A claridade da manhã entrava pelas frestas da minha janela, pintando poeira dourada no ar. O lençol estava emaranhado, um testemunho silencioso da noite anterior, uma noite tão intensa que ainda ecoava em meus ossos. Riley não estava na cama. Pânico, puro e visceral, me agarrou. Riley, minha Riley, a hiena antropomórfica de olhos verdes e cabelos cacheados alaranjados, a criatura de músculos definidos e sorriso de tirar o fôlego que eu havia… criado? Sim, criado. Mas a noite passada, a noite passada havia transpassado a barreira tênue entre ficção e realidade de uma forma que me deixava nauseado de medo e excitado de uma forma que eu não conseguia explicar, ou mesmo processar completamente.
Eu, um escritor, havia feito amor com minha personagem. Uma heresia literária, um ato de loucura que me prometia a ruína absoluta. Ou assim eu pensava. A responsabilidade disso? Onde eu me enquadrava? Era um crime? Uma doença mental? A ideia de chamar a polícia me assombrava, mas o pavor de algo pior me paralisava.
As perguntas martelavam minha cabeça como um martelo pneumático. Onde ela havia ido? Quem a havia visto? Havia alguém que pudesse me denunciar? Alguém que pudesse entendê-la, que não a visse como uma aberração? O pavor me corroía. Ela era alta, impossivelmente atlética, e a memória do seu corpo nu – tão real e palpável quanto o meu – me deixava ofegante.
Quase disquei 190, as mãos tremendo tanto que os números borravam na tela. Mas então, a fechadura da porta girou e Riley entrou, o sol da manhã banhando seus cabelos numa glória alaranjada. Ela estava diferente, com um arranhão minúsculo no braço, e um gatinho miando em sua mochila.
“Oi”, ela disse, a voz rouca como a minha, carregada de sono e satisfação. Ela sorriu, um sorriso que me derreteu como manteiga ao sol.
As perguntas jorraram de mim, incontroláveis, um dilúvio de preocupação e culpa. “Riley! Meu Deus! Onde você estava? Alguém te viu? Te assediou? A polícia te parou?”
Ela riu, um som baixo e profundo que me encheu de um alívio tão intenso que quase me fez desmaiar. “Relaxa, anjo. Só dei uma volta no quarteirão. Vi alguns bêbados, um cachorro urrando na lua, e resgatei esse gatinho de um bueiro.” Ela acariciou o felino, que ronronava confortavelmente.
Meu alívio foi tão eufórico que quase me fez chorar. Ela estava bem. Ilesa. Ela existia fora do meu computador, fora das minhas páginas. Ela era real. Mas como?
“Mas… mas ninguém te estranhou? Ninguém te… te olhou diferente? Uma hiena… andando pela rua?”
Ela deu de ombros, o gesto perfeitamente humano. “Olharam, sim. Algumas pessoas até me acharam interessante. Mas ninguém me incomodou. Acho que as pessoas estão mais acostumadas ao extraordinário do que imaginamos.”
Então, ela sorriu novamente, um sorriso malicioso que me deixou o coração batendo forte. “E então? Vamos passear? Como um casal de verdade?”
A ideia era um turbilhão de emoções conflitantes. O perigo, a possibilidade de exposição, o risco… tudo aflorava em minha mente.
“Riley, é arriscado. Posso te colocar em perigo.”
Ela se aproximou, seu toque tão quente e real quanto a memória recente da nossa união. “Arriscado? Você, meu querido escritor, não hesitou em me colocar em todas as posições possíveis naquela maratona de sexo. E agora está me tratando como se eu fosse um objeto frágil? Isso lembra muito a minha mãe, com suas preocupações excessivas.” Ela riu, apertando minha mão.
Eu não pude contestar. Ela tinha razão. A noite passada não havia sido um sonho. O meu corpo, a minha alma, haviam ansiado por ela, a haviam recebido, a haviam integrado. Havia uma realidade tangível e inegável em sua existência.
E então, com um sorriso travesso, ela me puxou para fora do apartamento. A rua era um desafio, sim, mas com Riley ao meu lado, de mão dada, a sensação de perigo era ofuscada pela extraordinária beleza daquilo que estava acontecendo. E eu, um simples escritor, estava vivendo um conto de fadas surreal e perigosamente real. Uma aventura que eu nunca ousaria escrever, mas que estava vivendo com toda a intensidade que a vida podia oferecer. E talvez, só talvez, essa fosse a mais interessante das minhas histórias.
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