Não se falava outra coisa na Ágora. Nem mesmo quando Platão
andou fazendo a apologia de Sócrates tinham tantos comentários e boatos. Aos
cochichos, aqueles senhores barbados, sisudos, cochichavam sobre se era verdade
ou não que o grande Aristóteles tinha se submetido a uma mulher. Como aquele
que era chamado de mestre por tantos estava ausente e ocupado tutelando
Alexandre III, o filho de Felipe II e Basileu da Macedônia, só o que restava
eram conjecturas e muitas fantasias.
Os boatos mais gentis contavam que o mestre tinha sido
vítima de uma trapaça forjada por Alexandre, mas mesmo isso era inaceitável. Os
boatos mais maldosos eram de que o mestre tinha servido, voluntária e
alegremente, como cavalo dessa enigmática mulher. Ah, sim, as gerações futuras
irão perguntar e até se tentará esconder, mas a Grécia Antiga foi o berço da
misoginia que existe no mundo ocidental contemporâneo.
A história ou lenda foi registrada por Lope Garcia Salazar,
no livro Bienandanzas e Fortunas, no Tomo Cinco, em castelhano arcaico, no que
eu transcrevo a tradução dada pelo Google Tradutor:
Título de como Aristótiles foi enganado de uma
donzela a conselho de Alixandre, porque o repreendia muito para não usar com
mulheres.
Alixandre, vendo-se repreendido por seu mestre
Aristótiles, seiendo mançebo, por ser próximo das mulheres, resolveu
repreendê-lo. E ele tinha um jeito com uma de suas donzelas que o enganava
dessa maneira: aquela donzela se aproximava dele com tal engenhosidade, que o
fazia entender que o amava mais do que a si mesma e o colocava em tal estado,
que ele a amava de forma desigual , no entanto, que ela descobriu seu amor por
ela, o que, com zelo devido à indústria de Alixandre, gelo estava delicadamente
atrasando, desde que lhe dissesse que lhe daria todas as coisas que ela
exigisse dele e tudo o que ela lhe enviasse, que ela respondeu que queria mais
do que ele, mas que ele a deixava fazer uma coisinha e então que secretamente
confiava nela a sua vontade, porque era casado e velho. E ele respondeu com uma
alegria maravilhosa para perguntar o que ele queria. Diga à ele:
-Senhor, deixe-me encarar e selar e cavalgar em você
com esporas como um cavaleiro a cavalo e você vai correr à noite, para que não
se saiba, no grande salão do palácio iluminado por velas quando todos estão
dormindo.
Aristóteles, surpreso e pesado com isso, disse:
-Oh, senhora fixa! Por que está fazendo isso, é meu
mal e probleminha? E me diga por que você quer isso.
-Senhor, eu quero isso porque as omes têm o costume
de zombar das mulheres quando elas cumprem suas vontades, porque se quiser
zombar de mim depois de concordar com sua vontade, para que eu possa decidir
como cavalguei em você antes como a um cavalo.
E concedido por ele, ele o enfrentou e o selou, e,
cavalo nele, o fez correr a quatro pés, ferreting d'espuelas. Como Alixandre,
que enfrentou tudo isso, ele estava ali escondido atrás de uma parede e veio
até eles e disse "o que é isso, professor ilustre?" O Aristótiles o
viu, com grande pesar e muita vergonha disse:
-Oh consertou Alixandre! Você namorou tudo isso.
Jamais te repreenderei por uma coisa de mulher, por nenhum senso de omne do
mundo que não seja enartado pelo amor de mulher.
Notem
que não se declara o nome da beldade. No entanto, consultando o Oráculo Virtual
[Google], tanto em páginas em inglês quanto em português, acusam o nome de
Filis [Phyllis]. Nessas versões, algumas dão a entender que Filis era uma
cortesã ou esposa de Alexandre e que a ideia dessa pegadinha foi toda dela.
Lenda
assim não é novidade. Desde que os meninos tomaram o mundo e instituíram o
Patriarcado, os meninos ainda tem medo da mulher. Sansão teve a Dalila,
Holofernes teve a Judite, Herodes teve a Salomé. Todas essas lendas mostram
como nós, homens, somos o verdadeiro sexo fraco.
Quando
Alexandre resolveu tirar férias depois da batalha de Gaugamela, Aristóteles
veio junto na comitiva de volta à Macedônia. No ato, Aristóxeno, Critolau, Nicômano,
Teofrasto, Estradão, Demétrio e Eudemo foram ter com o mestre.
-
Mestre! Mestre!
A
figura de uma mulher aparece na ventana e os tenta enxotar.
[em
persa]- Fora daqui, o mestre está dormindo.
