Os humanos me conheceram em uma animação curta onde eu pilotava um barco a vapor. Em 1928 foi uma novidade e dali nasceu o Império Disney. Mas essa estréia e cenário inocente esconde minha triste história.
Eu nasci em Jamestown, Dakota do Norte. Um legítimo afro americano, neto dos que lutaram pelo fim da escravidão. Eu fui para Minnesota ainda pequeno e fazia minhas piadas e encenações na rua.
Descer o rio Mississipi pelo barco a vapor foi inevitável e necessário. Foi em uma dessas viagens que eu conheci Walter Elias Disney.
Ele tinha 25 e eu 19. Mas antes disso eu passei por problemas e adaptações para minhas apresentações.
O público reclamava que não via meus pés, eu comecei a usar o enorme sapato amarelo do tio Angus. Reclamava que não via minhas mãos, eu comecei a usar as luvas da tia Cecile. Reclamava que não via minhas expressões faciais.
Tinha um cara, Al Johnson que, para interpretar um cantor de jazz (que é coisa de "negro"), pintou o rosto dele com graxa para sapato. Eu cobri meu rosto com pancake e ajeitei minhas orelhas para que ficassem mais redondas.
A bermuda vermelha foi a única sugestão do Walter para os filmes e com meu humilde trabalho surgiu a Disney como empresa e império de animação.
Desse período, antes de ser o camundongo mais famoso do mundo, a melhor parte foi conhecer Minerva. Vulgo Minnie. Foi em Memphis, ali mesmo onde Elvis Presley fez a Graceland.
Eu era… nós éramos… adolescentes. Eu tinha um público considerável desde que saí de Minnesota e tentava não reparar que os brancos ficavam isolados nos melhores lugares pagos e os negros ficavam espremidos na pista. Dali vinham a maioria das risadas, os brancos riam quando eu fazia a parte de comédia pastelão. Eu acho que posso considerar que eu era uma celebridade bem antes do cinema, então muitas mulheres flertavam.
Destino, você diria? Eu olhei para o público na pista, para as mulheres, mas ali no meio de tanta gente, meus olhos notaram só uma. Minerva. Eu a convidei, ela fez o jogo dela, mas nós fizemos tudo no camarim. Quando Walter falou sobre o filme, eu dei uma condição - contratar a Minerva.
Outros comediantes e atores (bons e ruins) foram acrescentados na trupe. George Goof foi meu primeiro amigo. Donald foi um acréscimo necessário para conseguir a colaboração dos militares. Clarabela e Horácio vieram da roça, como eu e, ainda que tecnicamente sejam namorados, a Clara faz jus ao seu tipo étnico - zoomórfico. Minnie é o amor da minha vida, mas eu sou macho, eu vacilei, fraquejei e fui para a cama com a Clara. Para ser sincero, eu comi a Margarida também, que foi trazida para ser namorada do Donald, mas como o xará humano dele, o interesse dele é poder, dinheiro e armas.
Assim que o sucesso começou e o dinheiro chovia, Walter construiu a Disneylândia. Era para ser em Los Angeles, mas acabou sendo em Anaheim. Era estranho e engraçado morar no mesmo lugar que as "princesas" moravam. Para o público, elas tinham que manter uma certa imagem, mas nos bastidores, elas eram mulheres comuns. E no cinema, nós descobrimos as drogas (incluindo as lícitas), então quando não tinha ninguém vendo, tinha muita bebida, droga e orgia entre todos nós.
Walter morreu depois de alguns anos, algo que o nosso tipo de existência (cartoons) nunca irá experimentar. Então chegaram outros personagens, fictícios, mas humanos, da Lucasfilm e da Marvel. Eu estou tentando me aproximar da Viúva Negra, mas ela estabeleceu um tipo de lista organizada.
Mas vale a pena esperar.
Eu vou contar outras histórias que o Walter escondeu. Depois. Tchau.
Nenhum comentário:
Postar um comentário