sábado, 17 de julho de 2021

Jogando um simulador de encontros

O que faria Buda se ele fosse a um encontro?

Essa pergunta provocadora surgiu enquanto eu procurava ideias de texto no Oráculo Virtual [Google].

No Mundo Espiritual, o assunto rendeu muita polêmica. Evidente, os maiores protestos vieram da colônia cristã, uma das colônias da região do monoteísmo. Como a grande maioria das almas, espíritos, entidades e Deuses não dão a mínima para esses protestos, começou a circular um desafio entre os moradores.

Os que aceitassem o desafio teriam que se inscrever em um jogo de simulação de encontro e conseguir ao menos um encontro bem sucedido.

Muitos foram os inscritos da Vila Olimpo, da Vila do Lácio e da Vila Asgard. Zeus e Jove estavam com enorme vantagem sobre os demais Deuses, sendo seguidos de perto por Loki e Pan. O que causou mais curiosidade foi quando viram que Buda, Cristo e Mohamed se inscreveram. Sim, os Mensageiros mais conhecidos do Mundo Espiritual se inscreveram, provavelmente por que foram terrivelmente provocados pelas demais potestades.

Intrometidos como sempre, Hermes e Mercúrio foram visitar os Mensageiros para publicar a entrevista no Jornal do Parnaso.

O dono e gerente da cafeteria onde eu trabalho aproveitou a onda e ofereceu desconto aos que melhores pontuarem e fui eu que tive que trabalhar triplicado.

Hermes e Mercúrio passaram por lá, chamando muita atenção, o que acarretou em mais trabalho ainda para mim.

- Boa tarde, senhores. Qual o seu pedido?

- Hidromel.

- Com uma porção titânica de pomos dourados.

Eu anoto o pedido e prossigo meu trabalho que deve continuar mesmo depois do Ragnarok.

- Eu digo, Mercúrio, essa matéria vai estourar!

- Sem dúvida, Hermes. Eu mesmo fiquei surpreso com as respostas.

- Qual dos três entrevistados você sentiu mais pena?

- Pergunta difícil. Eu dei muita risada das respostas do Buda.

- Nem me lembre. “Eu não preciso ter um encontro, eu estou em um encontro”. Eu quase mijei nas calças.

- O mais travado, sem dúvida, é Cristo. Eu acho que ele tem fixação com a mãe.

- Pudera, ele não conheceu o pai e Miriam [Maria] alega que foi impregnada pelo Espírito Santo.

- Que nega tudo até hoje.

- O mais esperto é Mohamed. Ele defende que cada homem tem direito a sete mulheres.

- Verdade. Se bem que o inverso não se aplica.

- O que vai atrapalhar o jogo dele.

- Eu hackeei os smartphones deles e vi a pontuação de cada um. Zero.

- Isso é impossível!

- Pois é o que aconteceu. Eu fiquei surpreso só com a inscrição de Buda. Ele só fica naquela concha que ele criou chamado Nirvana, ficando completamente indiferente ao que acontece em volta.

- Coitada da Maya.

- Bom, você pode passar lá e dar uma ajuda a ela.

- E ganhar pontos no jogo.

Os dois riam muito e de forma escandalosa. O dono e gerente não parece se importar, desde que estejam consumindo. Então o smartphone de um deles emitiu um aviso, com volume e cores extremos. Alertado, Hermes olha o smartphone dele.

- Não pode ser! Isso vai dar ruim!

- O que foi, Hermes?

- Diversas entidades femininas e Deusas entraram no jogo e na competição.

- Isso não é bom?

- Geralmente sim. Eu não me importaria em ser flertado por uma súcuba. Mas veja quem se inscreveu.

Mercúrio se inclina e olha para a tela do smartphone de Hermes e a expressão dele é de muito medo.

- Essa não! Nós estamos ferrados!

- Nem me diga. Ela certamente ganhou a competição.

Eu discretamente me aproximei com o pedido feito.

- Senhores, o pedido. Bom apetite.

Eu estava de saída quando Hermes segurou meu avental.

- Você!

- Eu, senhor?

- Sim, você. Não é uma estratégia limpa, mas você é o único que pode nos ajudar!

- Como, senhor?

- Entre no jogo e inscreva-se na competição. Eu vou mexer meus pauzinhos para fazer com que você encontre com ela.

- Desculpe, senhor, mas ela quem?

- Ora, quem... ela!

