domingo, 1 de agosto de 2021

O Reinado das Prostitutas

O Reinado das Prostitutas é o título de um período em que o papado era submisso, não só da nobreza romana, mas também de duas mulheres. Essas famílias queriam acesso aos estados pontifícios por suas riquezas e o prestígio que eles conferiam. Portanto precisavam de um papa que fizesse o que lhe mandassem. É interessante que nesse período um terço dos papas morreu em circunstâncias muito incomuns. Estrangulados, envenenados, sufocados, ou apenas sumidos. Esse foi período do Reinado das Prostitutas, diz o historiador John Rogan.

Theodora e seu marido Teofilato eram personagens ricos e poderosos da Roma do inicio do século décimo. Ambos eram senadores. Teofilato também dirigia a milícia local e controlava as finanças papais. Mas esse casal era muito ambicioso e desejava nada menos que governar Roma a maneira dos antigos imperadores. Infelizmente para eles a igreja estava em seu caminho. A coisa óbvia a fazer então era controlar a igreja. O que eles precisavam de uma criatura sua la dentro, um fantoche ! Para sorte dos dois surgiu um candidato disposto a cooperar.

Seu nome era Sérgio III e com alguma ajuda de Theodora e Teofilato fora eleito papa em janeiro de 904. Para manter Sergio com rédea curta e nunca deixa-lo esquecer quem mandava ali, Theodora e seu marido deram de presente ao santo papa sua filha de 15 anos, Marósia. Ela não perdeu tempo e ficou logo grávida de Sergio e essa criança mais tarde haveria de tornar-se papa. Sergio foi, na melhor das hipóteses, um horror! Um dos piores papas da história, mesmo para os padrões da época tenebrosa que pontificou.

Depois de assassinar o papa anterior, Leão V, e obter o trono de São Pedro com a ajuda de Theodora e seu marido, ele resolveu se livrar de seus desafetos, um dos quais era um ex-papa chamado Formoso. A vingança não é uma virtude cristã e no caso de Formoso não era sequer necessária, afinal ele ja estava morto.

Formoso estava morto há nove meses. Seu corpo foi exumado o corpo do desafeto foi julgado, num julgamento que ficou conhecido como Sínodo do Cadáver. O defunto foi colocado em um trono e um diácono foi encarregado de responder pelo morto, Formosos foi acusado de ter exercido funções de bispo enquanto estava na condição de leigo excomungado, por ter recebido o Pontificado em circunstância irregular, abandonando o bispado do Porto entre outras acusações, que tinham sido levantadas no pontificado de João VII. No quadro geral o papa morto foi acusado de ter agido com extrema ambição para alcançar o posto máximo da igreja.

O cadáver considerado culpado, foi despido de suas vestes pontifícias, foram-lhe decepados três dedos da mão direita (os dedos da benção), vestiram-no com roupas ordinárias de leigo, e enterraram de novo o mais rápido possível. Mais tarde ele foi exumado novamente e atirado no rio Tibre. O triste, é que Formoso não fora maculado por escândalo sexual nenhum. Eles apenas não gostavam dele.

Com Sergio firmemente estabelecido como supremo pontífice, Theodora e Teofilato sutilmente assumiram a posição de poder por trás do trono papal. A era da "pornocracia" havia começado. Mas mesmo os melhores planos podem dar errado. Theodora e Teofilato provavelmente não contavam com o fato do seu papa fantoche morrer apenas com dois anos de pontificado. Pois Sérgio morreu mesmo inconvenientemente em 911. Mas a essa altura o domínio do casal sobre o papado era absoluto. Era hora de agir e Theodora assegurou uma transição tranquila, seduzindo o sucessor favorecido por ela, o arcebispo de Ravenna.

Convencido de sua vocação sagrada e com a menor preparação possível para o pontificado máximo, Ravenna subiu ao trono como o papa João X. A cerimônia de iniciação ministrada por Theodora havia assegurada que ele não esquecesse a quem devia lealdade. tudo correu bem no início, mas Theodora logo percebeu uma mudança no seu papa favorito. Ela o subornara com seu corpo mas ele, miserável e ingrato que era, recusou-se a permanecer subornado. E o pior não era isso, tudo levava a crer que João tinha se tornado sinceramente piedoso e decidido a levar os assuntos sagrados a sério. Nenhuma campanha da mídia provocou essa mudança, nenhum debate na televisão, nenhuma pressão de jornalistas determinados a por um fim na corrupção, nada disso.

