terça-feira, 18 de março de 2025

Intervalo na escola

A tão esperada hora do recreio tem mudado bastante em dezenas de escolas públicas e privadas brasileiras. Pelo menos nos Estados de Goiás e Pernambuco a gritaria e a brincadeiras das crianças e adolescentes nos intervalos têm dado lugar a cantos de louvor, orações e leituras da Bíblia cristã.

Os chamados “devocionais” ou “intervalos bíblicos” podem ser organizados por pequenos grupos de estudantes que se juntam nos intervalos nas salas de aula para orar, entoar louvores, estudar a Bíblia, ouvir testemunhos e pregações.

Há encontros menores só com estudantes que se juntam nas próprias salas de aula e também os grandes, que geralmente contam com a presença de pastores e são feitos nas áreas externas como pátios e quadras. 

Em Goiânia, onde esse movimento teria se iniciado, há inclusive um projeto de lei na Câmara Municipal oficializando a prática devocional cristã nas escolas da rede municipal de ensino. Segundo a vereadora Léia Klebia (Podemos), autora da proposta, “essas atividades têm como objetivo fomentar a cultura da paz; promover saúde emocional dos estudantes; e fortalecer a convivência pacífica”.

O crescimento desse tipo de atividade dentro das escolas, espaço que deve ser democrático, laico e necessariamente pluralista, chamou a atenção dos promotores pernambucanos. O MP estadual promoveu em novembro de 2024 uma audiência pública com objetivo de discutir as denúncias de proselitismo religioso e promover o respeito à diversidade nas escolas de Pernambuco.

Os defensores dos cultos no interior das escolas argumentam que a liberdade religiosa é um direito constitucional e que o Estado brasileiro não é ateu. Já o MP e os críticos dessas práticas argumentam que o exercício da liberdade religiosa se dá em espaços próprios como igrejas, templos, sinagogas, terreiros ou no local de moradia.

Quem está por trás das práticas supostamente organizadas pelos próprios alunos são, na verdade, pastores evangélicos, professores e até diretores das escolas que orientam adolescentes a pregar neste ambientes escolares, se transformando em verdadeiros mini-pastores, do tipo que costuma viralizar nas redes.

Aliás, as crianças e adolescentes são incentivadas a usar as redes sociais, transformando-se em “influenciadores digitais religiosos”. 

O inspirador e modelo, como não poderia deixar de ser, é Pablo Marçal.

Aviva School é um grupo goiano cujo próprio nome já dá pistas sobre seu programa e métodos. Avivamento, termo do léxico evangélico é adicionado à palavra escola, em inglês, provavelmente para remeter a uma ideia de modernidade e negócios, ou melhor “business”.

Lucas Teodoro e Guilherme Batista organizam encontros nas escolas da capital de Goiás que são em um primeiro momento, vendidos como palestras motivacionais - ou seja, é a mesma cartilha de Marçal, uma mistura de teologia da prosperidade com dicas de empreendedorismo ao estilo “coach”.

Há denúncias de que Teodoro promove inclusive curas nas escolas, como é comum nos templos neopentecostais, ignorando completamente o fato de o curandeirismo ser crime previsto no Código Penal.

A Secretaria Municipal de Educação, por outro lado, justifica sua total omissão perante essas irregularidades evocando o princípio da liberdade religiosa e a autonomia de gestão dos diretores dos estabelecimentos de ensino.

Fonte: https://revistaforum.com.br/direitos/2025/3/12/escolas-ou-igrejas-intervalo-biblico-novo-recreio-175513.html

Nota: as escolas que cedem tempo e espaço para o intervalo bíblico, tem que oferecer o mesmo tempo e espaço para as outras religiões. Eu quero ver um After School dos satanistas ou uma cerimônia wiccana nas escolas brasileiras 🤭😏.

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