sábado, 29 de agosto de 2020

Terrorismo cristão

Que os horríveis ataques terroristas de sexta-feira em Oslo, que deixaram mais de 90 pessoas mortas – uma bomba no escritório do primeiro ministro e tiros em um acampamento da juventude do Partido Trabalhista –, foram alegadamente cometidos por um norueguês loiro, de extrema-direita e fundamentalista cristão, ao invés de por um grupo radical muçulmano, está sendo tratado como surpresa por alguns. Mas se aqueles jornalistas e analistas estivessem prestando atenção há algum tempo, de forma alguma ficariam surpresos.
Estudos da Europol há muito deixaram claro que a maior ameaça de terrorismo na Europa vem de movimentos separatistas, de setores periféricos da esquerda e da extrema-direita, nessa ordem. Em 2008, apenas um ataque terrorista, das centenas que ocorreram na Europa, foi cometido por muçulmanos radicais. Em 2010, de acordo com a Europol, 7 pessoas morreram em ataques terroristas. Cerca de 160 desses ataques naquele ano foram levados a cabo por separatistas. O número daqueles lançados por pessoas de herança muçulmana? Seria tolice dizer que radicais muçulmanos não apresentam uma ameaça de terrorismo; para falar a verdade, vários planos foram surpreendidos e desmontados pela polícia europeia. Mas, enquanto fenômeno, o terrorismo na Europa é principalmente obra de pessoas de herança cristã.
Os eventos de ontem serviram para nos lembrar de que não podemos cadastrar o mal, e que terroristas aparecem de todos os tamanhos, heranças, formas e cores de pele.
Autor: Juan Cole
Fonte: Amalgama (original perdido).

Nota das Blas: Qualquer conexão desta notícia com o movimento de Cristãos [Católicos/Protestantes] Fundamentalistas contra a criminalização da homofobia [argumentando que isso é Gayzismo] é mera "coincidência".
Texto resgatado com Wayback Machine.
Publicado originalmente em 25/07/2011.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Sobre a ordenação das mulheres

Nas últimas duas semanas, a ordenação de mulheres alcançou grande relevo nos media. Por causa de declarações inesperadas do cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo. Numa entrevista publicada no Boletim da Ordem dos Advogados declarara que "teologicamente não há nenhum obstáculo fundamental" à ordenação de mulheres. A recusa está baseada apenas na tradição.
A declaração teve eco em importantes órgãos de informação estrangeiros. Tanto mais quanto aparecia pouco tempo depois de um bispo australiano ter sido demitido devido à mesma abordagem do tema, e o vaticanista Andrea Tornelli fez notar que a declaração ia contra a doutrina afirmada por João Paulo II e Bento XVI.
Como seria de prever, choveram os protestos, provindos, segundo se diz, sobretudo do Opus Dei e do próprio Vaticano. As reacções, algumas de "indignação", obrigaram o patriarca a um esclarecimento, recuando. Nele, confessa a necessidade de "olhar para o tema com mais cuidado", acrescentando: "Verifiquei que, sobretudo por não ter tido na devida conta as últimas declarações do Magistério sobre o tema, dei azo a essas reacções." E reproduz a carta Ordinatio Sacerdotalis, de João Paulo II: "Declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja."
Quando se pensa, vê-se aqui a tipificação do que é na Igreja o respeito pelo direito de opinião e expressão. Depois, não se atende à vontade de tantos bispos a quem não só não repugnaria como até gostariam de ordenar mulheres. Ficou famosa a afirmação de D. Eurico Nogueira, então arcebispo de Braga: "Gostava de ver uma mulher no meu lugar."
As mulheres têm motivos para estar zangadas com a Igreja, que as discrimina. Jesus, porém, não só não as discriminou como foi um autêntico revolucionário na sua dignificação, até ao escândalo: veja-se a estranheza dos discípulos ao encontrar Jesus com a samaritana, que tudo tinha contra si: mulher, estrangeira, herética, com o sexto marido. Condenou a desigualdade de tratamento de homens e mulheres quanto ao divórcio. Fez-se acompanhar - coisa inédita na época - por discípulos e discípulas. Acabou com o tabu da impureza ritual. Estabeleceu relações de verdadeira amizade com algumas. Maria Madalena constitui um caso especial nesta amizade: ela acompanhou-o desde o início até à morte e foi ela que primeiro teve a intuição e convicção de fé de que Jesus crucificado não fora entregue à morte, pois é o Vivente em Deus.
Autor: Anselmo Borges
Fonte: Diário de Notícias (original perdido).
Texto resgatado com Wayback Machine.
PS: no Paganismo Moderno as mulheres tem o seu sacerdócio e espaço garantidos. Venham todas para que eu beije vossos pés 😻.