Gradualmente o papa João começou a conduzir a santa igreja por uma estrada independente, distanciando-se da influencia de Theodora e seus partidários. Não era bem isso que ela tivera em mente. No ano de 924 as coisa pareciam prestes a mudar ainda mais radicalmente graças a morte súbita de Theodora. O papa deve ter pensado que agora estava salvo de influências externas pouco desejáveis. Ele não podia estar mais equivocado. Pois aguardando para assumir o lugar de sua mãe estava Marosia que se tornou tão inescrupulosa quanto Theodora.

Isso foi uma péssima notícia para o papa João que pagou o preço por ser um prelado virtuoso no ano de 928. Diz o historiador John Rogan: "Ela era igual a mãe e ela o depôs porque as vezes fantoches querem ser independentes e o papa procurava independência para o papado porque havia questões sérias a tratar relacionadas com invasores muçulmanos, etc. Mas ela não podia tolerar que ele fosse independente. Por isso ele foi preso e deposto”. Em uma noite tenebrosa daquele mesmo ano o papa João X morreu sufocado por um travesseiro. Quem poderia ter encomendado esse crime?

Os dois papas seguintes Leão e Estévao eram títeres de Marozia, meros guardadores do lugar. Sua única função era manter aquecido o trono de São Pedro enquanto o filho dela, cujo pai era o execrável Sérgio, crescia. Em março de 931 ela o viu coroado com o papa João XI. Foi a única ocasião na história que o filho ilegítimo de um papa anterior o sucedeu no papado.

Infelizmente havia outro filho, Alberico, que não ficou muito contente ao ver seu meio irmão obtendo o cargo máximo da igreja. Alberico herdara todas as características dessa família encantadora. Ele era ambicioso, faminto de poder, detestável e absolutamente impiedoso. Não o tipo de pessoa que se deva ter como inimigo. Se ele estava insatisfeito por seu irmão ser o papa, isso não foi nada comparado ao desprazer que sentiu quando soube que sua mãe pretendia se casar com Humo de Provença, ninguém menos do que o Rei da Itália.

De repente surgia outro obstáculo as suas ambições. Para piorar as coisas o Rei insultou Alberico durante as comemorações do casamento. Se ao menos as câmeras e os cronistas estivessem por lá para registra o ocorrido... Alberido era um homem de ação por excelência e não poderia tolerar um meio irmão agraciado com um papado por sua mãe. Nem tão pouco um padrasto inoportuno que o impediria de realizar o seu sonhos de poder.

Diz o historiador John Rogan: "O filho dela, de um casamento anterior ficou muito ofendido com esse casamento, fortuito e achou que a posição dele estava ameaçada, então organizou um golpe de estado. Foram todos mortos, provavelmente sufocados porque ele não gostava de sangue, preferia mortes silenciosas. O papa foi obrigado a cuidar apenas de funções sacramentais. Alberico assumiu controle político da região e esse foi o fim de todos eles”.

Matar a própria mãe, encarcerar o irmão estavam na ordem do dia para aqueles que faziam o serviço de deus durante o reinado das prostitutas. Alberico estava apenas continuando os negócios da família. Com Marózia morta e papa aprisionado as coisas pareciam muito promissoras, Para deixar bem claro quem estava no poder Alberico proclamou-se Príncipe de Roma senador de todos os romanos. Quem disse que o crime não compensa? Alberico mais tarde dignou-se a libertar seu meio irmão da cadeia, embora apenas para torna-lo uma espécie de escravo pessoal. Para o ex-papa que desfrutava o melhor da vida isso foi um sapo grande demais para engolir. Ele morreu um homem arrasado três anos depois.

O Reinado das Prostitutas terminou com o filho de Alberico, Otaviano, que empunhou o cajado de pastor universal como papa João XII, na metade do século X e que era tão corrupto moralmente, politicamente e financeiramente que um sínodo especial reuniu-se para depô-lo. Eles não precisavam ter se dado ao trabalho, pois sua santidade morreu na cama, embora não na cama dele, aparentemente o marido enfurecido que o matou a marteladas não gostou muito da ideia de dividir a sua mulher nem mesmo como santo padre.

Original: https://www.oarquivo.com.br/temas-polemicos/religiao-cultos-e-outros/480-a-vida-secreta-dos-homens-santos-de-roma-parte-2.html

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