Felizmente
Teofrasto passou alguns anos na Síria e pode entender e dizer algumas palavras
com essa mulher.
[em
sírio]- Gentil donzela, nós precisamos ver o mestre.
[em
macedônio]- Você é um dos alunos dele?
- Sim!
Graças aos Deuses, nós falamos a mesma língua.
[irritada]-
Como eu disse, vão embora, o mestre está descansando.
- Por
favor, nobre donzela, isso é importante!
[de
dentro da casa]- Quem é, querida?
- Ah,
meu chuchu, só alguns homens inconvenientes.
[esgueirando
pela ventana] - Quem? Ah! Teofrasto! Entre, entre, vamos conversar.
- Nós
todos podemos entrar?
[acenando]-
Claro, claro. Filis está apenas sendo superprotetora.
Os sete
homens passam pela porta sentindo os olhos daquela mulher lançar adagas pelos
olhos. A casa continuava do mesmo jeito. Simples, espartana e limpa. Metade da
casa tomada por nichos recheados de pergaminhos e a parte do quintal decorada
com inúmeros objetos e experimentos do mestre.
-
Felizmente eu preparei muito chá de melífera e hortelã. Sentem-se que eu os
sirvo.
Acanhados
e envergonhados, aqueles homens se serviram dos banquinhos que encontraram e se
dispuseram em círculo. Rápida e agilmente Aristóteles entrega uma xicara e chá
para cada um.
-
Lamento. Os biscoitos egípcios acabaram.
- Hã...
tudo bem, mestre. Perdoe-nos o incômodo. Nós apenas queríamos saber e entender
o que aconteceu com... o senhor e a Filis.
[rindo]-
Nada que não aconteça desde que nossa espécie apareceu no planeta.
-
Mas... o senhor... nos ensinou tanto sobre o gênero feminino!
[sério]-
E eu não poderia estar mais errado. Eu espero viver o suficiente para repara
meu erro.
[apreensivo] -
Isso... é bom, mestre. Sua ausência foi sentida na Academia. Eu e muitos
ficaremos muito contentes com o seu retorno. Mas por favor, nos conte se é
verdade?
[estreitando
os olhos]- Isso é alguma brincadeira? Eu refutei Platão e Sócrates.
[gesticulando]-
Não, mestre! Nós apenas queremos ouvir a história, tal como aconteceu,
diretamente do senhor!
[suspirando]-
Oh, bem... eu acho que esse é o meu castigo. Que falta me faz os canudos de
cálamo da Bitínia! Eu acho que foi em Issus, depois da vitória em Gaugamela.
Alexandre foi reconhecido e coroado como Basileu da Pérsia. Em poucos anos, o
garoto tinha seu império e eu estava preocupado se ele teria condições de
reger. Quando se fala em regência e obrigações imperiais, eu achei prudente
alertar Alexandre de que esse tipo de ocupação deve ter cuidado com as amizades
e sobretudo com a fraqueza masculina diante da mulher. Evidente que eu sabia
que ele era bissexual, então eu deveria incluir sua possível fraqueza diante de
um homem, como depois eu percebi sua intimidade com Heféstion, mas acabou
ficando assim. Por algum motivo isso o contrariou e o que não faltava na Pérsia
são mulheres deslumbrantes. Atentem a isso, garotos, não importa o quanto vocês
estudem e saibam das coisas, vocês ainda serão homens sujeitos aos mesmos
apetites comuns.
- Nós
lembramos bem de suas aulas sobre o gênero feminino.
[sério]-
E eu vou ter que corrigir e ensinar outra coisa.
[assustado]-
Mestre, o que mudou?
[suspiro]-
Nós discutimos muito sobre a arrogância e prepotência dos Helênicos de se
declararem o povo da filosofia. Existe um mundo enorme e eu encontrei muitos
sábios no Oriente. Filis, por exemplo, é mestra em Pasargada.
[mais
assustado]- Hã... isso é realmente, mestre, mas é verdade que o senhor serviu
como cavalo para essa mulher?
[sério]- Sim, porque não? Nós ouvimos dos anciãos as lendas sobre a Era Dourada, quando Deuses e homens conviviam. Nesse tempo perdido, o mundo adorava uma Grande Deusa e seu Consorte. Então aconteceu um cataclisma, que as lendas não explicam direito, nós começamos a adorar os Deuses de agora e nos tornamos patriarcais e machistas. A humanidade perdeu muito ao alijar metade de sua espécie. Aprendam, meus alunos. A fonte da sabedoria é a mulher. Submeter-se a uma mulher não nos torna menos homens. Deixe que a mulher te cavalgue, pois ela também deixará que você monte nela. Acredite, vale muito mais alguns minutos entre as pernas de uma mulher do que todos os anos de Academia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário