quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Choque cósmico

Eu espero que o eventual e caro leitor não fique chateado, eu vou contar uma história que, infelizmente, eu não consegui encontrar a origem nem sua transcrição. Você, eventual e caro leitor, terá que confiar em mim. Sim, eu sei que é difícil e complicado, afinal, escrever [e ser escritor] é saber contar as coisas, sejam fatos ou fantasias.

Diz uma história que um grupo de rabinos [ou qualquer outro grupo de homens] se reuniu com um único objetivo – conseguir encontrar com Deus. Sabe como é, estavam contrariados e nervosos com as constantes contestações e dúvidas.

Juntaram tudo o que sabiam e tinham para usar. O resultado é que só poderiam enviar um deles para ter esse encontro com Deus. O representante foi sorteado e começaram os preparativos. Com tudo pronto, eis que Rubens [vamos chamar assim o nosso voluntário] some do local do experimento e atravessa as dimensões. Algumas horas depois, ele volta, assustado, surpreso e agitado. Seus companheiros, entre a preocupação e a curiosidade, perguntaram se ele encontrou Deus. A resposta dele foi um escândalo e uma revelação:

- Eu vi Deus e Ela é negra.

Eu imagino como Caturo, o português pagão, racista, xenófobo e supremacista branco entenderia essa experiência.

A figura mais conhecida, utilizada e interpretada [por inúmeras razões] é a Vênus de Willendorf.

Quem diria, a arte no neolítico causaria furor entre os cristãos fundamentalistas [redundância] e as feministas radicais por ser “pornografia”.

Para Marija Gimbutas e os seguidores das religiões da Deusa, esta figura é uma evidência de um antigo culto à Grande Deusa. Oquei, eu topo, desde que consideram as figuras de bisões da arte do neolítico uma evidência de um antigo culto ao Deus Touro.

Voltemos à Vênus de Willendorf. Quem a fez não deixou qualquer outro indício do motivo dessa representação. Pelos princípios da magia, essa figura pode muito bem ser a típica magia de imitação. A mulher é retratada para representar a fertilidade e fecundidade da terra e do gado. Tal como essa mulher extrapola os sinais anatômicos de fertilidade e fecundidade, aquele [aquela] que esculpiu aquela figura acredita que esse atributo será imitado pela terra e pelo gado.

Nesse mesmo sentido, a figura do bisão [bem como do touro] pode ser associada ao arar e semear da terra, sem o que não há produção de alimento nem colheita. Se formos considerar a figura do bisão um indício de um antigo culto a um Deus Touro, esse Deus seria igualmente responsável pela fertilidade e fecundidade da terra e do gado. De certa forma, a presença de chifres nos templos antigos da Turquia e de Creta deveria ser considerada um indício de que os cultos eram voltados tanto a Deusa quanto ao Deus.

A passagem das estações, os ciclos de nascimento/morte/renascimento e os ciclos do plantio estão associados à figura do Deus sacrificado e renascido, bem como à importância do hieros gamos entre a Deusa e o Deus para a existência do mundo e a continuidade da vida.

Mas quem seria e como seria essa mulher que foi retratada? Provavelmente uma mulher da tribo. Como a figura foi achada na Áustria, a figura foi reconstruída como sendo uma mulher corpulenta e branca, partindo do pressuposto que a Europa foi habitada e colonizada por Caucasianos. Nada mais enganoso. A presença menor de melanina foi uma adaptação ao ambiente. Achados arqueológicos mostram que os antigos escoceses e britânicos eram bem escuros. Portanto há uma enorme chance dessa mulher ser negra.

O que nos coloca de volta aos rabinos e a descoberta escandalosa.

Sim, porque nada seria pior para nossa sociedade machista, patriarcal e misógina do que as pessoas saberem que Deus é mulher e negra.

Todo o sistema social, baseado na segregação e discriminação, teria fim.

Todas as religiões majoritárias, baseadas no medo, na culpa, na vergonha e na exaltação da pobreza e miséria, teriam fim.

Toda a forma de produção baseada na exploração e expropriação teria fim.

Toda forma de preconceito e intolerância [xenofobia, racismo, homofobia e transfobia], teria fim.

A fome e a guerra não existiriam.

Viveríamos pela colaboração.

O mundo seria orientado pelo amor, gentileza e benevolência.

Então eu mal posso esperar para que o mundo reconheça a Deusa para que eu possa me jogar em seu colo e ficar entre suas coxas.

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