Para Ana Paula do Carmo, 8, estar em cerimônias do candomblé é semelhante aos dias em que visita a avó. “Quando estou muito tempo sem ver a minha avó e vou na casa dela me dá uma sensação muito boa. Quando rezo também, me dá uma sensação de tranquilidade e calma. Sinto a minha energia feliz”, conta a menina.
Ana vive no Jardim Silvina, periferia de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e segue a religião de matriz africana desde os 3 anos de idade. Na doutrina, é como se tivesse 5 anos atualmente, pois essa é considerada a “idade de santo”, ou seja, quanto tempo tem de iniciada na religião.
Com esse período na doutrina, ela é considerada uma Yalasé, título importante que permite que ela ajude nas “obrigações”, tarefas relacionadas ao calendário festivo do candomblé. “Já enfeitei doces e flores”, exemplifica.
As obrigações e festas ocorrem em um salão chamado de barracão, localizado no mesmo bairro onde a família vive. Ana Paula dança em roda junto com os adultos, já que as atividades são integradas.
Além da dança, ela aprecia as músicas e as comidas. Cada santo tem uma comida preferida. “Arroz, farofa, frango e refri. Eu gosto do Amalá (quiabo, camarão, dendê), que é a comida do meu segundo santo, Xangô”, completa.
Entre março e abril de 2022, Ana fez a renovação no candomblé. Ela precisou seguir algumas orientações que fazem parte do rito, como não usar telefone celular, internet, ficar em isolamento e não ingerir determinados alimentos por cerca de um mês.
Quando voltou às aulas, uma professora perguntou o motivo do afastamento por alguns dias e Ana respondeu que era por conta da religião.
“[Ana] sentiu que a professora foi rude quando disse que ela não podia ter esse afastamento, porque a religião não é mais importante do que a escola”, relata Jéssica do Carmo, 27, tia da menina. “Entendo, mas a professora deveria ter cobrado uma explicação da gente e não dela”, complementa.
Ana é filha de Oxum, orixá das águas, da beleza, do ouro e da fertilidade. Ser filho de algum santo significa ser um representante da entidade na terra e ser guiado por ele em seu desenvolvimento espiritual.
A menina diz acreditar na importância dos orixás, considerados deuses ligados aos fenômenos da natureza e ao cotidiano. “Eles cuidam da gente”, diz, antes de citar cada um deles. “Tem o Oxumaré, que representa o arco-íris, Oyá com o raio, Oxum com a cachoeira, Iemanjá com o mar, Nanã com a lama, e Ogum, que é o caminho.”
Fonte: https://www.agenciamural.org.br/orixas-cuidam-da-gente-diz-ana-paula-sobre-o-candomble-em-sao-bernardo/
Nenhum comentário:
Postar um comentário