sábado, 22 de agosto de 2020

Conclamação à Desobediência

Mais de 300 dos 4.200 padres da Áustria pediram para tomar parte na Aufruf zum Ungehorsam (Conclamação à Desobediência), uma iniciativa lançada em junho.
A Conclamação à Desobediência cita "a recusa romana de uma reforma da Igreja que já deveria ser feita há muito tempo e a inação dos bispos". Os padres que apóiam o documento pedem:
Oração pela reforma da Igreja em cada celebração litúrgica, uma vez que "na presença de Deus há liberdade de discurso";
Que não se negue a Santa Eucaristia a "crentes de boa fé," incluindo cristãos não católicos e àqueles que recasaram fora da Igreja;
Que se evite oferecer Missa mais de duas vezes no domingo e domingos e dias santos e que se evite fazer uso de visitas a padres – realizando em vez disso uma "auto-designada" Liturgia da Palavra;
Que se descreva a tal Liturgia da Palavra com a distribuição da Santa Comunhão como uma "celebração Eucarística sem Sacerdote"; "assim, cumprimos a obrigação dominical em tempos de escassez de sacerdotes" ;
Que se "ignore" as normas canônicas que restringem a pregação da homilia ao clero para opor-se a fusões de paróquias, insistindo, em vez disso, que cada paróquia tem o seu próprio líder individual, "seja homem ou mulher";
Que se "use cada oportunidade de falar abertamente a favor da admissão dos casados e das mulheres ao sacerdócio".
"A conclamação aberta à desobediência me chocou", disse o Cardeal Christoph Schönborn, de Viena, em uma carta de 7 de julho, observando que muitos profissionais "teriam perdido seus cargos há muito tempo" se reivindicassem desobediência. Lembrando os padres que eles prometeram livremente obediência ao seu bispo na ordenação, ele indagou: "Posso contar com vocês?"
"A obediência cristã é uma escola de liberdade," acrescentou o cardeal. "Ela se trata da tradução concreta na vida do que rezamos em cada Pai–Nosso, quando pedimos ao Pai que Sua vontade seja feita no Céu e na terra… Essa disposição é concretizada em obediência religiosa ao Papa e bispos."
Aquele que verdadeiramente em consciência acredita que precisa desobedecer a hierarquia, e que "'Roma está na trilha errada [e] contradiz gravemente a vontade de Deus", conseqüentemente "não mais deve trilhar o caminho a Igreja Católica Romana. Creio e espero, entretanto, que esse caso extremo não ocorra aqui".
"Aquele que desiste do princípio da obediência dissolve a unidade", continuou o cardeal, ao prometer que se encontraria com os líderes da iniciativa e apontar as suas "incoerências," como, por exemplo, "Eucaristia sem sacerdotes."
Nota da casa: Nem entre os Cristãos/Católicos existe concordância e ainda insistem em nos enfiar goela abaixo esse totalitarismo doutrinário.
Texto resgatado com Wayback Machine.
PS: campanha Mude a Igreja ou Mude-se Dela.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Fraude em nome de Deus

