sexta-feira, 26 de julho de 2024

Doutrinação denunciada

O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos pediu que o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) investigue o desenho animado infantil "Danizinha Protetora", que estreou na programação da Rede Minas na segunda-feira (22/07). A animação foi criada pela pastora e vice-presidente da Igreja Bastista Getsêmani, Daniela Linhares. O MPMG instaurou uma notícia de fato a partir da representação do Conselho.

O conselho denuncia possível preconceito de gênero na exibição do desenho animado. Na representação, a qual O TEMPO teve acesso, o órgão argumenta que uma propaganda referente à atração com a frase “Menino e Menina: Deus fez os dois para sua glória!", e com “fundo azul para meninos e rosa para meninas”, pode configurar postura irregular da televisão. Além disso, o texto apresenta outros elementos que denunciam risco à liberdade de crença.

O órgão ainda defende que “a Fundação TV Minas Cultural e Educativa (FTVM) é uma fundação pública, e que, portanto, deve atentar aos interesses públicos e sobretudo à legislação e princípios de Direitos Humanos”. Robson Sávio Reis Souza, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos de Minas Gerais (CONEDH/MG), que assina o texto, escreve ainda que viu com “estupefação” a propaganda sobre o desenho e o “advento deste programa”, além da averiguar “falta de informações que o isente de ser um programa que possua uma linha fundamentalista, antipluralista e preconceituosa”. Ele pede que o MPMG investigue se há preservação da laicidade do Estado e preservação do interesse público em detrimento do privado.

“Tal propaganda causou espécie a este colegiado, tendo em vista que os Direitos Humanos tem como escopo o combate a qualquer forma de preconceito e, sobretudo, a doutrinação de crianças e adolescentes para uma visão única da realidade, que poderá inculcar nestas pessoas em formação uma visão de mundo, em detrimento do pluralismo das diversas manifestação culturais, inclusive religiosas, de respeito aos valores e idiossincrasias humanas, dentro de um Estado laico e de uma sociedade plural e isenta de qualquer forma de preconceito”, narra o texto.

Ao anunciar a nova programação, na última sexta-feira (19/07), a Empresa Mineira de Comunicação (EMC) descreveu que a animação teria como propósito “proteger as crianças contra ameaças que podem tirá-las da sua infância”. “Ela (Danizinha) encarna a defensora dos valores cristãos e ensina a importância da confiança em Deus e como reconhecer situações que podem comprometer seu bem-estar”, completa o comunicado.

Os episódios são acompanhados por canções. Em um deles, que tem pouco mais de três minutos e é intitulado “Obedecer”, a protagonista ensina o público infantil a soletrar a palavra título do episódio. “B, de bênçãos que somente Deus pode dar. (...) C, de contemplar tudo o que Deus fez. (...) Papai, mamãe e Deus eu sempre vou obedecer”, diz a personagem. Em outro, ela cita Deus como o responsável pela criação do universo.

Nessa terça-feira (23/07), Daniela disse à reportagem de O TEMPO que teria cedido os direitos autorais da animação “Danizinha Protetora” à Rede Minas. “O contrato não envolve valores. Cedi todos os direitos. Não recebo nada, mas também não pago nada. Não pode vincular propaganda ao produto e, para mim, é uma forma de divulgação do projeto”, alega a pastora, que defende que o desenho não teria qualquer relação com religião e não seria financiado pela Igreja Batista Getsêmani.

Encabeçado pela Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos em Minas Gerais e por professores eméritos e titulares da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um abaixo-assinado solicita a “imediata retirada” do programa Danizinha Protetora da grade de programação da Rede Minas. 

O texto argumenta que “o referido programa é de cunho religioso e sua presença na programação da Rede Minas fere o que estabelece a Constituição”. “A Constituição Federal, ao estabelecer as bases para a laicidade do Estado, o faz justamente para tratar isonomicamente a todas as confissões religiosas e, portanto, para evitar que este crie melhores condições ou estabeleça empecilhos que favoreçam ou atrapalhem o funcionamento de quaisquer religiões”, afirma o abaixo-assinado.

