As superstições foram criadas como uma forma de proteção a respeito dos casos que infringiram o medo nos antigos moradores. Em meio à escuridão em busca de alimentos pela madrugada, os pescadores contavam situações inexplicáveis – mas que eram ricas históricas. O fantástico e o sobrenatural, um mundo de fantasia, misticismo e fé contempla vidas extraordinárias e a sabedoria popular, que atrai, cura e conecta a Ilha.
Cascaes trouxe, em suas obras, as reproduções de conversas sobre fantasmas, crenças sobre boitatás, lobisomens, negrinho do pastoreio e saci-pererê, mas principalmente sobre as bruxas, que assombravam a Ilha, trazendo agressividade, anomalias e deficiências no entendimento da época. Na sua obra “O fantástico na Ilha de Santa Catarina”, o escritor conta que as bruxas atacam cavalos, pescadores, roubam lancha baleeira, fazem balés, congressos e eleições. Além disso, detalha o papel da bruxa-chefe, que passaria ordens do próprio diabo para suas subordinadas, que promoveriam as assombrações após as reuniões bruxólicas semanais.
“Assim ficou confirmado, pela benzedeira e pelo casal, que aquelas quatro atrevidas mulheres bruxas eram quem estava tomando o sangue das suas inocentes criancinhas” Trecho retirado da obra “O fantástico na Ilha de Santa Catarina” de Franklin Cascaes.
A tradição das benzedeiras se mantém na Ilha da Magia e também se adapta a um novo olhar. Sabedoria antiga, proteção, benção e muita fé envolvem a rotina das benzedeiras de Florianópolis.
Camila Gomes é a benzedeira mais nova da capital, segundo o Mapa das Benzedeiras da Ilha, aliando pedidos contemporâneos e atendimentos modernos. Camila iniciou como aprendiz de benzedeira em um centro de Umbanda em 2005. Foi consagrada como Benzedeira em 2011, após decidir seguir o legado de cura de forma autônoma, conforme suas ancestrais.
— Sinto que minha jornada é inspirar pessoas sobre autoconhecimento e espiritualidade. Unir minha formação acadêmica da psicologia com o legado de benzer e abençoar com a fé. Consigo sentir a magia da Ilha, em seus quatro cantos. A sua natureza, seus pontos de força são potentes. Quando entramos em contato com o profundo que nos habita (nossa Alma) e com a natureza, entramos em ressonância com esses saberes ancestrais. A magia acontece — detalha a benzedeira.
A benzedeira ainda conta que sempre foi uma criança religiosa, de família católica, ainda que não praticante. Ao estudar em colégio de freira, se deparou com a fé e os ritos religiosos. No início, desejava ser freira, mas ao amadurecer sua espiritualidade e fé, decidiu estudar e se vincular ao grupo para aprender a benzer e realizar rituais de cura, inicialmente para cura própria e, depois, para auxiliar outras pessoas.
Camila conta que as ancestrais que vieram dos Açores no século XVII foram consideradas bruxas pela Igreja Católica, que dominava a cultura portuguesa da época. Eram mulheres que praticavam a antiga religião de cultuar e se conectar com a natureza de forma livre e respeitosa. Muitas foram queimadas, outras doutrinadas e outras tantas exiladas no "novo mundo", chegando à vila de Desterro.
— Quando aqui chegaram, uniram seus saberes com os indígenas que aqui habitavam e comungavam. Também proferiram esses saberes, assim como a população africana. Nesta época, na Ilha, havia lugares isolados onde esses saberes foram passados de geração em geração apenas na oralidade, pela dificuldade de acessar saberes religiosos e de saúde — completa.
Fonte: https://www.nsctotal.com.br/noticias/a-magia-que-molda-a-historia-de-florianopolis-ainda-respira
Nenhum comentário:
Postar um comentário