Enquanto o ser humano progride e a sociedade torna-se mais humana, tem gente que tenta manter, a todo custo, uma mentalidade atrasada, antiquada, obsoleta e reacionária.
Quem, em sã consciência definiria como "gayzismo" a luta mais que justa dos homossexuais pelos seus direitos? Quem, em são consciência, usaria a religião como desculpa para tanto ódio, preconceito e intolerância?
Dizem os Cristãos que as leis do homem não pode estar acima das leis de Deus.
Mas qual Deus? E quais leis? Pergunta este pagão que vos escreve e os ateus.
Não há essa tal lei de Deus. Apenas uma leitura tendenciosa de um livro, cuja autenticidade, originalidade e veracidade são discutíveis. A bíblia é apenas mais um de muitos livros sagrados, ela contém a coletânea de textos que mais foram manipulados, editados, adulterados, forjados, interpolados e mal-traduzidos na literatura.
Os Cristãos dizem que seguem as leis de Deus que estão na bíblia. Isto é um problema e tanto, pois na bíblia Deus afirma que é o Senhor do povo de Israel, não dos brasileiros, nem de toda a humanidade.
Mas vamos dar mais uma chance aos Cristãos. As ditas "leis de Deus" são o Decálogo ( Dt 5:1-21 ), dado a Moisés, no monte Ararat.
Outro problema pois, em muitos aspectos, o Cristão não obedece tais leis, senão vejamos:
3 Não terás outros deuses diante de mim.
Ops. Os Cristãos adoram a Cristo como o Filho de Deus.
4 Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Ops. Os Católicos fazem imagens e esculturas.
5 Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
Ops. Os Católicos fazem hiperdulia [uma forma de idolatria disfarçada] das imagens dos santos.
6 E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.
7 Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.
Ops. Quando usam o nome de Deus para incitar o preconceito e a intolerância, Cristãos e Católicos estão tomando o nome de Deus em vão.
10 Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
Ops. Católicos guardam o domingo.
13 Não matarás.
Ops. Cristãos, sejam os Católicos ou Protestantes mataram muitos inocentes em nome de Deus.
14 Não adulterarás.
Ops. Cristãos adulteram.
15 Não furtarás.
Ops. Cristãos furtam.
16 Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
Ops. Cristãos levantaram falso testemunho contra os homossexuais.
17 Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo."
Ops. A Igreja cobiçou bens alheios.
Não há qualquer condenação da homossexualidade no Decálogo.
Outra referência é dada em Levítico, 18-22: "Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é".
Mas os Cristãos se esquecem de ler este trecho de Levítico, 18-2: "Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Eu sou o SENHOR vosso Deus".
Ou seja, Deus está falando ao povo de Israel, não aos brasileiros nem aos outros povos do mundo.
Outra referência é dada em Romanos 1-26,27: "Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro." Note-se que é Saulo, quem fala aos cristãos romanos, não aos brasileiros ou a outros povos. Não é Deus quem fala, nem Cristo.
Conclusão: os Cristãos Fundamentalistas apenas estão pinçando, de forma tendenciosa e desonesta, trechos da bíblia para justificar, explicar e desculpar suas visões preconceituosas e intolerantes.
A sociedade brasileira, diversificada, livre, democrática, soberana, não pode mais aceitar calada o discurso totalitarista nem o monólogo ditatorial dos Cristãos Fundamentalistas. Aqui é o Brasil, não o Afeganistão. Aqui nós temos instituições de direito, não o Taliban.
BASTA DE TOTALITARISMO DOUTRINÁRIO!
BASTA DE DITADURA CLERICAL!
APOSTASIA JÁ!
Texto resgatado com Wayback Machine.