Ainda, os professores e a instituição defendem que o programa “fere os direitos humanos à medida em que transmite conteúdos que denotam violências de gênero e raciais incompatíveis com a dignidade da pessoa humana e com o nosso arcabouço jurídico”.

Fonte: https://www-otempo-com-br.cdn.ampproject.org/v/s/www.otempo.com.br/politica/2024/7/24/conselho-de-defesa-dos-direitos-humanos-pede-que-mpmg-investigue.amp?amp_js_v=0.1&amp_gsa=1#webview=1

Nota: como se não bastasse a presença massiva em canais comerciais e o incômodo da pregação em transporte público, agora os evangélicos querem dominar canais públicos. 😤

Magia no Paganismo Moderno

A magia é um dos aspectos que podem ser encontrados em muitos dos grupos que fazem parte do movimento conhecido coletivamente como Paganismo Moderno. De acordo com os praticantes de magia dentro dos movimentos do Paganismo Moderno, a magia é algo real, e não meramente uma invenção da imaginação de alguém. No entanto, não há uma definição "tamanho único" do que é magia. Várias visões diferentes de magia estão disponíveis, e cabe ao praticante decidir qual delas melhor se adapta a ele/ela.

Uma das maneiras mais comuns de entender a magia pagã moderna é que ela é a "Arte da Causalidade". Aleister Crowley, o fundador de Thelema, definiu a magia como "a ciência e a arte de fazer com que a mudança ocorra em conformidade com a vontade". De acordo com essa visão, a magia é uma habilidade humana inata com a qual todos nascem. Para acessar essa força sobrenatural, é preciso aprendê-la e colocá-la em prática. Ao usar a magia, um praticante está fazendo uma conexão com as energias da natureza e, ao fazer isso, é capaz de causar mudanças no mundo material.

Outra definição de magia no Paganismo Moderno é fornecida por Dion Fortune, um cofundador da Fraternidade da Luz Interior. A percepção de magia de Fortune é uma adaptação daquela fornecida por Crowley. Em vez de causar mudanças no mundo material, Fortune defendia o uso da magia para provocar mudanças dentro do eu. Ao causar mudanças internas, um praticante de magia seria, por sua vez, capaz de efetuar mudanças no mundo externo. Foi apontado que essa visão percebe a magia como uma forma de psicologia. A diferença entre magia e psicologia, no entanto, é que a primeira extrai energia da natureza e do sobrenatural, enquanto a última não.

Outra compreensão da magia é que ela é um "reencantamento" do mundo. Em outras palavras, a magia pode ser usada por um praticante para ver a natureza da existência de uma perspectiva diferente. Em outras palavras, a magia pode ser usada para descobrir, redescobrir as conexões sutis e ocultas que existem dentro do eu, no mundo natural e entre os seres humanos e o mundo natural. Portanto, a magia nesse sentido é um meio de se conectar com o eu, com os outros e com o mundo natural.

A magia pagã moderna pode ser realizada de várias maneiras. A mais conhecida delas é talvez o lançamento de feitiços. Na Wicca , por exemplo, o lançamento de feitiços pode envolver o uso de encantamentos , amuletos, talismãs , bem como uma variedade de outras ações ou objetos. Os feitiços mágicos funcionam concentrando e canalizando a própria energia espiritual . Essa energia então moveria correntes de energia maiores na área onde um praticante deseja ver a mudança, trazendo assim a mudança desejada. Como mencionado anteriormente, os pagãos modernos acreditam que a magia é uma habilidade inata que todos os seres humanos têm. Portanto, os feitiços podem ser lançados por qualquer pessoa, desde que ele/ela aprenda a aproveitar essa energia e coloque o que aprendeu em prática.

Existem certas regras/éticas no Paganismo Moderno quando se trata do uso da magia. Uma das mais conhecidas é a Lei Wiccan/Rede, uma das formas mais comuns sendo “Se não fizer mal a ninguém, faça o que quiser”. Isso significa que a magia não deve ser usada para fazer mal a ninguém, seja intencionalmente ou não. Outras considerações éticas que um praticante de magia pode ter em mente podem incluir a possibilidade de que um feitiço possa influenciar a liberdade de escolha de outra pessoa, ou se for para satisfazer o ego pessoal (ambos os quais devem ser evitados).

