quarta-feira, 12 de março de 2025

Pastelaria Doçuras Reais

Theodore Fluffybutt III, ex-príncipe de Plunderia, ex-estrategista militar (cujo único feito notável foi perder a Guerra do Algodão com uma tática tão desastrosa que entrou para os anais da história e atual funcionário da Willie Company, seção de purê de maçã, sentia o cheiro delicioso das maçãs assadas misturando-se ao aroma peculiar de seu próprio desespero existencial.

O beijo da Rei Ayanami, a dona da fábrica – a mesma piloto do Neon Genesis Evangelion, que tinha sido seu crush de infância - imponente com um sorriso que poderia derreter glaciares e uma paixão inabalável – ainda ecoava em seus lábios. Era um beijo técnico, claro. Um beijo de "bom trabalho, apesar de sua história militar questionável". Mas para Theodore, que tinha substituído o contato humano por bonecos de action figure (com uma predileção peculiar por réplicas da própria Rei Ayanami), foi um terremoto.

A sirene da fábrica ecoou, anunciando o fim do turno. A imagem da Frau Holda, sua empregada na juventude, com seus olhos azuis e um charme fatal que lhe dera as primeiras lições de amor, invadiu sua mente. A lembrança, no entanto, foi rapidamente eclipsada pela memória do Grande Fofo, a revelação que o transformou num asceta sexual com um obscuro fetiche por bichos de pelúcia e delírios de grandeza que almejavam a conquista do mundo.

Vinte e nove anos. Vinte e nove anos desde que perdeu a Guerra de Cotton. Liberdade condicional. A palavra ecoava em sua mente como uma promessa de redenção, ou uma sentença de morte para sua zona de conforto felpuda.

Ele queria ver seus pais. Depois de tantos anos, a saudade os superava. A monarquia não mais existia, Plunderia era uma república, e ele não fazia ideia do paradeiro deles. Não havia mais guardas reais para pedir informações, apenas policiais comuns, cujos olhares inquisitivos o faziam se sentir um ex-príncipe ainda mais  deslocado do que antes.

Com algumas pistas vagas de um velho guarda real, Theodore encontrou-os em um bairro periférico, não perto do palácio, mas perto da estação de trem. Não em uma mansão – mas em uma pequena pastelaria, tão aconchegante quanto peculiar.

Era um estabelecimento modesto, "Doçuras Reais", ironicamente. Painéis pintados à mão, um pouco desbotados pelo tempo, anunciavam os quitutes do dia. Theodore viu sua mãe, a Rainha Esmeralda, agora com cabelos grisalhos presos em um coque desleixado, atrás do balcão, envolvendo um pastel de nata com uma destreza surpreendente. Seu pai, Bartholomeu Fluffybutt II, estava limpando mesas com um pano velho e riscado, mas com um sorriso familiar, apesar de cansado.

Ele entrou timidamente, o aroma adocicado misturando-se ao delicioso cheiro de nostalgia. Sua mãe, ao vê-lo, soltou um grito abafado, derrubando um monte de forminhas de papel.

“Theodore! Meu querido menino! Você está... você está vivo!" Ela o abraçou com força, o perfume de baunilha e alguma coisa indefinidamente doce invadindo suas narinas.

Seu pai, ainda limpando uma mesa, soltou um longo suspiro aliviado. "Bem, olha só quem voltou do exílio. Esperávamos que você estivesse em algum lugar fazendo algo mais produtivo do que... purê de maçã.".

Theodore riu, um som rouco e sem graça. "Purê de maçã é um trabalho honesto, pai. E eu ganho o suficiente para comprar... muitos bichos de pelúcia".

Eles conversaram por horas, a pequena pastelaria se tornando um palco para reencontros e confissões. A monarquia havia caído, mas o amor familiar permaneceu. Seus pais, longe da pompa real, encontraram uma nova vida na simplicidade. A pastelaria, um trabalho honesto, era seu reino. Sua receita secreta? Bolos de maçã incrivelmente deliciosos, um toque sutil de nostalgia e muito, muito amor.

Theodore, ao ver seus pais prosperarem em sua nova realidade, percebeu que a verdadeira coroa não estava em sua cabeça, mas no coração. A liberdade condicional não era apenas a chance de uma vida normal, mas a oportunidade de reconstruir laços perdidos e talvez, apenas talvez, deixar de lado seus delírios de grandeza e suas obsessões. Afinal, ele tinha uma vida inteira de purês e beijos inesperados pela frente. E, quem sabe, algum dia, até o amor.

Criado com Toolbaz. Com edição.

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