sábado, 15 de agosto de 2020

A Igreja e a Liberdade

Denúncia divulgada pelo Caturo [Gladius] e que convém ressoar, agora que a mesma vem falar em "liberdade religiosa " e/ou respeito às crenças.
Em 1832 o papa Gregório XVI publicou a encíclica Mirari Vos, onde condenou a liberdade de religião, a liberdade de opinião (consciência), e a liberdade de imprensa (a qual, para o papa, é uma "monstruosidade"):

"(...)
Delírio da liberdade de consciência
10. Dessa fonte lodosa do indiferentismo promana aquela sentença absurda e errónea, digo melhor disparate, que afirma e defende a liberdade de consciência. Este erro corrupto abre alas, escudado na imoderada liberdade de opiniões que, para confusão das coisas sagradas e civis, se estende por toda a parte, chegando à imprudência de alguém se asseverar que dela resulta grande proveito para a causa da religião. Que morte pior há para a alma, do que a liberdade do erro! dizia Santo Agostinho (Ep. 166). Certamente, roto o freio que mantém os homens nos caminhos da verdade, e inclinando-se precipitadamente ao mal pela natureza corrompida, consideramos já escancarado aquele abismo (Apoc 9,3) do qual, segundo foi dado ver a São João, subia fumaça que entenebrecia o sol e arrojava gafanhotos que devastavam a terra. Daqui provém a efervescência de ânimo, a corrupção da juventude, o desprezo das coisas sagradas e profanas no meio do povo; numa palavra, a maior e mais poderosa peste da república, porque, segundo a experiência que remonta aos tempos primitivos, as cidades que mais floresceram pela sua opulência, extensão e poderio sucumbiram, somente pelo mal da desbragada liberdade de opiniões, liberdade de ensino e ânsia de inovações."

"Monstruosidade da liberdade de imprensa
11. Devemos tratar também neste lugar da liberdade de imprensa, nunca condenada suficientemente, se por ela se entende o direito de trazer-se à baila toda a espécie de escritos, liberdade que é por muitos desejada e promovida. Horroriza-Nos, Veneráveis Irmãos, o considerar que doutrinas monstruosas, digo melhor, que um sem-número de erros nos assediam, disseminando-se por todas as partes, em inumeráveis livros, folhetos e artigos que, se insignificantes pela sua extensão, não o são certamente pela malícia que encerram, e de todos eles provem a maldição que com profundo pesar vemos espalhar-se por toda a terra. Há, entretanto, oh que dor! quem leve a ousadia a tal requinte, a ponto de afirmar intrepidamente que essa aluvião de erros que se está espalhando por toda parte é compensada por um ou outro livro que, entre tantos erros, se publica para defender a causa da religião. É por toda forma ilícito e condenado por todo direito fazer um mal certo e maior, com pleno conhecimento, só porque há esperança de um pequeno bem que daí resulte. Porventura dirá alguém que se podem e devem espalhar livremente venenos activos, vendê-los publicamente e dá-los a tomar, porque pode acontecer que, quem os use, não seja arrebatado pela morte?

12. Foi sempre inteiramente distinta a disciplina da Igreja em perseguir a publicação de livros maus, desde o tempo dos Apóstolos, dos quais sabemos terem queimado publicamente muitos deles. Basta ler as leis que a respeito deu o V. Concílio de Latrão e a constituição que ao depois foi dada a público por Leão X, de feliz recordação, para que o que foi inventado para o progresso da fé e a propagação das belas artes não sirva de entrave e obstáculo aos Fiéis em Cristo (Act. Concílio Lateran. V, ses. 10; e Constituição Alexand. VI "Inter multiplices").O mesmo procuraram os Padres de Trento que, para trazer remédio a tanto mal, publicaram um salubérrimo decreto para compor um índice de todos aqueles livros que, por sua má doutrina, deviam ser proibidos (Conc. Trid. sess. 18 e 25). Há que se lutar valentemente, disse Nosso predecessor Clemente XIII, de piedosa memória; há que se lutar com todas as nossas forças, segundo o exige a gravidade do assunto, para exterminar a mortífera praga de tais livros, pois o erro sempre procurará onde se fomentar, enquanto não perecerem no fogo esses instrumentos de maldade (Encíclica "Christianae", 25 nov. 1776, sobre livros proibidos). Da constante solicitude que esta Sé Apostólica sempre revelou em condenar os livros suspeitos e daninhos, arrancando-os às suas mãos, deduzam, portanto, quão falsa, temerária e injuriosa à Santa Sé e fecunda em males gravíssimos para o povo cristão é aquela doutrina que, não contente com rechaçar tal censura de livros como demasiado grave e onerosa, chega até ao cúmulo de afirmar que se opõe aos princípios da recta justiça e que não está na alçada da Igreja decretá-la."

