Autor: Thiago Trindade.
Futebol e Religião são até compreensíveis, se pensarmos que ninguém vai substituir seu time do coração; ou mesmo alguém que já possui sua fé. Mas por que não se discute política?
Política não é algo imutável, aliás, muito pelo contrário, muda constantemente..
O povo brasileiro foi condicionado a não gostar da política, é um projeto, exatamente para facilitar o controle daqueles que possuem o poder e querem mantê-lo. Foi assim por muito tempo por aqui, até que algo novo aconteceu: “o gigante acordou”.
Com as jornadas de junho de 2013, a política tornou-se parte do cotidiano de uma parcela que não se interessava por essas discussões, e portanto, não estava organizada. Assim o Brasil entrou num novo capítulo, novas formas de se fazer política nasceram e com elas a ascensão do fascismo foi impulsionada e financiada. O fascismo se alimenta do medo e o medo se alimenta da mentira. A falta de organização foi aproveitada por setores da direita, e boa parte do povo brasileiro caiu numa das mentiras fundamentais no país: que o Partido dos Trabalhadores e toda a esquerda são corruptos por natureza. Narrativa que é uma constante na política brasileira para estigmatizar a esquerda nacional.
Os setores mais conservadores e reacionários da direita brasileira criaram um momento de instabilidade e canalizaram, através da mídia, seus interesses políticos e econômicos. Usaram, mais uma vez na história, a classe média - que cresceu e se beneficiou de políticas dos governos petistas - para frear e retroceder os direitos recém conquistados.
A grande mídia fez seu papel histórico na propagação das ideias daqueles que pagam seus anúncios.
Aqui é preciso entender que estes setores mais conservadores e reacionários têm ainda o pensamento escravagista. Nunca aceitaram a melhora na qualidade de vida das minorias políticas - que na verdade são maiorias na população - e repudiam cada conquista de direito como o voto, o salário mínimo e a garantia constitucional de igualdade de oportunidades. Muitos destes são poderosos e pertencem a uma parcela da elite econômica brasileira, espaço conquistado exatamente pela exploração vil da mão de obra escravizada desde os tempos da casa grande. Nós brasileiros nunca conseguimos tirá-los do poder e pagamos o preço todos os dias.
Outra mentira base é o grande mito nacional das Forças Armadas como instituição absolutamente idônea, honesta, competente e preocupada com o povo brasileiro. É preciso lembrar que o Exército Brasileiro é uma das instituições mais antigas do Brasil, que tem pouca diferença hierárquica e de vocação desde o século XIX. Que repetidas vezes mostra sua vontade de ser o poder moderador da sociedade brasileira. Tal poder que nunca lhe foi dado, mas que forçou exercer diversas vezes na história, como já no início da república em Canudos em 1896, no golpe de 1964 e nas articulações que culminaram no 8 de janeiro de 2023.
A lei da anistia ampla, geral e irrestrita garantiu justiça aos perseguidos da ditadura, mas a falta dela para os torturadores. Sem a atuação de um tribunal civil que condenasse os ditadores, como aconteceu na Argentina em 1985, por exemplo, o Brasil se viu fadado à volta da sanha golpista no futuro.
Essas mentiras são as bases fundamentais que constroem o imaginário fascista hoje. É uma grande mistura entre todos os preconceitos de uma elite escravagista, um militarismo cruel para defendê-la e ainda com muitas pitadas de um fundamentalismo que propaga mais ódio que amor. É a jabuticaba mais feia e asquerosa do Brasil.
Com essa mistura, o papel da grande mídia e a facilidade da comunicação pelas redes sociais, temos a consolidação dessas bases e elas garantem a criação de novas mentiras.
Este novo capítulo favorece ainda mais a mentira para visibilidade, e a visibilidade ganha dinheiro e votos. É uma indústria de fake news muito bem organizada e é preciso combatê-la diariamente, porque continua funcionando.
A mamadeira de piroca; O kit gay; O banheiro unissex; A destruição da família; A corrupção da esquerda; O fantasma do comunismo; A quebra econômica do país; O anarcocapitalismo; O negacionismo da ciência.
Para o recém chegado, a política é um caos difícil de ser entendido e impossível de ser apropriado.
O mundo no século XXI é muito rápido, a quantidade de informações consumidas por minuto não nos deixa respirar. Não conseguimos parar para refletir o ontem, quem dirá um mês, um ano, uma década etc…
Vivemos hoje como se a história tivesse sido reiniciada, vemos na internet debates sobre processos históricos que já superamos há décadas, quiçá séculos atrás. Não podemos deixar que haja discussões e dúvidas sobre a existência da escravidão no Brasil, por exemplo. Precisamos bater o pé e não deixar que a História seja esquecida, perdida no meio da mentira. O conhecimento acerca dos processos históricos é fundamental para que atrocidades não sejam repetidas. Como iremos construir, propor, projetar um mundo melhor se não temos pé na realidade?
É impossível fazer análises sobre o hoje e projetar o amanhã se a base do pensamento é mentirosa.
O caos político é o novo projeto para confundir o povo.
A extrema direita surge no mundo como uma forma de manter o poder, o status quo e o modelo político-econômico que é o capitalismo, já que o neoliberalismo tomou o lugar do liberalismo clássico e não correspondeu aos anseios da sociedade como foi defendido lá na década de 80. A realidade bateu na porta do capitalismo, a desigualdade social e os problemas ambientais só aumentaram nos últimos quarenta anos, por isso é preciso revê-lo e superá-lo para que a humanidade e o planeta prosperem. Fugir da realidade e mergulhar no negacionismo e no revisionismo histórico foi a resposta possível que encontraram. Uma resposta inteligente, complexa, com método, mas que emburrece a população e nos leva para o precipício da humanidade.
Precisamos combater cada nova fake news diariamente sim, mas se não destruirmos as bases, elas continuarão se propagando indefinidamente.
Fonte: https://revistaforum.com.br/opiniao/2023/9/29/como-chegamos-na-mamadeira-de-piroca-no-banheiro-unissex-como-supera-los-por-thiago-trindade-lula-da-silva-145000.html
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