Autor: Marcelo Hailer.
Nesta terça-feira (25), o Partido Liberal realizou um grande evento em São Paulo para receber uma leva de novos filiados. A legenda tem por objetivo conquistar centenas de prefeituras e eleger o máximo possível de vereadores ao redor do Brasil.
O evento contou com a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro, que desferiu uma série de ataques contra o presidente Lula (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mas, para além do previsível, aconteceu outra cena bastante reveladora dos homens que compõem a extrema direita.
Um dos novos filiados ao PL é o vereador Fernand Holliday (PL-SP), que ao discursar saudou Jair Bolsonaro e declarou ser um "meio viado". "Quem diria, heim, (ex) presidente Bolsonaro, a imprensa dizendo que o senhor é homofóbico, racista, aqui filiando um negro meio viado", disse Holliday.
"Mandar um abraço hétero pro Holiday aqui", respondeu o ex-presidente.
A grotesca cena protagonizada por Holiday e Bolsonaro é reveladora em vários sentidos, mas reforça um bastante batido: a obsessão da extrema direita com as questões de sexualidade.
Impressiona a personagem adotada por Fernando Holiday: entre homens da extrema direita e fundamentalistas religiosos, sabe que não pode ser um viado por inteiro, mas apenas um "meio viado".
Holiday também sabe que o seu "meio viado" não é aceito por seus pares da extrema direita. Vive uma anulação de sua sexualidade para manter o seu histriônico personagem vivo.
Já o "abraço meio hétero" de Bolsonaro só confirma o que estamos cansados de saber: a longa trajetória com declarações homofóbicas. Mas o que pressupõe o abraço hétero? Uma apalpada indevida? Um convite para a "brotheragem"?
Além disso, o "meio viado" e o "abraço hétero" nos provocam a pensar sobre os limites do debatido até aqui sobre masculinidades e suas variações. Vamos pensar sobre algumas delas.
Dizem que a masculinidade pode ser tóxica, mas então há uma saudável? Se ela é fracassada, então há uma vitoriosa? Se há uma frágil, então há uma vigorosa e forte? Masculinidades viadas, então temos as héteras? Nenhuma delas faz sentido.
O problema de todas as classificações categoriais da masculinidade é que elas giram em círculos binários que não levam a lugar algum.
Dessa maneira, o homem e suas variáveis "masculinas" são resultados de um longo projeto de poder que visa encerrar a vida em sociedade no binarismo de gênero, na monogamia compulsória e em delírios patriarcais como "feminilidade" e "masculinidade".
Daí que podemos voltar ao antigo dilema dos papéis de gênero. É aqui que mora o “meio viado”, fadado à tristeza. É aqui que mora o “abraço hétero”, condenado a ser violento e misógino.
Fonte: https://revistaforum.com.br/opiniao/2023/7/26/meio-viado-abrao-hetero-140119.html
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