De notar que tudo isto foi declarado pela suprema autoridade da maior Cristandade, que destarte se afirmou como dona da verdade com direito a impôr a sua consciência à dos outros esmagando a intimidade alheia (princípio do totalitarismo), não na Idade Média, nem sequer na Idade Moderna, mas já na Idade Contemporânea, e, no final desse século, ainda a Igreja era contra a liberdade de escolha, de culto e de pensamento - a encíclica «Libertas Praestantissimum», do papa Leão XIII, datada de 20 de Junho de 1888, declarou o seguinte:

«Não é de modo algum permitido pedir, defender, ou acordar sem discernimento a liberdade de pensamento, de impressão, de ensino, de religiões, como sendo direitos que a natureza conferiu ao homem.»
Texto resgatado com Wayback Machine.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Desintegrando o Papo Furado

Em sua visita à Croácia, Ratzinger derrama mais meio kilo das mesmas abobrinhas que discursou na Espanha, na Alemanha, em Portugal ,falando em prol da "familia tradicional", da "herança espiritual da Europa", contra o aborto, contra o casamento "não-católico".
Eu vou dar um desconto pro Papo Furado, afinal, ele representa não apenas a Igreja, mas ele também é a voz de milhões de reacionários, sempre militando para manter o poder da Igreja, em organizações como a TFP, a Opus Dei, a IPCO, etc.
Em diversos outros textos eu contestei mais esse monólogo monótono, mas vale a pena citar as boas partes.
A Igreja não é a base histórica, cultural e legal do casamento na Europa, como citamos em "A Instituição do casamento", de Michel Rouche.
Houve uma época em que a Igreja era contra o casamento, como citamos em "O modelo da moral sexual da ICAR", de Adelson Bruno dos Reis Santos.
"O núcleo familiar não é um modelo que pode ser definido, monopolizado ou controlado por uma instituição. Além do núcleo, tem todas as relações parentais que tornam, efetivamente, o núcleo familiar em família. Não há limites nem regras que possam controlar ou diminuir os laços sanguíneos ou afetivos que tornam a família esse modelo tão humano, inventado pelos antigos Romanos, todos pagãos."[Pelas crianças]
A herança espiritual da Europa é o Paganismo, como citamos em "A verdadeira religião da Europa", de Christopher Gérard.
Eu não me importo que a Igreja e seus acólitos ergam seus estandartes. Mas está mais do que na hora da humanidade mostrar aos Católicos e ao Vaticano seu devido lugar.
APOSTASIA JÁ!
Texto resgatado com Wayback Machine.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Saída à francesa

