O Reinado das Prostitutas é o título
de um período em que o papado era submisso, não só da nobreza romana, mas
também de duas mulheres. Essas famílias queriam acesso aos estados pontifícios
por suas riquezas e o prestígio que eles conferiam. Portanto precisavam de um
papa que fizesse o que lhe mandassem. É interessante que nesse período um terço
dos papas morreu em circunstâncias muito incomuns. Estrangulados, envenenados,
sufocados, ou apenas sumidos. Esse foi período do Reinado das Prostitutas, diz
o historiador John Rogan.
Theodora e seu marido Teofilato eram personagens ricos e poderosos da Roma do
inicio do século décimo. Ambos eram senadores. Teofilato também dirigia a
milícia local e controlava as finanças papais. Mas esse casal era muito
ambicioso e desejava nada menos que governar Roma a maneira dos antigos
imperadores. Infelizmente para eles a igreja estava em seu caminho. A coisa
óbvia a fazer então era controlar a igreja. O que eles precisavam de uma
criatura sua la dentro, um fantoche ! Para sorte dos dois surgiu um candidato
disposto a cooperar.
Seu nome era Sérgio III e com alguma ajuda de Theodora e
Teofilato fora eleito papa em janeiro de 904. Para manter Sergio com rédea
curta e nunca deixa-lo esquecer quem mandava ali, Theodora e seu marido deram
de presente ao santo papa sua filha de 15 anos, Marósia. Ela não perdeu tempo e
ficou logo grávida de Sergio e essa criança mais tarde haveria de tornar-se
papa. Sergio foi, na melhor das hipóteses, um horror! Um dos piores papas da
história, mesmo para os padrões da época tenebrosa que pontificou.
Depois de assassinar o papa anterior, Leão V, e obter o
trono de São Pedro com a ajuda de Theodora e seu marido, ele resolveu se livrar
de seus desafetos, um dos quais era um ex-papa chamado Formoso. A vingança não
é uma virtude cristã e no caso de Formoso não era sequer necessária, afinal ele
ja estava morto.
Formoso estava morto há nove meses.
Seu corpo foi exumado o corpo do desafeto foi julgado, num julgamento que ficou
conhecido como Sínodo do Cadáver. O defunto foi colocado em um trono e um
diácono foi encarregado de responder pelo morto, Formosos foi acusado de ter
exercido funções de bispo enquanto estava na condição de leigo excomungado, por
ter recebido o Pontificado em circunstância irregular, abandonando o bispado do
Porto entre outras acusações, que tinham sido levantadas no pontificado de João
VII. No quadro geral o papa morto foi acusado de ter agido com extrema ambição
para alcançar o posto máximo da igreja.
O cadáver considerado culpado, foi despido de suas vestes pontifícias,
foram-lhe decepados três dedos da mão direita (os dedos da benção), vestiram-no
com roupas ordinárias de leigo, e enterraram de novo o mais rápido possível.
Mais tarde ele foi exumado novamente e atirado no rio Tibre. O triste, é que
Formoso não fora maculado por escândalo sexual nenhum. Eles apenas não gostavam
dele.
Com Sergio firmemente estabelecido como supremo pontífice,
Theodora e Teofilato sutilmente assumiram a posição de poder por trás do trono
papal. A era da "pornocracia" havia começado. Mas mesmo os melhores
planos podem dar errado. Theodora e Teofilato provavelmente não contavam com o
fato do seu papa fantoche morrer apenas com dois anos de pontificado. Pois
Sérgio morreu mesmo inconvenientemente em 911. Mas a essa altura o domínio do casal
sobre o papado era absoluto. Era hora de agir e Theodora assegurou uma
transição tranquila, seduzindo o sucessor favorecido por ela, o arcebispo de
Ravenna.
Convencido de sua vocação sagrada e com a menor preparação
possível para o pontificado máximo, Ravenna subiu ao trono como o papa João X.
A cerimônia de iniciação ministrada por Theodora havia assegurada que ele não
esquecesse a quem devia lealdade. tudo correu bem no início, mas Theodora logo
percebeu uma mudança no seu papa favorito. Ela o subornara com seu corpo mas
ele, miserável e ingrato que era, recusou-se a permanecer subornado. E o pior
não era isso, tudo levava a crer que João tinha se tornado sinceramente piedoso
e decidido a levar os assuntos sagrados a sério. Nenhuma campanha da mídia provocou
essa mudança, nenhum debate na televisão, nenhuma pressão de jornalistas
determinados a por um fim na corrupção, nada disso.
