A verdadeira cruzada da direita e da extrema direita italiana na cultura de seu país começa com a administração das casas de ópera e dos principais museus da Itália.
Para recuperar o controle desses cargos de prestígio, atualmente ocupados por vários administradores, diretores e curadores não italianos, o governo de Georgia Meloni introduziu uma nova medida que entrou em vigor este mês, estabelecendo a idade de aposentadoria para os diretores dessas instituições em 70 anos.
Isso afeta especialmente os estrangeiros, como o diretor do Teatro San Carlo em Nápoles: o francês Stéphane Lissner deve deixar o cargo nas próximas semanas. O mesmo destino aguarda Dominique Meyer, que dirige a famosa Scala de Milão. A partir do próximo outono (no hemisfério norte), será a vez da célebre Galeria Uffizi, em Florença, da Pinacoteca, em Milão, e do grande museu napolitano Capodimonte perderem seus superintendentes: um alemão, um britânico e um francês, respectivamente, substituídos com base no princípio do slogan de extrema direita "Italianos em primeiro lugar".
Gennaro Sangiuliano, ministro da Cultura de Meloni justificou essa nova regra dizendo que era "estranho" que em um país tão rico em patrimônio como a Itália, as principais instituições culturais fossem "dirigidas por estrangeiros".
A televisão pública RAI também está sendo visada pela extrema direita. Meloni está colocando seus próximos em posições-chave no maior grupo estatal de radiodifusão da Itália, incluindo um de seus amigos íntimos, Giampaolo Rossi, conhecido por suas teorias da conspiração. Ele foi nomeado diretor-geral das cerca de vinte estações de rádio e televisão da RAI.
Essa série de substituições gerou temores de um domínio da extrema direita sobre o conteúdo das notícias, a ponto de duas figuras históricas dos canais públicos já terem se demitido nas últimas semanas, recusando-se a se tornar "prisioneiros políticos", segundo suas próprias palavras. Pouco antes deles, o CEO da RAI também se demitiu, denunciando um confronto político e uma tentativa da extrema direita de destituí-lo antes do fim de seu mandato.
Meloni tem sido muito clara sobre o objetivo de seu ataque ao setor cultural. Ela quer "libertar a cultura italiana de um sistema intolerante de poder, no qual você só poderia trabalhar se declarasse pertencer a um determinado partido político". A presidente do Conselho Italiano acusa sem rodeios a oposição de esquerda e sua "hegemonia cultural".
Mas os críticos do governo de extrema direita o acusam de fazer exatamente o que ele denuncia: disseminar uma única narrativa e uma única forma de pensar por meio da mídia e dos teatros, a fim de transformar culturalmente a sociedade italiana, mas dessa vez para a extrema direita.
Essa é a ambição explicitamente declarada pelo ministro italiano da Cultura, que pretende desenvolver um "novo imaginário italiano" para defender o conservadorismo moral e reabilitar o sentimento nacional, que, segundo ele, está sendo "minado" na Itália atualmente.
Fonte: https://operamundi.uol.com.br/cultura/81446/extrema-direita-italiana-entenda-a-estrategia-do-governo-de-meloni-para-controlar-a-cultura-do-pais
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