Fonte: https://www.ancient-origins.net/history-ancient-traditions/secrets-magic-modern-paganism-revealed-008145
Traduzido com Google Tradutor.

Nota: nem Aleister Crowley, nem Dion Fortune podem ser descritos como pagãos modernos. A tal "lei wiccana" é uma invenção que foi devidamente desmascarada aqui.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Uma ameaça do conservadorismo

Nas últimas duas semanas, a mídia noticiosa explodiu com histórias sobre o “Projeto 2025”, um conjunto de propostas políticas da Heritage Foundation de direita, e muitos pagãos postaram memes e discussões sobre ele nas mídias sociais. A preocupação com o Projeto 2025 é generalizada; o hype é que ele é um manual para minar nossas liberdades e suprimir a dissidência.

Para as pessoas que estão olhando para um longo editorial e esperando por um TL,DR: as postagens não estão erradas. É uma derrubada de todos os avanços das liberdades civis, liberdades dos trabalhadores e soberania corporal das mulheres dos últimos 100 anos. Mas há muito mais para digerir.

Mergulhei fundo no documento de mais de 900 páginas detalhando a agenda para ver o que ele pode ter reservado para pagãos, bruxas, pagãos e outros politeístas. Não posso dizer que muito do que está lá me surpreendeu, dada a última ascensão de uma nova marca severa e ortodoxa de conservadorismo nos EUA e outras partes do Ocidente. Deve ser uma preocupação não apenas para pagãos, mas para qualquer um que não seja um homem cristão branco e hétero conservador profundamente intoxicado com obsessões patriarcais sobre controlar mulheres e minorias.

Aqui está uma rápida introdução ao esforço. O Projeto 2025, liderado pela Heritage Foundation, visa preparar uma agenda abrangente de governo conservador para a potencial próxima administração conservadora, começando em janeiro de 2025.

A Heritage Foundation foi fundada durante a administração Nixon e vem imprimindo um “Mandate for Leadership” desde 1981, onde foi usado pela administração Reagan. Essa história fala sobre as preocupações que estão sendo levantadas. Na versão de 1981 do Mandate, de 2000 propostas, cerca de 1200 (60%) foram implementadas.

A Heritage Foundation foi a voz principal na Operação Tempestade no Deserto durante o governo GHW Bush; forneceu as políticas de fundação para o Contrato com a América do Presidente da Câmara, Newt Gingrich , em 1994; foi uma voz importante na oposição àqueles que criticavam a guerra contra o terror no governo GW Bush; e propôs a política "Garantindo Assistência Médica Acessível para Todos os Americanos" em 1989, que eventualmente se tornou o Affordable Care Act (ACA), também conhecido como Obamacare.

Em outras palavras, tem uma longa história de eficácia.

Em 2016, ela se opôs à candidatura presidencial de Donald Trump no início, mas depois passou a apoiá-la. Em 2020, a Heritage contratou três funcionários do governo Trump, bem como o ex-vice-presidente Mike Pence, que então saiu em 2022. A Heritage Foundation, com base em um artigo de opinião de Pence, rejeitou a noção de que a eleição de 2020 foi "roubada" de Trump. Mas suas propostas estão lá fora e sendo empurradas para o favorito republicano da mesma forma.

O termo “conservador” é enganoso aqui. Desde 2022, depois que Pence deixou a organização, a Heritage Foundation se alinhou a uma variante extrema do conservadorismo que apoia amplamente o nacionalismo, a assimilação e o monoculturalismo, ao mesmo tempo em que se opõe ao internacionalismo, à inclusão política minoritária, ao multiculturalismo e ao globalismo. Ela favorece, talvez acima de tudo, a assimilação individual na cultura dominante, restrições à imigração e políticas rígidas de lei e ordem.

Os conservadores já foram um baluarte para fortalecer os militares e manter regimes fascistas sob controle. Mas em maio de 2022, a Heritage Foundation escreveu que o “Pacote de Ajuda à Ucrânia Coloca a América em Último Lugar”. Seu diretor de Defesa Nacional, Thomas Spoehr, ficou surpreso e renunciou em protesto.

A Heritage Foundation também se alinha com o Danube Institute, apoiado pelo governo húngaro e Victor Orbán. O Danube Institute, como jornalistas húngaros do Atlatszo notaram, é “uma das principais ferramentas da expansão ideológica do governo Orbán no exterior” e um dos “principais veículos” para “construir uma rede política nos Estados Unidos” para criar uma utopia internacional de direita.

Para mim, isso já é assustador. Estes são os autores do novo Mandate for Leadership: The Conservative Promise , o “manual de 180 dias” que descreve ações a serem tomadas nos primeiros seis meses da nova administração.

A iniciativa está organizada em torno de quatro pilares principais:

Uma Agenda Política descrita no site e apresentada em seu Manual;
A criação de um banco de dados de pessoal para identificar e selecionar candidatos conservadores de todo o país para compor o próximo governo, garantindo que as pessoas certas estejam no lugar para implementar a agenda política;
Uma iniciativa de formação chamada Academia de Administração Presidencial para identificar nomeados para a sua forma de governação eficaz na próxima administração conservadora; e
Uma promessa do “ Playbook ” de que o Projeto 2025 está “formando equipes de agências e elaborando planos de transição para sair após a declaração do Presidente de ‘que Deus me ajude’”.

O Projeto 2025 é apoiado por uma coalizão de mais de 100 organizações conservadoras, incluindo think tanks e grupos de defesa, alguns com nomes que desmentem suas motivações.

O Projeto visa implementar uma agenda para abordar questões como desregulamentação, política energética, imigração e segurança nacional, com foco na implementação de valores e políticas conservadoras de forma rápida e eficaz após a posse.

O Mandato para Lideranças estabelece quatro frentes a serem abordadas:

O Mandato para Lideranças estabelece quatro frentes a serem abordadas:

Restaurar a família como a peça central da vida americana e proteger nossas crianças.
Desmantelar o estado administrativo e devolver a autogovernança ao povo americano.
Defenda a soberania, as fronteiras e a generosidade da nossa nação contra ameaças globais.
Garantir nossos direitos individuais dados por Deus de viver livremente — o que nossa Constituição chama de “as Bênçãos da Liberdade”.

Em outras palavras, o objetivo é destruir a Great Society, o conjunto de programas domésticos lançados pelo presidente Lyndon B. Johnson na década de 1960 para eliminar a pobreza e a injustiça racial nos Estados Unidos. A Great Society nos deu o Medicare e o Medicaid, o Civil Rights Act, a War on Poverty, o financiamento de escolas, incluindo aquelas em áreas pobres, leis de proteção ambiental e desenvolvimento urbano regulado para evitar discriminação habitacional e apoiar moradias sociais.

Outras reformas propostas incluem:

Elimine as classificações raciais e o treinamento da teoria crítica da raça.
Restringir a aplicação da decisão Bostock que proíbe a discriminação sexual, com ênfase especial na comunidade transgênero;
Revogar regulamentações que proíbem a discriminação com base na orientação sexual, identidade de gênero, status transgênero e características sexuais.
Promover famílias estáveis e prósperas, compostas por uma mãe casada, um pai e seus filhos;
Eliminar as proteções do serviço público para funcionários federais, especialmente aqueles com cargos que incluem “determinação de políticas, formulação de políticas ou defesa de políticas”.
Promova acomodações pró-vida no local de trabalho para mães.
Remover proteções de emprego, algumas das quais estão em vigor há mais de 100 anos
Aprovar uma lei que exija benefícios iguais (ou maiores) para apoio pró-vida às mães e que esclareça as exclusões do aborto;
Mantenha os “benefícios” anti-vida fora dos planos de benefícios;
Fornecer proteções e acomodações robustas para funcionários religiosos;
Voz e representação de trabalhadores não sindicalizados;
A pornografia deve ser proibida;
Eliminar o extremismo woke sobre a “interseccionalidade”;
Excluir termos como orientação sexual e identidade de gênero (“SOGI”), diversidade, equidade e inclusão (“DEI”), gênero, igualdade de gênero, equidade de gênero, conscientização de gênero, sensível ao gênero, aborto, saúde reprodutiva, direitos reprodutivos e qualquer outro termo semelhante;
Registre todos os educadores e bibliotecários que fornecerem informações sobre os itens acima como criminosos sexuais.

Quanto às liberdades religiosas, o Mandato não faz uma declaração específica honrando uma fé sobre outra. Em vez disso, ele demonstra seus objetivos usando o termo problemático “judeu-cristão”, oferecendo um aceno ao judaísmo mais como uma conveniência do que por respeito sério às Escrituras judaicas.

Claramente, o Mandato enquadra seu argumento em um ponto de vista religioso favorecido. Ele não apoia a separação entre igreja e estado, mas a mobilização da religião em nome do estado.

Não acredito que eles adicionarão a Roda do Ano à sua lista de comemorações.

O documento então demonstra que os pagãos também são um inimigo, ainda que obliquamente.

Em suma, o Projeto 2025 é um plano para desmantelar avanços em igualdade e equidade enquanto monta um estado guiado pela doutrina cristã conservadora. Seus objetivos são claros. O Projeto 2025 pode evitar o termo “conservadorismo nacional”, mas não passa no teste do pato.

A história está repleta desses tipos de mandatos – e nenhum deles termina bem para comunidades como a nossa.

Fonte, citado parcialmente: https://wildhunt.org/2024/07/editorial-project-2025-dismantles-the-great-society-and-establishes-christian-hegemony.html

Traduzido com Google Tradutor.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Bella cancelada


Notícia publicada no DCM:

Na última sexta-feira (19), a Adidas removeu uma campanha publicitária com a modelo Bella Hadid, filha de um homem palestino, após virar alvo de críticas da comunidade judaica nos Estados Unidos. A controvérsia surgiu porque a campanha promovia um tênis retrô, inspirado nas Olimpíadas de Munique de 1972, evento marcado por um ataque terrorista palestino que resultou na morte de 11 membros da equipe olímpica de Israel.

(https://www.diariodocentrodomundo.com.br/adidas-remove-modelo-de-origem-palestina-de-campanha-apos-protesto-de-isralenses-nos-eua/)

Ultimamente eu tenho que lembrar de que existe um contexto.
Quem errou foi a Adidas (eu não estou ganhando um centavo com isso). A modelo não merece ser cancelada.

Se ela não conseguir outros trabalhos, ela certamente fará sucesso no OnlyFans. 😍

Aqui começa a campanha, Bella Hadid no OnlyFans.

As origens da religião

Autor: Felipe Costa.

Uma chave importante para entender a evolução do comportamento humano e a história da humanidade é a questão da morte. A maneira como nós lidamos com a morte e com os mortos é mais um caso de herança transespecífica, lembrando que linhagens anteriores à nossa já promoviam cerimônias de sepultamento.

Há bons motivos para associar a autoconsciência com a realização de rituais que evoquem os mortos. Afinal, o desaparecimento definitivo de indivíduos que até ontem estavam a ombrear conosco é um grande golpe. Do tipo que gera questionamentos intrigantes – e.g., para onde vamos após a morte?; reencontrarei parentes e amigos mortos algum dia?; afinal, a morte é o fim de tudo?

Os assombros, as dúvidas e as ansiedades que geram e alimentam perguntas desse tipo costumam deixar marcas profundas e duradouras em cada um de nós.

Com raras exceções (e.g., apatia patológica), todos nós nos consternamos com o desaparecimento de pessoas conhecidas, sobretudo no caso de pessoas queridas. O mesmo tipo de reação tem sido observado em outros animais. Os símios, por exemplo, exibem comportamentos característicos quando estão diante do corpo sem vida de coespecíficos. Os estudiosos interpretam essas reações como manifestações de dor e tristeza, semelhantes às reações dos seres humanos.

Assim, diferentemente do que imaginam alguns, o mal-estar gerado pela morte de companheiros próximos não é uma exclusividade do animal humano. O que de fato parece ser uma exclusividade nossa é a capacidade de sublimar os sentimentos de dor e tristeza (e.g., por meio da arte).

O xis da questão aqui é a ideia de que a consciência da morte desempenhou um papel de relevo no desenvolvimento das primeiras ruminações filosóficas.

