sábado, 7 de setembro de 2024

Apologéticos chicaneiros

Segundo o dicionário:

Um advogado chicaneiro é aquele que se aproveita de detalhes da lei ou de um regulamento para criar vantagens ou se livrar de adversidades.

A chicana é uma prática que consiste em obstaculizar, dificultar, trapacear, ou usar a má-fé para argumentar durante um processo judicial. 

Resumindo, desonestidade intelectual.

Em uma palestra, Marilena Chauí disse:

-Fico muito agoniada: tomo o Uber e na hora que eu desço e digo “muito obrigada, boa noite”, o motorista diz: “fica com Deus”. Eu sei que ele é pentecostal, que é fundamentalista. Eu fico desesperada com essa ideia.

Essa frase gerou rebuliço entre conservadores, reacionários, direitistas e fundamentalistas cristãos.

Oquei, Chauí exagerou e demonstrou preconceito, mas eu encontro razões para concordar. O cristão tem o péssimo hábito de ser inconveniente.

As críticas feitas à filósofa citam um trabalho da mesma sobre a Patrística.

Vamos ao dicionário.

Patrística: filosofia cristã formulada pelos padres da Igreja nos primeiros cinco séculos de nossa era, buscando combater a descrença e o paganismo por meio de uma apologética da nova religião, calcando-se frequentemente em argumentos e conceitos procedentes da filosofia grega.

Segundo o Wikipédia:

Patrística é o estudo dos escritos dos Pais da Igreja, denomina também um período e uma tradição filosófica e teológica da antiguidade tardia em que ocorreu o primeiro encontro substancial entre o cristianismo e a filosofia, até então entendida como parte da cultura pagã greco-romana, dando lugar à formação das bases das filosofias e teologias cristãs que serão profundamente influentes na posterior história da filosofia e do cristianismo.

O que faltou falar é que os Patriarcas da Igreja tinham conceitos e idéias diferentes sobre Deus e Cristo. O que faltou falar é que a doutrina cristã “pegou emprestado” (cofcof  - roubou - cofcof) muito do pensamento neoplatônico. A diversidade do Cristianismo em sua origem é omitida e escondida pelos padres e pastores. Cada qual querendo puxar para seu grupo como sendo o “representante legítimo” dessa crença.

O Cristianismo somente se tornou uma religião de massas porque foi e tem sido usada pelos poderosos, seculares e clericais, para manipulação política e social.

Mas os críticos convenientemente pularam a parte em que Cristo e o Cristianismo foram usados para justificar massacres e guerras.

O repórter Valdinei Ferreira fala que Chauí precisava de atualização bibliográfica. Eu duvido que o repórter tenha lido, estudado algo ou tenha alguma biblioteca digna de ser considerada. Ele diz que o que empobrece a pesquisa científica não é a crença ou descrença dos pesquisadores, mas o preconceito e a desatualização dos mesmos.
Isso dito em pleno século XXI, com a Igreja descartando qualquer pesquisa científica sobre aborto e a existência de pessoas intersexuais.
Aham, senta lá, Cláudia.

Ele chega ao cúmulo de afirmar que a Patrística uniu inteligência e fé. Ele chegou a ler ao menos um texto dos Patriarcas?

Outro, Márcio Antônio Campos (Gazeta do Povo, jornal bolsonarista), afirma, candidamente:
“...ninguém, absolutamente ninguém foi condenado à morte por defender o heliocentrismo, e da mesma forma ninguém, nem mesmo Giordano Bruno, foi queimado por causa de ideias que hoje consideramos científicas…”
Então está tudo bem executar uma pessoa por discordância teológica? Isso é o Cristianismo. Dois milênios de crimes absurdos.
Márcio tenta “explicar” que Giordano Bruno foi executado por sua extravagância esotérica, mas esqueceu de Hipácia de Alexandria.

Enfim, omissão, negação, desonestidade intelectual. Algo que o Cristianismo conhece bem e usa em doses gigantescas.

Quem entendeu o título do texto levanta a mão. Valendo um pedaço de torta de maçã.

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