Em artigo escrito no Estadão, o eminente jurista e tributarista Dr Ives Gandra Martins comenta a recente decisão, mais do que justa, do STF, quanto à equiparação jurídica das uniões civis, tanto hetero quanto homossexuais. O Dr Ives Gandra, com todos seus títulos e conhecimentos, enquanto jurista escreve muito bem, mas quando o assunto resvala nas doutrinas da Igreja, ele deixa de escrever como jurista para escrever como católico e membro da Opus Dei.
No entender do Dr Ives Gandra, o Brasil deveria seguir a decisão da Corte Constitucional da França que decidiu que a proibição dos casamentos hmossexuais não viola a constituição, conforme noticiou o G1.
Até onde sabemos, o Brasil deixou de ser uma colônia européia em 07 de abril de 1822. Até onde sabemos, o Brasil é uma República desde 15 de novembro de 1889. A Constituição Brasileira atual define o Brasil como uma nação soberana, cabe aos nossos poderes governarem este país. Ora, Dr Ives, se devemos copiar a França, porque não copiamos a Bélgica, Espanha e Holanda, que permitem o casamento homossexual?
No entender do Dr Ives Gandra, citando a Corte Constitucional da França, [...]"a união entre dois homens e entre duas mulheres é diferente da união entre um homem e uma mulher, esta capaz de gerar filhos". Então, Dr Ives, um casal hetero que não tem filhos e os adota não é uma família? O sr acaba de jogar no lixo décadas de jurisprudência que protegeu milhares de brasileiros.
No entender do Dr Ives, [...]"a diferença é também biológica, pois na união entre pessoas de sexos opostos a relação se faz com a utilização natural de sua constituição física preparada para o ato matrimonial e capaz de dar continuidade à espécie". O ato matrimonial é um ato civil, onde duas pessoas de mútuo acordo declaram diante de testemunhas que irão cohabitar, independentemente do gênero dos conubentes e da produção de descendência.
"Trata-se, à evidência, de relação diferente daquela das pessoas do mesmo sexo, incapazes, no seu contato físico, porque biologicamente desprovidas da complementaridade biológica, de criar descendentes". Não há garantia alguma que casais hetero produzam descendência, tanto que há a adoção e a fertilização "in vitro", Dr Ives.
Os casais homo e hetero são diferentes, sem dúvida, mas à luz da lei e da justiça não pode, não deve, nem há diferenciação, pois em um Estado legítimo de direito, onde a todos [e não apenas para priviliegiados] são garantidos a proteção da lei e da justiça, não cabe nem a discriminação, nem a intolerância, nem o preconceito, por gênero, por raça ou por opção sexual.
Enquanto jurista, seus textos são razoáveis, mas enquanto católico, o sr. deveria tentar uma saída à francesa, antes de escrever sobre lei e justiça.
Texto resgatado com Wayback Machine.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

STF reconhece união homossexual

Agradou-me sobremaneira a conclusão do caso jurídico que esvoaçou pelo STF quanto ao reconhecimento da união civil entre homossexuais:

Em sessão histórica, o Supremo Tribunal Federal decidiu ontem, por unanimidade, que têm valor legal as uniões estáveis entre homossexuais. A maioria dos ministros votou com o relator do caso, Carlos Ayres Britto, para quem os homossexuais têm os mesmos direitos que os casais heterossexuais.
Pode haver limites a essa igualdade de direitos, porém. O ministro Ricardo Lewandowski disse ser favorável à união homoafetiva "naquilo que não for típico da relação homem e mulher". Ele não quis entrar em detalhes porque o tema pode voltar a ser discutido no STF. Segundo ele, ficou em aberto "se cabe casamento, se cabe fertilização in vitro, se cabe adoção".
Especialistas entendem que a maioria dos direitos tidos pelos casais heterossexuais foi estendida aos homossexuais, como adotar o sobrenome do parceiro, assumir a guarda do filho do cônjuge, receber herança ou pensão, somar renda para aprovar financiamento e alugar imóveis.
O ministro Celso de Mello afirmou que o Estado deve dar às uniões homoafetivas o mesmo tratamento dado às uniões estáveis heterossexuais. "Toda pessoa tem o direito de constituir família, independentemente de orientação sexual ou identidade de gênero", disse.
O ministro Luiz Fux disse que a homossexualidade é um traço da personalidade, caracteriza a humanidade de determinadas pessoas. "Homossexualidade não é crime. Então, por que o homossexual não pode constituir uma família?", questionou Fux. A ministra Cármen Lúcia destacou que a Constituição Federal não tolera qualquer discriminação.[Destak]

