferentes: as pessoas que eram identificadas como Sekhyt eram pessoas que em suas formas de viver eram inférteis, quando falamos de sexualidade ligamos diretamente a relacionamentos homoafetivos e pessoas inférteis heterossexuais, e quanto a gênero, obviamente mulheres e homens transgêneros eram inférteis em seus relacionamentos (ainda mais naquela época que não existia nenhum tipo de cirurgia para isso).
“Mas Guga, existem relatos de pessoas trans no Egito?” Existem, apesar de não ser algo completamente confirmado.
Eventualmente historiadores encontram tumbas egípcias contendo corpos masculinos em tumbas femininas ou vice-versa. Muitos dizem ter sido erro dos próprios egípcios ao embalsamar essas pessoas, mas alguns acreditam que na verdade eram pessoas trans que tiveram suas identificações respeitadas na hora de serem enterrados.
-Guga Lopes
Original: https://clavisarcanus.wordpress.com/2018/01/24/o-terceiro-genero-e-a-sexualidade-em-kemet/
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