quarta-feira, 25 de junho de 2025

Patriarcado e masculinidade tóxica

O patriarcado, apesar de privilegiar os homens como grupo social, também os oprime ao impor um modelo rígido e tóxico de masculinidade – um dos exemplos são os casos citados pelo vereador paulista Adrilles Jorge, na última segunda-feira (16). Ainda que a reclamação do vereador tenha sentido, o raciocínio organizado, não – já que coloca no colo das mulheres uma pauta que não é delas, e sim dos próprios criadores desse tipo de sistema que oprime os gêneros.

Esse sistema patriarcal pressiona os homens a serem emocionalmente frios e distantes, financeiramente provedores, agressivos e avessos a demonstrar vulnerabilidade – com uma lógica que recompensa muito mais o afeto entre homens (ainda que em relações de amizades ou familiares) que com seus parceiros.

Essa lógica limita suas escolhas profissionais e pessoais, dificulta o cuidado com a saúde mental e física, aumenta o envolvimento em situações de violência e os afasta de relações afetivas mais profundas, como a paternidade ativa ou serem de fato bons maridos, ainda que em relacionamentos homoafetivos. Combater o patriarcado é, portanto, também uma forma de libertar os homens dessas amarras.

Entenda o termo “patriarcado”

O patriarcado, definido por autoras como Bell Hooks e Silvia Federici, é um sistema social, histórico e político estruturado na dominação masculina, no qual os homens detêm o poder e as mulheres são sistematicamente subordinadas nas esferas familiar, econômica, jurídica e cultural.

A misoginia, conceito aprofundado por Kate Manne, é a manifestação mais direta desse sistema: o ódio, desprezo ou desvalorização das mulheres enquanto grupo social.

Esse modelo, como analisa Judith Butler, oprime as mulheres ao restringir seus direitos, liberdade e segurança, mas também prejudica os próprios homens, ao impor padrões rígidos e tóxicos de masculinidade que reprimem emoções, naturalizam a violência e exigem posturas constantes de poder, controle e invulnerabilidade, gerando sofrimento psicológico e social – e, em geral, sem quaisquer meios de abertura para falar sobre o assunto.

Como o patriarcado pode afetar os homens?

Uma sociedade estruturada em torno da opressão feminina, como é o patriarcado, beneficia os homens enquanto grupo mas, individualmente, sufoca, limita e adoece milhares deles. Esses impactos podem ser divididos da seguinte forma:

Expectativas inalcançáveis quanto aos homens;
Pressões financeiras;
Cultura de violência e virilidade;
Estigmatização de profissões e hobbies considerados “não masculinos”;
Negligência com a saúde mental e física; e
Paternidade negligenciada.

Assim, muitas vezes é exigido que os homens sigam um modelo rígido, um “molde”, para serem considerados “homens de verdade”, ou “exemplos”.

Seguindo essa lógica, um homem é obrigado a ser: bem-sucedido sempre (como se fosse obrigado a sustentar a família a qualquer custo e deixando de lado a ética, assim como em hipótese alguma deve estar desempregados ou ganhar pouco), não pode ser vulnerável e demonstrar emoções básicas (medo, tristeza, fragilidade e outras emoções que são reprimidas e desembocam em transtornos depressivos, ansiosos, e dificuldades de conexão), deve resolver tudo na força (gerando uma agressividade desnecessária enquanto sociedade e indivíduo e os expondo a riscos desnecessários e mortes violentas), deve ter profissões e passatempos “masculinos” (dançar, ser educador e cuidador? Nem pensar, o que a sociedade exige é que trabalhem com profissões de “ação”), e a negligência com a saúde (não pode adoecer nem ir ao médico, muito menos fazer terapia).

Dados “de macho”

Uma pesquisa do Instituto Ideia, a pedido da GQ Brasil, mostrou que cerca de 80% dos homens brasileiros nunca fizeram terapia, apesar de 83% relatarem estresse e 74% ansiedades. Além disso, em plataformas como Telavita, os dados mostram que apenas 33,8% dos pacientes são homens.

Entre 2011 e 2020, a taxa média de suicídio foi de 9,7 por 100 mil homens, comparada a 2,5 por 100 mil mulheres – o que significa que homens tentam mais que mulheres, muito provavelmente por não conseguirem resolver seus problemas de ordenamento emocional. Esse dado equivale a cerca de 75% de homens vítimas de suicídio no Brasil.

Além disso, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que homens jovens, com idades entre 20 a 24 anos, têm 11 vezes mais chance de morrer antes dos 25 anos do que mulheres, por causas externas (suicídio, homicídios, e acidentes).

Levantamentos também mostram que, em 2018, 69,4% dos homens compareceram a alguma consulta médica, versus 82,3% das mulheres – ao ponto do próprio Ministério da Saúde reconhecer que normas culturais fazem com que os homens evitem buscar ajuda, mesmo sendo eles mais vulneráveis a doenças crônicas e mortes precoces.

Fonte: https://revistaforum.com.br/cultura/2025/6/18/guia-pratico-entenda-termo-patriarcado-como-ele-oprime-homens-181783.html

Nota pessoal: homem não vai em terapia porque é pragmático. Eu tentei fazer terapia. Não vi qualquer resultado prático ou eficiente.

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