Gradualmente o papa João começou a conduzir a santa igreja
por uma estrada independente, distanciando-se da influencia de Theodora e seus
partidários. Não era bem isso que ela tivera em mente. No ano de 924 as coisa
pareciam prestes a mudar ainda mais radicalmente graças a morte súbita de
Theodora. O papa deve ter pensado que agora estava salvo de influências
externas pouco desejáveis. Ele não podia estar mais equivocado. Pois aguardando
para assumir o lugar de sua mãe estava Marosia que se tornou tão inescrupulosa
quanto Theodora.
Isso foi uma péssima notícia para o
papa João que pagou o preço por ser um prelado virtuoso no ano de 928. Diz o
historiador John Rogan: "Ela era igual a mãe e ela o depôs porque as vezes
fantoches querem ser independentes e o papa procurava independência para o
papado porque havia questões sérias a tratar relacionadas com invasores
muçulmanos, etc. Mas ela não podia tolerar que ele fosse independente. Por isso
ele foi preso e deposto”. Em uma noite tenebrosa daquele mesmo ano o papa João
X morreu sufocado por um travesseiro. Quem poderia ter encomendado esse crime?
Os dois papas seguintes Leão e Estévao eram títeres de
Marozia, meros guardadores do lugar. Sua única função era manter aquecido o
trono de São Pedro enquanto o filho dela, cujo pai era o execrável Sérgio,
crescia. Em março de 931 ela o viu coroado com o papa João XI. Foi a única
ocasião na história que o filho ilegítimo de um papa anterior o sucedeu no
papado.
Infelizmente havia outro filho, Alberico, que não ficou
muito contente ao ver seu meio irmão obtendo o cargo máximo da igreja. Alberico
herdara todas as características dessa família encantadora. Ele era ambicioso,
faminto de poder, detestável e absolutamente impiedoso. Não o tipo de pessoa
que se deva ter como inimigo. Se ele estava insatisfeito por seu irmão ser o
papa, isso não foi nada comparado ao desprazer que sentiu quando soube que sua
mãe pretendia se casar com Humo de Provença, ninguém menos do que o Rei da
Itália.
De repente surgia outro obstáculo as suas ambições. Para
piorar as coisas o Rei insultou Alberico durante as comemorações do casamento.
Se ao menos as câmeras e os cronistas estivessem por lá para registra o
ocorrido... Alberido era um homem de ação por excelência e não poderia tolerar
um meio irmão agraciado com um papado por sua mãe. Nem tão pouco um padrasto
inoportuno que o impediria de realizar o seu sonhos de poder.
Diz o historiador John Rogan: "O filho dela, de um
casamento anterior ficou muito ofendido com esse casamento, fortuito e achou
que a posição dele estava ameaçada, então organizou um golpe de estado. Foram
todos mortos, provavelmente sufocados porque ele não gostava de sangue,
preferia mortes silenciosas. O papa foi obrigado a cuidar apenas de funções
sacramentais. Alberico assumiu controle político da região e esse foi o fim de
todos eles”.
Matar a própria mãe, encarcerar o irmão estavam na ordem do
dia para aqueles que faziam o serviço de deus durante o reinado das
prostitutas. Alberico estava apenas continuando os negócios da família. Com
Marózia morta e papa aprisionado as coisas pareciam muito promissoras, Para
deixar bem claro quem estava no poder Alberico proclamou-se Príncipe de Roma
senador de todos os romanos. Quem disse que o crime não compensa? Alberico mais
tarde dignou-se a libertar seu meio irmão da cadeia, embora apenas para
torna-lo uma espécie de escravo pessoal. Para o ex-papa que desfrutava o melhor
da vida isso foi um sapo grande demais para engolir. Ele morreu um homem
arrasado três anos depois.
O Reinado das Prostitutas terminou com o filho de
Alberico, Otaviano, que empunhou o cajado de pastor universal como papa João
XII, na metade do século X e que era tão corrupto moralmente, politicamente e financeiramente
que um sínodo especial reuniu-se para depô-lo. Eles não precisavam ter se dado
ao trabalho, pois sua santidade morreu na cama, embora não na cama dele,
aparentemente o marido enfurecido que o matou a marteladas não gostou muito da
ideia de dividir a sua mulher nem mesmo como santo padre.
Original: https://www.oarquivo.com.br/temas-polemicos/religiao-cultos-e-outros/480-a-vida-secreta-dos-homens-santos-de-roma-parte-2.html
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