Oriundas da pré-história e cultivadas, quem sabe, em conversas noturnas diante de uma fogueira, essas ruminações teriam dado origem a algumas inovações culturais que nos acompanham há milhares de anos. A metafísica seria talvez o melhor exemplo.

Mais recentemente, já em sociedades agrícolas e sedentárias, essa tradição milenar foi apropriada e desenvolvida de modo mais sistemático por alguns especialistas.

Xamãs – digo: todo e qualquer personagem que seja um líder religioso e também um agente de saúde – ilustram bem o trabalho dos especialistas. Em seus primórdios, cabe notar que se tratava de um profissional que aprendia o seu ofício observando e ouvindo profissionais mais velhos.

À medida que o prestígio e a autoridade desses profissionais se impuseram, os demais integrantes do grupo talvez tenham percebido que valia a pena se esforçar um pouco mais em nome da manutenção de alguém cujo trabalho era tão útil ao grupo. Afinal, o xamã era alguém que aconselhava e curava os doentes, desde os feridos em guerra aos indivíduos com traumas psicológicos.

Foi o início da especialização funcional.

Com o prestígio, vieram os privilégios – e.g., não ser recrutado para as atividades mais perigosas. Em vez de irem à guerra, por exemplo, eles se dedicavam a atividades domésticas, como coletar plantas ou criar e testar poções curativas.

Os primeiros xamãs surgiram em eras pré-históricas, antes até das cerimônias de sepultamento (ver adiante). Especialistas mais sofisticados iriam sugir com o advento de sociedades agrícolas e sedentárias. É compreensível, visto que pensar de modo sistemático sobre a vida e a morte (filosofar, em sentido amplo) é uma atividade que exige tempo e dedicação.

Em eras pré-históricas, alocar mais tempo em atividades filosóficas implicaria em alocar menos tempo em atividades que eram mais urgentes e decisivas, como fabricar armas, caçar o jantar ou lutar contra grupos rivais. A agenda congestionada ajudaria a explicar porque a ruminação filosófica – e outras ruminações – só teria prosperado como atividade corriqueira e respeitável após o acúmulo de um nível mínimo de excedentes.

Fato é que a filosofia tem uma história milenar, recuando no tempo mais do que qualquer outra área do conhecimento. A origem da metafísica, especificamente, deve muito aos primeiros assentamentos e às rodas de conversa de então.

Cozinhar alimentos em uma fogueira teria servido não só para nutrir um cérebro em expansão, mas também para alimentar e exercitar o desenvolvimento da mente humana. Nessas conversas, os dramas e os desafios do dia a dia, incluindo a evocação dos mortos, seriam pautas importantes e recorrentes.

Cerimônias de sepultamento ilustram bem como a questão da morte sempre teve um papel de destaque em sociedades humanas. A emergência dessas cerimônias na evolução dos homininos costuma ser interpretada em dois níveis, no individual e no social.

No plano social, indicaria a existência de uma sociedade numerosa e já minimamente diferenciada em castas. No plano individual, seria uma indicação de que os indivíduos compartilhavam de crenças comuns a respeito da morte e dos mortos. No cômputo final, portanto, a constatação de que as cerimônias faziam parte da cultura dos homininos indicaria que, entre outras coisas, aquelas sociedades já dispunham de alguma tradição metafísica.

No contexto da vida em grupo, o hábito de sepultar cadáveres pode ter sido inicialmente adotado por razões sanitárias. O propósito inicial seria meramente pragmático – e.g., esconder o corpo e assim evitar a chegada de predadores ou a disseminação de patógenos.

A gradativa sofisticação observada ao longo do tempo sugere que as cerimônias tiveram um impacto positivo sobre os grupos, seja no planto coletivo, mantendo a coesão e a estabilidade grupal em torno de objetivos comuns, seja em termos individuais, aliviando tensões e ajudando a manter o ânimo e o bem-estar dos indivíduos. De resto, a crescente sofisticação refletiria a dinâmica cultural própria de cada grupo.

