quinta-feira, 27 de abril de 2023

Ausência e negação

Eu estou acostumado com o cristão distorcer as coisas conforme seu interesse. Mas vejo que isso acontece com o ateu.

Citando:
"Embora o budismo seja uma tradição focada na libertação espiritual, não é uma religião teísta.

O próprio Buda rejeitou a ideia de um deus criador, e os filósofos budistas chegaram a argumentar que a crença em um deus eterno não passa de uma distração para os humanos que buscam a iluminação."

O texto, de autoria de Emily Costelo (ou é Signe Cohen?), traduzido por Júlio Batista na página Universo Racionalista, ainda que alegue ser "estudiosa das religiões asiáticas", errou feio em entender o Budismo.

Então eu encontrei um texto que eu cito o trecho contundente:

"Contudo, Buda não se estendeu sobre esta questão, por não estar disposto a discutir assuntos não-verificáveis. Logo, algumas pessoas insistem em afirmar que o budismo é ateu. O budismo não pode ser classificado como ateu, uma vez que representaria uma postura ativa de negação de um deus. Ou seja, o ateu estaria disposto a confrontar e provar a inexistência deste deus e o budismo não se propõe a isso. A melhor descrição, talvez, da posição budista seria: O budismo é não-teista, ou seja, ele não fala sobre deuses, mas também não assume a postura ativa de negação, caracterizada pelo ateísmo.
Esta postura está estendida a todos os tipos de deuses. No entanto, surge uma outra confusão, porque quando falamos sobre os 6 Reinos do Budismo: Inferno, Fantamas Famintos (Preta), Animal, Humano, Semi-Deuses (Asura) e Deuses (Deva). Na realidade o termo deuses vem de devas, sem o significado normalmente entendido para deus. O reino dos deuses é uma condição a qual os homens com grande mérito podem ascender. Uma espécie de vida prazeirosa, sem dificuldades, onde tudo é fácil. Esta seria a condição de deva. Porém, eles também têm karma, também decairão, etc… Portanto, não se trata em absoluto do conceito que temos de deuses eternos, ou algo como a concepção hindu."

Eu vou além. Quando Sidarta foi em busca da Iluminação, ele frequentou diversas escolas. Na filosofia hindu, a existência vem de Brahma, então aquilo que vemos é meramente um pensamento/sonho de Brahma. Assim, o indivíduo, bem como seres divinos, são parte desse mesmo pensamento/sonho. O despertar de Sidarta que o tornou Buda é exatamente a realização de que o mundo é uma ilusão (Maya), com isso, superou os ciclos de encarnação e o sofrimento.
O que é diferente de dizer que o divino não existe ou de negar essa existência. Apenas não é relevante, como um bastão para um jogador de futebol.

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