quarta-feira, 24 de novembro de 2021

O decote de Hator

“Vaca profana, põe teus cornos

Pra fora e acima da manada

Dona das divinas tetas

Derrama o leite bom na minha cara”.

Vaca Profana – Caetano Veloso.

Eu assisti a impagável interpretação da Gal Costa para a música do Caetano Veloso. Eu lembro quando eu era jovem de ter lido os livros da série Vaca Voadora, da Ely Lima. Em uma cantiga de roda se fala da vaca que saltou para a lua.

Na iconografia bíblica eu cito o Bezerro de Ouro. No Corão tem a sura Al-Baqara. Em inúmeras mitologias e religiões antigas o touro [e a vaca] são aspectos do divino.

O Egito Antigo [e sua versão moderna, o Kemet] tem a Deusa Hator, uma das protagonistas do Livro da Vaca Celestial, no qual se conta a destruição da humanidade.

Esse texto foi encontrado nas tumbas dos faraós e pode ser considerado uma espécie de guia para aqueles que passam pelo véu da existência.

O Livro da Vaca Celestial é habitualmente dividido em duas partes.

A primeira parte, conhecida como "mito de destruição da humanidade", narra como os seres humanos se revoltaram contra o deus Rá, que governa sobre a Terra, mas que se tornara um idoso (portanto alguém débil), e começam a conspirar contra este. Ré decide convocar as divindades primevas, Chu [e os Deuses Heh], Geb, Nun e Hator, a fim de solicitar conselhos. Nun recomenda Ré a castigar a humanidade enviando o seu olho na forma da deusa Hator. Hator começa a aplicar o castigo; quando assume a forma feroz de [Sekmet] entrega-se à matar de forma indiscriminada a humanidade. Horrorizado com as dimensões que o castigo está a tomar, Ré entende que tem que afastar a deusa da sua matança, recorrendo a um estratagema: dá a beber à deusa uma cerveja na qual foi adicionado um colorante vermelho (cor do sangue) que a embriaga e que acaba por se esquecer do castigo.

A segunda parte ("mito da vaca celestial") relata a ascensão de Ré ao céu às costas da sua filha, a deusa Nut [que se transformou em vaca]. Cansado de governar e desiludido com a maldade dos seres humanos, Ré nomeia Toth como seu representante na terra. Até então o céu e a terra não estavam separados, sendo o tempo eterno e a humanidade e os deuses viviam junto. O deus Chu, os oito deuses Heh e o faraó seguram a Nut na forma de vaca que agora se encontra separada de Geb (a terra). Foi desta forma que se criou o dia e a noite.

[https://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_da_Vaca_Celestial]

[Com algumas correções]

O mito conta como se formou a Via Láctea:

Ascensão de Re e palácio entre as estrelas.

Este deus então disse a Nut:

"Eu me coloquei em suas costas para ser erguido."

"O que é isso?", Perguntou Nut.

E assim {ela} veio estar lá em ambos os céus.

A Majestade deste deus disse:

"Fique longe deles! Levante-me! Olhe para mim !"

E então ela se tornou o céu.

Então a Majestade {deste} deus era visível dentro dela. Ela disse :

"Se ao menos Você me proporcionasse uma multidão!"

{E assim a Via Láctea} surgiu.

[http://www.sofiatopia.org/maat/heavenly_cow.htm]

A Vaca Celestial é Nut, não Hator, embora ambas sejam Deusas Celestes. Outros atributos de Hator é que esta Deusa é associada à beleza, à fertilidade à música, à dança e à sexualidade. Hator além de ser aquela que vai agir como justiceira dos Deuses, ela também é responsável pela condução das almas dos mortos. Por extensão ela era protetora dos viajantes e estava ligada ao destino e à adivinhação.

Eu, que moro em um país tropical, considerado muito sensual pelos estrangeiros, mas que curiosamente é extremamente conservador no tocante à sexualidade, tenho os panteões da Grécia e Roma antigas para a minha inspiração.

Mas em meu trabalho na cafeteria Pantheon eu não pude deixar de notar aquela cliente de busto tamanho GG. Não parecia ser uma moradora local, então eu presumi que fosse alguma Deusa fazendo turismo pela Vila dos Deuses. Eu tenho que usar um dialeto vulgar e comum para tentar me comunicar.

­- Boa tarde, senhorita. Qual o seu pedido?

- Você é o espectro que carrega o Antigo?

- Eu não posso afirmar nem negar.

[escaneando] – Eu vou correr o risco. Eu vou pedir pelo “serviço especial”.

- Pois não, senhorita. Como prefere? Aqui no salão, nessa mesa, ou no beco da rua de trás?

[provocando] – Aqui mesmo, se acha que consegue aguentar ser massageado entre meus seios.

Para resumir, eu ordenhei Hator e ela recebeu meu creme.

Na próxima semana a cafeteria terá que dar desconto no latte café.

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