Mais especificamente, a sofisticação parece ter sido um desdobramento do que se passava no plano demográfico, notadamente o tamanho e a composição dos grupos. Em primeiro lugar, infere-se que a simples realização de cerimônias – custosas e, às vezes, bastante extravagantes – seria um forte indício de que havia especialização funcional dentro dos grupos. Além disso, só um grupo minimamente numeroso poderia manter e usufruir das vantagens oferecidas pela presença de especialistas. Como foi dito antes, o especialista era alguém que havia abandonado as tarefas habituais do dia a dia (e.g., caçar) para se dedicar a atividades, digamos, mais especializadas (e.g., cuidar dos doentes e dos moribundos).

Os sepultamentos coevoluiriam com um traço cultural que é próprio da espécie humana: a religião. As evidências indicam que a religiosidade era um traço virtualmente universal entre sociedades humanas pré-históricas. Eis as palavras de Norenzayan & Shariff (2008, p. 58; trad. livre, grifo meu) sobre essa universalidade:

“[E]stá a emergir um grande acordo de que as pressões seletivas ao longo do curso da evolução humana podem explicar a ampla recorrência intercultural, persistência histórica e a previsível estrutura cognitiva de crenças e comportamentos religiosos. A tendência para detectar agência na natureza provavelmente forneceu o modelo cognitivo que sustenta a crença generalizada em agentes sobrenaturais. Acredita-se amplamente que esses agentes transcendem limitações físicas, biológicas e psicológicas.”

Como traço cultural, o fenômeno religioso parece ter evoluído ao longo de alguns estágios bem-definidos, a saber (em ordem decrescente de antiguidade e abrangência): (i) animismo, (ii) crença em vida após a morte, (iii) xamanismo, (iv) adoração dos ancestrais, (v) divindades e, mais recentemente, adoração de (vi) ancestrais e de (vii) divindades, agora já com o intuito de que uns e outros possam intervir em questões do dia a dia.

O fato de que os traços (vi) e (vii) surgiram mais recentemente tem sido interpretado como uma evidência de que as sociedades mais antigas (nas quais apenas os traços i–v estavam presentes) seriam mais igualitárias, pois seriam desprovidas de castas ou de especialistas.

Fonte, com algumas edições e citado parcialmente: https://jornalggn.com.br/artigos/rituais-xamas-e-as-origens-da-religiao-por-felipe-costa/

terça-feira, 23 de julho de 2024

Onde está Malafaia?

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro está tentando intimar o pastor Silas Malafaia, presidente da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, desde maio deste ano, sem sucesso.

Malafaia é réu em uma ação do Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro por improbidade administrativa, que também envolve o prefeito Eduardo Paes. Em 2014, o MP denunciou Malafaia, Paes, o então secretário municipal da Casa Civil do Rio de Janeiro, Guilherme Schleder, a prefeitura carioca e o Conselho dos Ministros Evangélicos do Rio de Janeiro (Comerj).

A denúncia do MP aponta que, em 2013, a prefeitura carioca investiu R$ 2,5 milhões no evento “Marcha para Jesus”, organizado pela igreja de Malafaia com a participação da Comerj.

A denúncia do MP aponta que, em 2013, a prefeitura carioca investiu R$ 2,5 milhões no evento “Marcha para Jesus”, organizado pela igreja de Malafaia com a participação da Comerj.

Os procuradores identificaram que a prefeitura reservou R$ 900 mil a mais do que foi efetivamente gasto na manifestação, levantando suspeitas de improbidade administrativa. O processo está em andamento na Justiça do Rio de Janeiro, e os outros réus aguardam a citação de Malafaia para poderem contestar as acusações.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/sumido-tj-rj-do-rio-procura-por-malafaia-desde-maio-para-intima-lo-em-acao/

