Na fé católica, existe a figura do santo folclórico. São entidades que, por serem mitológicas, não terem uma história de vida santa ou representarem ideias contrárias às da Igreja, são rejeitadas pela doutrina oficial. Quando alguém cultua um santo folclórico, está incorrendo no pecado de idolatria e está sujeito à danação eterna.
Mas só um santo pode levar à condenação também aqui na Terra: Jesús Malverde, o santo dos narcotraficantes. No México e nos Estados Unidos, ter uma imagem sua é uma causa provável para uma acusação judicial – equivalente a ter parafernália para a produção e empacotamento de drogas. Seus altares se distribuem num corredor que começa na Colômbia, passa pelo México e termina em Los Angeles – o caminho da cocaína para os Estados Unidos.
Tudo o que vai aqui é baseado em versões populares de uma lenda contada de muitas formas. Esta é corroborada pelo historiador mexicano Ernesto Gatica. Seu nome real era Jesús Juárez Mazo. Malverde é um apelido, provavelmente porque ele atacava na serra, vindo da floresta – “el mal verde”.
Nascido em Sinaloa, estado dominado hoje por um dos mais temidos cartéis do México, passou fome na infância e trabalhou como mineiro e construtor de ferrovias quando adulto. Um dia, ousou levantar sua voz contra o general Francisco Cañedo, governador do estado, acusando-o de não dar atenção aos pobres. O militar pediu sua cabeça. O herói foi alvejado e atirado num rio, dado por morto.
Resgatado por pescadores, tornaria-se um bandoleiro. Por anos, Malverde atacou fazendeiros da região, distribuindo sua fortuna aos pobres. Inclusive, em certa ocasião, teria roubado a espada do governador – que havia oferecido, num desafio, o perdão ao bandido se ele tomasse sua espada. Palavra que não cumpriria.
Um dia, a sorte de Jesús acabou e as forças de Cañedo o alvejaram novamente. Conseguiu escapar, mas os ferimentos gangrenaram. Percebendo que não teria chance, teve tempo para um último gesto de generosidade: pediu que levassem seu corpo ao governo e clamassem a recompensa, para distribuí-la entre os pobres.
Além de seu nome, o folclore registrou datas exatas para o nascimento e morte de Malverde: 24 de dezembro de 1870 e 3 de maio de 1909. Mas não há qualquer evidência de ele ter existido, e historiadores acreditam que a lenda veio de bandoleiros reais de Sinaloa, como Heraclio Bernal (1855-1888) e Felipe Bachomo (1883-1916).
Malverde é cultuado não só por narcotraficantes como por coiotes que conduzem imigrantes ilegalmente através da fronteira com os EUA. E, em Sinaloa, pelos pobres em geral. Seu santuário, na capital Culiacán, está sempre sob ameaça de ser fechado.
Original: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/o-santo-do-narcotrafico.phtml
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