Evidente, seguiu-se o esperado protesto, da Igreja e seus acólitos:
Pouco depois de o Supremo Tribunal Federal retomar, no início da tarde desta quinta-feira (5), o julgamento de ações sobre o reconhecimento da união entre casais do mesmo sexo, alguns bispos em São Paulo se manifestaram contra a proposta. Para os religiosos, que estão reunidos na 49ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no interior do estado, a Igreja defende a família como uma instituição formada por homem e mulher, capaz de gerar filhos.
Dom Anuar Battisti, gaúcho e arcebispo de Maringá (PR), chegou a dizer que chamar de casamento a união entre homossexuais representa uma “agressão frontal” à família. Para ele, se o projeto for aprovado no STF, as pessoas estarão “institucionalizando a destruição da família”. O encontro anual do episcopado ocorre em Aparecida, no Vale do Paraíba. A pauta principal dos religiosos neste ano é eleger a nova direção da CNBB. Eles também discutirão diretrizes da ação evangelizadora.
“O ser humano de fato se realizará na sua profundidade de sua relação na constituição da família a partir de um casal formado por homem e mulher”, afirmou dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, bispo auxiliar de Belo Horizonte. Questionado sobre o que pensava sobre a adoção de crianças por pais do mesmo sexo, respondeu: “A adoção é um serviço da mais alta nobreza. Só não aceitamos fazer a equiparação com a família. Não é família. É uma comunidade de pessoas”, disse ele, ao se referir aos casais homossexuais que vivem juntos.
Para dom Edney, se a proposta for aprovada no STF, “nada vai mudar” no posicionamento da Igreja Católica. “Ela vai continuar defendendo os direitos da família e a nossa fé. Isso também é liberdade.”
O bispo auxiliar de Belo Horizonte, dom Joaquim Guimarães, afirmou que, se os ministros votarem a favor da união estável entre os casais homossexuais, a Igreja vai precisar reforçar suas posições. “Esse assunto já foi discutido em outros países. No Brasil, devemos dar o exemplo para reforçar nossa ação na criação de convicção nas pessoas. Ainda que a lei permita isso ou aquilo, a minha convicção é essa.”[G1]

E ainda acham que podem enganar o público brasileiro:
Os bispos que estão reunidos na 49ª Assembleia Geral Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no interior de São Paulo, voltaram a comentar a decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceram a união estável entre casais do mesmo sexo. O bispo diocesano de Camaçari (BA), dom João Carlos Petrini, criticou a posição do Supremo ao dizer que os representantes da Igreja Católica “não vão fazer nenhuma cruzada” contra a proposta, mas continuarão a defender o conceito deles de família.
"Não vamos fazer nenhuma cruzada, mas vamos procurar defender aquilo que até hoje, desde Adão e Eva, foi sempre uma característica típica da vida na nossa sociedade, que é uma instituição chamada família. E, repito, heterossexual e aberta para a procriação”, afirmou dom João, durante a coletiva de imprensa do evento, que acontece até o dia 13 em Aparecida, no Vale do Paraíba.
“Nós somos a favor da vida, somos contra qualquer discriminação. Somos contra as pessoas viverem, assim, umas contra as outras”, disse o arcebispo do Rio. “E lembramos que não basta apenas o direito positivo, achar o que é melhor pelo maior número de votos. Mas, sim, o direito natural que vem da própria natureza humana, que é o 'ser família'”, afirmou dom Orani, que pediu respeito ao posicionamento da Igreja Católica sobre o tema.[G1]

O que se aguarda é que o Legislativo acorde de seu estado letárgico e faça a emenda necessária à Constituição e o Senado se empenhe em criminalizar a homofobia:

Ao mesmo tempo que comemoraram efusivamente o reconhecimento legal da união entre pessoas do mesmo sexo , representantes da comunidade gay avaliaram que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pode ainda acelerar a tramitação, no Congresso, do Projeto de Lei Complementar 122, que criminaliza a homofobia. Para especialistas, os parlamentares precisam entender a sinalização do Judiciário e criar leis para pôr na cadeia quem ofender gays, lésbicas, transexuais e outros integrantes da comunidade.
- A decisão do STF vai ser amplamente comemorada na Marcha Nacional contra a Homofobia, que acontece no Rio daqui a duas semanas. O Congresso precisa aprovar a PLC urgentemente, o que protegeria os gays, assim como a Lei Afonso Arinos protege os negros, a Lei Maria da Penha protege as mulheres e aí por diante - disse o presidente da Parada do Orgulho Gay de São Paulo, Iberaldo Luiz Beltrane, para quem os votos favoráveis dos ministros se transformaram em um "divisor de águas" para a comunidade.
- O julgamento deu dois sinais claros: tirou a pauta da discussão moral e religiosa e também mostrou que o Congresso precisa mudar sua postura em relação a diversos temas da sociedade - disse ele.
O ativista Beto de Jesus, presidente do Instituto Edson Neris, também não poupou críticas à atuação do Congresso na discussão do tema:
- Essa decisão jurídica parece que foi a única saída contra um Legislativo conservador e preconceituoso, que parece querer criar expectativas fundamentalistas religiosas contra um Estado laico.
Para Jesus, o fato de homossexuais não terem os mesmos direitos civis que os heterossexuais "é uma vergonha". Para ele, a ideia de que família deve ser aceita apenas se criada por homens e mulheres é um equívoco:
- Quer dizer que, se o homem casa com uma mulher, perde essa mulher e passa a viver apenas com o filho, então significa que os dois não formam uma família porque são dois homens? - indagou.
Diretor da Faculdade de Direito da FGV, Oscar Vilhena atuou como advogado de um dos grupos que propuseram a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), o Conectas. Ele festejou ontem a decisão do Supremo e afirmou que os ministros garantiram um direito que "é cristalino" na Constituição.
- Todos são iguais perante a lei, e o Código Civil tratava apenas da união entre homem e mulher. Agora, isso será equiparado. Essa decisão é universal, estende-se a todos os que queiram manter uma união homoafetiva.
Vilhena disse que o STF seguiu as decisões que têm se espalhado pelo "mundo democrático, onde essa questão tem sido solucionada em diversos países". Ele negou que a medida do Judiciário se sobreponha a uma iniciativa que deveria partir do Legislativo.
- No caso das células-tronco e do desarmamento, o Judiciário tem defendido o avanço dos legisladores. Mas, nessa questão das relações homoafetivas, os legisladores não haviam avançado porque os homossexuais são um grupo minoritário, e essa não é uma causa simpática. Mas o STF não está inventando nenhum direito. Ele está fazendo valer a Constituição.[ClickPB]

Para esta casa, publico o comentário que eu fiz no blog do Jorge Ferraz [acena]:
[...]nossa lei não é literalista, mas sim interpretativa.
A lei reconhece a união entre homem e mulher, o que não significa que proíbe a união [civil] entre homem e homem ou mulher e mulher.
Aliás a lei descreve que a ninguém será negado seus direitos com base em suas opções, opiniões ou preferências. A resistência católica é apenas uma reedição da mesma resistência que aconteceu quando a lei regulamentou o divórcio e foi permitido a fertilização “in vitro”. Fizeram o mesmo escândalo, disseram que seria o fim da humanidade. Bobagem. O que a Igreja quer garantir é o seu poder e influência sobre a nossa sociedade.
Ganhou o Brasil. Apenas a Igreja quem perde, por continuar a se segurar em seus dogmas e doutrinas absurdas, anacrônicas, obsoletas e ditatoriais.
Texto resgatado com Wayback Machine.
Originais perdidos.