O Povo Pequeno

Entre Chesterton e Cantebury, uma caravana de encontros improváveis juntou um judeu, um mouro, um herege, um padre, uma freira, um cavaleiro, todos tentando chegar em Norfolk, para então chegarem em Londres, para a coroação de Ricardo I como rei de toda Bretanha. Mas erraram na trilha, seguiram pelo caminho torto depois da encruzilhada, em Stanford, e ficaram incorrigivelmente perdidos.
-Cáspita. Você garantiu que a trilha de chão batido era o melhor atalho.
-Deus me livre. Isso deve ser bruxaria. Coisa desse herege que levamos cativo até o Santo Ofício, em Birgham, ou desse judeu.
-Que o Senhor me risque do Livro da Vida se eu tenho algo com isso. Mas não garanto que o mouro seja inocente.
-Mas que! Como paga com ingratidão quem salvou a ti e tua família dos Cruzados! Nós, que realmente conhecemos e adoramos ao Senhor, devemos estar unidos contra os infiéis.
-Por Deus, meninos! Esta é a décima vez que vocês discutem as mesmas coisas. Nós temos que nos submeter à vontade de Deus.
[risada]-Três homens e uma mulher que dizem ou creem que conhecem Deus. Dizem que só há um, mas discordam de quase tudo quando falam dEle.
-Cale-se, herege. Seus crimes são muito graves, deve enfrentar a Justiça de Deus, não piore sua condição, proferindo suas heresias.
-Ah, eu sou herege em vossos conceitos, mas concordo convosco em crer que tudo ocorre conforme a Vontade de Deus. Nada acontece por acaso, não existe coincidência e tudo tem um propósito.
-Cale-se, herege. Guarde seus sofismas para te defenderes.
-Veja, barão Montagne, tem algumas pessoas assentadas na proximidade daquele menir, ao lado daquele enorme carvalho.
-Aleluia! Devem ser camponeses da localidade. Vamos tomar rumo conforme nos localizamos.
O cavaleiro, embora animado e confiante, ficou cismado com a expressão de ironia do herege. A freira, contrariada, parecia ser a única intrigada e desconfiada do grupo avistado. Ela foi a primeira a gritar e tentar sair correndo, fugir, assim que o grupo pôde ser melhor observado. Tarde demais. A trilha tinha sumido, só havia a floresta para todos os lados.
-Humanos! Como ousam entrar no Caminho do Bosque Sagrado?
O cavaleiro ficou espantado e surpreso ao ver aqueles seres que pareciam ter saído das lendas que os anciões contavam. Aquele grupo não era de pessoas, mas do chamado Povo Pequeno.
-Vocês quebraram o pacto que vossos ancestrais firmaram com os nossos.
[pigarro]-Povos civilizados têm educação. A educação pede que, primeiro, nos apresentemos. Eu sou Malaquias, de Durham e servo do mesmo Deus.
-Nós te conhecemos, escriba. O seu nome verdadeiro é honrado. Eu sou Pris, de Elfane e esta é Star, de Helgard. Estes são Grunt, de Trolmud e Scar, de Ogren.
[pigarro]-Eu sou…
-Sir Frederic, de Montagne. O seu nome verdadeiro é um insulto. Os demais podem ter grande consideração entre os humanos, mas em nosso mundo são abjetos.
-Que? Como ousam? Eu, Abimael, rabino do ùnico e Verdadeiro Deus?
-E eu? Jamal, servo fiel do Inefável Allah?
-Que Deus vos repreenda, demônios, pois eu sou da Igreja Verdadeira, fundada por Cristo, o FIlho de Deus!
-Vós falais de Deus, mas não são sinceros no que dizem e sentem. O que cada um chama de Deus distingue do outro e nós não reconhecemos qualquer destas imagens como sendo parte do divino.
-Este humano abjeto chamou a mim, Grunt, de demônio. Eu estou ofendido e Scar está quase chorando. Isso é o que os humanos chamam de educação?
-Este outro, pior, fala de Cristo. Eu conheço todos os Deuses e Deusas. Eu conheço Cristo, mas não o conheço. Tua ofensa só pode ser aplacada pagando com a vida.
Todos os homens, exceto o herege, tiveram tanto medo que estavam dispostos a abjurar das crenças que tinham. As criaturas mágicas estavam com armas em mãos, prontas para o uso, quando o herege intercedeu.
-Eu dou minha vida por todos, desde que Star aceite receber minha alma.
Tudo acertado, por um poder e pela ação do Antigo, aquelas pobres pessoas simplesmente surgiram no meio de Londres. O herege? Esperto e treinado, ele ofereceu aquele líquido quente, viscoso e esbranquiçado que gera vida, para alegria e satisfação de Star.