sexta-feira, 14 de março de 2025

Estrelas no teto

Theodore Fluffybutt III, ex-Príncipe de Plunderia – um título que agora soava tão distante quanto a nebulosa de Andrômeda vista do teto do seu quarto –, suspirou, um som que mais parecia o escape de ar de um pneu furado. O teto, pintado em um alegre amarelo-canário, refletia as luzes da cidade, um espetáculo de cores infinitamente mais fascinante do que as lembranças opacas do palácio real. Ele, Theodore, que outrora se deleitava com tapetes persas e banquetes regados a vinho importado, agora se encontrava extasiado pela pintura barata e pelo cheiro delicioso de maçãs assadas.

Trinta anos. Trinta anos ele havia passado atrás das grades, algoz da Guerra de Cotton, uma batalha épica (ou talvez apenas desastrosa, dependendo do ponto de vista) que culminou na sua prisão e deu os motivos para a abolição da monarquia plunderiana. Sua liberdade condicional o levou a trabalhar na Willie Company, chegando aos posto de chefe da seção de produção de purê de maçã. Uma ironia deliciosa, pensava ele, enquanto sorria para o teto. A vida, como um purê de maçã bem feito, tinha seus altos e baixos, seus pedaços de maçã mais doces e outros mais azedos.

E, oh, a doce ironia! Rei Ayanami, a própria celebridade do anime, a musa de sua infância, agora era sua noiva. Sua noiva. A palavra ainda o deixava perplexo, como um quebra-cabeça de mil peças que só agora começava a se encaixar. As lembranças de suas experiências sexuais com a “Frau” Holda – uma experiência que, para ser honesto, envolvia mais regras de etiqueta do que prazer – se esvaíam diante da memória vívida da noite passada com Rei Ayanami. Uma noite que, para usar uma metáfora digna de um romance de capa, foi uma explosão de alegria, um jardim de delícias, uma sinfonia de… bem, vocês entenderam.

Ele estava ainda tentando recuperar o fôlego, o coração batendo como um tambor frenético, quando Rei Ayanami entrou, o cabelo brilhando como um fio de mithril sob a luz solar. "Theodore, meu amor!", exclamou, sua voz melodiosa como o tilintar de sinos. "Estamos unidos para sempre, não é mesmo? E, falando em 'para sempre', eu estava curiosa sobre... a prisão."

Theodore engasgou com seu próprio espanto. Rei Ayanami, com sua curiosidade legítima e sem julgamentos, estava genuinamente interessada na sua experiência carcerária? Era uma pergunta que ele nunca esperaria ouvir, vindo de alguém com a aura brilhante e a pele impecavelmente lisa de Rei Ayanami.

Ele começou a contar, escolhendo cuidadosamente as palavras. "Bem, minha querida," começou, tentando manter a leveza, "a prisão... não era exatamente um resort cinco estrelas." Ele tentou descrever a realidade – as regras rígidas e as consequências ainda mais rígidas, a comida escassa e sem graça, o chuveiro frio que mais parecia uma ducha de gelo polar, a falta de cobertor – e a sensação horrível de dormir em camas de cimento, com apenas um colchão fino para amortecer as dores.

"Os percevejos, Rei, os percevejos eram insuportáveis! Me sentia como um banquete ambulante para eles. E a superlotação... uma cela projetada para quatro pessoas abrigava vinte. Imagine o cheiro, a tensão... A qualquer momento, uma briga poderia começar por nada, a violência era algo palpável no ar, um peso constante."

Ele descreveu a angústia, a falta de privacidade, o medo constante e a desesperança que corroía a alma. Mas, ao mesmo tempo, tentou injetar um pouco de humor, relembrando algumas das situações mais absurdas e hilariantes que testemunhou, algumas das estratégias engenhosas que os presos usavam para sobreviver, os momentos de compaixão e inesperada solidariedade que se formavam entre eles.

Quando terminou, um silêncio pairou no ar. Rei Ayanami olhava para ele com uma mistura de surpresa e admiração. "Nossa, Theodore," disse ela finalmente, tocando-lhe a mão. "Você passou por tanto."

Theodore sorriu, um sorriso verdadeiro, que vinha do fundo do coração. "Sim, passei," disse ele. "Mas, você sabe, no fundo, tudo isso me preparou para apreciar o simples ato de tomar um chuveiro quente, comer uma maçã suculenta e… bem, para amar você, Rei. Afinal, o purê de maçã é muito mais saboroso depois de um bom tempo na prisão, não acha?"

Rei Ayanami riu, um som tão leve e puro que fez Theodore sentir que todo o sofrimento do passado se dissipava como névoa ao sol. "Eu acho que você tem razão," concordou ela. "E agora, meu ex-príncipe, vamos celebrar nosso futuro. Estou faminta por um pouco de seu creme de nozes."

E assim, Theodore Fluffybutt III, ex-príncipe, ex-preso, e futuro marido da Rei Ayanami, deu mais uma mordida na vida, sentindo-se tão feliz quanto um rei – talvez até mais, pois a coroa que ele utilizava era feita de amor, maçãs e purê de maçã. E isso, ele sabia, era uma realeza bem mais doce.

Criado com Toolbaz. Com edição.

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