segunda-feira, 26 de julho de 2021

A invenção de Ptolomeu

Em algo eu concordo com o ateu e o descrente: o Cristianismo é um erro, em todos os 2k anos de sua existência, essa crença é a razão da humanidade ainda estar atrasada. Mas nem a maior característica do Cristianismo: a de inventar Deus [e seu Filho], é original.

Pessoas divinizadas podem ser encontradas na Era Antiga. No Egito Antigo, o faraó era divino. Na Roma Antiga, [Júlio] César foi divinizado. Alexandre o Grande [Rei da Macedônia] foi divinizado. Gilgamesh, dos mitos babilônicos, que pode ter sido um antigo rei sumério, foi divinizado. Rômulo e Remo, os Fundadores Míticos de Roma, foram divinizados. Antínoo, o amante do Imperador Adriano, foi divinizado. Arsínoe, filha de Ptlomeu, foi divinizada. Jesus, o personagem da farsa do Cristianismo, foi divinizado.

Eu não vou listar de novo as contradições do mito de Jesus, nem vou insistir que a noção de Deus, no Cristianismo, é um Frankenstein teológico. O que eu tenho a explorar agora é o caso que os Cristãos não foram os primeiros a inventar um Deus e uma religião. O primeiro “inventor de Deus”, bem como a religião correspondente, foi Ptolomeu Soster. E isso tem muito a ver com o aparecimento e sucesso do Cristianismo. Explico:

Alexandre o Grande conquistou o Império Persa e, na sua morte, seu reino foi dividido entre seus generais. Coube a Ptolomeu o Egito. A região do Oriente Médio coube a Seleuco. O domínio dos Macedônios foi crucial para disseminar o Helenismo, fenômeno que transformou diversas culturas, sem essa influência, o Cristianismo não existiria.

Ptolomeu, quando se tornou o faraó, tinha uma batata quente nas mãos. Como conciliar povos e culturas tão distintas quanto os egípcios antigos e os gregos antigos? Ptolomeu queria fazer com que o Egito ficasse mais atualizado, mais cosmopolita. A convivência dos egípcios antigos e os muitos povos que habitavam aquela região precisavam de algo que desse um sentido de união e identidade em comum. Como o Mágico de Oz, Ptolomeu criou o Deus Serápis e inaugurou diversos Serapeus [templos de Serápis] no Egito Antigo. Ptolomeu misturou elementos da crença egípcia e helênica, ele inaugurou o sincretismo, sem o qual o Cristianismo nunca teria existido. Foi tão bem sucedido em seu empreendimento que Serapeus se espalharam pelo mundo conhecido, o que, quando Serápis foi associado à Isis [Aset], garantiu ao culto uma aceitação popular tão grande que continuou depois da dominação romana, instaurando a primeira religião de massa inventada [o culto a Ishtar, além de ter sido mais “popular” e mais disseminada do que o de Ísis, foi uma religião de massa que surgiu “naturalmente”].

A dominação romana foi crucial para que o Helenismo se tornasse parte da cultura do mundo conhecido, esse é o contexto no qual Apuleio escreveu “O Asno Dourado”, descrevendo Ísis como uma Grande Deusa, trechos muito usados por pagãos modernos para embasar o culto da Grande Deusa como uma realidade histórica que remonta o Neolítico. O culto de Ísis, que estava quase extinto, recebeu um impulso com o domínio romano, seu mito e seu rito foram adaptados para agradar o público romano, pode-se dizer que os Romanos deram início à egitomania antes dos Ingleses.

Seleuco deve ter seguido a “receita” de Ptolomeu, patrocinando o Helenismo, ele disseminou pelo seu reino sua mistura com elementos da crença persa e da crença helênica. Essa mistura favoreceu o aparecimento das Escolas de Mistério, do Orfismo e do Gnosticismo, os quais, juntando com o Messianismo dos Essênios, constituem a base do Cristianismo.

Outros elementos históricos e sociais foram somados ao longo da história até que Constantino e Teodósio impôs o Cristianismo como a única religião do mundo conhecido. Então pode-se dizer que a invenção de Ptolomeu foi um “presente de Grego”.

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