Hermes sacode a tela do smartphone dele e mostra a foto da Deusa que parece provocar tanto medo e apreensão no Mundo Espiritual. Ah, sim, eu a conheço. O melhor de tudo é que ela me conhece. Isso deveria ser considerado trapaça. Foi na época quando eu estava encarnado. Ela me mordeu e eu me tornei, por assim dizer, o Profeta do Profano. Eu perdi as contas de quantas vezes eu preenchi aquele divino ventre. Os boatos se espalharam rapidamente e, constantemente, espíritos/entidades femininas e Deusas vêm na cafeteria unicamente para conferir os meus talentos.

- Meu senhor, eu mal dou conta do meu serviço!

- Eu pago! Senhorio, eu alugo o seu funcionário pelo dobro do preço que você paga por ele.

E foi assim que eu fui alugado para Hermes. Como podem ver, eu não tive escolha, eu entrei no jogo e me inscrevi na competição. Eu praticamente tinha que correr pelas ruas. Eu tinha que me esconder. O que foi bom, de certa forma, pois isso me concedeu algumas horas de folga. Sim, eu consegui parar para sentar, descansar, dormir e comer.

Eu conheço um lugar, o Hotel Califórnia, que poucos conhecem senão pela música. Como o hotel está abandonado, sem qualquer hóspede, inclusive espirituais, eu posso entrar e pegar qualquer quarto e eu pude inclusive tomar banho. Eu estou completamente nu na cama, aproveitando uma pizza de tamanho titânico quando eu escuto a porta de entrada batendo e passos pelos corredores. Eu não dou importância, fantasmas estão abaixo de espectros. A porta do quarto que eu invadi se abre e entra o intruso.

- Olá, querido. Você me deixa ficar um pouco aqui? Eles não me deixam em paz.

- Claro, [omitido]. Fique à vontade. Sirva-se de pizza.

- Ah, obrigada, querido. Depois que eu entrei no jogo e me inscrevi na competição, eu sou constantemente cercada e assediada por todo tipo de espirito/entidade masculina e Deuses.

- Que chato. Eu entendo o que você está passando.

[risos]- Elas também não te deixam em paz, não é?

- Eu só entrei no jogo e na competição por insistência de Hermes.

[suspiro]- Eu entendo o Hermes. Os meninos não gostam de perder.

[bufando]- Pois eu acho uma enorme besteira.

[risos]- Isso vai passar. Mas diga, quantas você pegou?

[chateado]- Isso não é importante.

[risos]- Isso é importante para mim. Diga, de quem você gosta?

Ela se aproxima e se inclina. Eu não consigo desviar meus olhos daquele corpo perfeito, seios maravilhosos, coxas suculentas e lábios tentadores. Eu não respondo com palavras. Eu a abraço e beijo com enorme paixão. Alguns minutos depois, nossos corpos estão emaranhados. Ela me nocauteia e eu fico no chão, tentando recuperar o fôlego.

[risos]- Sabe, querido, de todos os amantes que eu tive, você certamente é o meu preferido.

Eu não posso afirmar que ela disse isso. Minha consciência, mente e sentidos estavam quase derretidos. Eu acho que só tenho certeza de ter visto um sorriso de satisfação naquele rosto adorado.

Quando nós recuperamos as forças, discretamente saímos daquele quarto no Hotel Califórnia e voltamos para as nossas rotinas. Felizmente, em uma semana, o assunto perdeu interesse e tudo voltou ao normal. Incluindo meu trabalho escravo na cafeteria.

O dono e gerente da cafeteria nem percebeu quando entrou uma cliente misteriosa que sentou-se em um canto discreto da cafeteria. Todos estavam ocupados, então eu tive que me desdobrar para atendê-la.

- Bom dia, senhora. Qual o seu pedido?

[risos]- Você sabe o que eu quero.

O disfarce ocultava sua assinatura espiritual, mas eu sentia até os meus ossos que era ela.

- Eu tenho que avisar o gerente de que eu terei que atender seu pedido por “serviço especial”.

- Que coisa chata. Aliás, sabe quem ganhou a competição?

[fingindo]- Isso não importa.

[risos]- Nós empatamos, querido. Considere isso uma revanche.

Evidente que o dono e gerente da cafeteria não dá a mínima, desde que o cliente pague. No beco que fica atrás da cafeteria, minha consciência e sentidos se esvaem enquanto meu creme de nozes verte profusamente dentro daquele sagrado ventre.

Sinceramente, isso não tem a menor importância. Eu estou muito ocupado me afogando nesse oceano rosáceo chamado êxtase.

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