Todos os sábados, a menina participa das giras, uma celebração em que a pessoa dança em círculos para incorporar tais entidades. Durante a incorporação a pessoa conversa e participa da atividade, porém está sob o controle da entidade.
No terreiro tenda de umbanda Caboclo Ubirajara e Exu Ventania, em Diadema, Janaina já foi girada diversas vezes, mas ainda não atingiu a fase de incorporação, que só ocorrerá quando chegar à maioridade (18 anos) – algumas das práticas são permitidas apenas para adultos, pois envolvem fumar charuto ou bebidas.
Contudo, a participação da criança desde cedo é importante para o desenvolvimento mediúnico, aponta. “Com o tempo que você vai girando, girando, vai desenvolvendo mais energia”, diz.
Segundo a menina, existem dias diferentes para incorporação de cada tipo de entidade. Nos dias das giras de direita, as roupas usadas são claras, os giros e a energia são mais leves, pois as pessoas recebem os Orixás. As luzes ficam acesas porque eles vivem no céu.
Já nos dias da gira de esquerda, as pessoas vão com roupas escuras, as giras e a energia é mais forte, porque incorporam os Exus. As luzes ficam apagadas, pois essas entidades vivem no inferno. “É pra fazer o bem sem ver a quem”, justifica para dizer que, embora seja seu lugar de morada, esses guias não fazem mal e aconselham sempre para que o incorporado faça o bem.
A tia dela, Thamires Conceição, acrescenta que as entidades vivem nessas regiões porque já foram espíritos que conheceram o mal e agora trabalham para o bem.
Janaina explica que as giras ocorrem com os olhos fechados, e a desincorporação acontece na frente da Tronqueira, espécie de altar ou casinha, que seria o portal para seu retorno ao outro plano. “Quando eles vão embora, a pessoa pula para trás, e na gira de esquerda, que é mais forte, uma pessoa fica atrás para evitar que a pessoa caia”, acrescenta.
Embora ainda não incorpore, a menina já tem seus guias preferidos. Entre eles, Maria Padilha, Maria Navalha e Exu Mirim, de esquerda, Ogum, Iansã e Preta Velha, de direita. “Gosto muito deles, dá um aperto no coração quando eles me cumprimentam”, descreve a sensação.
Janaina também gosta das festas, como a de Iemanjá, que é feita na praia, a de Cosme e Damião, por causa dos doces que são distribuídos e por serem protetores das crianças, e a do Preto Velho, em que há bolo de fubá e uma farofa que ela diz ser deliciosa, ambos comidos com a mão.
Quando crescer, pretende ser uma mãe de santo para abençoar a todos. “Se um filho da casa estiver precisando, a mãe ajuda e sabe o que tem que fazer”. Para chegar a essa função, Janaina esclarece que terá que passar por algumas etapas de desenvolvimento dentro do terreiro. Uma delas é aprender e ministrar passes, auxílio espiritual semelhante ao do espiritismo.
Fonte: https://www.agenciamural.org.br/aos-9-janaina-quer-abencoar-a-todos-na-umbanda/amp/
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