Eu entrei na agência de correios e fui atendido por uma funcionária vestida de coelhinha.
– Bom dia, senhora. Eu desejo enviar esta carta.
– Pois não, senhor. Quem está enviando esta carta e para quem?
– Esta carta é de Alguém para Ninguém.
– Mas está assinado por Todos.
– Coisa da empresa. A senhora sabe como é.
– Sim, eu entendo. Qual é o endereço?
– Fica na esquina entre Amanhã e Ontem.
– Ontem antes de Hoje ou de Depois?
– Melhor que seja Amanhã antes de Agora.
– Tudo bem. Como deseja enviar esta carta?
– Quais são as opções?
– Comum, comercial, virtual, mediúnico.
– Comum está bom.
– Escrita, telegrafada, ditada, cantada?
– Eu tenho um envelope que tem dentro um papel cheio de símbolos organizados e coordenados na forma de mensagem.
– Nossa. Bem tradicional. Que inusitado. O senhor podia declarar o conteúdo e a intenção da carta?
– Eu posso formalizar a declaração para a senhora mesmo ou devo preencher um formulário?
– Como o senhor achar melhor.
– Então eu me declaro para a senhora. Está muito sensual com esse uniforme de coelhinha.
– Desculpe, senhor, eu não entendi. Esse é o conteúdo da sua carta?
– Não, esta é a minha declaração para a senhora.
– Meu senhor! Esta declaração não pode ser recebida. Eu estou em serviço. O senhor pode fazê-la a mim após meu expediente, no chá das cinco. Agora eu te peço que declare o conteúdo da carta e a intenção da mesma.
– Eu não conheço a carta. Então eu não sei quais são suas intenções. Se ela fosse um pouco mais aberta, eu a conheceria e poderia dizer do que ela é feita.
– Entendo. Então o senhor não é o autor da carta?
– Ah, não! Eu sou um mero mensageiro.
– Um mensageiro que não conhece sua mensagem? Que inusitado.
– Uma funcionária com uniforme de coelhinha espantada com um mensageiro que desconhece a mensagem é inusitado.
– Senhor! Assim como flerte, insulto não pode ser recebido em serviço. O senhor pode me insultar após o expediente, no chá das cinco. Meu uniforme tem um sentido, afinal, nós somos o Correio, nós somos rápidos como o coelho. Eu sou uma mensageira como o senhor, mas conheço a mensagem.
– Eu pensei que insultos não fizessem parte do serviço.
– Asseverar um fato não é insulto. Esta agência não pode assumir qualquer responsabilidade se o senhor se sentiu ofendido.
– Então seria melhor o pombo, afinal, o coelho não entrega mensagens.
– Alguns funcionários tem alergia a pombo. Sem falar que as funcionárias teriam que ouvir muitas piadinhas sobre galinha.
– Quem fica mais indignada, a funcionária ou a galinha? Uma comparação que não deixa de ser preconceituosa em ambos os lados. Por exemplo, a senhora se sente mais à vontade sendo coelha ou galinha?
– Senhor! Aqui nessa agência conversas intimas devem ser evitadas. O senhor pode tentar ter uma conversa mais íntima comigo após o expediente, no chá das cinco. Nós estamos quase terminando o expediente e faltam cinco para as cinco. O senhor poderia, por favor, cessar os rodeios e declarar o conteúdo e intenção da carta?
– Ah, tudo bem. Eu vi quando a carta foi escrita. O conteúdo da carta é bem simples, pena que Ninguém entendeu. Todos escreveram em nome de Alguém: “A quem interessar possa. Eu te amo”.
Texto resgatado com Wayback Machine.
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